Índice de Capítulo

    Rubi caminha com passos lentos e calculados, enquanto seus olhos percorrem a clareira à frente, examinando calmamente o terreno do inimigo. As ruínas de pedra rodeadas por grama rasteira e tomadas por um emaranhado de vinhas destoam bastante da floresta de árvores altas que circunda o lugar. 

    Esse lugar nem parece parte da floresta, pensa Rubi, sentindo o contraste agudo entre a clareira e a mata ao redor.

    Todo aquele local se encontra em um silêncio quase total, apenas o som do vento sobre as folhas pode ser ouvido e nada mais. A completa ausência do canto dos pássaros ou da movimentação de outros animais dá um aspecto quase mórbido àquela área. 

    Além de tudo isso, Rubi percebe o ar ali sendo um pouco mais denso, como uma névoa fina deslizando em sua pele, cuja densidade aumenta a cada passo que ela dá. Essa calmaria toda é só balela, ela pensa. Tá cheio de mana aqui.

    Ela nota aquele fluxo tênue que emana diretamente da clareira, e a forma como ele se intensifica dá a ela a sensação de estar adentrando em um imenso campo invisível. A energia paira no ar, pesada e palpável, como se o próprio ambiente estivesse impregnado de poder. 

    Isso deve ser uma consequência da magia do dragão nas redondezas, ela supõe. É quase como o antigo covil de Byron. Será que, se eu ficar muito tempo em algum lugar, o ambiente ao meu redor também se transformaria assim?

    A poucos passos de deixar a floresta, Rubi para de andar. Ela leva a mão até a bolsa lateral e corre os dedos lá dentro, conferindo os frascos de poções que tilintam com o movimento. Rubi fica satisfeita e, com a mesma mão, ajeita delicadamente o pingente dourado do colar em seu pescoço enquanto foca o olhar na rapieira que segura, uma arma comum, mas bem polida, feita de metal. Não é muita coisa, mas vai servir, ela constata. 

    A succubus então se concentra por alguns segundos. “Arma cromática”, ela pronuncia e a lâmina começa a brilhar, trocando de cor várias vezes, variando entre azul, verde, amarelo e vermelho. 

    Rubi observa a espada alternando-se pacientemente, ponderando sobre algo. Como são plantas, o melhor seria…, ela avalia. Quando a espada assume a cor vermelha, a demônio a brande para o lado, e a lâmina se fixa naquela cor. A arma brilhante começa a irradiar um calor tênue. 

    Ela sente a magia vibrar em sua mão, preparando-se para o que virá. Agora, com sua arma encantada, Rubi volta a olhar para a clareira. É hora de começar a chamar um pouco de atenção, a demônio pensa, sentindo-se pronta.

    Ela dá um pulo para frente e, quase imediatamente, como um gatilho invisível sendo acionado, a ponta de uma das vinhas atrás se ergue do chão e parte na direção dela. 

    Rubi se volta naquela direção e se defende colocando a rapieira entre ela e a vinha. O movimento da lâmina deixa uma trilha de chamas no ar com um véu incandescente e assim que o cipó faz contato, a ponta entra em combustão e queima. 

    O fogo segue da ponta para o resto da vinha, percorrendo um pedaço como pavio aceso, e a planta perde toda a sua força.

    A demônio sorri ao ver o cipó agressivo se consumir em chamas. Deu certo!, ela pensa com ânimo, mas seu instinto a mantém em movimento, pois outro ataque já vem na sua direção. 

    Outro cipó ao lado se ergue e avança contra ela. Dessa vez, a succubus se esquiva com um pulo para o lado e a planta acaba acertando o chão, rompendo a terra e as pedras abaixo sem muitas dificuldades. 

    Não sei se os ataques desses cipós contam como mágicos, mas eu não quero pagar pra ver, Rubi avalia receosa ao ver o estrago. E seu rosto se fecha em desânimo quando o emaranhado todo começa a se mover ao redor dela. Essas coisas não vão dar descanso

    Ela segue para frente, rumo ao centro das ruínas, e mais vinhas se erguem, emitindo estalos secos e chicoteando o ar, direcionadas para Rubi. Mais uma vez, ela se defende contra-atacando-as com sua lâmina e queimando as plantas.

    Ela continua nesse ritmo, lutando contra aquela vegetação com golpes de esgrima, ao mesmo tempo em que usa passos acrobáticos para avançar, tomando cuidado para não pisar nas vinhas no chão.

    O caminho atrás dela se torna uma trilha aberta de plantas cortadas, queimadas e em cinzas. Seu rosto exibe foco e atenção enquanto ela usa todos os seus sentidos para continuar se defendendo.

    Nesse meio-tempo, na torre mais alta, que fica no centro da clareira, de onde também aparenta ser o ponto de encontro de todas as vinhas, o ser escasso que lá repousa abre os olhos. 

    Ele sente as plantas aos seus pés se movendo bruscamente, e o fedor da vegetação queimada enche suas narinas. Ele percebe a calmaria de sua clareira sendo obstruída pelo som dos estalos dos chicotes e do crepitar de chamas. Imediatamente, seu olhar se curva em raiva, e um rosnado furioso sai de suas narinas alongadas.

    De repente, Rubi sente o chão tremer e em seguida escuta algo vindo do centro da clareira.

     “Chega!” O rugido ressoa entre as pedras, profundo e carregado de fúria e autoridade.

    As vinhas de todo o local instantaneamente param de se mexer e tombam ao chão completamente inertes, como se aquela ordem fosse absoluta e cessasse qualquer traço de vida que aquelas plantas carregam.

    Rubi respira fundo, aliviada ao ter um segundo de paz. Ela fixa o olhar no buraco da torre de pedra e observa alguma coisa imensa saindo de lá. 

    Primeiro, uma cabeça reptiliana escamosa, verde-brilhante, surge da escuridão. O pescoço atrás dela é longo e se move igual a uma serpente, seguido pelo corpo grande e musculoso com patas fortes e garras afiadas tal qual uma espada. Por fim, a cauda desliza para fora do covil, grossa e pesada como um tronco caído.

    O dragão avança para fora da toca e fica de pé sobre as patas traseiras, exalando da boca uma névoa verde. Seus olhos furiosos percorrem a clareira, buscando o intruso, até que ele vê a fumaça. Então, sua atenção se fixa na succubus, parada à meia distância da borda.

    Rubi olha para aquela criatura majestosa com um misto de admiração e orgulho. Foi um bom aquecimento e consegui o que eu queria, ela pensa, mostrando um sorriso no canto da boca e apertando o cabo da rapieira com os dedos. O coelho finalmente saiu da toca.

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