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    O orc não entende a solução de Rubi. Ele gasta algum tempo analisando, porém, por mais que ele pense, aquela resposta só o deixa com mais dúvidas. 

    Rubi, sentada observando Brok refletir, ainda exibe um sorriso confiante, confiança essa que só é equiparada à de Byron, parado, de pé, ao lado do orc. 

    Brok volta sua atenção a demônio de cabelo rosa. “E como… matar tudo removeu a maldição das terras?”, ele pergunta, buscando esclarecimento.

    “Não removeu”, ela responde, com simplicidade, deixando o orc mais confuso ainda. 

    “Então… como…”, Brok começa a elaborar, mais perplexo ainda.

    “Não há como impedir o surgimento desse efeito”, Byron explica, interrompendo o orc. “Mas, aparentemente, há como controlá-lo e tirar proveito dele.” 

    Brok chega a se assustar por um momento, quando ele olha para o lado e vê o olhar ganancioso que o diabo exibe.

    “Depois que exterminamos tudo, ficou bem mais fácil para grupos mais fracos caçarem nos arredores de Loren”, Rubi explica. “Os monstros ficam mais fracos e fica bem visível em qual lugar o enxame está acontecendo no momento.”

    “Isso… não resolve o problema”, diz Brok, bufando com frustração. “Tudo o que você fala é que essa terra está condenada.”

    “O Enxame é algo natural do solo, já estava antes do Rei Orc nascer e provavelmente vai continuar existindo muito depois de você”, diz Rubi, complementando a ideia. “Essas terras não são amaldiçoadas. Muito pelo contrário.”

    O orc franze os olhos. “Esses monstros… pisam na conquista do Rei e não deixam ninguém viver nessa terra”, Brok afirma, a indignação e o ressentimento tomam conta da sua voz. “Como você diz que essa terra não é amaldiçoada?!”

    Em seguida, Brok sente a temperatura ao seu redor aumentar, como se um incêndio estivesse prestes a começar ao seu lado. Ao virar, percebe o diabo, visivelmente descontente, irradiando uma aura quente que reflete seu estado de espírito.

    “Peço que segure o seu tom de voz ao dirigir sua palavra a ela, senhor Brok”, ele adverte. 

    A presença imponente do diabo intimida o orc e o faz abaixar a cabeça. “Eu… não queria ofendê-la”, ele fala, agora mais calmo, desculpando-se. 

    Byron, satisfeito com a resposta do orc, aos poucos reduz a sua aura intensa, e assim como ela, seu semblante ameaçador se dispersa. E os ânimos daquele lugar se acalmam.

    “Tá tudo bem”, diz a demônio de cabelo rosa, tranquila. “Acho que você não entendeu o espírito da coisa ainda.”

    Rubi se volta à sua esquerda e fixa o olhar no monstro ao chão, como se aquela criatura sem a cabeça fosse a resposta. 

    “Essa terra deixa os monstros fortes, mas também os torna bons materiais depois de abatidos. Faz as árvores crescerem grandes e provavelmente devem ter minérios especiais espalhados por aí”, ela explica. “O problema desse lugar é que tem monstros fortes demais para vocês darem conta.”

    “O plano da senhorita Rubi, em essência, resume-se em usufruir das vantagens naturais desse lugar”, Byron pontua. 

    “E isso… é possível?”, o orc pergunta, um tanto quanto cético. 

    “É claro que é!”, diz a demônio de cabelo rosa, sem hesitar. “O Rei Orc já fez isso antes, uns mil anos atrás. Não é incrível?”

    A demônio de cabelo rosa demonstra um entusiasmo genuíno, que acaba pegando o orc desprevenido, querendo seu ceticismo e deixando-o desconcertado. 

    “Já consegue perceber o que ele fez?”, Rubi continua, empolgada. “Ele não só conquistou esse lugar, ele enxergou uma oportunidade e fez algo que ninguém conseguiu nem mesmo repetir.”

    “Até agora”, Byron pontua, firme.

    É o tipo de coisa que me fez pensar se ele descobriu sozinho ou se teve algum toque de outro mundo. Quem sabe eu não encontre algo que me ajude aqui, a demônio analisa. Que tipo de segredos você deixou, Rei Orc?

    Brok, contagiado pelo ar de grandeza que Rubi aspira, fica boquiaberto, as sobrancelhas erguidas em um instante de epifania. “Eu… entendo…”, ele afirma, finalmente sentindo que compreende o plano dos demônios. 

    Seus olhos percorrem a floresta ao redor com um misto de assombro e admiração, pois agora consegue enxergar aquele lugar de uma forma diferente e nova.  “Então… foi isso que você fez…”, ele murmura, perplexo. “Há mais do que terra a ser conquistado por aqui.” 

    Byron novamente se encaminha para o lado da demônio de cabelo rosa. “Vejo que finalmente está começando a compreender”, ele comenta, contente. 

    “Eu quero explorar esse lugar. Ver o que ele tem de melhor”, Rubi declara, animada. “Repetir, pelo menos um pouco, do feito do seu rei. Mas eu não posso fazer isso sozinha.”

    Após seu momento de reflexão, Brok volta sua atenção àqueles dois, agora com o semblante firme e decidido. “Diga-me o que preciso fazer,” ele pede, seus olhos brilham com uma chama de obstinação acesa por Rubi. 

    A demônio de cabelo rosa esboça um sorriso, feliz pela disposição do orc. “Bem, primeiro me responda. Se você derrotar o líder da tribo que mora próximo à capital, o que acontece?”, ela pergunta. “Ignorando o dragão.”

    “Se vencesse Estoratora, minha tribo poderia voltar a nossas terras antigas”, o orc responde. “E nenhum orc de lá poderia me questionar sem me desafiar.”

