Capítulo 78 - O começo
O grupo de guerreiros orcs se aproxima das barreiras de madeira que protegem seu acampamento. Eles exibem feições irritadas, respirando alto, quase como se não soubessem a diferença entre aspirar e rosnar, enquanto o cheiro de sangue seco e suor pesado preenche o ar por onde passam.
A maioria possui cicatrizes de batalha espalhadas pelo corpo, alguns deles possuem feridas ainda expostas em carne viva, com cortes e marcas de dentes cravadas na pele.
À frente de todos, lidera Estoratora, caminhando com passos pesados, carregando uma machadinha em cada mão e um olhar sério. Ele usa roupas grossas, feitas de couro verde, que estão tingidas com manchas superficiais de cor vermelha intensa.
Um outro orc, armado com uma lança, os aguarda na frente do portão. Sua expressão fechada denuncia que algo também o incomoda, mas ele exibe um sorriso confiante quando vê seu líder se aproximando.
Quando Estoratora chega em frente ao portão, algo chama sua atenção, seus passos cessam e, imediatamente, aqueles que o seguem fazem o mesmo, como se uma ordem silenciosa fosse dada ali.
Um pouco à esquerda da entrada, Estoratora percebe uma enorme mancha de sangue seco no chão.
“Rósno…”, ele diz, com sua voz grave e profunda. “Foi ali?”
Rósno, posicionado atrás da formação, avança um passo e confirma. “Foi… Ele partiu o braço e o pescoço.”
O líder não diz nada, apenas encara a mancha por mais alguns segundos antes de voltar a atenção ao orc que está no portão.
“Ele ainda está aí?”, Estoratora questiona.
O orc acena com a cabeça, confirmando silenciosamente.
“Então, abra o portão”, Estoratora ordena, sério.
A enorme porta lentamente se abre, com o ranger ecoando por todo o acampamento, anunciando a chegada do grupo.
Ao ouvirem aquele som, todos os orcs lá dentro se levantam e veem o grande Estoratora de pé na entrada.
Poucos metros após ele, Brok mantém sua postura firme, seus olhos já fixos naquele grande orc, enquanto segura o machado com uma firmeza que denota preparação para o que está por vir.
Os orcs guerreiros atrás de Estoratora se agitam e urram irritados ao verem o estrangeiro dentro de seu domínio. Eles erguem suas armas, exalando uma onda de raiva. O calor do sol reflete nas lâminas, enquanto o som dos urros se espalha como um rugido coletivo.
Aos poucos, os orcs dentro do acampamento se aglomeram na entrada, formando uma massa atrás de Brok. E contagiados pela euforia dos guerreiros recém-chegados, também erguem seus punhos para o alto e começam a urrar.
“Mata ele!”
“Parte ele em dois!”
“Ele é fraco!”
Os orcs urram repetidamente, causando um alvoroço que pode ser ouvido mesmo a centenas de metros longe dali. No entanto, os dois líderes se mantêm quietos, encarando-se em silêncio, como se o mundo ao redor não existisse, ignorando completamente os gritos e a movimentação ao redor deles.
Eles instintivamente jogam olhares intimidantes, com todos os seus músculos já tensionados, transparecendo a vontade intrínseca que eles têm por uma luta. Estoratora inclina a cabeça levemente, seus olhos estreitando-se, enquanto Brok mantém os pés firmes no chão, pronto para qualquer movimento.
Um guerreiro atrás de Estoratora dá um passo à frente. “Eu cuido disso”, ele diz bravo, segurando uma espada com a guarda quebrada.
Porém, o líder o impede erguendo um de seus longos braços e bloqueando sua passagem. O guerreiro olha para Estoratora com dúvida e medo de ser repreendido, mas o grande orc mantém a atenção fixa em Brok.
“Eu resolvo”, diz Estoratora, sem desviar o olhar.
O guerreiro acena, abaixa a cabeça e volta para seu lugar.
Estoratora ergue a mão esquerda para o alto e a algazarra dos membros da sua tribo cessa quase imediatamente. Os orcs abaixam os braços e aquietam a respiração. A atenção de todos é direcionada ao imenso orc que comanda o lugar e o local fica silencioso.
“Quem é você?”, Estoratora questiona.
“… Brok… Chefe dos Crek’Thra. Vim duelar pelas terras que foram perdidas.”
Estoratora mantém seu olhar cerrado, enquanto respira pesadamente, emitindo ruídos consideravelmente mais altos do que qualquer outro orc ali. “Até hoje eu só enfrentei um da sua tribo”, ele comenta.
“…Eu sei… eu estava lá. Desde aquele tempo… não deixei ninguém vir duelar com você.”
