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    Byron e Brok caminham juntos pela mata densa. A luz laranja do sol da tarde, filtrada em feixes pelas copas das árvores, ilumina toda a floresta em torno deles. 

    O orc segue à frente, guiando o demônio com os olhos semicerrados e os sentidos aguçados aos sinais do ambiente. Em contraste, o diabo atrás caminha despreocupado, com os lábios curvados num sorriso confiante.

    O som dos passos fica mais claro conforme a vegetação rareia sob seus pés. Algumas dezenas de metros adiante, eles já conseguem avistar uma região sem árvores e consideravelmente mais iluminada do que toda a mata que os cerca. 

    “É o nosso objetivo?”, questiona Byron.

    Brok bufa pelas narinas e assente com a cabeça, sem desviar o olhar. “É a clareira onde ficam as ruínas de Cahjia”, ele responde.

    “Excelente. Pensei que só fôssemos chegar após o anoitecer.”

    Conforme se aproximam da clareira, rochas partidas e dispersas emergem por entre o tapete verde. E ali, bem à borda, entre plantas e as pedras, um ponto rosa se destaca como uma flor em solo arruinado.

    Quando reconhecem o que é, Brok arregala os olhos e o sorriso de Byron se alarga.

    Nas margens do campo aberto, Rubi os aguarda, sentada sobre uma pedra com uma mochila apoiada ao lado. Seu olhar tranquilo e satisfeito os recebe.

    “É bom ver que chegaram bem”, diz ela contente, quando a dupla chega mais perto.

    Byron se curva em um cumprimento diligente. “Foi uma viagem tranquila”, ele diz. 

    O orc acena a cabeça brevemente, de maneira bem mais resguardada que o diabo.

    Com um olhar rápido em Brok, ela percebe uma grande quantidade de furos e cortes no traje de couro do orc. Não consegui ver a luta dele, só como acabou. Mas não é difícil ver que ele passou por uns maus bocados, pensa a succubus. 

    Ela se levanta da pedra, caminha até o guerreiro verde e estende a mão para ele.

    “Parabéns, campeão”, ela diz, com um sorriso sincero. “Não deve ter sido nada fácil pra você. Obrigada pela ajuda.”

    Brok encara o gesto sem jeito e fica brevemente nervoso, como se estivesse incerto de como prosseguir. 

    Será que eu falei alguma coisa errada? Ou orcs não fazem apertos de mão?, Rubi se questiona, incerta, vendo a hesitação do guerreiro. 

    Por fim, num gesto quase mecânico, ele estende o braço para Rubi e segura a mão dela. 

    Ufa. Achei que fôssemos ter uma cena embaraçosa aqui, Rubi pensa, mais aliviada, mas, o orc quebra suas expectativas em um instante, ajoelhando-se e abaixando a cabeça como um cavalheiro, enquanto mantém-se segurando a mão dela. 

    Surpresa com o gesto, a succubus se vê desconcertada. Em uma inversão inesperada, é ela quem se demonstra acanhada. “Não precisa se…”, ela começa a falar.

    “Obrigado”, interrompe o orc. A palavra sai áspera, como se fosse algo que ele estivesse guardando há muito tempo. “Com seu poder… eu pude me vingar e retomar o que era da minha tribo.”

    As palavras de Brok são pesadas, mas carregam um alívio evidente.

    O embaraço de Rubi se dissolve ao sentir a firmeza e sinceridade na fala e no aperto do guerreiro. Isso tudo significou mais pra ele do que o que eu pensava, ela reflete, com um sorriso tímido nos lábios.

    “Pode se levantar”, ela diz. “Você fez tudo por merecer.”

    Byron aproxima-se dos dois, com as mãos nas costas em uma postura elegante. “De fato, foi uma colaboração importante”, ele comenta. 

    O orc se levanta, firme. “Soube que… a batalha aqui também não foi fácil”, ele diz.

    Rubi se surpreende de leve. “Então… já te contaram”, ela afirma, desviando a atenção ao diabo.  

    “No caminho até aqui, pude contar o que houve. Em detalhes”, Byron explica.

