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    O grande demônio chega ao campo de batalha e imediatamente sua presença altera o ambiente ao redor. O ar se aquece com sua aproximação e as bases das vinhas sob seus pés se incineram antes mesmo que ele toque o chão. As que se projetam pelo ar, tentando atingir Rubi ou ele, viram cinzas quase instantaneamente ao cruzarem o alcance da aura ardente que emana de seu corpo.

    Apesar do calor perto de seu aliado, Rubi sente que finalmente pode parar de correr. A incessante ofensiva das plantas aparentemente torna-se inútil próximo a Byron.

    Naganadeliumos, afastado a dezenas de metros, encara a invocação da succubus com desdém. “Um lacaio?!”, ele questiona, resignado. “Como se não bastasse, você profanando o meu domínio.” Apesar do tom amargo, um riso presunçoso escapa no final. “Mas se acha que isso vai te ajudar, vá em frente. Você apenas condenou outro a sofrer com você.”

    Rubi franze o cenho para o dragão enquanto desativa o encanto da rapieira. Em seguida, guarda a lâmina na bainha presa à cintura. “É bom te ver”, ela diz, com um sorriso discreto, puxando seu arco dourado das costas.

    “O duelo do orc demorou mais do que o previsto”, ele comenta, com sua voz sombria e grave. “Mas, dado o resultado, ainda foi um sucesso.”

    “É… Eu vi como acabou…”, Rubi diz, lembrando-se da imagem de Brok com Estoratora partido aos seus pés sobre uma poça de sangue. “… Mesmo que você não precisasse agir, ainda assim, me senti mais segura com você lá como garantia.”

    Eu nunca duvidei do Brok, mas, por um momento, achei que, quando eu trocasse para a visão da sentinela, veria o Byron partindo todo mundo ao meio, ela pensa, suspirando aliviada. 

    “Aproveitei esse tempo para ver um pouco do poder do dragão”, diz Rubi.

    Byron nota os sinais do veneno, junto de algumas marcas no corpo dela. “Tem sido uma batalha difícil?”

    “Ele é durão, mas… tá tudo bem. E como você está aí?”, ela pergunta, tentando desconversar de leve. “Como acha que foi a invocação?”

    Byron fecha seu punho com força e firmeza, medindo seus músculos. “Nunca fui invocado assim antes. Sinto meu poder em completude”, ele afirma, transbordando convicção. “Quase como se eu realmente estivesse aqui.”

    Então, mesmo à distância, consigo invocá-lo em totalidade…, Rubi divaga, surpresa. Pelo que ele me explicou, há muitos fatores que afetam uma invocação. Já estava achando que seria impossível invocar um demônio sem deixá-lo mais fraco do que o normal.

    “E quanto à sua mana? Presumo que minha invocação consumiu uma quantia considerável”, Byron pontua.

    “Até que estou bem. Economizei bastante durante a luta. Pra te invocar, usei a mana que acumulei drenando aquelas garras-brancas no caminho.”

    “Excelente”, Byron comenta, satisfeito.

    De ontem para hoje, devo ter usado o Beijo do Vazio tantas vezes que eu pude me manter só com a mana do meu estoque de mana adicional, Rubi constata. Mas, depois dessa invocação, ele ficou seco.

    “Hummm”, Rubi murmura, enquanto observa o diabo, examinando-o de cima a baixo. 

    Considerando que meu estoque estava cheio antes da luta e que a arma cromática que usei é um feitiço de terceiro ciclo… dá para chutar que o custo de invocação do Byron é o mesmo de pelo menos um feitiço do sexto ciclo. Caramba, conclui Rubi, impressionada.  

    “Daqui pra frente, conto com a sua ajuda”, ela afirma, determinada.

    “É claro”, diz Byron, concordando, com um sorriso feroz.

    Os dois encaram o dragão, que permanece quieto, observando vinha após vinha incinerar-se no ar. A expressão descontente dele também exala confiança.

    “O nosso anfitrião não vai nos atacar?”, Byron questiona. 

    “Acho que não. Ele acabou de usar uma habilidade em área. É vantajoso pra ele nos deixar enrolando enquanto ela ainda está em recarga.” 

    “Creio que seria bom darmos início. Se importaria se eu fosse na frente?”

    “Eu me cuido aqui atrás. Mas tenha cuidado”, Rubi alerta. “Tem veneno na pele e nas garras dele.”

    Byron ri, um misto de bom-humor e empolgação. “Nesta forma, venenos não podem me derrubar.” E, com um poderoso bater de asas, o demônio avança. O ar ao redor ruge, deixando atrás de si um rastro incandescente de brasas e cinzas em direção ao dragão.

    Com a distância de Byron, o calor protetor da Aura Ígnea desaparece próximo a Rubi. Ela começa a ver as plantas aproximando-se dela pelo chão, como serpentes verdes rumo a uma emboscada. 

    É melhor eu voltar a me mover, ela decide, começa a correr enquanto leva a mão livre à bolsa.

    De lá, ela saca um frasco diminuto com um líquido vermelho no interior e, antes de abrir, dá uma boa olhada na porção. Eu nunca tomei uma dessas, ela constata, um pouco receosa. Será que o gosto é ruim?

    Ela empurra a tampa com a ponta do polegar. O som seco da rolha se soltando ecoa levemente e ela bebe todo o líquido de uma vez. 

    A face da succubus se contrai completamente ao sentir o gosto extremamente amargo e forte da poção. Parece remédio caseiro… só que feito numa meia… sem doce. Porém, apesar do sabor, ela sente a dor de suas feridas aliviando-se, e o ardor do veneno enfraquece, como se um peso fosse tirado de seus músculos. Até que valeu a pena.

    Mais adiante, Byron ergue as garras, preparando-se para atacar o dragão. 

    Nananadeliumos percebe o demônio emanando uma onda de calor, mas aquilo não lhe importuna mais do que o sol em sua pele. “Subordinado presunçoso, saiba seu lugar!”, ele declara. 

    Girando seu corpo imenso, a cauda do dragão se ergue como um chicote e avança com força brutal. O impacto atinge Byron em cheio no peito e o arremessa contra o chão. Mas, antes de cair, ele agarra a cauda e finca os pés com força no solo, resistindo à investida.

    O impacto ecoa em um estrondo e racha a terra sob os pés do demônio, mas, apesar da pressão, ele consegue se manter firme.

    O dragão sorri ao ver o diabo prensado, mas logo franze o cenho. Apesar da aura quente de Byron, que queima as plantas e o solo ao redor, não lhe causar incômodo, algo agora está diferente. Um chiado agudo começa a subir no ar.

    O cheiro de carne chamuscada invade suas narinas. Imediatamente, ele recua a cauda ao senti-la queimar sob o toque do demônio. 

    “Desgraçado!”, ruge Naganadeliumos, furioso.

    A pele dele ficou mais quente quando eu encostei, ele constata, surpreso.

    Byron ri, confiante. O veneno sobre sua pele escura, marcada por rachaduras incandescentes, evapora lentamente, sem dar sinais de afetá-lo.

    “Você é forte…”, admite o demônio, interessado. “Vai ser uma batalha fascinante.”

    E Rubi, afastada dezenas de metros longe dali, puxa a corda de seu arco, preparando uma flecha mágica, enquanto corre das vinhas. Ele se concentra e a flecha, inicialmente laranja, muda de cor, tornando-se vermelha intensa. 

    É hora de começar, pensa ela, com um sorriso decidido.

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