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    Capítulo 053 – Costume bárbaro!

    Aquela era uma situação que deixava o monarca irritadiço.

    Diferente de como as coisas prosseguiam no conselho dos nobres, Ayel queria dar a liberdade daqueles em quem confiava de poder entregar suas opiniões sobre o caso.

    Mas ainda havia muitas manchas do legado de Mahfus e Aiden em cima das guildas. Estavam desunidos.

    Claro que, assim que a humanidade venceu contra as ondas de goblins, os laços estreitaram, mas ainda era perceptível ver que eles não se confiavam.

    Isso era uma dor de cabeça.

    Ayel nunca foi um bom mediador, estava quase cogitando colocar os líderes que descordassem em um duelo, o que vencesse teria a razão, mas essa seria uma forma muito bárbara de se resolver as coisas. Alvorada precisava demonstrar seu lado diplomático, mesmo que pouco existente.

    De qualquer forma, ele ficava deveras decepcionado ao compreender que ter anexado todas as guildas para debaixo da asa da coroa não tenha sido o suficiente para os líderes verem uma certa aliança entre si.

    A burocracia dos reinos o dava nos nervos. Alvorada beirava um estresse palpável.

    Enquanto todos estavam debatendo calorosamente, o tribal somente deu um estalo em sua língua, audível. Isso fez com que todos calassem e observassem o mesmo.

    — Estamos andando em círculos, claro que Katze não é um problema que está batendo nos portões do nosso reino, mas pode ser que escale para algo que não poderemos controlar. — O ruivo dissera enquanto enchia a boca com hidromel.

    — Majestade. — Belle chamou. — As planícies de Katze estão há pelo menos uma hora de cavalo daqui, era utilizada como área de caça para patrulheiros e sentinelas em tempos antigos. Mortos vivos conseguem perambular tanta terra assim para nos atacar caso a situação escale tanto?

    — Não acreditávamos que uma onda verde de monstros surgisse nos nossos portões após séculos e, ainda assim, a praça central continua com cheiro de goblin. — Comentou Bruxo Negro.

    — Isso foi atípico. — A mestra dos venenos retrucou.

    — E o que garante que mais nada atípico continue acontecendo? — O arcano prosseguia.

    Os trovões eclodiam e ecoavam tremendo o vidro das janelas do salão, o som da chuva sob a cabeça de todos já estava se adequando aos seus ouvidos a ponto de que não ligavam mais para isso.

    — O fato é que mortos não se erguem por nada. — Kassandra encarou bem Bruxo Negro e Ayel quanto falava, eles concordaram lentamente com a cabeça. — Algo ou alguém trouxe essas criaturas nas planícies, um poder muito forte que deixou o local completamente insólito.

    — E é de bom-tom que saibamos exatamente o que está acontecendo, Katze não está tão longe. — Bruxo Negro complementou.

    Celérius deu um suspiro longo que acabou sendo ouvido por todos no local.

    — Vocês falam como se existisse um mistério maior, são mortos que desafiam o equilíbrio. A única verdade é que esses cadáveres precisam ser purificados pelo fogo sagrado!

    Kassandra escutou tudo enquanto estreitava os olhos.

    — Purificar sem compreender é tolice. Se ignorarmos a origem, poderemos enfrentar algo muito pior no futuro.

    Ela passava as unhas lentamente na mesa de madeira, deslizando em um ranger atônito.

    Ayel erguera a mão.

    E todos ficaram em completo silêncio, aquele sinal do monarca salientava uma força que ninguém ousava sequer piar.

    — Nosso objetivo é claro. Erradicar a ameaça de Katze, no entanto, antes disso, vamos precisar de informações.

    O ruivo varria com os olhos todos os presentes na mesa.

    — Kassandra e Celérius, vocês conseguirão ceder homens para essa incursão?

    — Necromantes de minha confiança estarão a postos. — A mulher assentiu.

    O homem de Deus hesitou por um breve instante, principalmente por encarar a necromante, imaginando que teria que dividir território com ela.

    — A igreja fornecerá clérigos para garantir que o trabalho seja concluído corretamente — respondeu.

    — Imagino que isso signifique que teremos que rezar a cada dezena de passos. — Soltou Belle com um riso seco.

    Mas o clérigo ignorou a provocação.

    — Acredito que consigo mobilizar algumas tropas de guerreiros e guardas reais, eles poderão tomar à frente com necromantes e clérigos para impedir o avanço da horda. Precisamos de um grupo para coletar informações sem se preocupar com os inimigos.

    — Se há algo oculto por trás dessa horda, eu desejo descobrir… — Dissera Bruxo negro, após um longo silêncio. — Estarei na linha de frente.

    — Eu também. — concordou Kassandra.

    — O que vocês decidirem… Para mim, está ótimo. — Solomúrius disse, fazendo um gesto um pouco despreocupado.

    — Muito passivo, Gambiarra. — Ayel o encarava de cima. — Caso estoure uma situação de confronto, quantos relicários você me entregará?

    — Eu não forçaria nenhum deles ao combate, principalmente depois dos goblins e Aldmond. Mas os que desejarem se unir ao senhor, majestade. Eu cederia sem problema algum.

