Capítulo 81 - Quando o incêndio começa
Na região da clareira onde estão Rubi e o dragão, as vinhas começam a se ondular pelo chão com mais intensidade.
Acho que as coisas vão ficar frenéticas agora, pensa a demônio, sentindo aquele movimento prestes a irromper em um ataque.
“Vou te mostrar o que acontece com quem mexe comigo”, declara o dragão.
Furioso, ele gira seu corpo grande e pesado, cada movimento ressoando no chão como um pequeno tremor. A cauda dele avança em direção a Rubi, estralando igual a um chicote verde que pesa toneladas.
Diante do perigo, Rubi pula para trás, escapando com um passo ágil. O golpe ainda gera uma lufada de vento pesada, cujo ar carrega um cheiro ácido e desagradável.
Esse cheiro vindo dele não é um bom sinal, a succubus analisa, focada no dragão.
Mas ela não tem muito tempo para pensar nisso, pois, enquanto ela se esquiva, três dos cipós avançam.
Um atrás do outro, movendo-se em uma sequência coordenada tal qual uma onda de ataques. Eles se curvam pelo ar, cortando o espaço como lâminas.
Rubi ainda tenta se defender com sua espada, porém consegue apenas incinerar um deles, e os outros dois acabam acertando-a na perna e na cintura.
Ela sente a pressão dos ataques na forma de uma dor aguda que queima, como se brasas estivessem cravadas ali. Apesar dos impactos pesados que a fazem balançar um pouco, ela consegue conservar o equilíbrio.
Tá, com certeza isso doeu pra caramba e causou algum dano, Rubi constata ao ver sua perna se avermelhar na região do ataque. Mas, apesar disso, mantém sua postura e foco. Ao menos já sei que não posso fazer defesas ou esquivas muito longas contra os ataques dele.
Ela ergue sua espada avermelhada para o lado e o dragão imediatamente se prepara para um contra-ataque, abrindo suas asas e recuando seu pescoço. Porém, a succubus não avança e mantém uma postura defensiva. Naganadeliumos franze o olhar, confuso.
Ela não vai atacar?, Naganadeluimos se questiona. Inicialmente, um semblante desconfiado surge em sua expressão, e ele se mantém cauteloso, porém o olhar centrado que Rubi esboça o deixa irritado e ele já parte para o ataque. Basta. Se não vem até mim, eu vou até você.
Mais vinhas disparam contra Rubi, forçando-a a bloquear e se esquivar em meio aos ataques. O dragão aproveita o momento e bate as asas, erguendo-se no ar e avançando contra ela.
O vento gerado por aquele movimento levanta a vegetação ao redor e empurra pedras no solo.
Ele avança com as garras da esquerda brilhando levemente, abertas e erguidas em direção à Rubi.
Quando se aproxima, faz um movimento descendente com o braço e Rubi interpõe a rapieira na frente, tentando desviar o ataque, e um tilintar agudo resvala no meio da clareira.
A diaba sente todo o peso do dragão recair sobre ela. Ainda assim, com algum esforço, a succubus consegue defletir a pata do dragão para o chão.
As garras se chocam contra o solo com um estrondo e racham a terra sob seu impacto, e mais uma vez, o odor corrosivo e desagradável se espalha por ali.
O dragão aproveita-se do espaço e, no mesmo segundo, já ergue a outra garra, preparando-se para conectar outro ataque pela direita.
Ele tá muito perto, Rubi pensa.
Pressionada, ela leva a mão livre até o pingente dourado de seu colar e o aperta.
Instantaneamente, uma nuvem de fumaça branca cobre completamente a succubus.
Naganadeliumos perde a visão de Rubi, mas ainda ataca. Porém, tudo o que o dragão sente acertar é o solo, que se abre sob o peso de suas garras.
Momentos depois, a diaba deixa a nuvem densa, com um salto longo para trás.
Esse bicho tem muita força. Se eu tiver que ficar indo de frente com ele assim, vou ficar sem estamina muito cedo, Rubi reflete. Ao se afastar, vê as vinhas chicoteando a fumaça, cortando o véu branco bem no ponto onde ela estava. E ainda tem aquelas porcarias me atacando o tempo todo.
