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    Byron, ergue as sobrancelhas, surpreso com a notícia. “Como assim ele está morto?”, ele questiona, incrédulo. 

    Rubi encara o leste da floresta escura, ainda perplexa. “Não sei ao certo… só parei de sentir o Sentinela Cinzento que coloquei nele”, ela explica. 

    “Alguma chance dele ter percebido e quebrado a magia?”

    “Muito difícil. Ele parecia ocupado demais para se importar com o corvo.” 

    “O que o orc estava fazendo quando você o viu pela última vez?”

    “Ele estava brigando com outro orc, deve ter sido assim que ele morreu. O outro já estava ferido, não pensei que o nosso fosse perder”, a demônio lamenta.

    Que droga, Rubi pragueja internamente, sentindo-se frustrada. A gente precisava daquele orc. Talvez eu tenha superestimado ele.

    Ela se vira para o diabo. “Byron, o que acha de…”, começa a falar, mas para ao ver a expressão furiosa dele.

    O demônio mostra um olhar cerrado, seus dedos se curvam enquanto suas mãos tremem, e uma fumaça preta e densa emana de seu braço incandescente. 

    Parece que ele não reagiu muito bem, observa Rubi, até um pouco assustada.

    “Perder aquele orc vai atrapalhar o seu plano”, o diabo fala com raiva. “Não vamos encontrar outro orc oriundo do centro da floresta tão cedo.” O sentimento dele se intensifica ao ponto de que a vegetação ao redor e sob os pés murcha devido a aura quente que ele exala. 

    Se ele continuar assim, vai incendiar a floresta toda, a demônio analisa, preocupada.

    “Não precisa se abalar”, ela diz, gesticulando com as mãos em um esforço para acalmá-lo. “Ele era importante, mas era só um orc. Vamos dar um jeito. Foi só um… atraso.” 

    Byron suspira fundo, exalando brasas, e relaxa sua postura. “Tem razão, Senhorita Rubi. Peço perdão pela minha exaltação. Não desejo que meu descontrole comprometa nossos planos”, ele se desculpa, mais calmo e abaixando a cabeça. 

    Rubi, vendo seu companheiro tranquilo, alivia-se. “Tá tudo bem”, ela fala com firmeza, tentando aliviar a tensão que ainda paira. “Todo mundo se estressa um pouco as vezes.”

    Até que ele se acalmou rápido, Rubi pensa, tranquilizada. Imagina se não tem mais floresta pra dominar?

    “Devemos procurar o orc que fez isso…”, Byron sugere.

    “Eu ia propor isso também”, ela comenta, observando-o com atenção.

    “… E matá-lo”, o diabo completa, com uma feição severa. 

    Rubi não consegue manter a compostura e deixa escapar um sorriso carregado de nervosismo. Talvez eu tenha me acalmado cedo demais, ela pensa. Acho que ele não levou tão na boa assim…

    Do outro lado da floresta, o orc vencedor, com um puxão forte, remove a arma cravada na cabeça do inimigo, o som úmido e metálico ecoando pela clareira enquanto sangue escorre pelo cabo. Está ofegante, e ainda faz pressão em sua ferida na barriga. 

    Seus ouvidos tremem, escutando barulhos de movimentação entre a vegetação. Seus olhos percorrem as sombras, esperando o pior, mas tudo o que encontram é a própria respiração ofegante. Cansado, o orc vai até a carne pendurada na árvore, que já não respinga mais sangue, e a retira, agarrando-a pelas pernas do animal. 

    Ele sai pela floresta demonstrando pressa, cambaleando um pouco, carregando seu prêmio e deixando para trás uma trilha de sangue, espalhada entre o chão e as folhas, impossível de distinguir se é dos respingos do orc da presa quebrada, do monstro que ele carrega, ou dele mesmo.

    Depois de se afastar, o orc escuta ao fundo o som agudo de outras das aves monstruosas ecoando. Mesmo de longe, ele escuta as criaturas piarem consecutivamente, sem demonstrar estarem se aproximando dele, mas aparentando estar brigando entre si.

    Elas devem estar brigando pelo que restou dos derrotados, ele imagina, sem olhar para trás, pois não tem tempo para confirmar. Sem fôlego, sem forças. Apenas a necessidade de seguir em frente.

    “Que sua conquista, seja grande, e seu golpe, pesado”, ele murmura, em um gesto simbólico, agradecendo aos dois orcs que estão mortos atrás dele.

    Ele corre, arrastando sua carne, até não ouvir mais os sons dos monstros. Devido ao esforço que faz, sua visão vai ficando mais e mais turva e a dor lancinante que sente vem aumentando. Contudo, sua audição ainda é boa, ele pressente perigo ouvindo o barulho de passos pesados se aproximando rapidamente pela esquerda. 

