Índice de Capítulo

    No meio da floresta, onde a luz do sol bate entre os troncos cobertos de musgo verde, está um bando formado por três javalis enormes como rochas. 

    Eles andam e fuçam, despreocupadamente, pelo chão úmido e cheio de folhas com seus focinhos avantajados, farejando por comida, enquanto emitem pequenos grunhidos. 

    Dois deles usam suas patas fortes para abrir buracos no solo, expondo as raízes e fungos que eles comem, ao mesmo tempo em que o terceiro raspa uma de suas longas presas contra uma árvore, emitindo um ruído seco.

    O ambiente ao redor mostra-se calmo, com os cantos das aves se misturando aos grunhidos do bando.

    Um pouco afastado dali, está um orc, que possui uma grande cicatriz no olho esquerdo e usa uma armadura de couro espessa, com manchas verdes escuras espalhadas por toda a proteção. 

    Ele caminha em direção ao bando, espreitando-se lentamente entre as árvores e a vegetação rasteira. A pintura de seu traje e sua pele verde se misturam naturalmente ao musgo e às plantas. 

    O orc carrega em suas mãos um tacape de madeira escura e couro enrolado no cabo, e exibe um olhar firme em direção aos javalis.

    O guerreiro se aproxima de uma árvore e para de andar. Ele ergue sua arma para o alto e, com um golpe deliberado, atinge o tronco ao seu lado, gerando um estrondo ensurdecedor que reverbera pela floresta.

    O som quase instantaneamente alcança os ouvidos dos javalis. Os pelos ásperos dos animais se eriçam, e eles interrompem seus movimentos para fixar os olhos vermelhos e raivosos no orc.

    Após o golpe, o orc novamente ergue seu braço e repete o movimento várias vezes, fazendo sequências de estrondos ecoarem pela floresta. 

    Os três javalis rompem a calmaria com uma corrida feroz em direção ao orc. O trio avança junto como uma força da natureza, fazendo o chão tremer sob seus cascos pesados, que esmagam a madeira no solo e arremessam a vegetação rasteira para os lados. Seus grunhidos e o som dos passos ruidosos reverberam pelo ambiente, anunciando o ataque iminente. 

    Mesmo diante do perigo iminente, o orc se mantém firme, golpeando na árvore, com um olhar afiado para os javalis.

    Quando a horda se aproxima, outros quatro orcs emergem pulando por detrás das árvores e da vegetação ao lado dos animais. Eles usam trajes de couro com pinturas verdes similares às do orc isolado. Esse grupo mostra-se mais jovem, sem sinais de cicatrizes no rosto e, diferentemente do outro que possui um olhar sério, exibem um olhar confiante e um sorriso empolgado.

    Dos quatro, dois portam lanças com cabos de madeira e pontas feitas de ossos talhados afiados, os outros usam punhais também feitos de ossos com cabos enrolados em couro. Todas elas apontadas para os javalis.

    Com um tempo certeiro, todos os três animais são alvejados de surpresa. As armas são cravadas com força, atravessando a grossa camada de pelos e perfurando profundamente a carne. Com o golpe bem dado, os orcs conseguem se manter pendurados neles e liberam urros profundos, carregados.

    Imediatamente, os javalis grunhem alto de dor, param sua corrida e começam a se debater para os lados, tentando expurgar aqueles que os atacam.

    Os guerreiros intensificam seus ataques, cravando as armas ainda mais fundo na carne das criaturas ou ampliando os cortes em suas peles ásperas.

    Em uma tentativa desesperada, um dos javalis se joga contra uma árvore, que se estremece devido ao grande peso do animal. O orc nas costas dele sente aquele impacto com força total, sangue escapa de sua boca, ele perde as forças para se segurar e cai, deixando seu punhal cravado na fera.

    O orc com o tacape se aproxima e desfere um golpe certeiro na cabeça do javali livre, antes que tenha chance de reagir. A fera fica momentaneamente atordoada e recua alguns passos.

