Índice de Capítulo




    Capítulo 072 – Contra-ataque!

    O salão que o conselho utilizava volta e meia, praticamente um santuário que reunia as maiores ambições e intrigas que ocorriam debaixo dos panos do reino de Sihêon, âmbito evitado por praticamente todos os criados do rei bárbaro.

    O bárbaro estava, sentado na cadeira que ficava no ponto mais alto do salão, muitas vezes as mesas eram excluídas e apenas as cadeiras adornadas preenchiam o local, a depender do que tipo de reunião seria feita. Ayel ordenou que assim fosse feito.

    As tochas projetavam as sombras do homem, por mais que estivesse claro lá fora, as cortinas pesadas cobriam a luz do sol para o interior do santuário das mentiras.

    Alvorada ainda estava convalescente, cheio de ataduras enroladas no seu torso e no seu braço esquerdo. Estava cansado de permanecer na situação em que estava, as dores que ele sentia não eram maiores que a tortura de não exercer seu trabalho no reinado.

    Após um pedido solene para a senhora Onore, ela permitiu que o homem trafegasse novamente pelo castelo, mas com cuidado para nenhuma ferida magoar.

    Na sua mão direita ele segurava uma caneca larga de madeira com hidromel, estava pesada, transbordava um pouco do líquido quando ele se mexia, principalmente com os agudos de dor que atingia seus músculos conforme se ajeitava na cadeira mais alta.

    Estava completamente impaciente, talvez o bárbaro fosse muito ansioso, desejava que todos já estivessem lá de uma vez para que ele pudesse acabar com tudo logo.

    Principalmente nessa ocasião, pois, pela primeira vez, não fora o conselho que chamara o rei, mas o rei quem exigia a presença dos nobres.

    O silêncio do ambiente foi quebrado subitamente assim que a grande porta de carvalho rangeu, uma empurrada sem qualquer cerimônia. Guarda algum havia anunciado o visitante, como guarda algum o escoltava.

    Eric Belomonte surgira no portal, aquela figura magra trajando uma túnica de tecidos nobres. Ajeitou seus cabelos curtos e negros que brilhavam com a iluminação ardente das tochas.

    — Majestade… — murmurou com os olhos fixados no bárbaro.

    Ayel erguera o olhar, um pouco de desdém, um pouco de curiosidade. De qualquer forma, bebeu um pouco mais do seu hidromel.

    — Eric, chegou antes de qualquer outro, isso é ótimo… Pois detesto atrasos com todas as minhas forças. — rosnou o ruivo.

    — Na verdade, vim intencionalmente mais cedo. — respondera o Belomonte. — Queria conversar com você.

    — “Com você”? — Ayel arqueou rapidamente uma sobrancelha. — Isso soa um tanto desrespeitoso.

    Eric pareceu hesitar por um instante, seu lábio tremulou como se tivesse segurando uma onda de ofensas que diria para o tribal.

    — Mais desrespeitoso que ter deflorado a minha filha? — respondeu o nobre com tom ácido.

    Alvorada fitou-o de cima a baixo com um silêncio que muito dizia. Então levantou-se e andou até o nobre, a diferença de estaturas era notável, Ayel era o dobro do tamanho do senhor dos vinhedos.

    — Vou relevar. — Dissera Ayel, dando de ombros com um sorriso torto.

    Entretanto, Eric dera um passo à frente, seus punhos cerraram e seus lábios ainda tremiam de raiva.

    — Vai se casar com ela! — bradou

    — Bárbaros não casam.

    Ayel ainda inclinou sua cabeça, com curiosidade pelo assunto abordado.

    — Ela não é bárbara!

    — E eu não sou um lorde. — replicara Ayel, seco.

    O rosto do nobre esquentou com a ira, ele ainda tentava lutar pela honra da sua filha por mais que ela mesma já havia desistido da mesma, em um súbito de ódio ele deu um passo em direção ao rei, ficando ainda mais próximo.

    — Ora, seu…!

    O rei também avançara um passo, aproximando-se tanto a ponto que o Belomonte conseguiu sentir o hálito quente, cheirando hidromel e raiva.

    Os olhos do tribal queimaram, selvagens… O olhar assassino.

    — Acha que pelo fato deu ter ficado de cama por semanas, impede que eu continue sendo quem eu sempre fui?

    Ayel deu mais um passo para frente, inconscientemente Eric deu um passo para trás, o medo estava acima da indignação.

    E o tribal continuou:

    — Se a sua filha quis deitar comigo, isso é assunto meu e dela. Se tem vontade de se envolver, sugiro que esteja muito pronto para as consequências de estar contra o seu rei.

    Era como se Alvorada estivesse tão estressado e quente que suasse, e esse calor vaporizasse em vermelho.

    O medo de Eric aumentou tão rapidamente que ele se sentiu uma presa encurralada por um lobo.

    — Eu… Eu sou do conselho dos nobres!

    Ele arriscou com a voz trêmula, mas o bárbaro não deixou de se aproximar.

    — Eu não me importo, seu bosta! — rugiu Ayel.

    Eric Belomonte recuou completamente, seus ombros estavam tensos e o seu rosto estava completamente pálido.

    Ayel sorriu.

    — Assim está melhor. Cabisbaixo, como o seu tipo merece. Agora senta nessa porra de cadeira e cala essa sua boca inútil enquanto o resto do conselho não chega.

    O nobre hesitou, desejava obedecer pelo medo, mas estava surpreso com a petulância do tribal, não parava de encarar a espada do Ayel.

    — Vai ouvir o que eu disser aqui hoje, e vai ouvir calado. — concluiu o bárbaro.

    Eric cedeu, obedecendo, sentando-se na cadeira mais distante do salão.