    Ele coçava o queixo enquanto respondia, o tribal assentiu assim que escutou tudo.

    Era justo.

    A conversa prosseguiu por mais alguns minutos, onde todos refinavam os detalhes do plano.

    Alguns guardas reais iriam com os necromantes e clérigos, eles ocupariam o espaço de distração para os mortos. Ayel, Kassandra, Bruxo Negro e o esquadrão iriam procurar a fonte e erradicar todo o mal.

    O ambiente, embora ainda carregasse uma tensão, começava a pender para o fim, onde a conclusão parecia mais próxima para todos ali, em um acordo.

    — Triunfemos diante do caos! — Ayel erguera o seu hidromel.

    E todos seguiram, e por lá bebericaram em brindes alarmantes até que a tempestade sumisse no horizonte.


    Os corredores do grande castelo estavam sendo iluminados por tochas, projetando as sombras nas paredes frias. Anoitecera.

    A reunião com as guildas havia encerrado, com o cair da luz da lua. A chuva também perecera.

    Ayel caminhava com passos firmes e um olhar severo, embora distante. Sua mente estava presa em uma batalha que sequer havia começado.

    — Eles já foram, alteza? — A voz feminina rompeu o silêncio entre um passo e outro.

    A mulher de cabelos loiros e rosto angelical pairou nas costas do homem, ela encarava aquele porte imponente.

    Qualquer um hesitaria de se aproximar, mas lá estava ela. A líder da guarda real.

    — Yelena, não havia notado que estava no castelo.

    O monarca havia respondido sem virar para a mulher, ainda entregando a visão das suas costas para a mesma.

    A sentinela, verificava se o seu arco estava bem preso às costas, deu mais alguns passos à frente. Seus cabelos dourados brilhavam um pouco mais com a luz das tochas.

    Ela carregava uma expressão que misturava um pouco de angústia com tristeza.

    — Escutei brevemente a reunião enquanto passava pelo corredor. Quem irá para Katze? — perguntou, cruzando os braços.

    O bárbaro respirou fundo, erguendo o olhar para a abóbada de pedra do corredor antes de responder.

    — Eu, o Bruxo Negro, Kassandra e o Esquadrão.

    Criados passavam apressados, carregando bandejas e pergaminhos, evitavam encarar diretamente o seu rei. Ele parecia sério demais.

    O coração da mulher sentiu um aperto, ela não conseguiu segurar a expressão e franzira a testa.

    — Por acaso, Kord e Claude não foram cogitados? Ou até eu mesma?

    — Não. Por que seriam? — A voz do ruivo era bastante firme, mas nela não carregava agressão, estava sem traço algum de hostilidade.

    A sentinela loira não conseguia compreender, seus olhos carregavam uma certa indignação. Ela tentava separar o que estava acontecendo naquela hora para o que ocorreu com a Gwendolyn dias atrás.

    — Vocês são vitais para o bom funcionamento do reino. Não posso jogá-los a todo perigo que aparece. O Esquadrão foi criado para isso. — O rei finalizou.

    — Mas e o senhor? É literalmente nosso rei! — retrucou, inclinando-se para ele.

    “Impulsivo e suicida igual ao Aiden, santo Deus!”

    Ela pensava, enquanto encarava aquele alto homem.

    — Isso é diferente… Eu não conseguiria me aguentar sentado em um trono sem ir para uma peleja, é o que faz meu sangue ferver e me sentir vivo.

    Um silêncio fúnebre abateu sobre ambos quando um grupo de criados passou por ali, sussurravam entre eles. Yelena esperou que estivessem fora do alcance da conversa para poder retomar o que estava prestes a dizer ao seu rei.

    — Majestade, não somos diferentes.

    O homem fitou-a e, por um instante, hesitando, com um tom mais baixo, ele somente finalizou tudo.

    — Um não é um não, Yelena.

    A respiração da líder da guarda acelerou, talvez aquela frase tivera um peso que ela não esperava e isso a atingiu avassaladoramente. A garganta dela apertou, mas ela se sentiu obrigada a continuar, mesmo que os seus olhos continuassem vacilando e não conseguissem criar um contato visual com o ruivo.

    — Sinto que me esqueceu… Sinto que não me procura mais… E com isso, sinto que estou sendo abandonada. — vociferou Yelena, como uma amarga confissão.

    Ayel pareceu confuso, escutando tudo, franziu as sobrancelhas. Seu rosto teria endurecido mais, mas ele hesitou e buscou como se comunicar sem magoar mais a mulher.

    — Isso não é verdade, Yelena, aconteceu que… Desde que guerreei com os goblins, suas visitas foram estritamente profissionais. Até mesmo depois disso, comigo já recuperado, tudo que escutei saindo dos seus lábios foram sobre os relatórios, então achei que nossa dinâmica havia se tornado essa.

    O coração da mulher apertou e ela desviou o seu olhar completamente.

    Yelena sentia o seu peito se encher de um peso que a incomodava, ela não sabia como abordar esse assunto, então foi mais direta que conseguiu.

    Talvez fosse o momento de enfrentá-lo, finalmente.

    — Acha que eu não sei da Victoria? — Yelena atacou.


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