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    No alto de um muro feito de troncos robustos, um orc, conhecido como Mindinho, caminha sobre uma plataforma escondida um pouco abaixo do topo na parte interna. Ele usa um corselete feito de couro marrom, com vários pequenos remendos de tons de marrom mais claros e escuros que quase criam padrões em seu traje.

    O orc, que ostenta algumas cicatrizes no rosto, carrega uma postura tensa, como alguém acostumado a perigos que espreitam na escuridão. Ele é iluminado pela luz emitida por uma tocha pendurada à sua esquerda, acompanhada por luz de lua e ouve em silêncio os sons de pássaros noturnos e grilos.

    Seus olhos atentos percorrem a linha das árvores com uma mistura de cansaço e vigilância, mas a floresta à frente se mostra imóvel, apenas pelos galhos secos que balançam ao ritmo de um vento suave.

    Tudo segue como sua rotina usual, até seus ouvidos tremularem quando um novo som começa a se destacar ao longe. O barulho ritmado de passos se aproximando.

    Mindinho olha naquela direção e vê ao longe outro de sua espécie se aproximar. Pelas vestimentas similares que o orc correndo está usando, o orc na plataforma logo reconhece como sendo um outro membro de sua tribo.

    Ele dá um passo atrás, para o outro lado da plataforma, e dá um assovio, avisando outros três orcs que estão no chão. Um deles está escorado sobre a parede de madeira, olhando os outros dois que estão sentados sobre tocos, observando uma pequena fogueira.

    Quando o orc na plataforma assovia, eles entendem o sinal e vão até a porta do grande muro. Juntos, os três agarram a haste com firmeza, os músculos retesados sob o peso da madeira maciça. A estrutura, também feita de troncos, range ao ser forçada pelo chão, um barulho trêmulo que ecoa pela mata próxima.

    O orc que se aproxima move-se velozmente, com passos firmes que esmagam folhas secas, exibindo um olhar sério enquanto carrega os restos de um monstro coberto de penas brancas manchadas e um machado trincado.

    Pelas marcas em sua armadura e pelo jeito determinado com que corre, os orcs junto à porta rapidamente reconhecem o recém-chegado como seu chefe, Brok.

    “Aquilo no ombro dele é outra… garra-branca?”, um deles pergunta.

    Outro olha atento para aquilo e franze os olhos, ao mesmo tempo em que solta uma respiração pesada. “Aquelas coisas… devem ter atacado ele”, ele comenta, com um rosnado ao final.

    Quando o líder orc adentra pelo portão, os outros três começam a fechá-lo. “… Preciso que fiquem atentos”, ele pede, sua voz firme como uma rocha. “Amanhã cedo, vou partir.”

    Os orcs olham para seu chefe com uma expressão de dúvida e confusão, mas acenam com a cabeça, consentindo sem questionar. 

    Mindinho pula da plataforma de cima para uma mais baixa, depois desce com cautela para o chão e se aproxima dos outros. “Por quê? Algo aconteceu?”, ele pergunta, com aflição tanto na voz quanto na expressão. 

    “Te atacaram?”, outro orc de voz esganiçada pergunta. “Achou o problema?”

    Brok deixa o corpo do monstro sem cabeça cair ao chão. A queda emite um barulho abafado, levanta poeira e acaba espalhando penas e um pouco do sangue coagulado da criatura ao redor.

    “Isso… não fui eu, mas não importa agora”, ele diz, mudando de assunto e se voltando a Mindinho. “Achou o Seis Dedos e o Folha Verde?”

    O orc fica momentaneamente atônito, devido à criatura no chão, mas quando Brok pergunta, ele recobre sua atenção. “Eu… nós achamos eles perto da árvore de pedra”, ele responde. “Voltamos antes do sol se pôr.”

    “Isso… é bom ouvir”, Brok comenta, soltando um ar de alívio. Depois começa a ir na direção da árvore no centro do acampamento, seus companheiros seguindo-o de perto, ainda confusos com aquela situação.

    Mindinho se emparelha ao lado do líder, demonstra-se afoito, sem entender exatamente o que está acontecendo. “Onde você esteve?”’, ele pergunta.

    “E o que aconteceu com aquela garra-branca?”, um dos outros orcs acrescenta.

    O líder orc demonstra um olhar obstinado e não para de andar diante das perguntas. “Eu descobri a causa do problema das garras-brancas”, ele responde, sem desviar o olhar. “É tudo culpa de Estoratora.”

    Os quatro ao redor param abruptamente, surpresos, enquanto processam a informação por um instante.

    Mindinho volta a andar, dando um passo apressado para acompanhar seu líder, e os demais fazem o mesmo. “O que ele fez?!”, ele pergunta, um toque de raiva aparenta-se em suas palavras.