    “Isso já é interessante”, Byron pontua, enquanto analisa as possibilidades. “E quanto às outras tribos que foram expulsas? O que elas podem fazer depois disso?”

    O orc olha de leve para o diabo. “Se a minha tribo ouvisse a notícia de que outro orc matou Estoratora, não faríamos nada. As terras entre as tribos já estão divididas, se um novo orc se tornar o chefe no lugar de Estoratora, a divisão fica igual até ele querer mudar”, ele responde de forma concisa. “Só faríamos algo se o novo chefe fosse fraco ou uma ameaça à tribo.”

    Não é possível. Os orcs resolvem tudo com base em briga?, Rubi se questiona, incrédula. Se ele for ruim de briga… eles brigam. Se ele quiser brigar… eles brigam também. 

    “E você pode desafiar ele em um duelo? Ou precisa brigar com a tribo toda?”, a demônio pergunta, algum receio soa em sua voz.

    Brok levanta o machado que segura com a mão esquerda. “Entre os orcs, resolvemos quase todas as disputas com duelos”, ele fala, olhando para sua arma desgastada. “Mas os orcs de Estoratora confiam muito na própria força, talvez… eu precise passar por cima de alguns deles antes.”

    Rubi solta um suspiro. Pelo menos… podemos tirar um bom proveito dessa agressividade com poucas mortes, ela pensa, aliviada.

    “Bem”, diz Rubi, continuando depois de divagar um pouco. “Primeiro, precisamos que você nos leve até as ruínas da capital, Cahjiah.” 

    “Até poderíamos ir voando, porém, chamaria muita atenção, ainda mais se houver outras criaturas aladas pela floresta”, Bryon explica. “E seria bem mais difícil visualizar se alguém abaixo das árvores nos viu.”

    Brok aponta para a esquerda, na mesma direção por onde passa o rio. “Conheço um caminho por onde podemos evitar a maior parte dos monstros”, ele afirma. 

    É bem isso que precisávamos, Rubi pensa, satisfeita.

    Um semblante de dúvida se ressalta em Brok. “Ainda há algo… que eu queria saber”, ele fala.

    “Pois prossiga”, diz o diabo. “Este é o momento para sanar qualquer pergunta que tenha.”

    “O que faz um campeão? Esse… é o meu papel, não é?”, ele pergunta, incerto. “Não sei o que significa.”

    “Ah, é isso?”, Rubi fala. “O campeão tem que fazer o que não podemos. Tipo, derrotar aquele outro líder.”

    Byron dá um passo à frente. “Esse é o tipo de coisa que não podemos fazer sem revelar a nossa presença ou sem causar um alvoroço entre os orcs”, ele explica, em seu tom didático. “É algo que dificilmente passaria em branco.”

    Brok abaixa o olhar, analisando aquele cenário. “Isso… é verdade”, ele conclui, concordando. “Todas as outras tribos achariam estranho.”

    “Não queremos que nada do que fizermos nessa floresta deixe algum rastro ligado à nossa identidade”, o diabo comenta. “Todo resultado que obtivermos será ligado ao nosso campeão.”

    Brok abaixa a cabeça, exalando profundamente. “Se é isso que um campeão faz… então eu serei”, ele diz, a voz grave e resoluta. 

    “Fico feliz que tenha entendido”, diz Rubi, esboçando um sorriso genuíno. “E acho que já é o momento de fazermos o nosso pacto.”

    O diabo acena com a cabeça. “Eu concordo”, ele diz, voltando-se ao orc. “Conforme a senhoria Rubi lhe prometeu, em troca da sua ajuda, ela lhe concederá uma parte do poder dela mesma.” 

    “Que tipo… de poder?”, Brok questiona, exibindo um misto de receio e ansiedade.

    “Você que me diz”, a demônio responde, com sinceridade. “Que tipo de poder você gostaria de ter? O que você acha que te ajudaria a lutar contra o outro líder orc? Se estiver dentro do meu limite, eu posso conceder.”

    É difícil escolher esse tipo de coisa pelos outros, ela pensa. Só espero que ele não peça algo como teleporte instantâneo ou o poder de matar alguém só com o olhar. 

    As palavras de Rubi ecoam na mente do orc, que reflete por alguns instantes antes de responder. “Não há nada… que eu gostaria mais do que partir a cabeça dele”, diz ele, fechando os dedos de sua mão com intensidade. “Eu quero… força para poder fazer isso. Força para fazer ele pagar pelo que fez”

    Só? Acho que eu posso conceder isso sem problemas, Rubi pondera com ânimo.

    “É um bom pedido…”, Byron ressalta. “Entretanto, o quão forte ela pode te deixar depende de você.”

    “Como?”, Brok questiona, desconfiado.

    “O quanto você está disposto a se sacrificar para obter esse poder?”, o diabo pergunta, lançando ao orc um olhar intenso e desafiador. “Imagino que saiba do tipo de sacrifício de que estou falando.”

    Brok não trepida e libera um ar pesado pelas suas ventas, impondo-se. “Me usem da forma que quiserem”, ele declara, sem receio. “Desde que não machuquem minha tribo e que eu possa matar Estoratora com minhas próprias mãos, não me importo com o resto. Nem mesmo… com a minha alma.”

    Byron sorri ao ver o entendimento do orc. “Não temos más intenções para você ou sua tribo, e seu desejo de vingança será respeitado”, ele afirma, querendo tranquilizá-lo.

    Rubi olha para o diabo, impressionada com a precisão. Caramba. Ele não perde tempo nessa coisa de negociar, ela pontua, refletindo. E já que agora tem uma alma em jogo… já imagino que tipo de pacto eu posso fazer.

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