Índice de Capítulo

    Brok, próximo a Rubi, franze a sobrancelha. “Acordo?”, ele questiona, surpreso. “Vai… deixá-los vivos?”

    A conversa para por um instante. A demônio olha para os prisioneiros de olhares rosa apáticos dispostos ao redor da fogueira. O crepitar das chamas e o som da gordura fervente tomam conta daquele trecho da floresta. 

    Mesmo Byron, escorado em uma árvore atrás dos orcs, também olha para Rubi com interesse na resposta dela.

    Os dedos da succubus tremem, um reflexo de sua ansiedade. A verdade é que seria bem prático só drenar todos eles. Ia ser bom, com certeza eles têm muita energia vital ali dentro. Mas eu nem tenho mana pra recuperar, então, no final, eu não ia ganhar muito com isso, ela reflete, fechando seus dedos com força. E também…

    “É mais vantajoso mantê-los vivos. Podemos usar o débito que eles vão ter conosco a nosso favor mais tarde”, ela responde, correndo o olhar pelos orcs. 

    Brok encara os prisioneiros, sua expressão fechada. “… Só não esperava… que fosse dar uma chance a eles”, ele diz, sua voz grave. 

    “Mas eu sei que eles ainda são da tribo que expulsou a sua…”, comenta Rubi, com uma expressão mais firme, pausando antes de completar. “Se quiser acabar com eles, podemos resolver isso agora. Não é como se cinco orcs a mais ou a menos fossem fazer falta.” A succubus olha para Brok, oferecendo a oportunidade para tomar a decisão final.

    O orc mantém-se calado, a expressão séria, ponderando antes de responder, “O problema é Estoratora, não eles. Ainda assim… eles sabem da presença de vocês aqui. Podem acabar falando de um jeito ou de outro.”

    “Mas não vamos simplesmente soltá-los”, diz Byron, rompendo seu silêncio. “Quando a senhorita Rubi fala em acordo, creio que ela se refere a algo semelhante ao que fez com você. Um pacto.”

    Brok encara Rubi, que confirma com um breve aceno.

    “É tipo isso”, ela responde. “Mas, ao invés de poder, vou propor poupar a vida deles em troca de silêncio. 

    “Além disso”, Byron ressalta, sua voz carregada de pragmatismo. “Não sabemos quantos outros da tribo de Estoratora vamos precisar matar. Concordo que seria interessante mantermos um número de guerreiros considerável para que a tribo continue existindo mesmo após a execução do nosso plano.”

    O orc desvia o olhar para os prisioneiros, sua expressão fechada. “…Entendo.”

    “Eu prefiro manter o número de baixas da nossa excursão no mínimo. É claro…”, Rubi complementa, cruzando os braços. “Se recusarem, não teremos escolha.”

    Brok solta um suspiro pesado antes de murmurar, “… Afetados assim… por sua magia, não têm como recusar.”

    “O pior é que tem”, diz Rubi, com algum desânimo na fala.

    “Nós não podemos forçar ninguém a fazer um pacto”, Byron explica. “Nem mesmo com controle mental. No final, vai depender do quão leais são a Estoratora.”

    A succubus dá um passo em direção aos prisioneiros e diz com uma voz carregada de autoridade, “Escutem o que eu vou dizer e respondam à minha pergunta com sinceridade.”

    Rubi observa quatro dos mais jovens erguerem as cabeças de forma desconcertantemente sincronizada, fixando nela seus olhares. Olhotorto, o mais velho, também levanta a cabeça, mas seu movimento é mais lento, denotando relutância. Todos exibem olhares apáticos, ressaltados por um brilho rosa que os destaca.

    Credo, pensa ela, lutando para esconder a inquietação. Eu fui firme nas ordens, mas isso está… perturbador, e olha que um deles está bem resistente. 

    Rubi balança a cabeça, afastando os pensamentos, aponta para o último orc encantado e pede, “Quero saber quem são vocês. Digam seus nomes, começando com ele. Depois, sigam na ordem, até chegar no Olhotorto.”

    Os prisioneiros obedecem, cada um falando com vozes roucas e tensas:

    “Pépesado.”

    “Resmungador…”

    “Pulapedra.”

    “Quebragalho.”

    Rubi respira fundo, fechando os olhos por um instante antes de ativar seu poder. A Coroa da Ganância surge sobre sua cabeça, irradiando um brilho rosa. A intensidade dos seus olhos aumenta, refletindo que está usando uma magia mais intensa.

    “Pépesado, Resmungador, Pulapedra, Quebragalho e Olhotorto, a minha presença e a dos meus companheiros deve permanecer em segredo. Por isso, vou propor um pacto”, ela anuncia, com sua voz cortando o espaço entre eles, reverberando em seus ouvidos acima de qualquer outro som. 

    Uma brisa mágica rosa, quase palpável, emana dela e flui em direção aos orcs no chão.

    “Vocês não contarão a ninguém sobre nós ou sobre este encontro. Em troca, pouparei suas vidas agora. Aqueles que mantiverem esse segredo poderão seguir sua vida normalmente até o fim dela ou até eu cancelar este acordo. Mas saibam, se tentarem quebrar esse voto ou se alguma informação escapar por causa de vocês, minha magia os matará, e eu tomarei posse de suas almas antes mesmo de conseguirem pronunciar a primeira palavra. Vocês… aceitam esses termos?”

    A luz da Coroa da Ganância se intensifica, projetando um brilho rosado que faz as sombras ao redor estremecerem, como se temessem o poder que dela emana. Os orcs permanecem imóveis por um instante, a tensão pairando no ar enquanto ponderam silenciosamente sobre o pacto. O único som que preenche o vazio entre eles é o crepitar da fogueira e o farfalhar distante da floresta.

