Capítulo 54 - Plenitude
Rubi se levanta e caminha com passos calmos na direção do orc até se emparelhar com Byron. “Tem certeza de que quer assim?”, ela pergunta, dirigindo-se a Brok.
Mais uma vez, o orc libera uma respiração pesada pelas narinas, como se quisesse afastar, junto daquele ar, qualquer dúvida e hesitação que ele tenha. “Se vou lutar, tenho que ganhar”, ele fala, firme.
Byron coloca a mão sobre o ombro da demônio de cabelo rosa, chamando sua atenção. “Senhorita Rubi, quando se fala sobre duelos de orcs, não existem segundas chances”, ele avisa.
Eu até estava disposta a fazer um pacto sem cobrar a alma dele, ela reflete. Quando Byron me ensinou sobre isso, disse que, como eu sou uma Lorde Demônio, esse tipo de pacto não faria muita diferença na minha força se eu não o fizesse com frequência. Mas se ele prefere assim… eu só tenho a ganhar.
“Lembre-se de como fizemos antes”, Byron aconselha, abaixando a mão e dando um passo para o lado, tomando distância. “Declare o nome, depois os termos do contrato.”
“Certo”, diz a demônio de cabelo rosa.
“E Brok”, diz Byron, chamando a atenção do orc. “Você pode sentir um pouco de… fraqueza. Mas não se preocupe, tudo vai passar logo. logo.” O diabo mostra uma estranha expressão de empolgação.
O orc grunhe enquanto consente, flexionando um pouco a cabeça.
Rubi respira fundo e começa a se concentrar, encarando profundamente os olhos do orc. É fácil como qualquer magia. É só focar no pactuante e visualizar o efeito claro do pacto, ela pensa. O resto… deve funcionar sozinho. Após alguns segundos, suas pupilas brilham na cor rosa vibrante e sua auréola surge sobre sua cabeça.
O orc, desfamiliarizado com magia, olha para a coroa flutuante com espanto. O que ela é?, ele se pergunta.
“Brok, guerreiro das Terras Livres…”, ela pronuncia, com sua voz calma ecoa, reverberando com magia. Uma leve brisa surge dela, indo na direção do orc, carregando leves feixes de luz rosa. “Você me dará sua alma, em troca a essência do seu corpo será uma extensão da minha magia. Sua consciência será mantida e você poderá usar o poder em seu corpo como parte de sua força da forma que quiser. Não agirei contra o seu povo e nem você contra meus aliados, além disso, também lhe prometo a chance de executar sua vingança…”
Momentaneamente, ela para de falar, e desvia o olhar para Byron, buscando aprovação. O diabo, sorrindo, acena moderadamente com a cabeça, indicando que para ela continuar e Rubi volta a atenção para Brok.
“Você agirá como nosso campeão e, contanto que não quebre nenhum desses termos, não reivindicarei a essência que carregará sua consciência até o dia da sua morte…”, ela continua, fazendo uma breve pausa. “Você aceita?”
O orc capta aquelas palavras, não apenas com os ouvidos, mas sentindo-as ressoarem dentro de si, deixando, naquele momento, qualquer som ou sensação externa abafada. Ele baixa o olhar e suspira fundo. “Aceito”, ele responde, com a voz grave, e quando o faz, sente um choque percorrendo seu corpo.
Os dedos das mãos e dos pés de Brok ficam dormentes ao mesmo tempo em que sente o ambiente ao redor esfriar de forma não natural. Uma onda de fraqueza lhe atinge, e não conseguindo aguentar o próprio peso, um dos seus joelhos cede e se dobra, e ele acaba quase tombando no chão.
Alguns passos à frente, Rubi olha a pele do orc passar de seu tom verde-escuro natural para um mais pálido. Mas o que acaba agarrando sua atenção é uma pequena esfera branca e luminosa que aparece em frente a ela. Isso é… a alma dele?, ela se pergunta. Tudo dele está aqui? O espírito imortal e a essência com toda a energia vital e a consciência dele, nessa bolinha?
O orbe, de tamanho um pouco maior do que uma uva, irradia uma luz branca brilhante. Ao redor dela, uma chama branca queima, aumentando e diminuindo sua intensidade constantemente, tal qual os batimentos de um coração.
A demônio de cabelo rosa, maravilhada com aquilo, não consegue tirar seus olhos da esfera, que flutua no ar com graça. Ela estende a mão e a orb repousa calmamente em sua palma. É tão linda!, ela constata, admirando a alma em sua posse.