    Detalhes? Que tipo de detalhes?, a succubus se questiona, sentindo uma leve angústia. Não sei o que me preocupa mais, os exageros ou as partes feias da luta que eu preferia que ficassem esquecidas.

    “É… foi uma boa luta”, Rubi comenta, querendo desconversar. Depois, aponta para um lugar em meio às rochas na clareira. “O corpo do dragão está ali, entre as rochas. Pode ir ver, se quiser.”

    Brok olha para as ruínas atrás dela. Suas pupilas brilham, com uma estranha admiração pelo lugar, como se ao invés de rochas quebradas, houvesse ali pilhas de ouro e joias. “Eu… gostaria de ir ver”, diz o orc, maravilhado. 

    Ele começa a se encaminhar para a clareira, mas, antes de adentrar completamente no local, Rubi o alerta, “Calma!”

    Brok para imediatamente, como se ela estivesse jogando algum tipo de feitiço, e olha para trás atento.

    “Cuidado com as vinhas. É bom que você não toque em nenhuma delas”, Rubi avisa.

    “Por que?”, ele pergunta, confuso.

    “Elas podem te partir no meio.” 

    Os olhos do orc se abrem, assustados. Só então percebe o mar de vinhas que cobre a clareira inteira, das bordas ao centro. A imagem de que cada uma daquelas plantas representa perigo o deixa receoso. 

    Uma imensa armadilha mortal, ele conclui, preocupado.

    “Mas pode ir”, diz Rubi, tentando tranquilizá-lo. “Se não encostar nelas, é tranquilo.”

    Brok engole seco e começa a andar, um passo lento e calculado de cada vez.

    Rubi deixa escapar um riso contido, divertindo-se com o cuidado exagerado do orc.

    “Então, a magia do dragão continua ativa”, Byron pontua, após Brok afastar-se alguns metros.

    “Está um pouco mais fraca, mas ainda podemos tirar algum proveito dela”, diz Rubi.

    “Por falar nisso, algo mudou com a coroa?”

    A succubus permanece em silêncio e se concentra brevemente. A auréola rosada surge em sua nuca, com uma das pétalas da flor no centro ainda destacando-se.

    “Vejo que ainda se mantém igual”, Byron afirma. 

    “Se continuar assim até amanhã, acho que podemos assumir que é um efeito permanente… ou que está esperando ser ativado de alguma forma.”

    “Acredito que seja esse o caso. Nas histórias que me contaram, as coroas sempre foram retratadas como símbolos de poder. E, como a senhorita me disse que até agora não conseguiu usufruir de nada diferente de antes, é presumível que isso signifique algo nesse sentido.”

    Não seria estranho pensar que seja uma habilidade de acúmulo, considerando que habilidades de roubo de mana e vida eram uma das mecânicas mais comuns do jogo, Rubi pensa, com seu semblante esboçando uma leve preocupação. Praticamente toda a raça demoníaca tinha alguma habilidade assim. O que me leva a crer que pode ser a mesma coisa com os outros lordes demônios. 

    Enquanto divaga, seu olhar desvia para o diabo. Em paralelo… aqui deve ser a mesma coisa, ela analisa, em uma epifania repentina. Byron, sendo um behemoth, tem uma habilidade passiva de roubo de vida e Resistência Mágica. Uma das habilidades que meu irmão tinha. Então, se o Byron tivesse uma coroa, na teoria, também poderia acumular energia para ela. Assim como os antigos lordes demônios deste mundo.

    “Enfim, depois podemos testar se essa coisa realmente faz alguma coisa. Vamos até aquela torre no centro”, diz ela. “Daqui a pouco vai anoitecer.”

    “Como desejar.”

    “Aliás, o dragão até que tinha umas coisas interessantes”, Rubi comenta animada. 

    “Que tipo de coisas?”, Byron questiona, interessado.

    “Prefiro te mostrar”, diz a succubus, ansiosa. “Quero ver sua reação.”

    “Hmm… agora fiquei curioso”, murmura Byron, arqueando a sobrancelha.

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