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    Brok encara Byron com dúvida. Ainda sentindo a dor latejante da queimadura, ele protege seus dedos queimados cobrindo-os com a outra mão, pois até a brisa que passa entre eles o incomoda. 

    “Não foi um pouco demais ter usado sua aura ígnea contra ele?”, Rubi pergunta, observando sentada.

    Brok franze o cenho. “Isso é… o feitiço dele?”, ele pergunta, olhando para succubus, ansiando por esclarecimento.

    “Tá mais para uma habilidade”, ela responde, voltada ao orc. “Essa aura quente pode queimar e desgastar bastante se ficar próximo a ele.”

    Behemoths não tem muitas habilidades mágicas fortes, mas essa é uma delas, ela analisa. Achei meio arriscado ter usado ela.

    Byron joga sua atenção à demônio de cabelo rosa com uma expressão lisonjeira. “Cogitei que seria necessário para testar a extensão do pacto sobre ele”, ele se explica. “E não avisei sobre a aura, pois queria que ele fosse com tudo o que tinha.”

    “E… conseguiu testar o que queria?”, ela pergunta, sem esconder a curiosidade que sente. “O quão bom foi o pacto pra ele?” Sua cauda balança de leve, como se refletisse a impaciência por uma resposta.

    Byron encara a sua mão esquerda, relembrando-se da pressão do golpe. “A força dele é formidável, bem mais do que parece”, ele ressalta. “Além disso, devido à minha aura, um orc normal, minimamente, sentiria dificuldade até em se aproximar de mim e até poderia sofrer queimaduras. Mas isso não aconteceu, não é?”

    O orc fica introspectivo por algum tempo, lembrando-se daquele momento. “Eu… senti o fogo, mas… o calor não me queimou até eu encostar”, diz ele.

    O diabo se aproxima dele com calma. “Eu diria que suas resistências aumentaram consideravelmente, tanto quanto sua força. Embora seja difícil dizer se foi a sua resistência física ou mágica, ou ambas”, ele afirma, olhando para Brok. “E também provavelmente não foi só isso o que aumentou.” Ele aponta para a mão ferida coberta. “Por que não dá uma olhada nessa ferida?”

    Durante toda aquela última parte da conversa, Brok acaba se distraindo das queimaduras em seus dedos até o diabo relembrá-lo. E quando percebe isso, já não sente mais a ardência latejante. Ele destampa a mão que protege e se espanta, arregalando os olhos, ao ver seus dedos inteiros, completamente curados, sem marcas ou bolhas.

    Estupefato, ele abre e fecha os dedos repetidas vezes, depois esfrega uma mão contra outra, testando. “Como?”, ele murmura, quase desacreditado, seus olhos ainda fixos na mão.

    Rubi se levanta e caminha na direção do orc. “É o poder do pacto que eu fiz”, ela responde. “A magia demoníaca que corre em você agora, faz seu corpo resistir bem melhor a ferimentos, além de aumentar sua regeneração natural.”

    É o mesmo tipo de pacto que os cultistas têm, ela reflete, olhando para Brok. É relativamente simples ao mesmo tempo em que é muito efetivo. Quando o Byron me contou dele, percebi que era uma habilidade bem quebrada mesmo. Se bem que… o preço é bem alto, né? O benefício acaba sendo equivalente no final.

    Brok encara seu punho fechado, ainda incrédulo diante do que vê, sentindo como se aquilo fosse algo surreal. Eu… posso mesmo?, ele se pergunta, respira fundo e contrai sua mão com força, forçando seus dedos contra a palma de sua mão. 

    Suas unhas tensionadas o perfuram e ele vê uma pequena gota de sangue  escorrendo por sua palma, deixando um rastro vermelho na pele verde e pingando em uma folha no chão. Depois, relaxa seus dedos e aguarda alguns segundos até abrir a mão e ver sua pele intacta, sem nenhum sinal de perfuração. Eu… realmente posso, ele conclui. 

    Brok volta a atenção à Rubi, sentindo-se eufórico, e se ajoelha diante dela, em um gesto que claramente é inspirado nos de Byron. 

