Índice de Capítulo


    ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎

    Capítulo 012 – O dono do açougue! ‎ ‎ ‎

    Pharid era um ponto vital do mercado para todas as cidades circundantes. Toda semana, mercadores de todas as partes convergiam para a praça central, onde barracas erguiam-se e vendiam uma variedade de produtos, que iam de alimentos frescos até tecidos finos ou o artesanato local. Essa mesma praça populosa que transbordava energia, agora estava apagada e vazia, insalubre.

    Os homens tomara praticamente todos os moradores, por pura maldade. A vila não tinha tanto espólio, mesmo sendo um ponto comercial.
    Alguns dos cativos tentaram reagir, mas os mercenários acabaram com suas vidas. Corriam em vão, acertados com flechas e golpes pelas costas.

    Aglomerados de aldeões foram jogados nos estábulos e ali eram suas celas, outros foram tomados com escravos pelos baderneiros, muitos gritos se escutavam desde a tomada dos bandidos, duas noites atrás. O choro das mulheres abusadas, dos homens torturados e dos idosos que clamavam misericórdia corria pelas ruas estreitas pavimentadas porcamente.
    Saque e destruição, não era assim que alguns viviam?

    O bando de ladrões não tinha apreço por tal, eram velhos viajantes e muitas vezes apenas se entediavam. De qualquer forma, os mercenários não se equiparavam com bárbaros, não havia traços tribais em suas ações ou respeito por uma peleja honrosa. Viviam como covardes, atacando os fracos e os inocentes.

    Sabiam que haviam conquistado uma localidade bem delicada, pois era sabido que existia o reino que ficava no sul e isso preocupava um pouco os criminosos, olheiros ficavam na entrada da vila a espreita caso alguma tropa avançasse rumando contra eles.

    Sem nenhum alarde, um grito foi solto como um pedido de clemência que fora negado, todos os bandidos se alertaram prontamente: era uma voz familiar, um companheiro que estava esbravejando tamanha dor. Não era como se pudesse ser diferente, uma espada bastarda havia sido fincada em suas costas.

    Ayel e seus seguidores deixaram seus cavalos muito atrás e partiram para o local, completamente furtivos. Não era para o bárbaro ter saído das moitas e atingido um dos inimigos: como ele acabara de fazer.

    Kord e Claude estavam de cócoras, planejavam focados a estratégia de resgate quando visualizaram o rei sair na frente e atingir o primeiro delinquente.

    O tapa no próprio rosto do guerreiro de cabelo castanho foi audível, tiveram de correr junto dele, apoiando o Alvorada nesse conflito descoordenado. Quando presentes finalmente naquela praça sem vida, estrugiu rapidamente o som das espadas sendo desembainhadas, enquanto os arruaceiros miravam os homens de Sihêon sem hesitar.

    — Um plano! Vamos atacar sem tem ao menos um plano!? — Kord gritava abismado, retirando sua espada de duas mãos do suporte em suas costas.

    — Porra de plano! — Respondia o rei.

    Ayel limpou o sangue da lâmina enquanto o homem que ele estacara caia para frente, inerte.

    Os arruaceiros nervosos correram em direção ao trio, aos montes. Superiores em número e completamente ofendidos pela afronta, isso os alimentava com uma confiança necessária.

    — Não somos bárbaros, meu rei! Não seremos tão bons em improvisar igual à sua antiga tribo! — O guerreiro da pele de ébano puxava sua espada e segurava firme seu escudo.

    Claude instintivamente ergueu seu broquel, bloqueando os ataques lançados simultaneamente de dois dos mercenários, enquanto seus olhos permaneciam fixos no próximo movimento. Era perceptível o abismo entre a habilidade dos combatentes, pois os inimigos atacavam sem técnica, todas as brechas e falhas em guarda que surgiam, Hob aproveitava. Eles foram rapidamente ceifados.

    Rápido como um raio, embora não pudesse parecer que essa destreza encaixasse ao corpo robusto do tribal. Alvorada, em mais uma investida, derrubou o segundo bandido com um golpe destruidor com a sua espada bastarda vindo pela esquerda. Ele não tirava os olhos de outro inimigo que estava mais adiante, seria o próximo que ele iria atacar.