Estoratora muda o olhar para outro orc ao fundo, no meio da multidão atrás de Brok. “Ursúla”, diz ele, chamando pela guerreira.
A multidão se dissipa no meio e de lá sai a Ursúla, apresentando-se empunhando sua lança.
“Além do Boca-larga, quantos ele matou?”, o líder orc questiona.
“Nenhum”, Ursúla responde. “Ninguém mais quis duelar…”
“Teve outro duelo”, diz Brok, interrompendo-os.
Tanto Ursúla quanto Estoratora mostram semblantes irritados com aquela afirmação e os orcs ficam mais tensos, jogando rosnados baixos em direção ao estrangeiro. Novamente, Estoratora os cessa erguendo a mão ao alto.
“Quem?”, ele pergunta, dessa vez jogando um olhar mais intimidante ainda ao guerreiro.
“Eu… não sei. Foi um guerreiro que foi até a minha terra na borda da floresta atrás de uma garra-branca. Ele queria… a caça de um dos meus homens, então duelamos”, Brok conta, desviando seu olhar levemente para sua cintura, lembrando-se da dor daquela ferida.
Estoratora tensiona os dedos ao redor do cabo de suas armas, um pouco mais de fúria acende-se em seu olhar. “Ele tinha razão. Aquela caça era minha, como todas as outras. Tudo o que está na minha terra pertence a mim”, ele declara, e embora contenha um pouco da raiva que sente, suas palavras são carregadas. “Você pode morar onde quiser nessa floresta, mas todas as terras onde os orcs pisarem, ainda são minhas. Porque eu sou o mais forte!”
Os membros da tribo sorriem confiantes e acenam a cabeça, confirmando aquelas palavras. Porém, Brok se mantém centrado, sem se abalar. Se isso fosse verdade… não haveria garras-brancas caçando os da minha tribo, ele pensa. Os diabos têm razão… ele não vê nada além da força.
O guerreiro estrangeiro ergue seu machado e golpeia o chão. O movimento acaba levantando um pouco de poeira e chamando a atenção de todos que ficam instantaneamente em silêncio encarando-o, pois reconhecem o convite ao duelo.
Estoratora o encara, agora rosnando com a boca aberta, emitindo um ruído denso como o de uma fera.
No alto das paredes do acampamento, um corvo cinza empoleirado acompanha tudo o que se passa ao redor de Brok. E a quilômetros dali, Rubi observa pelos olhos daquele pássaro.
A succubus encontra-se em outro trecho da floresta, sentada em uma rocha com as pernas cruzadas, onde o vento suave da manhã brinca com seus cabelos rosa. Poucos metros adiante dela, se encontra uma clareira com ruínas de pedra tomadas por um emaranhado de vinhas verdes.
Rubi abre os olhos, se levanta com um movimento fluido e começa a caminhar em direção à clareira. É bom ver que está indo tudo conforme o plano. Ainda bem que ninguém tentou nada contra o Brok. O Byron deve estar um pouco entediado, mas é melhor isso do que se ele tivesse que exterminar todo mundo lá, ela pensa, aliviada. E contando que o chefão lá não apronte nada no duelo, tudo que o Byron tem que fazer é só aguardar quieto pela deixa dele.
A succubus saca sua rapieira com um sorriso animado se formando em seus lábios ao ver o brilho da lâmina. É hora de começar a minha parte também, ela decide. Vamos ver se consigo trocar uma palavrinha com aquele dragão.
Habilidade de Raça: [Beijo do Vazio](Void Kiss)
Requerimentos: Demônio, Succubus, Nível 40, Ter usado Dreno de Energia mil vezes.
Você leva os lábios a um alvo voluntário ou sob o efeito de charme mágico e drena dele uma quantidade massiva de energia vital instantaneamente. O alvo sofre dano necrótico igual ao seu atributo Mágico, ignorando qualquer redução de dano advinda de Resistência Mágica. Além disso, a Vida Máxima Atual dele é reduzida pelo valor do dano sofrido, efeito que persiste por uma hora ou até ser removido por meios mágicos.
Para cada ponto de dano infligido ao alvo, você absorve a mesma quantidade equivalente de energia vital. Metade dessa energia é convertida em Vida, enquanto a outra metade é convertida em Mana. Caso sua Vida ou Mana estiverem no valor máximo, toda a energia será usada para restaurar o outro recurso. Se ambos estiverem no máximo, a energia restante será convertida em Mana Temporária, com duração de 12 horas.
Tempo de Recarga: 5 segundos.
Usuários conhecidos: Rubi.
*Nota: A quantidade máxima de Mana Temporária que um indivíduo pode acumular é igual a 10% de sua Mana Máxima. Qualquer valor excedente é dispersado.
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