Ela sente aquele pequeno globo como sendo algo quente, porém, mesmo em chamas, não queima. O calor que ele emite é agradável, como a luz do sol da manhã batendo na pele.
A demônio se perde contemplando a pequena esfera. Eu já vi muita coisa desde que cheguei, mas… isso aqui é diferente, ela pensa, quase hipnotizada, até uma voz lhe chamar sua atenção, fazendo-a voltar a ficar alerta aos arredores.
“Creio que seja melhor você concluir o pacto agora”, Byron avisa, apontando para frente. “Se demorar muito, ele pode não resistir.”
Rubi olha na direção onde o diabo indica e percebe o orc ainda pálido, fraco e com uma respiração tão pesada e fria que é possível ver o vapor condensado saindo de sua boca.
Acho que me distraí aqui. Foi mal, Brok, ela pensa, um pouco sem graça.
Ela gentilmente leva a alma do orc à sua boca, onde a envolve entre seus lábios, já sentindo o calor na esfera se intensificar e, num simples gesto, a engole, fazendo a luz do orc descer por sua garganta e desaparecer no seu interior.
Rubi sente um arrepio percorrer sua espinha, enquanto uma onda de energia quente continuamente se libera do orbe e percorre seu corpo, tal qual quando drena energia vital, só que de uma forma ainda mais prazerosa e requintada, como se bebesse diretamente da fonte.
Pouco a pouco, aquele fluxo relaxante se espalha, indo até mesmo a ponta de sua cauda que repousa no chão e treme levemente, reagindo ao toque suave do calor. Ela aprecia aquilo, permitindo-se fechar os olhos por um breve instante, saboreando a sensação de plenitude.
Em paralelo a isso, Brok, à frente, sente um aperto no peito. E em pouco tempo, a sensação de frio é completamente esquecida, trocada por uma queimação crescente que se inicia no tórax. Até o momento em que uma luz rosa se acende naquele lugar.
A luz rosa se espalha em linhas incandescentes pelo corpo do orc, aparentando sair de seu coração e caminhando pelas artérias e veias, enquanto queima o orc de dentro para fora.
Brok arregala os olhos, seus músculos se contraem enquanto a luz percorre suas veias. Ele cerra os dentes, tentando conter um grito, mas seus olhos, agora brilhando com um tom rosado, mostram sua determinação.
Depois de alguns segundos, Rubi sente a última energia da alma em seu estômago se esvair e ela suspira satisfeita. Foi isso que o Byron quis dizer com completude?, ela divaga, enquanto contempla as copas das árvores acima dela, já escuras devido ao anoitecer.
O que será que aconteceu com o…, começa a se perguntar, descendo o olhar para frente e se espantando ao ver o orc caído no chão. …Brok?!
O corpo do orc está tombado, sua pele já mostra-se em seu tom verde-escuro natural, porém ele não aparenta sinal algum de movimento.
Byron está agachado ao lado dele, examinando-o com uma expressão intrigada. “Uhum”, ele murmura, segurando a mão do orc.
“O que aconteceu com ele?!”, Rubi pergunta, preocupada. “Foi pela minha demora?”
“Pode ter sido. Ou, talvez, o processo tenha causado um grande estresse no corpo dele”, o diabo supõe.
“Mas… não dei nenhum poder ou magia adicional para ele”, ela se explica, sem entender. “Pensei que não houvesse como ele se sobrecarregar assim.”
“Ainda assim, mesmo que a quantidade de mana nele ainda permaneça a mesma, o corpo ainda pode não suportar as alterações que a sua magia mais densa causa”, o diabo explica. “Qualquer um que não esteja física ou mentalmente preparado, pode sucumbir depois de um pacto.”
“Isso… vai ser um problema”, diz Rubi, aflita.
“Mas não se preocupe, se ele fosse morrer, o corpo dele já teria virado cinzas”, Byron comenta, despreocupadamente, apontando para a mão que ele segura.
Rubi percebe o Brok fechando os dedos com força, enquanto pequenas contrações ocorrem em seus demais músculos.
“Então, ele vai…”, ela começa a falar, esperançosa.
Byron dá um meio sorriso. “Sim”, ele diz, antecipando a pergunta. “O nosso campeão, vai sobreviver.”
“Isso é ótimo”, Rubi responde, aliviada. “Eu não estava disposta a caçar outro orc hoje.”
Recomendo dar uma relida no capitulo 43. Tem mais informações lá sobre as partes a alma e um pouco do funcionamento do pacto.
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