    — Força, homens! — brandiu Ayel irado. — Estes capatazes são completamente ignorantes em batalha, é fácil dizer que eles são perigosos quando seus alvos consistem em uma caravana com crianças e uma vila sem guardas. Isso será realmente um desafio para vocês!?

    Por algum motivo a frase do rei serviu como um certo combustível que atingiu o coração dos guerreiros, acendera uma chama alimentada por adrenalina. E ele tinha razão, afinal, os dois eram os mais poderosos do reino, logo não faria sentido que precisassem de tanta preparação para acabar com a raça de alguns amadores.

    Os rostos que transbordavam inconformidade dos mercenários ao serem ofendidos pelo bárbaro, também serviu de impulso para que partissem com mais agressividade contra os nobres heróis, não demoraram para encurralar definitivamente o grupo.

    O Lâmina-fria observava calmamente o caos ao seu redor, calculando cada movimento antes de desferir um golpe preciso que deixou três nefastos no chão. Sua expressão de decepção para com o rei era gigantesca, o guerreiro do cabelo castanho estava mais que acostumado a arquitetar táticas com Claude, agora estava solto ao destino de seguir o fluxo igual ao que o ruivo parecia fazer.

    Já o Hob conseguiu se adaptar facilmente à situação na qual foi jogado, avaliou da forma que podia a posição dos outros dois para com a posição inimiga, reparou que levariam uma vantagem se ele corresse para algum dos flancos, e assim ele o fez.

    Com passos firmes que tremeram o chão, o bárbaro não parava de avançar mesmo com a pressão inimiga. Soltando um grunhido, Ayel transmitiu toda a sua raiva e sede por sangue, que ressoou pelo campo enquanto ele disparava para o conflito, fazendo os bandidos ponderarem sua verdadeira força, amedrontados.

    Kord, criara lentamente um sorriso sádico nos lábios, girou com maestria a sua espada de duas mãos, pronto para cortar qualquer um que se aproximasse. O rei estava correto, eram apenas aprendizes perto do que ele conseguia fazer. Partiria com completa voracidade no próximo embate.

    Após cada golpe vindo dos aventureiros, a corja dos canalhas sentia suas forças se esvair. Temiam por suas vidas presenciando a efetividade dos dois guerreiros que estavam em completa sintonia, atingindo todos em golpes combinados. Era complicado esquivar-se ou defender-se, ao mesmo tempo das espadas gêmeas que atingiam com precisão militar.

    Em contrapartida, o que parecia ser completamente ordenado e organizado de um lado, do outro o caos reinava de uma forma grotesca, o rosto do rei estava completamente manchado de sangue, junto do seu torso nu. Rios avermelhados corriam pelos cortes dos arruaceiros que Alvorada deixava no chão, um a um. O bárbaro, em fúria, dilacerava tudo que estava em seu caminho com um olhar doentio. Pressionava o círculo que cercava o trio, agora dispersado em dois grupos que estavam sem moral.

    Por fim, Claude Hob recuou um passo enquanto a poeira baixava, respirava fundo após visualizar seu último oponente cair sem vida, ele ainda mantinha o seu olhar atento para qualquer ameaça, como se qualquer um furtivo ainda pudesse surgir. Já Kord girava a sua espada, fazendo com que a lâmina acabasse sendo limpa com o movimento em alta velocidade.

    O rei bárbaro estava junto dos dois, no centro de um campo feito de corpos caídos, vísceras espalhadas e o rubro do sangue que tingiu tudo que alcançou. Após tanto tilintar das armas que bateram uma contra a outra, o silêncio engoliu a praça opaca, quebrou-se apenas com o som das espadas retornando para as suas bainhas. O trio se encarou e Ayel deu de ombros.

    — Eu disse que seria fácil. Agora, vocês dois, procurem pelos aldeões, vamos salvá-los.

    Antes que Claude pudesse responder à ordem que foi dada, um som de passos extremamente pesados aproximara, todos os três viraram instintivamente para a direção que estava os alcançando. Um homem extremamente alto e largo, muito próximo de Hob.

    Isso foi uma surpresa para todos, principalmente pelo fato de um ser enorme como aquele se movimentar tão rápido assim.

    Em uma disparada, esse adversário surpresa tentou acertar o guerreiro de pele de ébano com um cutelo. Claude rapidamente se esquivou, livrando sua pele do corte, só não conseguiu prever que a outra mão desse gigante inimigo fosse alcançar a sua cabeça e faria com que ele batesse com a têmpora violentamente no chão, o jogando com força até lá, usando o peso do seu grande corpo.

    Lâmina-fria sentiu o baque e a cena do seu companheiro de patrulha no chão com um corte jorrando o fez perder completa atenção pelo homem que acabara de aparecer. Só não fora também atacado, pois antes desse enorme ser sair correndo em uma investida novamente, acabou sendo obrigado a saltar para trás para não ser atingido pela espada bastarda de Ayel que foi sacada tão rápida que mal fez o som ao sair da bainha.

    — Quem é você? — indagou o rei.

    O homem alto tinha uma barba muito cheia, cor de cobre quase para o ruivo. Cabelos relativamente curtos e olhos fundos com uma expressão de raiva.

    — Você não precisa saber quem raios eu sou! — O homem cospe no chão.

    Ele também carregava uma espécie de avental de couro onde existiam diversas ferramentas presas, a maioria delas eram adagas e outras armas de corte.

    — Bran, o açougueiro. — Kord havia parado de encarar o corpo de Hob e olhou para o inimigo. — Sim, é exatamente assim que o descreveram… Um homem procurado por tantos crimes, majestade, aposto que ele é o maior responsável de todo nosso caos, hoje!

    O guerreiro do cabelo castanho se aproximou do seu parceiro de patrulha que estava no chão e sentiu seu pulso, suspirou aliviado ao constatar que Claude ainda vivia.

    — Puxe ele para longe daqui. — O rei ainda apontava a espada para este tal Bran. — Assim que o colocar em um local seguro, trate suas feridas e converse com os locais, não devem ter mais arruaceiros, só esse corno que é o líder deles.

    Bran riu, ele tinha uma altura muito incomum das terras de onde ele havia vindo, encarar Ayel e perceber que ele não era tão mais baixo assim, era admirável. O fato do tribal não o temer como todos faziam também o deixou bastante curioso.

    — Agora entendi tudo… Um bárbaro ruivo junto de cavaleiros, eu devia ter prestado atenção nisso antes. Você é o rei do reino ao sul.

    — Demorou para notar, não é? — Ayel mantinha a conversa, ganhando um tempo assim que viu seu subalterno pegar o corpo inconsciente do aliado e arrastá-lo para longe.

    — Você parece mais forte nas histórias. — O açougueiro tentou ofender o bárbaro.

    — E eu sequer sabia que você existia.

    — Ora, isso foi pesado, vossa alteza! — Era nítida a ironia na voz do enorme homem.

    Ambos fitavam reciprocamente com ódio, nenhum dos outros dois guerreiros de Sihêon se encontravam na praça, então o Alvorada percebeu que já havia ganhado instantes suficientes, os dois começaram a andar de lado, passando uma perna por vez, completando um círculo sem abaixarem suas guardas, quando Bran riu:

    — Ah, eu já sei… Você veio atrás de nós por conta da caravana, não foi isso? Matei alguns guardas, o cocheiro e tinha aquela garota… A da buceta apertada? Lembro o quanto ela gritou…

    Bran não conseguiu terminar a sua frase, escutou uma rajada passar ao lado do seu corpo e então, sentiu algo muito quente descer pela lateral da sua cabeça. Foi tão rápido que ele mal sentiu alguma dor, colocou a mão onde deveria ter a sua orelha e tateou apenas sangue jorrando. Estupefato.

    Olhou violentamente para o lado e percebeu Ayel com a espada em punho, o defrontando com os olhos assassinos. O açougueiro não esperava, quando o susto passou e ele finalmente compreendeu que fora mutilado, recuou diversos passos, gritando em agonia.

    — Você achou mesmo que eu iria permitir que um sujo como você tivesse o direito de terminar esse discursozinho de merda?

    Ayel Alvorada disparou mais uma vez, mirando o peito do seu inimigo.

    Ele não estava brincando.


    Participe do meu servidor do Discord dedicado para a minha obra!
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.

    Nota