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    Diante da comoção causada pelo ferimento em Estoratora, os orcs ao redor se mostram acanhados, com olhos arregalados e expressões que transmitem incredulidade. 

    A certeza de uma vitória fácil se desfaz no ar. Aos olhos deles, aquele corte na cintura fere sua confiança quase tanto quanto fere o próprio Estoratora, e o sangue que escorre até o chão não mancha apenas o terreno, mas também o orgulho de toda a tribo.

    Em poucos segundos, os olhares arregalados aos poucos se franzem, transformando a apreensão em raiva. Os punhos se fecham ao ponto de quase ferirem as palmas das mãos.

    “Mata ele!”, ruge um dos orcs, acabando com o silêncio da multidão.

    “Corta ele no meio!”, ecoa outra voz, inflamando ainda mais os outros ao redor.

    O silêncio da tribo se rompe em um rugido ensurdecedor. Cada voz clama por sangue, exigindo a morte de Brok como pagamento pela humilhação de seu líder.

    Mas o guerreiro estrangeiro consegue ignorar tudo aquilo. Os gritos exigindo sua cabeça entram por um ouvido e saem pelo outro, pois ele tem preocupações maiores.

    Ele se mantém concentrado na luta, sentindo cada ferida brutal arder como brasa quente, intensificando-se com cada brisa que passa ao seu redor. Sua armadura já é praticamente um colete marrom furado, manchado com seu próprio sangue.

    A essa altura, Brok já tem certeza de que seu corpo só está de pé graças à magia. Então… esse é o poder do campeão, ele pensa.

    Estoratora, por outro lado, ainda mal acredita no que está vendo. Ele devia estar morto. Esparramado no chão, afogado no próprio sangue, ele constata, correndo seu olhar pelas feridas de Brok. Seus olhos verdes luminosos transmitem fúria e indignação. 

    Ele parte para o ataque, correndo com passos pesados, suas lâminas afiadas erguidas e voltadas na direção de Brok. 

    Brok se apronta para aguentar o golpe e vê a fúria luminosa mais uma vez tomar o corpo de Estoratora. 

    As lâminas de Estoratora cortam o ar em um arco, uma após a outra, descendo como guilhotinas sobre os ombros do guerreiro.

    Brok ergue o machado, bloqueando com sucesso a primeira lâmina. Mas a segunda o atinge em cheio, rasgando sua carne e se afundando até ser detida pelo osso.

    O impacto dos golpes faz as pernas de Brok vacilarem. Os orcs ao redor rugem, já proclamando a vitória de seu líder diante de um golpe letal, mas seus gritos se transformam em incredulidade quando veem Brok resistir. O guerreiro não apenas continua de pé, mas também desfere o contra-ataque.

    Antes que Estoratora possa reagir, um corte brutal rasga seu peito, atravessando a armadura e expondo ainda mais de sua carne viva.

    Surpreso, ele recua um passo, vendo mais de seu sangue escorrer pelo chão, mas o que o atordoa de verdade é ver Brok ainda firme. A figura do orc mutilado resulta em uma visão impossível que atormenta todos ao redor.

    Não bastasse o peito aberto, onde parte das entranhas são visíveis, o ombro quase partido causa um sentimento de estranheza profundo, como se o que estivesse ali não fosse um orc. 

    Brok, destemido, dá um passo à frente e Estoratora, ainda sem entender o que se passa, reage com um passo para trás.

    “O que diabos é você?!”, ele questiona, atormentado.

    Brok respira profundamente. “… Só um orc”, ele responde, enquanto exala um ar impassível e exibe um olhar sério. “Igual a você.”

    Ele é como um monstro difícil de matar, pensa Estoratora. Mas… se eu parti-lo no meio, não vai ter como ele ficar de pé. Apesar da visão desconfortável e das feridas, o líder orc ainda se mostra confiante na vitória.

    Estoratora apronta suas machadinhas, as linhas verdes se espalham por seu corpo, mas, para sua surpresa, em instantes se apagam. “O que?!”, ele se questiona em voz alta.