    Sentindo-se cansado demais para fugir, o orc solta o monstro que vem carregando e opta por gastar suas últimas forças em lutar, sacando seu machado lascado. Ele avista, correndo entre as árvores, em sua direção, outra das aves de penugem branca e pernas fortes, quase tão grande quanto a que está jogada aos seus pés.

    Quando faz contato visual, o orc ruge e brande seu machado no ar, como se convidasse a criatura para uma batalha até a morte. A ave, em resposta, emite um ruído alto e agudo, um eco estridente que bate com força nos tímpanos do orc. O som parece rasgar sua mente, e ele sente um zumbido que faz o estremecer atordoado, e até mesmo ceder, caindo com um dos joelhos dobrados.

    O monstro pula, com as garras afiadas como lâminas, em direção ao orc debilitado, pronto para abater sua presa. Porém, antes de alcançá-lo, uma flecha feita de um luz vermelha intensa, vinda da escuridão, intercepta a ave no meio do ar, acertando-a pela lateral direita de seu peito. Um impacto veloz e silencioso, que muda a trajetória do monstro, arremessando-o com uma força contra um tronco.

    O impacto é brutal, o som seco e pesado ecoa pela clareira. O monstro se choca contra a árvore com tanta força que a madeira estala. Depois, ele cai no chão, com o corpo mole, emitindo um som abafado.

    O orc, ainda atordoado e sem entender o que se passa, vê em sua esquerda o monstro caído, ao pé de uma árvore, com sangue escorrendo pelo ferimento no peito e pelo bico da criatura. Ela ainda se mexe, dando pequenos espasmos com uma das pernas.

    O orc olha para a direita, buscando o autor da flecha, e não vê nada, mas escuta passos calmos se aproximando. De lá, logo ele escuta uma conversa. 

    “É aquele ali?”, pergunta uma voz masculina.

    O guerreiro verde avista Rubi e Byron, dois demônios emergindo das sombras da floresta. Seus instintos se agitam ao encontrar aqueles olhares sombrios fixados nele, enquanto as caudas deles se agitam suavemente.

    “Foi ele que eu vi”, Rubi responde.

    O orc, sem forças sequer para se levantar, observa, confuso, as figuras com chifres diante dele. Por quê? O que fazem aqui? , ele se pergunta, seu corpo exausto mal respondendo à sua vontade.

    A demônio de cabelo rosa ergue seu arco dourado, e cria uma flecha mágica de luz vermelha. O orc a reconhece, e assusta-se, instintivamente tenta se levantar e não consegue. Porém, ele percebe que a demônio não mira nele, e sim em um alvo mais adiante.

    Rubi atira contra a criatura caída há alguns metros à sua frente. Ao impacto, a flecha emite um pequeno estrondo. Fumaça e folha sobem, e quando abaixam, a cabeça da criatura não existe mais. Seu pescoço agora termina em uma pequena cratera no chão, com pedaços de carne espalhados pelas bordas.

    “Ele ainda estava vivo?”, Byron pergunta.

    “Não sei. Mas ainda estava se mexendo um pouco”, Rubi responde. “Achei melhor garantir.”

    “Poderia ter me pedido”, o diabo fala, mostrando-se prestativo. “Não precisava se esforçar mais. Eu mesmo poderia ter ido lá e quebrado o pescoço da fera.”

    “Não, não. Ia sujar suas mãos e eu já estava com o arco pronto.”

    Não posso deixar que ele faça tudo por mim. Vai ficar parecendo que eu sou uma preguiçosa, Rubi pensa.

    “Ainda sim… alguém da sua estatura deve delegar os serviços menores aos subordinados.”

    O orc observa a conversa casual dos dois demônios. O que eles querem?, se questiona, sem compreender nada de suas intenções naquele local. 

    “Quem… quem vocês são?”, ele balbucia, a voz trêmula pela exaustão, sem forças.

    Os dois diabos voltam sua atenção a ele. Byron o encara com um olhar duro e impiedoso, as sobrancelhas franzidas em um claro sinal de desaprovação. Já Rubi mantém os olhos fixos no orc, sua expressão séria, mas distante, sem o desprezo evidente do diabo ao seu lado.

    “Nós viemos confirmar uma coisa”, diz a demônio, com firmeza. “Há alguns minutos, você matou um outro orc?”

    O orc arregala os olhos. Já entendi, ele compreende, soltando um longo suspiro, exalando o ar pesado da tensão. 

    “Sim”, responde o orc, sem medo. “Fui eu que matei.”

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