Após a investida intensa, Naganadeliumos sente uma ardência na mão esquerda. Ao examiná-la, vê marcas negras de queimadura nas garras, deixadas pela espada incandescente da succubus. Irritado, o dragão bufa pesadamente pelas narinas.
“É assim que pretende me derrotar? Com fugas e truques baratos? Achei que fôssemos lutar de verdade”, ele provoca. “Onde está sua bravura agora, demônio?!”
Apesar da afronta, Rubi mantém a guarda, esperando pelo próximo ataque. Eu não vou cair na sua. Atacar agora sairia bem caro pra mim, ela pensa. Mas daqui a pouco vou poder focar na ofensiva.
Enquanto o confronto entre a succubus e o dragão acontece, um combate diferente se desenrola em outro ponto da floresta. Longe dali, no acampamento de Estoratora, as coisas se mostram mais agitadas.
Dentro das barreiras de troncos altos, urros e gritos ecoam, criando uma comoção intensa. Próximo à entrada, está um aglomerado de orcs, organizado em uma roda quase completa. Todos eufóricos, torcendo por seu líder.
Diante deles, estão os dois líderes orcs. Estoratora segura duas machadinhas afiadas, seus músculos tensos e prontos para o ataque, enquanto Brok empunha seu enorme machado, a lâmina refletindo a luz do sol.
Eles estão se circundando, com passos calculados, com olhares cerrados e cautelosos, estudando-se a cada segundo. Estoratora está firme, com ambos os braços tensos.
Os orcs da plateia evitam ficar atrás de Brok e, a cada passo que ele dá, os espectadores se afastam instintivamente para os lados, abrindo espaço.
O guerreiro estrangeiro conserva o machado erguido horizontalmente, rente ao corpo. Ao contrário da armadura verde de Estoratora, que se mostra especialmente intacta, a armadura marrom de Brok já apresenta arranhões e cortes recentes, com marcas vermelhas de sangue ao redor.
Em algum ponto, linhas verdes e vibrantes surgem no corpo de Estoratora, espalhadas por todo seu corpo como se suas veias ficassem destacadas. Quando isso ocorre, ele subitamente gira o corpo e dispara uma de suas armas contra Brok como um projétil veloz.
A única reação que ele consegue ter é se abaixar um pouco, tentando sair da trilha, mas a machadinha ainda acerta em seu ombro, atravessando a armadura e a carne com facilidade.
A arma continua seu trajeto em linha reta até se cravar na parede que protege o acampamento, juntando-se a outras três espalhadas pelas redondezas.
Após o ataque, as linhas brilhantes no corpo de Estoratora apagam-se e, mesmo ferido, Brok corre em direção ao orc e o ataca com seu machado.
Estoratora usa sua arma restante para bloquear o ataque, o som do metal se chocando ecoa entre eles. O grande orc sente em primeira mão a força dos dois braços de Brok empurrando-o.
O líder grita e ergue a mão livre para o alto. Um orc da plateia joga outra machadinha, que Estoratora agarra com firmeza, preparando-se para desferir um golpe descendente.
Brok vê aquilo e, cauteloso, recua a tempo de escapar do golpe da nova arma de Estoratora. O jeito que ele luta… é difícil acompanhar, pensa ele.
Diante da recuada de Brok, os guerreiros que assistem à luta soltam gargalhadas escancaradas, enquanto ofensas, provocações e chacotas ecoam pela multidão.
“Covarde!”
“Lute!”
“Acaba com ele!”
Brok começa a rosnar, incomodado, tentando ignorar as ações da plateia, ao mesmo tempo em que o outro líder orc começa a exibir um sorriso confiante e provocador.
“Não vai mandá-los parar?”, questiona Estoratora, desdenhoso.
“… Não adiantaria nada”, diz Brok, encarando seu rival.
Do lado de fora do acampamento, Byron ainda permanece sentado no alto de uma árvore, como se aguardasse por algo. O diabo ouve toda aquela comoção vinda da luta, exibindo um olhar concentrado e severo.
Pelos gritos, está claro que as coisas não vão bem para você, Brok. Resolva isso logo. Se continuar assim, terei que intervir, ele pensa, descontente. Você sabe que não precisa seguir todas as regras deles. Afinal… você não é um deles.
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