    No meio da multidão que acompanha a luta, Úrsula empalidece. Os orcs ao seu lado estão divididos entre expressar sua fúria e sentir medo de Brok, mas ela mal consegue respirar enquanto seus dedos tremem.

    “Não…” A voz dela sai como um sussurro quebrado.

    Brok percebe a hesitação em Estoratora e salta em direção a ele, brandindo seu machado. Estoratora tenta bloquear o golpe, cruzando suas armas para defender-se, mas a força de Brok é esmagadora.

    O golpe é pesado demais para Estoratora. Sem a força do dragão, seus braços cedem, e um novo corte se abre em seu peito. 

    O orc arfa furioso e contra-ataca girando o corpo. 

    Brok consegue se defender bloqueando uma das armas e esquivando-se da outra. 

    Estoratora dá outro passo para trás e arregala as pálpebras, desesperado. Seu olhar corre rapidamente pelos orcs de sua tribo que acompanham a luta. Todos exibem feições surpresas e desesperadas, com a esperança trincada.

    Sentindo-se sem opções de vencer em um combate direto, ele arremessa uma de suas machadinhas. 

    A arma corta o espaço entre eles quase instantaneamente e acerta Brok, que não se esquiva, no ombro sem feridas e lá se crava. 

    O novo ferimento parece não afetar Brok, pois ele simplesmente retira a arma como se fosse trivial.

    Atormentado, Estoratora ergue a mão esquerda aguardando por outra reposição. Mas ninguém faz nada, pois todos estão abalados. 

    Brok usa essa oportunidade para atacar. Ele direciona seu machado para o braço erguido de Estoratora, e a lâmina rasga a carne com uma facilidade aterradora, fazendo o longo braço do líder cair ao chão.

    Estoratora berra em voz alta, sentindo uma dor excruciante e um estranho sentimento de leveza no lado esquerdo do corpo.

    Brok, impiedoso, golpeia novamente, dessa vez acertando-o na perna. Um corte profundo que faz Estoratora se ajoelhar.

    Em desespero, o guerreiro balança sua machadinha na horizontal, mas sua força já se esvai. O golpe mal passa pelo ar antes que Brok contra-ataque, com um chute no antebraço que impede o ataque e derruba Estoratora ao chão.

    Caído de costas, ele encara o céu sobre uma poça carmesim, formada pelo sangue que escorre de suas feridas e dos restos de seu membro decepado. Um cheiro pútrido e venenoso corrói todo o ambiente ao redor.

    Brok para diante dele e coloca o pé sobre o braço restante, imobilizando-o enquanto ele luta para respirar.

    Uma última vez, Estoratora passa o olhar pelos membros de sua tribo. Ele vê seu mundo de cabeça para baixo, com orcs de semblantes quebrados, apreensivos e tristes, tomados em um silêncio digno de velório. No centro, está Úrsula, com uma expressão pesada, mas ainda firme.

    Por fim, ele olha para Brok. O guerreiro respira pesadamente, empunhando em mãos o machado como um carrasco. 

    Os músculos de Estoratora falham. Nem rastejar ele consegue. E o pé que o impede de se mover é imóvel como uma montanha. 

    “Vai… faz logo…”, Estoratora começa a falar, reunindo as forças que tem, em um estado de aceitação carregado de resignação. “Acaba com isso!”

    “Que sua luta seja grande e seu golpe pesado”, roga Brok, erguendo o machado ao alto. A luz do sol brilha nas partes da lâmina que ainda não estão sujas de sangue.

    O machado desce. Um ruído molhado de carne e ossos se rompendo ecoa no ar. A lâmina de Brok se crava no meio do crânio de Estoratora e o silêncio profundo que paira no ar em sequência declara a vitória do forasteiro.

    Do lado de fora das paredes de madeira, Byron, no alto de uma árvore, ajeita suas roupas e sorri, contemplando a quietude total dentro da tribo como se uma sinfonia tocasse em seus ouvidos. 

    Agora, creio que a minha deixa já se aproxima, ele pensa, com ânimo no olhar.

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