    “Agora eu tenho força “, diz ele, a voz grave carregada. “Agora posso… matar Estoratora.”

    A cena é inesperada, e o orc, prostrando-se, pega Rubi de surpresa, deixando-a um pouco desconcertada. Será que alguma hora eu vou me acostumar com esse tipo de coisa?, ela se pergunta, sem jeito.

    Em contraste a isso, o diabo, que encontra-se posicionado ao lado da demônio de cabelo rosa, exibe uma postura firme, com as mãos cruzadas nas costas. Seu olhar, direcionado a Brok, reflete uma combinação de aprovação e um orgulho silencioso.

    “É bom ouvir isso”,  declara ele. 

    A demônio percebe alguma semelhança entre o comportamento do orc e do diabo. Quando foi que o Brok ficou tão intenso quanto você?, ela se indaga, intrigada. Você deixou ele assim ou é algo padrão nesse mundo? 

    Byron assume um tom mais severo. “Mas lembre-se, Brok, você ainda é mortal. Um ferimento grave ainda pode lhe matar. Com o devido tempo, é possível que você consiga desenvolver outras habilidades ou aumente as que já possui. Mais uma vez, depende de você”, ele adverte com um tom rigoroso, tanto na voz quanto em sua feição. 

    Brok assente lentamente, cerrando os punhos. Seus olhos brilham com uma determinação renovada, sentindo-se pronto para encarar aquele desafio.

    Rubi dá um passo em frente. “Se quiséssemos partir amanhã…”, diz ela. “Você teria tempo de se aprontar?”

    Brok pondera em silêncio, considerando suas preparações. “Sim…”, ele afirma. “Não há muito que eu precise fazer. Eu volto antes do sol aparecer.”

    “Excelente”, diz Byron. “Ficaremos aqui aguardando.”

    Rubi aponta para a garra-longa morta atrás deles. “Só não esquece de levar aquela coisa”, ela diz.

    O orc acena com a cabeça. “Certo”, diz ele, levantando-se e se aproximando dos restos do monstro. 

    Com ambas as mãos, agarra o corpo volumoso e cheio de penas pelas laterais e começa a erguê-lo do chão úmido. Com uma força inesperada, Brok facilmente ergue a garra-branca do chão úmido, quase perdendo o equilíbrio no processo.

    O orc bufa, recobrando a compostura e, confiante de sua nova força, deixa o corpo do monstro sobre seu ombro direito e o firma somente com um dos braços.

    Os diabos observam a cena atentamente. Rubi arqueia uma sobrancelha, claramente impressionada, enquanto Byron apenas cruza os braços, mostrando-se confiante. 

    “Ele ficou forte mesmo, não foi?”, Rubi comenta com a voz baixa, para não ser ouvida pelo orc. 

    “Eu medi em primeira mão e posso confirmar isso”, diz o diabo, seguro. 

    Antes de partir, Brok ainda se dirige até seu machado enfincado no chão e o agarra com sua mão livre. 

    “Eu volto logo,” ele se despede, com uma voz grave e firme, e parte pela floresta escura, correndo entre os troncos das árvores e pulando pelo terreno irregular, com uma mão segurando uma arma e com a outra firmando o monstro no ombro. 

    Os demônios ficam quietos até a visão do orc desaparecer completamente nas sombras. 

    “Diria que as coisas correram bem?”, Rubi pergunta, sem desviar o olhar. 

    Byron gasta um tempo avaliando a situação como um todo antes de responder, “A meu ver, se as coisas estão do seu agrado, então correram melhor do que bem.”

    Tramoias, viagens e intrigas nos bastidores. Se tudo der certo, um pouco de paz, energia para drenar e, quem sabe, uma alma ou outra de vez em quando, a demônio reflete, encarando a mata sombria. Acho que as coisas vão continuar sendo assim por um bom tempo.

    “Quer saber? Não está tão ruim assim”, ela conclui, deixando um sorriso leve escapar. “Até que eu gosto desse ritmo.”

    Fim do volume 4.

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