    Alvorada buscou se sentar de novo, e então, tomou mais um gole de hidromel, seu olhar ardente ainda fixava no pai de Victoria.

    Pela primeira vez, o bárbaro quem dominava aquele salão, não apenas como o rei, mas como uma força bruta que os nobres não sabiam como reagir.

    Esperava pacientemente, pelo restante. Como se o tempo que tivesse ficado sob tratamento houvesse acumulado um ódio que o tribal sentia necessidade de liberar.

    Em seguida escutou-se uma batida firme que reverberou no salão vazio. A porta abriu-se revelando Bartolomeu Loregard, com seus cabelos loiros e longos, caídos sobre os ombros juntos daquela barba puxada ao grisalho.

    — Saudações, meu rei. — saudara Bartolomeu, inclinando levemente o seu tronco para uma reverência curta.

    Andou até um dos assentos livres com passos calculados.

    Assim que sentou, passara os dedos pelos braços do encosto da cadeira, avaliando silenciosamente o clima do ambiente, onde Ayel continuava com uma expressão assassina e Eric estava tão contido quanto um rato na presença de uma serpente.

    O terceiro surgiu sem qualquer cerimônia. Drake Less apenas empurrou a porta com uma força desnecessária, exibia aquelas cicatrizes da antiga vida de pirata no rosto e partes do corpo.

    — Ayel! — rosnou sem formalidade.

    Enquanto andava sem rodeios e completamente espalhafatoso até o seu assento, a porta rangeu novamente com Milo Verde-folha passando pela mesma. Seus cabelos longos e barba, ambos brancos como a neve, brilhavam com as tochas sobre o seu rosto. Seu manto druídico ornado com fios dourados era muito conhecido.

    — Minhas saudações aos outros membros do conselho, e ao senhor, meu rei. — dissera melodioso.

    Sentou com uma certa graciosidade erguendo o longo manto, batia com os dedos no braço da cadeira como se estivesse um pouco ansioso, talvez impaciente.

    O tempo passara, Ayel convocou criados para servir as bebidas que os nobres desejassem beber, por mais que perguntassem, o rei nada informou enquanto o conselho inteiro não estivesse no local.

    Após isso, Ivan Láparo surgira, praticamente silencioso.

    — Majestade… — dissera quase inaudível, passando as mãos naqueles cabelos curtos e arrepiados, ajustando o seu óculos com armação de madeira.

    Quando a porta abriu-se pela última vez, passou em meio ao som do rangido seco: Akihiro Ikeda, que andava como se deslizasse trajando um manto de seda preta decorado com padrões de flores prata.

    Junto dele, por fim, Branwen Lâmina-fria irrompeu.

    — Honro vossa presença, meu rei. — saudou Ikeda.

    — Ayel. — dissera Brawen de forma seca e direta, típico guerreiro.

    O silêncio espalhou pelo salão, denso como uma névoa turva. Ayel bebeu um gole a mais do seu hidromel, pousando a caneca com força.

    Encarou cada um dos rostos, desdenhoso.

    Da mesma forma que o conselho fazia quando o convocava.

    — Pois bem… — iniciou o monarca com sua voz profunda e grave. — É raro… Muito raro, digo eu. Que seja eu quem convoque vocês, nobres do meu reino. Normalmente são vocês quem me chamam, para chorarem os problemas que acreditam que estou metido e me encher de negociações que me desagradam. Hoje eu quem dita a palavra.

    Todos se entreolharam tensos, Bartolomeu chegou a descruzar lentamente os braços, completamente atento.

    Drake Less roçou os dedos calejados sobre a barba enquanto Akihiro Ikeda baixara a sua cabeça para escutar, seus longos cabelos negros escondiam sua expressão.

    Brawen apenas resmungara algo inaudível, seus olhos claros estavam fixos no bárbaro. O senhor Láparo ajeitou os seus óculos inquieto e Milo apertara o seu cetro dourado contra o peito.

    O tribal ergueu um sorriso maquiavélico, o tipo de sorriso que ele fazia com seus companheiros de bando antes de saquear uma cidade.

    — Tenho pensado muito durante os dias que fiquei acamado, pensei em nossas fronteiras, em nossos inimigos e… em todas as nossas fraquezas.

    Ayel dizia com um tom reflexivo, dando um pouco o espaço que sua pose intimidadora implicava.

    — Somos fortes, sim, mas também estamos muito acomodados.

    Lâmina fria bateu o punho na mesa com impaciência, mas não ousou dizer nada. Ayel percebeu, acreditou que já havia torturado os nobres o suficiente, então concluiu.

    — Depois que tomamos a vila Pharid vimos como o reino se fortaleceu, ganhamos novos campos, novos tributos e novos braços para empunhar nossas armas e arar a nossa terra.

    O nobre pirata gargalhou, um som rouco que rasgou a seriedade da reunião.

    — Fortaleceu? — indagou Drake Less. — Eu só vi cofres vazios, meu rei.

    — Quero Thassar.

    Thassar era uma cidade que estava ao norte de Pharid, dois dias de distância a cavalo. Era a única coisa que existia entre Sihêon e o grande porto do norte, a última fronteira para os mares que chegavam a Althavair.

    — Aquela cidade ao norte é fértil, rica em minério e em ervas raras. Eu desejo que Sihêon a incorpore. Assim como fizemos com Pharid.

    Quanto mais Ayel dizia, mais o burburinho aumentava entre os nobres, que tentavam debater entre si antes de debater com o rei.

    Mas a expressão no ruivo era de uma certeza que não poderia ser tomada.

    O conselho apoiando-o ou não.

    Ele faria.


    Participe do meu servidor do Discord dedicado para a minha obra!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota