Capítulo 92 - O que ele deixou para mim
Em meio à clareira, Rubi ainda encontra-se na borda da cratera onde está o corpo de Naganadeliumos, encarando as vinhas verdes com um olhar preocupado.
Essas coisas não vão me atacar, vão?, ela se questiona, receosa. Ela olha para trás, focando-se no dragão morto. Geralmente, quando o chefe morre, as habilidades dele param de funcionar. Mas ainda sinto aquele campo de magia por aqui.
A succubus volta a examinar as vinhas sem se aproximar. Acho que só testando mesmo, ela pensa.
Rubi pega um pedaço de pedra no chão e o joga para frente com força. A rocha passa acima das vinhas normalmente, sem disparar reação alguma.
Certo… parece tranquilo, ela pensa mais confiante, vendo o lascar cruzar alguns metros do campo de vinhas sem problemas.
Mas antes de a succubus dar um passo para frente, a rocha toca o chão e segue rolando por mais alguns centímetros até encostar em uma das vinhas.
Um instante depois, uma das plantas ergue-se como uma serpente e golpeia a pedra contra o chão, transformando-a em poeira sobre o solo.
Os olhos de Rubi se arregalam, surpresos com a resposta extremamente violenta. Ah, droga, ela pensa, depois volta a atenção para Naganadeliumos. Precisava ter feito essas coisas tão persistentes assim?
A diaba abaixa a cabeça e suspira desanimada. Achei que fosse ser tudo fácil. Mas não vai ter jeito, Rubi pensa.
Ela pega outra pedra no chão e a arremessa em direção às plantas, dessa vez com menos força, querendo observar mais de perto o que acontece naquele emaranhado verde.
Rubi acompanha atenta enquanto a rocha percorre alguns metros pelo ar e pelo chão, intacta até encostar em uma das plantas e ser brutalmente pulverizada instantes depois.
Pelo menos… parece que só ao toque. Não é tão ruim assim. Deve dar pra eu andar entre elas sem muitos problemas, ela analisa, mais positiva, compreendendo o funcionamento.
Rubi dá um passo cuidadoso, pousando o pé entre as plantas. Nada acontece.
Tudo tranquilo, ela pensa, aliviada.
Mas antes de seguir, sente sua cauda balançando com a ponta vazando por baixo do casaco, perigosamente próxima ao chão.
Com um mal pressentimento, a recolhe. Só para garantir, né, ela reflete. Eu me distraio facilmente.
Ela avança com calma até o centro da clareira, serpenteando por entre o emaranhado de vinhas.
Até pra um lugar com uma enorme armadilha perigosa, não é nem um pouco difícil andar por aqui. É só ter cuidado, ela pensa, contemplando a paisagem ao redor.
A maioria das plantas da região ainda está intacta, mas há algumas queimadas e cortadas, marcadas pelos vestígios da batalha.
Abaixo do embaraço verde, estão ruínas antigas, constituídas basicamente de pedras empilhadas.
As construções, ofuscadas pelo tempo, possuem rochas de várias cores, tipos e formatos. Rubi nota que as estruturas, mesmo parcialmente tombadas, apresentam formatos e materiais distintos na edificação.
Em algumas paredes, mais próximas ao centro, é possível perceber camadas feitas de pedras diferentes, nas quais as inferiores são mais degradadas enquanto as superiores mostram-se em melhor estado.
É tão sem padrão… mas, ao mesmo tempo, tem algum, ela pensa, observando. Como se esse lugar tivesse sido reformado várias vezes por pessoas diferentes.
Rubi para diante de uma torre circular com um enorme buraco na base. Por ali passam cipós espessos, que se ramificam nas milhares de vinhas mais finas, espalhadas por toda a clareira. Toda a construção exala um cheiro ácido e putrefato, que incomoda o olfato da succubus.
Ele com certeza morava aqui… Rubi pensa. Tem o mesmo fedor dele.
Rubi adentra no lugar e encontra um enorme hall vazio. O chão do lugar é feito em pedra antiga e raios de luz entram pelas rachaduras e lacunas da parede.
À esquerda da entrada, uma meia escadaria de pedra desce do segundo andar. A parte inferior, que deveria estar ligada ao chão, agora não passa de escombros espalhados.
Destacando-se no centro, há um enorme buraco profundo no solo. Ao seu redor, ossos, alguns inteiros, outros quebrados, secos ou ainda com restos de carne, misturam-se a dezenas de escamas verdes e cinzas, dispostas como folhas sob um arbusto.
No meio do caminho entre a entrada e o buraco, ergue-se uma pequena árvore torta, com menos de um metro de altura. Suas raízes racham as pedras do chão, e de seu caule brotam os cipós mais grossos, que atravessam o buraco na base da torre e se espalham em um vasto tapete verde.
Bingo. A raiz de toda a dificuldade de acessar esse lugar, Rubi pensa, satisfeita. Eu poderia cortar… mas acho que vou tirar um bom proveito disso.
Ela olha para a entrada e observa o campo verde cercado pela floresta.
Vai levar algum tempo até eu resolver as coisas com o enxame e também deve demorar um tempo até os orcs chegarem por aqui, analisa a succubus e, em seguida, volta a atenção ao pequeno tronco. Por enquanto, não consigo pensar numa defesa melhor para esse lugar do que essas coisas. E se elas não morrerem até depois que resolvermos nossos problemas, é só cortar esse negócio.
Rubi segue mais adiante na sala, passando pela planta e seguindo até a margem do buraco.
Os ossos no chão reforçam o toque pútrido do cheiro forte que circula pela torre. Eles variam entre ossos de animais grandes e criaturas humanoides.
Como aquele dragão podia viver num lugar assim?, ela se questiona. O cheiro provavelmente nem o incomodava, mas restos aqui… é tenebroso e nojento.
Dentre os restos no chão, algo chama a atenção da succubus. Ruba para, focando o olhar em um braço fino e meio devorado. Ainda há carne fresca nele, a pele, quase intacta, tem um tom cinza escuro, como grafite.
Aquele braço com certeza não veio de um humano, Rubi pensa, curiosa. Acho que nem teria como ser, não tem humanos nessas terras. Também não é de um orc, é muito fino, e a cor não bate. Talvez… seja de um elfo. Não é à toa que o chamavam de devorador. Provavelmente, ele também iria devorar meu corpo depois de me vencer.
Imaginar-se entre os dentes do dragão faz a succubus ter um arrepio. Mas… eu não poderia reclamar muito. Eu meio que também me alimentei dele quando tive a chance, ela pensa, com um suspiro ao final.
Rubi volta a andar em direção ao buraco.
À medida que se aproxima, vê que ele se estende ao menos uma dezena de metros no chão, que as bordas parecem ser escavadas em meio à rocha sólida, mas o que realmente chama a atenção da succubus é o que está no fundo.
Reluzindo sobre os feixes de luz que atravessam as rachaduras, está uma pilha de moedas douradas, joias coloridas e outros objetos brilhantes.
Rubi solta um sorriso largo que pode ser visto até de costas. “Isso é sim um loot de verdade!”, diz ela.
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