Capítulo 65 - Preparação
Um corvo cinza, empoleirado no topo de uma árvore alta, contempla de longe a movimentação que acontece entre Byron, Brok e os demais orcs no chão da floresta. Imóvel como pedra, o pássaro parece mais uma extensão da árvore do que uma criatura viva. Suas pupilas rosa brilhando com uma vigilância antinatural parecem acompanhar especificamente o movimento do diabo lá embaixo.
Byron, ainda em sua forma demoníaca, anda com passos pesados e um humor surpreendentemente leve, arrastando os corpos inconscientes de quatro orcs. Com cada mão segurando as pernas de dois deles, ele os arrasta pelo chão como presas abatidas, o som de seus corpos deslizando ecoando pela floresta.
Ao lado, Brok caminha em silêncio, o olhar sério fixo à frente, firmando o guerreiro mais velho nas costas, sem prestar atenção ao calo grotesco que agora enfeita a testa do orc.
Enquanto a dupla se move pela floresta, o corvo cinza os acompanha, pulando de galho em galho. Seus olhos atentos vigiam cada passo, transmitindo informações diretamente a Rubi, que observa tudo à distância.
Sentada sobre o galho de uma árvore, a alguns metros do chão, Rubi mantém os olhos fechados, concentrada na visão do pássaro. Abaixo dela, ao lado do pé da árvore, está o corpo do javali, cercado por traços de arrastamento e uma pilha de galhos e madeira seca.
As folhas longas dos galhos mais altos criam uma sombra agradável sobre sua posição.
Com um semblante despreocupado, ela balança levemente as pernas para frente e para trás, acompanhada pelo movimento relaxado de sua cauda.
Não acho que eles precisavam ter ido tão longe, mas foi bom ver que eles se deram bem juntos, ela analisa. Só queria poder ouvir o que eles disseram.
Ela abre os olhos e suspira brevemente, mostrando alívio. Fiquei preocupada que o Byron fosse ficar menosprezando o Brok. Ou que o Brok ficasse com ressentimento do Byron. Só que, pelo visto, nada disso aconteceu, ela reflete, tranquila.
Depois, olha para baixo, focando no grande javali. Ainda bem que eu já peguei um pouco de lenha. Vamos ter algum trabalho para fazer aquilo. E tomara que o Brok saiba prepará-lo, ela pensa, com receio.
O silêncio da floresta é rompido por passos pesados. Byron e Brok emergem entre as árvores, arrastando cinco prisioneiros. Em pouco tempo, veem a succubus sentada no alto.
Ao avistar Rubi, Byron casualmente solta as pernas dos orcs. Chamas intensas envolvem seu corpo enquanto ele retorna à forma humanoide, a transição fluida e imponente. Ele se aproxima dela com passos firmes, mantendo o olhar direto. “Demoramos um pouco”, ele admite, com um leve sorriso. “Mas acredito que o resultado compense o tempo.”
A demônio habilmente desce do galho com um pulo e já joga sua atenção aos prisioneiros. “Até que não demorou tanto”, ela diz. “Acham que eles podem ter alguma informação útil?”
Brok, assim como o diabo, solta o orc que carrega. Quando toca o chão, o corpo mole emite ruído seco. “São orcs de Estoratora”, ele afirma, lançando seu olhar sério ao mais velho. “Devem… ter um bom motivo para estar nessa terra.”
Não parecem tão maus, considerando o que enfrentaram, ela analisa, ao vê-los apenas com alguns hematomas e arranhões. Com certeza vamos poder tirar alguma coisa deles.
“Foi um bom trabalho,” ela diz, lançando um olhar aprovador para os dois. “Vocês se saíram muito bem.”
“Fico grato pelo elogio,” Byron diz, inclinando levemente a cabeça, em um gesto educado, com um sorriso satisfeito.
O orc, mais quieto como de praxe, apenas acena e emite um grunhido profundo e grave, em agradecimento.
Rubi novamente encara os prisioneiros, agora com um semblante pensativo. Ela coloca a mão sobre sua bolsa. Não temos como amarrá-los. Eles são muitos e parecem fortes demais pra minha cordinha segurar, ela avalia.
“Podem deixar os novos convidados ali. Só vamos ficar um pouco atentos. Vamos ter algum tempo antes que eles acordem”, orienta a demônio, com o sorriso sutil ao final. “E mesmo que levantem, não devem conseguir ir muito longe.
