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    Em meio aos grunhidos e urros da feroz batalha entre javalis e orcs, que se desenrola no coração da floresta, Byron avança em sua imponente forma demoníaca. 

    Nessa forma, ele é um pouco maior que os javalis e quase duas vezes mais alto que os orcs. Um sorriso aterrador curva seus lábios enquanto caminha com passos deliberadamente calmos, seus olhos fixos na luta frenética que acontece a poucos metros à frente.

    Os três animais, entre as árvores, pulam enquanto se debatem, chacoalhando-se para os lados, tentando avidamente se livrar dos algozes que estão agarrados às suas costas. O sangue respinga, espalhando-se entre os orcs, a vegetação e principalmente no chão.

    Os orcs ali, devido à intensidade do momento, não percebem a aproximação do monstro vermelho. Para eles, o único perigo no momento são os movimentos selvagens e desesperados dos javalis, os quais eles estão segurando. 

    Porém, o orc mais velho não compartilha dessa distração. Ele encara o demônio com terror nos olhos. Seus instintos gritam, alertando do perigo que Byron representa. O experiente guerreiro reconhece, pelo brilho vibrante no olhar da criatura e pelas brasas que caem de suas asas incandescentes, que ela possui algum tipo de magia.

    Aquilo é coisa dos elfos?, ele se questiona.

    Naquele instante, a dúvida sobre lutar ou correr toma conta da sua mente. Ele trinca os dentes, ponderando sobre a decisão.

    Mas, antes que possa reagir, algo o atinge com força brutal pelo lado direito. Ele sente o impacto derrubá-lo como se fosse um galho seco e despenca ao chão com um baque surdo. A pedra que ele segura escapa de seus dedos, enquanto seu corpo rola pela vegetação úmida, esmagando folhas e galhos pelo caminho.

    Ainda deitado, o guerreiro experiente vira-se rapidamente, buscando o responsável pela ofensiva. Seus olhos encontram Brok de pé, segurando um machado prateado com firmeza e o encarando com um olhar impassível.

    A princípio, ele o observa com confusão. No entanto, ao notar a ausência das marcas brancas na armadura de couro de Brok, o experiente guerreiro reconhece imediatamente que aquele orc pertence a uma tribo diferente. Seus olhos se estreitam e um rosnado profundo escapa de seus lábios.

    Enquanto isso, Byron se aproxima do primeiro javali, no qual apenas um orc está pendurado. Com um movimento rápido e calculado, o demônio estende as mãos e apanha o guerreiro, desprendendo-o do animal com facilidade.

    O orc ergue os olhos e encontra o sorriso cruel de Byron, o que faz um grito desesperado escapar de seus lábios. Nesse mesmo instante, o javali, agora livre do peso, nota a presença do demônio. Com um guincho estridente, a criatura dispara para longe, deixando rastros de sangue em seu caminho.

    O movimento abrupto, os gritos e a proximidade do demônio chamam a atenção dos outros três orcs. A reação deles é similar à do que está nas mãos do demônio, olhos arregalados, surpresos com a aparição repentina do monstro vermelho.

    Naquele breve instante de distração, os orcs são incapazes de se segurar perante o chacoalhar frenético e intenso dos animais e os três são lançados violentamente ao chão.

    Dois deles acabam caindo desarmados, pois suas lanças ainda permanecem cravadas nas profundezas da carne dos animais. Já o terceiro, com o punhal, consegue manter sua arma ensanguentada firme em mãos.

    Os animais assustados, tal qual o primeiro, correm para longe da luta, indo todos na mesma direção, deixando para trás restos de sangue e os orcs aterrorizados no chão.

    Byron dá um passo à frente. Sem os javalis, a clareira entre as árvores agora parece mais ampla, quase como um palco pronto para sua presença imponente. Os orcs, com os olhos fixos no demônio, se erguem apressadamente, recuando instintivamente com cautela, na mesma medida que o diabo se move.

    O guerreiro preso nas mãos de Byron sente o calor intenso que emana da pele do demônio, quase sufocante. Em desespero, ele se debate freneticamente, mas as mãos que o seguram são implacáveis, tão firmes quanto uma rocha esculpida.

    “Peço perdão pela minha interrupção”, diz Byron, sua voz grave e poderosa que, ao ser ouvida pelos orcs, os deixa ainda mais nervosos. “Mas há algo que eu quero de vocês.”

