Índice de Capítulo

    Naquele trecho da mata, os três encaram o grande javali. A criatura permanece estática, os músculos rígidos como se o tempo tivesse congelado. Seus olhos ainda brilham com o encanto rosa, um contraste vívido contra a selvageria de sua aparência.

    Byron, sentindo que a ameaça se dissipou, retorna à sua forma normal. Sua expressão relaxa enquanto lança um olhar analítico à criatura, examinando-a parte por parte, sem qualquer pressa.

    Rubi, por sua vez, inclina a cabeça levemente, observando a fera com uma curiosidade notável, os dedos tamborilando suavemente no cabo do arco. 

    Esse é bem maior que o javali da outra vez, ela pensa, descontraída, até desviar a atenção para o orc, um pouco à direita, e perceber que ele está inquieto. 

    Mesmo com o javali sob controle, Brok ainda segura o machado com firmeza. Seus músculos estão tensos, prontos para reagir, enquanto ele fareja o ar, absorvendo o cheiro da terra úmida e do almíscar do animal. Seus olhos vasculham cada canto da mata, alertas a qualquer sinal de perigo.

    “Tem algo errado?”, Rubi pergunta, direcionada ao orc.

    “Esse porco… não é comum encontrar só um”, Brok responde.

    “Há uma ferida nele”, diz o diabo, apontando para a lateral do javali. “Provavelmente ele foi atacado.” No local indicado por ele, há um corte aberto entre os pelos grossos do animal, já tingidos de vermelho pelo sangue.

    O orc dá um passo à frente para observar melhor, mas o javali reage de imediato, ficando novamente hostil. 

    Sentindo-se ameaçado, o grande porco solta um grunhido e adota, novamente, uma postura ameaçadora diante do guerreiro verde.

    Brok se prepara para defender-se, apontando a lâmina de seu machado reluzente contra o javali. Ele abre a boca e devolve um urro alto, vindo das profundezas de sua garganta, mais intenso até que o do animal.

    Rubi corre e se coloca rapidamente entre os dois, mãos erguidas em um gesto apaziguador. “Espera!”, ela grita, depois olha para a fera com seriedade. “Javali, vai pra trás! Deixa o orc quieto!” Soa voz firme, dando uma ordem.

    O animal, ao ouvir a voz a demônio e vê-la entrando em sua frente, se aquieta e relaxa, como se a simples presença dela fosse um tranquilizante.

    Brok, perante o pedido, se contém, ainda conservando sua postura firme, ao mesmo tempo em que fica espantado ao ver o controle dela sobre a fera.

    “Se você atacar, o meu charme… melhor dizendo, a minha magia vai perder o efeito e ele vai ficar agressivo de novo”, ela explica.

    “Eu… não sabia. Me desculpe”, diz o orc. “Mas foi ele que começou.” E dá um leve urro ao final, olhando para a fera.

    A demônio de cabelo rosa sente de perto a respiração quente, profunda e calma que ele exala pelo focinho e o olhar cansado que a varre de cima a baixo. As duas presas brancas cheias de arranhões e marcas. O contraste da criatura feroz para aquela, dócil e indefesa, a deixa impressionada.

    Cheia de curiosidade, Rubi se aproxima e estende sua mão esquerda para tocar no animal. Ela se move com delicadeza e cautela, ainda incerta sobre a eficácia de sua habilidade. O javali, surpreendentemente calmo, fecha os olhos e encosta gentilmente a testa na palma dela, como se fosse um mascote adestrado.

    Ela começa a acariciá-lo de leve, enquanto sente os pelos grossos e ásperos da criatura deslizando pelo tecido de sua luva. Até que… funcionou bem, a demônio avalia, admirada. Ficou mansinho e até parece um animal fofo. Uma pena que o cheiro não ajuda.

    “Não sabia que o charme de uma succubus podia afetar animais selvagens”, Byron comenta, intrigado com aquela cena.

    “Não há nenhuma restrição que impeça essa habilidade de ser usada assim”, ela responde, deslizando calmamente a mão sobre a criatura. “O charme funciona melhor com alvos de inteligência baixa. E a maioria dos animais e dos monstros de nível baixo é meio irracional. Mesmo sendo um animal hostil, na maioria dos casos é bem efetivo, a não ser que seja em combate.”

    E a minha classe ganha alguns bônus pra lidar com esse tipo de bicho, Rubi reflete. Succubus com patrulheiro, fica um combo bem interessante para PVE. Ainda mais porque eu posso…

    O orc, desconfiado pela presença do animal ali, o analisa movendo a cabeça para os lados e ainda se mantendo cuidadoso atrás de Rubi. “Acho que… ele foi emboscado”, ele deduz, vendo a ferida. “Quando caçamos esses porcos, começamos atacando pela lateral. A cabeça é muito dura para matar com um golpe só.”

    “Interessante”, comenta Byron. “Considera uma possibilidade que os orcs fizeram isso?”

    “Deve ter um grupo caçando eles por aqui”, Brok responde, olhando para a mata profunda. “Ninguém luta contra um desses sozinho. Eles são… muito agressivos com quem invade a terra deles.”

    Byron caminha circundando a posição do javali, examinando com atenção o trecho da floresta atrás. “Podemos seguir o caminho de onde ele veio. Provavelmente deve haver uma trilha com pegadas e marcas de sangue”, diz ele.

    O orc solta uma respiração pesada e acena com a cabeça, sinalizando que concorda.

    A demônio olha para trás. “E o que fazemos com ele?”, ela pergunta. “Algum de vocês acha que vale a pena treiná-lo? Ou eu posso… cuidar dele?”

    Brok nega, movendo a cabeça para os lados. “Nunca vi ninguém conseguir adestrar uma fera adulta”, ele responde. “A não ser que… sua magia dure para sempre.” 

    “Minha magia não é tão poderosa assim”, ela admite. “E num lugar tão inconstante assim, não sei quanto tempo ele vai ficar em transe.”

    E ele não recuou quando eu pedi. Provavelmente porque ele não entende meus comandos, ela deduz. Não sabia dessa limitação.

    “É mais seguro dar um fim nele, ou ele pode virar um problema depois”, Byron conclui. 

    É uma pena não termos nenhum uso para esse carinha vivo, Rubi avalia, com um sorriso leve que carrega uma leve empolgação. Mas isso não é ruim, é a chance perfeita para finalmente drenar um pouco de energia. Já faz semanas que não faço isso e vai ser uma boa recuperar a mana que gastei. Seus dedos encostados sobre o animal quente tremulam, antecipando o que está por vir. Mas já que ele vai terminar morto mesmo…

    “Por que não… fazemos uma refeição com ele?”, ela sugere. “Depois que averiguarmos os arredores, podemos fazer uma pausa para comer. Isso se ele for comestível.” 

    “Não são  todas as tribos que gostam dessa carne. Ela é bem forte”, Brok comenta, com algum receio. “Mas, na minha tribo, comemos eles.”

    Já dava para ter uma ideia da carne só pelo cheiro, mas não é como se me incomodasse muito com esse tipo de coisa, ela completa. 

    “Outra pausa?”, o diabo questiona, com um ar de surpresa genuína. “Já fizemos uma recentemente. Que durou bastante, por sinal.”

    “Seria bom para o Brok. Ele ainda não comeu nada hoje.”

    “Mas estou certo de que ele comeu e descansou na outra pausa.”, insiste Byron, jogando um olhar confuso e desconfiado ao orc.

    Brok reage desconcertado por aquele olhar. “Eu… trouxe um pouco de carne para a viagem”, ele afirma.

    Já entendi o problema, Rubi conclui.

    “Byron…”, diz a succubus, chamando a atenção do diabo. “Não sei que experiências você tem com mortais, mas com nosso novo guia, vamos precisar diminuir o ritmo e fazer mais pausas.” Seu tom é compreensivo, mas firme. “Ontem, só paramos para ele dormir e comer um pouco. As outras refeições ele fez enquanto andava.”

    Byron se vê pego desprevenido com aquele comentário. “É claro. Também há esse detalhe a ser considerado”, ele pontua, olhando para Brok com um ar de compreensão. 

    Provavelmente ele ainda vai ter alguma dificuldade com isso, Rubi analisa. Mas já é um começo. 

    “Os humanos com quem já viajei eram cultistas. Eles não tinham o costume de parar constantemente em suas viagens, muito menos de me envolver em suas refeições”, Byron explica. 

    “Isso explica algumas coisas”, diz Rubi. “E também, não ia ser ruim comermos algo.”

    “A senhorita tem o costume de ingerir comida física?”

    Rubi fica um pouco espantada com o questionamento do demônio. Nós nunca paramos pra isso, né? Não como de verdade desde Gramina. O mais próximo foi aquele momento com o Couby. Acho que foi um hábito que eu deixei para trás, ela reflete, com uma pontada de nostalgia. Fica difícil lembrar disso sem alguém por perto que precise. Ainda mais depois que eu me juntei com o Byron. A gente só conversa e viaja.

    “Até que… eu gosto de comer”, ela responde, suspirando no final. “Seria um desperdício matar ele e deixar tanta carne para trás.”

    “Entendo. E, considerando o tempo que economizamos no avanço, não vejo problema em fazermos outra pausa.”

    Rubi acena em concordância e volta a atenção para o javali, deslizando a mão pelo rosto do animal. Ele aceita o afago caloroso, fechando os olhos em um raro momento de serenidade.

    “Uma presa difícil de caçar… mas a gordura dele é boa, pura”, Brok comenta, observando o javali com admiração.

    Talvez seja só a excitação do charme falando alto, mas olhando essa montanha peluda aqui, não consigo deixar de ficar animada só de pensar no quanto de energia vital ele tem para eu drenar, ela anseia, empolgada. E mesmo que eu não precise, também gosto da ideia de comer alguma coisa boa. E esse carinha aqui é um bom candidato. Será que é uma boa hora para testar o dreno de maior nível?

    “Vamos ver o que o Senhor Gordura Pura tem a oferecer”, ela diz, contemplando o animal.


    Sub-raça: [Umbra]

    Descrição:  Os Umbra são diabos astutos que assumem uma forma semi-etérea sombria, movendo-se invisíveis nas sombras para emboscar suas presas. Com uma aparência que remete aos diabos clássicos, com chifres que emergem entre seus cabelos e uma cauda longa. Sua pele varia entre tons de rubro a púrpura, reforçando sua aura infernal. Predadores implacáveis, combinam força, inteligência e a habilidade de se esconder à plena vista, tornando-os mestres da surpresa e do terror.

    Tamanho: Médio.

    Atributos: 

    • Força: ⏶
    • Constituição: ⏶
    • Destreza: ⏶⏶⏶

    Principal habilidade de Raça: [Dissolução das Sombras] 

    Você pode assumir a forma de uma sombra escura, usando o tempo de uma conjuração padrão e com um custo de mana equivalente a um feitiço de primeiro ciclo. Nessa forma, você se funde ao chão, paredes ou teto, carregando consigo quaisquer objetos que esteja portando no momento da transformação. Seus sentidos naturais, como a visão, permanecem os mesmos de sua forma física.

    Enquanto na Forma Sombria, você ganha um bônus de velocidade de movimento igual ao seu nível total, se torna indistinguível por meios que dependam apenas de visão de qualquer outra sombra em que você entre e pode atravessar criaturas e passagens estreitas em objetos sólidos (como a fenda de uma porta), mas não consegue atravessar objetos sólidos completos (como uma parede maciça).

    Nessa forma, você não pode atacar nem conjurar magias, mas, se torna imune a qualquer forma de dano físico, exceto àqueles que incluam dano mágico radiante. Encantos ativos no momento da transformação permanecem com sua duração original, mas não podem ser renovados. Nos três primeiros segundos após assumir a forma sombria, você não pode ser alvo de nenhum efeito mágico.

    Para retornar à forma física, você pode usar o tempo de uma conjuração rápida ou uma reação. No entanto, se retornar à forma física dentro de um espaço ocupado por um objeto sólido, sofrerá dano contínuo a cada segundo, baseado na densidade do objeto e na porção do espaço que ele ocupa.

    Tempo de recarga: 3 minutos a partir do momento em que volta a assumir sua forma física.

    Usuários conhecidos: ???

    Acabou que eu esqueci de postar a Sub-raça no capitulo anterior, mas agora está tudo resolvido.

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