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    Dentro da torre, Rubi está de pé na margem do buraco. Os olhos dela brilham, refletindo o tesouro a uma dezena de metros abaixo.

    Cada peça brilha com o reflexo pálido da luz da torre. Tem muita coisa ali, a diaba constata, ansiosa, sentindo os dedos formigando em antecipação para verificar o que a aguarda.

    Ela passa a mão na bolsa na lateral da cintura, tateando de leve o exterior. Os frascos lá dentro tilintam com o toque enquanto ela murmura pensativa. 

    Seria bom ter trazido a corda e o gancho junto com as poções. Talvez eu devesse voltar até a floresta para buscar a mochila, Rubi pondera, com o olhar preso ao fosso.

    O cheiro metálico e seco do ouro velho chega até suas narinas. Mas, atravessar a clareira toda só para pegar a mochila ia demorar muito. E até que… isso não é tão fundo, né?, ela se pergunta, tentando se convencer de uma ideia. São só uns três ou quatro metros a mais do que eu pulo normalmente. Além disso, qualquer dano de uma queda assim ainda seria reduzido a zero. Então, talvez… 

    Tentada pelo brilho, a succubus cede à vontade e dá um passo à frente, despencando da borda.

    Ela cai reto, com sua capa e roupas balançando ao vento e, um segundo depois, aterrissa graciosamente, flexionando todo o seu corpo no momento do impacto, como um gato pulando de um muro. 

    Rubi suspira, aliviada. Um pouso perfeito, ela pensa, enquanto se levanta com calma. Achei que ao menos fosse sentir alguma dor no impacto, mas foi mais tranquilo do que esperava.

    A succubus se vira e corre o olhar pela parede escavada e irregular, examinando-a da base até a borda no alto. Ainda deve faltar alguns metros até a minha destreza não conseguir amortecer bem uma queda controlada.

    Ela volta a encarar a pilha dourada. Vamos ver o que o dragão deixou, ela pensa, sorrindo de canto e encaminhando-se ao centro do fosso.

    O montante do tesouro é quase da altura da succubus e a maior parte do volume se resume a moedas douradas. Em meio à pilha, estão objetos variados de prata e ouro decorados com cristais coloridos, uma caixa de madeira lustrosa, peças de uma armadura cinzenta e armas metálicas.

    Tem umas coisas boas aqui, conclui Rubi.

    Ela se baixa na base da pilha, pega uma moeda e a encara. O ouro cunhado possui desenhos de uma humana idosa de um lado e uma coroa do outro. 

    É muito dinheiro. Será que isso tem algum valor nesta floresta? Ou o dragão só acumulou pra mostrar poder?, ela se questiona, vendo a imagem refletida no metal dourado. Não consigo nem imaginar aquele cara gastando isso aqui. Ele parecia do tipo que só tomava. 

    Rubi joga a moeda de volta na pilha e pega uma taça de ouro, incrustada com pedras azuis na base e na borda. Há desenhos de flores com relevo entre as joias. Isso aqui é bonito, ela pensa, admirando o objeto em suas mãos. Será que tem coisas mágicas aqui?

    A succubus ergue o olhar e o fixa em um grande cabo negro no alto da pilha, cujo pomo ostenta um cristal vermelho que brilha intensamente. 

    Aquilo tem cara de ser especial, Rubi supõe, atiçada.

    Rubi se levanta e vai até ele, ignorando os demais tesouros da pilha.

    Ela agarra o cabo e, do meio das moedas douradas, ergue uma lâmina tão longa quanto sua altura e que ostenta um brilho prateado reluzente como se fosse nova. O fio não tem falhas e a ponta afiada reflete a luz com clareza, quase como um espelho.

    Tchantchararam!, Rubi pensa, erguendo a grande espada para o alto, animada. Isso aqui sim é perfeito!

    Ela saca a própria rapieira e segura as duas lado a lado, uma em cada mão. Ao compará-las, confirma que a espada maior tem quase o dobro do comprimento.

    O tamanho parece bom, ela analisa, satisfeita. Já sei certinho o que vou fazer com ela. Também seria legal encontrar uma que servisse pra mim também.

    Enquanto compara, seu olhar desvia novamente para a pilha abaixo. Ela percebe o amontoado desorganizado que é aquele monte dourado. Onde mais da metade dos objetos que se destacam da superfície, mostram-se parcialmente encobertos pelas moedas. Mesmo os maiores objetos, os pedaços da armadura e a caixa, estão com a maior parte de seu volume ocultado.

    Vai ser complicado encontrar alguma coisa útil no meio disso. Qualquer coisa menor que uma pessoa pode estar soterrada aqui, ela pensa, incomodada. Acho que vale a pena dar uma organizada nesse caos. Não é como se eu tivesse algo melhor pra fazer agora.

    Rubi deixa a espada em um canto, junto do seu casaco e outros equipamentos, e começa a separar os tesouros. Inicialmente, coletando os maiores objetos na superfície, deixando apenas a pilha dourada para trás.

    Ela segue movendo um punhado de moedas do topo para o chão ao lado, pouco a pouco começando um novo monte. Nesse processo, recolhe também os objetos que encontra encobertos pelo ouro, colocando-os junto aos outros tesouros para organizar depois, como se estivesse separando o joio do trigo.

    Alguns minutos depois, quando cerca de um quinto da antiga pilha já está desfeito, Rubi subitamente para de se mover. Ela sente sua mana extra acumulada dispersando-se no ar de seu corpo da mesma forma que água evaporando da pele após um banho quente.  

    Já passou uma hora…, ela constata, pensativa. Hora de ver se aquilo ainda está aqui.

    Ela vai até a espada longa e a segura, encarando a lâmina como se fosse um espelho. Rubi concentra-se e a coroa da ganância surge em sua nuca, ainda com uma das seis pétalas brilhando muito mais que as outras.

    Se isso fosse só parte da mana adicional, deveria ter ido junto do restante que absorvi, ela analisa. Talvez seja algo permanente ou que leva um tempo diferente para se dispersar. E seja lá o que isso signifique, agora tenho certeza de que não consigo sentir a magia nessa coisa, não da mesma forma que o resto. É diferente da minha mana corporal e da mana extra. É algo… externo a mim.

    A diaba deixa a espada de volta em seu lugar e volta até a pilha antiga. Ainda tenho muita coisa pra pensar, ela conclui, voltando a recolher moedas. Ainda deve levar algumas horas até aqueles dois chegarem. Pensando nisso… é melhor eu ficar atenta, pra poder recebê-los quando estiverem quase aqui. Não seria bom perceber que chegaram ao som das chicotadas.

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