“Tomei cuidado para não queimá-los”, Byron comenta. “Não seriam úteis se ficassem feridos demais para conversar.”
“Por falar nisso”, diz Rubi, desferindo um olhar afiado ao diabo. “Já arrumei um pouco de madeira para preparar a nossa refeição. Você se importaria em cuidar disso?”
Byron segue o olhar dela até a pilha de galhos e troncos atrás. Ele franze a testa, inclinando levemente a cabeça. “Confesso que nunca acendi uma fogueira com esse intuito…” ele comenta, pensativo. “Mas não deve ser tão complicado.”
Ele tem acesso a fogo melhor do que eu, não deve ser problema. Se eu tivesse um esqueiro eu mesmo faria, mas não é o tipo de coisa que se deve encontrar por aqui, ela pensa, depois faz uma pausa, segurando um sorriso. Analisando um pouco… Será que é um pouco exagerado usar um demônio como isqueiro?
Rubi se aproxima de Brok, apontando para o javali. “Consegue prepará-lo para a gente?” ela pede, gentilmente. “Eu… honestamente não faço ideia de como lidar com aquilo.”
O orc ergue o olhar para ela. “Eu… posso”, ele confirma.
De sua bolsa, Rubi retira um canivete afiado com cabo de madeira e o oferece ao orc. “Pode usar isso aqui,” ela diz, estendendo a lâmina.
Brok aceita o objeto com cuidado, soltando um grunhido pensativo. “Como… você prefere?”, ele pergunta, o olhar dividido entre o javali e Rubi. “Posso cortá-lo em pedaços pequenos ou assar em pedaços grandes.”
A demônio observa o enorme javali caído sob a árvore, inclinando a cabeça em ponderação. “Sendo honesta, acho que comeria de qualquer jeito,” ela responde com um sorriso despreocupado. Em seguida, volta sua atenção para Byron, que está concentrado organizando os galhos da fogueira. “Byron, e você? Como prefere o porco?”
O diabo ergue o olhar por um momento, as sobrancelhas arqueadas em leve curiosidade. “Não costumo comer porcos, senhorita Rubi”, ele responde, voltando ao trabalho.
Rubi franze o olhar, desconfiada sobre aquela resposta. Ele não disse a mesma coisa sobre comer humanos?, se pergunta. A dúvida paira, uma ponta de suspeita aos poucos se forma em seu pensamento.
“Você só come… almas?”, ela questiona, buscando confirmar sua intuição.
Byron solta um suspiro breve, seu tom cético como sempre. “Sim. Não é como se a comida dos mortais fosse atrativa ao meu paladar,” ele explica, movendo um tronco maior para o centro. “Além disso, duvido que ofereça algum benefício real.”
Tá. Não vou julgá-lo. Não acho que algum prato de comida tenha o mesmo sabor que o de uma alma, Rubi reflete, cruzando os braços. Mas não se deve deixar de fazer algo bom só porque existe algo melhor por aí.
“Nem tudo é sobre o benefício”, ela diz, suavizando a voz de maneira persuasiva. “Às vezes, é bom apenas aproveitar as pequenas coisas.” Ela se volta para o orc. “Brok, você também acha que nós podemos fazer uma boa refeição com esse javali, não acha?”
O orc arregala os olhos, pego de surpresa. Ele olha para o javali, depois para Rubi, e volta ao animal antes de gaguejar. “Eu… é… é… é uma boa carne,” ele responde, a voz grave, mas claramente nervosa.
Isso não passou muita confiança, Rubi pensa, um pouco desapontada com a resposta.
“Se a senhoria…” Byron começa, erguendo a cabeça para olhar Rubi. “Insiste tanto… Eu não vou recusar provar.”
Rubi se anima, a cauda balançando levemente. “Vai ser bom termos esse momento mais descontraído”, ela diz.
Brok se aproxima do animal e já começa a usar a lâmina para cortá-lo. “Pode demorar um pouco…”, ele avisa. “A carne é dura e demora a assar.”
“Não tem problema. Pode ir com calma”, diz a Succubus, já lançando um olhar rápido aos prisioneiros inconscientes. Seu tom, então, se torna mais firme. “De um jeito ou de outro, vamos ter o que fazer nesse tempo.”
Olá. Eu abri um apoia-se, no link eu explico mais um pouco dele. Obrigado.
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