    Enquanto isso, os outros dois animais chocam-se um contra o outro. Os três guerreiros agarrados aos pelos das feras resistem ao impacto e, mesmo com dificuldade, continuam sua ofensiva pressionando suas armas com força. 

    O sangue quente dos animais escorre, e pelo movimento frenético da batalha começa a banhar o peito e o rosto dos guerreiros, misturando o verde-escuro com o vermelho vivo.

    O orc com o tacape aproveita o atordoamento do javali diante dele para se aproximar de seu parceiro caído perto da árvore. Com um movimento súbito, ele agarra-o pelo ombro e o levanta, escorando-o contra a madeira.

    O mais velho encara firmemente o mais novo, observando os olhos do jovem piscarem rapidamente, confuso, ainda perdido entre a dor e o esforço para se recompor.

     “Lute!”, ele grita, sua voz ressoando como um trovão pela floresta, antes de soltá-lo.

    Com o grito ainda ecoando em seus ouvidos, o jovem orc vacila por um momento, mas logo finca os pés no chão. A dor intensa que pulsa entre a barriga e o peito ameaça sufocá-lo, mas ele respira fundo, recupera o equilíbrio e permanece de pé.

    O orc com tacape, sem perder tempo, volta sua atenção ao javali próximo, que não está mais desnorteado e já vem avançando com as presas ferozmente em sua direção.

    A única reação que o guerreiro consegue ter é colocar seu tacape na frente para se defender. As presas afiadas cravam-se no tacape com um som seco, partindo fibras de madeira enquanto o impacto reverbera pelos braços do orc. 

    A criatura é muito grande e forte para que o orc mais velho consiga resistir à pressão que ela exerce, ele é arrastado para trás, empurrado pelo javali. O orc sente o chão úmido deslizar sob seus pés, e ele luta desesperadamente para manter o equilíbrio e evitar ser pisoteado pela fera.

    Os braços do guerreiro tremem incontrolavelmente, prestes a ceder sob o peso esmagador, enquanto a visão do javali raivoso o atormenta. Os olhos vermelhos brilhando de fúria e a saliva escorrendo pela boca acompanham um grunhido agudo. A respiração quente e ofegante da criatura escapa do focinho e bate diretamente no rosto do orc.

    Mas antes do orc mais velho ser derrubado, o orc mais jovem pula na lateral do animal e se agarra firmemente nos pelos ásperos e em seu punhal. Ele emite um urro de guerra, fazendo pressão em sua arma e rasgando a carne grossa do animal em um corte profundo e irregular.

    Mediante a dor lancinante que sente, o javali imediatamente para de avançar e urra em agonia, suas patas cravando o chão com força enquanto se contorce violentamente, espalhando lama e folhas ao redor. 

    O orc mais velho cai para trás, respirando arfante, olhando para o animal que volta a se chacoalhar desesperado, tal qual os outros dois próximos.

    O guerreiro experiente sorri, vendo a luta voltar a retornar a favor do seu lado. Com sua arma presa entre as presas do javali, ele não hesita. Os olhos caçam pelo chão até encontrarem uma pedra robusta, que cabe perfeitamente em sua mão, a qual ele agarra e começa a se erguer, pronto para voltar à luta.

    Antes de dar um passo, o som distinto de um crepitar agudo corta o ar à sua esquerda, destoando completamente do ambiente da floresta. Ele instintivamente desvia o olhar da batalha e, ao encontrar a origem do som, seus olhos se arregalam.

    Seu corpo trava, incapaz de reagir, ao ver Byron avançando em sua forma demoníaca, suas asas membranosas se estendendo, sua presença esmagadora pairando sobre tudo ao redor. 

    O diabo caminha na direção dos orcs mais jovens, distraídos em sua luta. A calma que Byron exibe torna a cena ainda mais aterrorizante para o orc mais velho que observa.

    De onde isso veio?!, aquele orc se pergunta, com a mente tomada por receio e incredulidade.

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