    “Estoratora é muito fraco”, Brok responde sem rodeios. 

    Aquelas palavras cheias de confiança acabam deixando os demais orcs mais espantados ainda, pois eles reconhecem a força e a ameaça que aquele orc representa. 

    “Mas ele…”, Mindinho começa a falar, mas interrompe a frase quando Brok para de andar subitamente. 

    O líder já sabe o que seu companheiro pretende argumentar. “Estoratora tem força…”, diz ele, com um olhar baixo e pensativo.

    Eu também… pensava assim, ele reflete, por um momento.

    “Mas isso não faz ele deixar de ser fraco”, Brok continua, em seu tom firme, porém sereno. “Ele não sabe o que fez. E agora nossa tribo corre risco… todas as outras também. E é por isso que eu vou atrás dele.” 

    Os outros orcs ficam boquiabertos e trêmulos, chegando a soar frio, meramente por ouvir aquela afirmação. 

    “O quê?!”, mindinho questiona. 

    “Vou duelar com ele”, responde Brok, depois volta a andar, tranquilamente, parando apenas quando chega à frente da grande árvore cuja copa cobre boa parte de sua tribo. Nela estão enfincadas dezenas de armas ao redor do tronco, variando entre machados, lanças, clavas e até flechas, a maioria com algum defeito ou visivelmente cheia de reparos. 

    Perto dela estão tochas penduradas em mastros de madeira que iluminam o meio daquele assentamento.

    “Por que você vai fazer isso?”, um dos orcs pergunta, preocupado.

    Brok começa a circular lentamente ao redor da árvore, examinando com os olhos cada uma das armas cravadas no tronco. Ele procura por uma em específico, mantendo-se sereno e concentrado, apesar da inquietação evidente de seus companheiros que o acompanham.

    “As garras-brancas são demais para a tribo do Estoratora”, ele responde, ainda procurando. “Para segurar elas, é necessário de outras tribos. Mas enquanto ninguém vencer Estoratora, nenhuma outra pode voltar. Preciso conquistar nossa terra de volta.”

    “Mas ele é muito forte”, um dos orcs alerta, aflito. “Você viu o que ele fez com o Cruók.”

    “E mesmo que você ganhe…”, Mindinho começa a falar, seu olhar cheio de receio. “O dragão que ele serve vai ficar furioso.”

    O líder de repente para de andar. Seus olhos fixam-se em uma parte obscurecida da árvore, onde avista a arma que procura. “Enquanto estive fora, eu… vi algo grande. Maior do que eu ou Estoratora. Maior até do que a nossa tribo. Algo que me fez acreditar que temos uma chance”, ele afirma, erguendo seu machado. 

    Com um movimento descendente, ele golpeia a árvore, emitindo um ruído seco, tentando fincar seu machado como os outros armamentos cravados ali. No entanto, para surpresa de todos, a lâmina, mesmo trincada, atravessa a espessa madeira com facilidade, penetrando no tronco muito mais fundo do que qualquer outra arma presente, deixando apenas o cabo visível.

    Naquele momento, os orcs percebem que o semblante determinado e as palavras confiantes, incomuns em Brok, são perfeitamente justificadas pela força que ele acaba de demonstrar. O impacto os deixa estupefatos. 

    “Brok… você…”, diz Mindinho, tentando formular uma frase, ainda mensurando em pensamento o feito do líder.

    O orc leva a mão a outro machado preso na árvore. À primeira vista, a arma parece tão suja de terra quanto as demais, mas, ao removê-la, Brok revela uma peça intacta, sem sinais de quebras na lâmina metálica ou remendos no cabo de madeira.

    Ele sopra um pouco a poeira acumulada, depois leva a mão até o ombro de Mindinho. “Preciso que cuide das coisas enquanto eu estiver fora”, ele pede, enquanto olha profundamente nos olhos de seu companheiro. “Eu vou… sozinho.”

    O orc arregala os olhos com aquele pedido inusitado, sentindo o peso da responsabilidade que seu líder lhe confere ao mesmo tempo, em que imagina o perigo que ele corre. “Mas Brok você vai…” ele diz, com pesar.

    “Você não precisa se preocupar comigo”, Brok afirma, convicto de suas palavras. “Há algo… maior que me fortalece.”

    Mindinho desvia o olhar para trás, mirando no corpo do monstro sem cabeça na entrada do acampamento. Depois, retorna a atenção para Brok, que, embora não haja dúvidas de que ainda seja o mesmo guerreiro, apresenta-se de algum modo mais forte e passa um ar distante e incomum, contrastando com sua cautela habitual.

    Brok… o que você viu na floresta?, a pergunta ecoa em sua mente, preenchida por um misto de medo e fascínio.

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