    Perante a atmosfera tensa, o jovem guerreiro com o punhal, lutando contra o medo que aperta seu peito, engole seco. Seus olhos brilham com um resquício de coragem ou desespero. Ele avança repentinamente, soltando um grito de guerra enquanto ergue a arma, mirando o braço do demônio com toda a força que pode reunir.

    O diabo, com um movimento rápido e brutal, contra-golpeia o guerreiro corajoso, usando o companheiro dele como uma arma, acertando os ombros do orc em suas mãos na cintura do guerreiro com o punhal, antes que ele conseguisse atacá-lo. 

    O som abafado do impacto ecoa entre as árvores, seguido pelos gemidos de dor. O orc com o punhal perde a arma, que cai ao chão ensanguentada, enquanto ele mesmo desaba, atordoado, sobre a vegetação. Nas mãos de Byron, o companheiro já inconsciente fica flácido, completamente derrotado.

    Os outros dois, sentindo impotência perante a força daquele diabo, fogem dali o mais rápido que conseguem, pois sabem que suas vidas dependem disso. 

    Byron solta o orc desmaiado, o corpo inerte caindo no chão com um baque surdo. “Ao menos, eles foram corajosos”, ele comenta, com ânimo.

    Suas asas membranosas se abrem em um movimento fluido, espalhando brasas brilhantes que dançam ao redor de sua figura imponente. Com um poderoso impulso, Byron alça voo, como um predador perseguindo suas presas.

    Um pouco à frente, o orc experiente se levanta, fazendo pressão com as duas mãos sobre o chão frio, enquanto olha para Brok com uma expressão carregada de desdém.

    “Você fez isso?”, ele pergunta, a voz grave cheia de desprezo. “Trouxe aquela… coisa?”

    Brok mantém sua postura firme, os dedos cerrados no cabo do machado prateado. Ele encara o orc mais velho de cima a baixo, o ruído profundo de sua respiração pesada ecoando na tensão crescente.

    A troca de olhares é interrompida quando um urro de dor é ouvido, vindo da direção de onde está o diabo, imediatamente chamando a atenção do orc mais velho.

    Ele vê Byron pressionando com uma mão o peito de um dos fugitivos contra o tronco de uma árvore. O orc preso solta um gemido de dor, debatendo-se inutilmente enquanto o demônio já mira o último dos jovens guerreiros que está de pé.

    A ira do mais velho aumenta ao ver a cena. Ele retorna seu olhar a Brok, a indignação transbordando em sua voz. “Aquilo vai matar todos nós”, ele diz, a frase soando tanto como um alerta quanto uma acusação.

    Brok permanece imóvel, seus olhos fixos no mais velho, como se a batalha ao redor fosse insignificante. Seu silêncio pesado apenas amplifica a frustração do guerreiro, que aperta os punhos.

    Cheio de raiva, ele avança de mãos limpas contra Brok, os punhos erguidos prontos para lutar. O orc com o machado abandona sua postura defensiva, também avançando, mas com o ombro à frente em vez da lâmina.

    O guerreiro mais velho, com um longo movimento de seu braço, acerta Brok com um soco direto no rosto, entre o nariz e os olhos. O golpe faz a cabeça de Brok inclinar-se ligeiramente para trás, mas ele não para. Sem hesitar, continua seu avanço e atinge o peito do oponente com um impacto brutal de ombro.

    Ele sente um impacto quase tão pesado quanto o de um javali, sendo arremessado para trás e rolando pelo chão com violência. O golpe no peito o deixa sem ar, e ele tosse, tentando recuperar o fôlego enquanto uma dor aguda se espalha por seu torso.

    Ainda atordoado, ele permanece caído, o olhar fixo no céu entre as copas das árvores. O som abafado dos passos firmes do orc com o machado se aproximando faz sua atenção oscilar, misturando-se ao agitar pesado das asas membranosas de Byron ao fundo.

    Brok surge em seu campo de visão, a expressão rígida como pedra enquanto ergue sua arma. “Se aquele te assustou… quero ver o que vai achar da outra”, diz, sua voz grave carregada de uma fria determinação.

    A última coisa que o orc mais velho vê antes de perder a consciência é o cabo do machado descendo firme em sua testa, apagando-o e mergulhando-o na escuridão.


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