    “Sim…” As vozes soam como um coro indiferente, quase uníssonas, cheias de submissão, destacando-se entre qualquer outro som.

    Ao som de sua aceitação, a aura rosada de Rubi ganha força, serpenteando pelo ar e envolvendo os corpos dos prisioneiros. Pépesado, Resmungador, Pulapedra e Quebragalho, fazendo-os brilhar enquanto o pacto se sela. 

    Olhotorto, no entanto, acaba sendo ignorado pelo véu rosa que envolve seus companheiros. Ele permanece imóvel, sua figura mostra-se cansada, mas completamente inalterada.

    “Ora, ora, ora,” diz Byron, com um tom irônico e um sorriso torto. “Parece que temos um rebelde no meio.”

    “O que aconteceu?”, Brok pergunta, franzindo o cenho em confusão.

    “Ele recusou o pacto”, responde o diabo, seus olhos brilhando com interesse.

    “Ele recusou bem baixinho”, Rubi afirma, sua voz carregada de firmeza.

    “Bom, ao menos os outros quatro aceitaram”, Byron ressalta, com um tom quase desdenhoso.

    Rubi se aproxima de Olhotorto e se abaixa, dobrando os joelhos no chão. A poucos centímetros de seu rosto, ela observa o guerreiro desgastado, o suor escorrendo por sua testa marcada, a respiração irregular e pesada.

    “Tem certeza de que prefere recusar o acordo?”, ela pergunta, a voz baixa e incisiva, com seus olhos rosados cravados nos dele.

    O orc respira fundo, tomando coragem para falar. “Não posso… trair Estoratora”, ele responde, as palavras saindo com dificuldade, cada sílaba pesando toneladas. “Não vou falar da… senhorita. Mas preciso avisar… daqueles dois.” As pupilas rosadas de Olhotorto oscilam rapidamente entre Brok e Byron. Seu tom carrega uma raiva contida, um resquício de orgulho que se recusa a se apagar.

    Rubi sente a tensão no ar. Não vai ter jeito, ela pensa, ciente do perigo que ele representa. Ao menos, um deles eu vou… Sutilmente, ela lambe os lábios.

    “Estoratora… é o mais forte”, continua o orc, as palavras carregadas de convicção. “Ele… deixou nossa tribo grande e expulsou os fracos, como aquele ali atrás.”

    Essas falas atingem Brok como um golpe. Seu olhar se estreita, a mandíbula tensa, enquanto encara Olhotorto com uma expressão carregada.

    “Ele… precisa saber…”, murmura Olhotorto, arfando. Ele encara Rubi por um instante, mas logo desvia o olhar para Brok, dirigindo seu desdém diretamente a ele. “Eles precisam pagar… Eles…”

    “Chega”, diz Rubi, dando um basta àquelas palavras carregadas de ódio.

    Não vou te deixar ofendê-los de graça, ela avalia, suspirando ao final. Eu não sabia que ele tinha tanto desgosto assim. Talvez ele estivesse mais relutante, por estar na presença do Brok. 

    A succubus se vira para os quatro prisioneiros restantes.

    “Vocês podem ir. Não voltem aqui. Inventem uma história sobre como o ataque de vocês deu errado.”

    Em um piscar de olhos, os orcs se levantam, sem hesitação, e partem correndo pela floresta ainda iluminada pela luz do fim de tarde. Seus passos apressados ecoam entre as árvores.

    Rubi observa até que desapareçam entre a vegetação antes de voltar-se para o diabo.

    “Byron, pode segui-los por um tempo? Só para garantir que não farão nenhuma bobagem.”

    Ele sorri, o brilho malicioso em seus olhos deixando claro que ele aprecia a tarefa. “Considere feito”, ele responde, desaparecendo na direção dos orcs com passos calmos e silenciosos.

    Por fim, Rubi volta a encarar o guerreiro. Vai ser rápido, ela pensa. 

    Sua expressão permanece serena, quase compassiva, enquanto ela se inclina lentamente. Com um gesto delicado, encosta os lábios na testa do orc em um beijo.

    Naquele instante, uma leve luz azulada emerge da pele de Olhotorto que faz contato com os lábios de Rubi. A energia pulsa de forma ritmada, como um coração batendo.

    O orc arregala os olhos e, mesmo sem entender o que acontece, um sorriso emerge em seu rosto ao sentir os lábios macios da succubus, sem notar sua força vital sendo drenada. 

    Brok, a poucos passos de distância, assiste em silêncio, seu semblante fechado e sombrio, pois ele entende perfeitamente o que aquilo significa. 

    A alegria de Olhotorto é efêmera.

    Quando Rubi afasta os lábios da testa, ele sente algo profundo sendo arrancado de toda a extensão de seu corpo. 

    As veias nos olhos de Olhotorto se dilatam e o sorriso nos lábios se desfaz. Seu corpo, outrora firme, se torna apenas um invólucro vazio. Seus músculos se contraem em um último espasmo desesperado, e sua boca se abre, deixando escapar um suspiro abafado. 

    Tudo o que resta ao orc é uma dor aguda, acompanhada do vazio interno deixado pelo beijo da succubus que agora detém toda a força vital de seu corpo. E logo, ele desaba sem vida, emitindo um baque surdo ao atingir o chão.

    Rubi permanece ajoelhada, lançando um olhar contido para o corpo caído. Com os dedos da mão esquerda, ela cobre os lábios e saboreia em silêncio a energia pulsante que agora a preenche. Sua cauda ondula preguiçosamente pelo ar, refletindo o prazer reconfortante que a percorre

    Brok fecha os olhos por um momento, sua expressão carregada de um misto de respeito e resignação. “Que sua conquista seja grande e seu golpe pesado”, ele murmura, com uma voz baixa e reverente, fazendo uma despedida.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota