Capítulo 087 - Um gole, um dedilhado, um golpe!
Capítulo 087 – Um gole, um dedilhado, um golpe!
Muito fora ponderado se a noite iria se estender ou não.
O fato é que o guerreiro da pele de ébano era bastante resistente ao álcool, então aquelas inúmeras canecas de madeira que tomou enquanto estava com a Elise mal percorriam com força na corrente sanguínea.
Ele e o Kord já haviam bebido cinco vezes mais aquilo e ainda tiveram que guerrear com alguns bandidos na estrada ao leste.
Mas, por fim, o homem pensou que talvez fosse bom interagir com uma colega antiga.
Kord, Claude, Dalila e Victoria eram um quarteto muito poderoso quando, pelo destino, encontravam-se na Melusina. Até um período, a pequena Joana tentava, porque tentava, acompanhá-los, mas sempre era pega pela sua tutora, o que fazia a pequena patrulheira sentir um certo ódio por não integrar aos amigos de “bebedeira”.
O criado do Melusina ainda estava lá, observava bem os dois que, pelo visto, iriam pedir.
Victoria encarou Claude, fez um delicado gesto que ela gostaria de escolher primeiro, a mestra dos venenos pensou por um momento, então, respondera com sua voz suave.
— Eu gostaria de vinho tinto, por favor.
O criado anotou mentalmente e então encarou Claude.
— Cerveja. A mesma de antes.
O criado mais jovem acenou consentindo com a cabeça e se afastou rapidamente, desaparecendo entre todas aquelas mesas lotadas.
No fim, já não era mais possível ver nenhum dos dois criados que atendiam à dupla, então se entreolharam.
Antes que pudessem prosseguir com a sua conversa, uma melodia diferente começara a tocar. Victoria virou a cabeça e viu uma mulher se aproximando. Essa mulher trajava roupas tingidas de preto e vermelho, estava bem chamativa, era um traje bastante espalhafatoso e cheio de frufrus.
A mestra dos venenos conseguia reconhecer de longe aquele cabelo rosa e o decote considerável, que deixava a lateral dos seios fartos à mostra, era Gwendolyn.
Era ela quem estava tocando, dedilhava cuidadosamente seu alaúde em uma melodia que conseguia ser alegre e triste ao mesmo tempo, a barda tocava com uma naturalidade, era como se o instrumento não fosse nada além de uma extensão dela mesma.
Era uma figura muito atraente que se destacava mesmo na multidão. A mulher caminhou até a mesa de Victoria e Claude com passos bem animados e dançantes.
Então, ela começara a tocar uma melodia que gradualmente metamorfoseava em uma obra doce e romântica, seus dedos se moviam com uma tamanha habilidade sobre as cordas, uma música suave, parecia uma serenata. Victoria se sentiu rapidamente constrangida quando percebeu que a barda estava tocando e cantando diretamente para ela e Claude.
Na taverna na qual o lume tremia,
já lhes digo quem veio primeiro:
dos dois corações que, sem companhia,
se encontraram ao canto do braseiro.
Ele a fitou com um gesto manso;
ela sorrira em doce cuidado,
E Sihêon perdia o remanso,
pois já se houvera entre eles trocado.
Era uma letra bem simples, porém, por conta da bela voz da barda, que deixava a música ainda mais carregada de uma doçura que fez com que várias pessoas nas mesas próximas virassem para observar.
A mestra dos venenos sentiu o calor subir para as suas bochechas, encarou sem jeito Claude, que estava com uma expressão que misturava constrangimento com diversão.
Obviamente, o guerreiro lutava para conter as suas risadas, seus lábios estavam se curvando em um sorriso contido.
— Gwendolyn! — gritou Victoria
E então ela caíra em uma risada, também estava contendo isso tal qual o guerreiro. — Somos apenas amigos! — ela explicou.
Claude também riu, uma risada genuína.
— A barda está confundindo amizade com romance, parece. — Ele brincou.
Quando dito dessa forma, todos que ainda encaravam a mesa rapidamente mudaram seu foco, envergonhados com a cena que havia acontecido.
— Ah, que pena! — Exclamou a barda, melodiosa e exagerada, enquanto colocava a mão no peito de forma dramática, quase como se estivesse ofendida. — Eu estava tão certa de que havia encontrado um adorável casal para celebrarmos — brincou.
Então, ela ajeitara as suas vestes.
— Bom, já que não estou atrapalhando nada, posso me juntar a vocês?
Disse ela, já puxando uma terceira cadeira e sentando-se em um movimento fluido, colocara o alaúde de lado.
— Claro. — Victoria respondeu depois que a barda havia se acomodado. — Será um prazer ter sua companhia.
A bela mulher do cabelo rosa observou ambos os amigos com interesse, e Victoria notou como a barda parecia genuinamente curiosa sobre a dinâmica entre eles.
— Então, o que trouxe os dois até aqui nessa bela noite? — indagou Gwendolyn — Além da amizade, claro.
— Eu estava com a minha amada. — Claude explicou. — Ela precisou voltar para casa, mas tivemos uma noite muito, muito agradável.
Gwendolyn arqueou uma sobrancelha, interessada. — Sua amada? — perguntou ela, e havia uma curiosidade genuína em sua voz. — Conte-me mais!
O guerreiro da pele de ébano hesitou por alguns momentos, então começou a falar sobre como havia sido feliz no amor recentemente.
Eram palavras cuidadosas, mas carregadas de sinceridade, o suficiente para fazer com que a sua amiga, mestra dos venenos, se sentisse feliz por ele.
Claude descreveu como Elise o fazia rir, como suas conversas eram bastante fáceis e soavam tão naturais, como ele se sentia em paz quando estava sob a presença dela.
A Belomonte observou a barda que escutava com bastante atenção, ela tinha os olhos bem fixos no guarda real enquanto ele falava, por um instante, algo mudava na expressão de Gwendolyn.
Seus olhos perderam um pouco do brilho.
— Nossa, que sorte a sua. — Disse a barda. — Eu… eu me sinto triste por amar alguém e não ser correspondida.
Victoria sentira uma pontada genuína de surpresa e ao mesmo tempo empatia. Encarou como a barda olhava para as próprias mãos enquanto dizia.
Era notório, Gwendolyn sempre passou uma imagem de uma mulher devassa, nem sempre apenas de imagem, incontáveis aventureiros, aventureiras, criados, criadas, nobres e plebeus já haviam provado do gosto dos seus lábios.
Muitos considerariam até beber perto da barda dos cabelos rosa, se ela quisesse você, ela teria.
Era difícil imaginar uma mulher assim de coração partido, então a situação da mesa havia virado, onde quem estava segurando a curiosidade e cogitando o que perguntar era Claude e Victoria. E a mestra dos venenos logo começou.
— Como assim?
A barda a encarou e, por um momento, a mestra dos venenos visualizou uma certa vulnerabilidade na mulher dos cabelos rosa, a máscara de alegria e descontração parecia ter se rachado ligeiramente.
Era o álcool?
— Yelena. — Disse Gwendolyn, o nome saiu como um suspiro dos seus lábios carnudos. — Eu amo Yelena. Há um pouco mais de um ano, eu a beijei nessa mesma taverna. A loira correspondeu ao meu beijo e naquele momento pensei que… Que talvez houvesse uma chance, mas ela se arrependeu do que aconteceu tempos depois. Ela disse que tudo havia sido um erro, que não sentia o mesmo por mim.
Victoria sentiu uma onda de diversas emoções conflitantes percorrendo o seu corpo. Ela conhecia muito bem Yelena e sabia exatamente a complexidade dessa situação.
“Eu ainda visito o castelo para me deitar com o imperador, tal qual Yelena também faz”, pensou.
Seria bastante confuso explicar tudo aquilo, mas da forma em que ela percebeu que Claude e Gwendolyn a encaravam, provavelmente já sabiam do caso dela com o monarca. Naquele momento, então, a jovem dos cabelos cacheados se absteve de dizer qualquer coisa, as palavras que sairiam da sua boca foram recolhidas.
No lugar da explicação, Victoria decidiu apenas estender a mão e tocar suavemente o braço da barda, com palavras sinceras:
— Sinto muito, Gwendolyn.
Claude encarou aquela situação com uma expressão pensativa, não que fosse possível pensar tão profundamente em um ambiente tão barulhento.
Victoria sabia que o guerreiro via Yelena como uma irmã, e ela podia ver como ele processava aquela informação, o homem estava buscando a melhor forma de responder.
— Gwendolyn. Conheço Yelena há muitos anos e eu a vejo como um membro da minha família, não apenas como a minha superior do exército real. Mas… mesmo assim, preciso te dizer: talvez seja melhor tentar seguir em frente e buscar alguém que realmente a valorize. Você merece ser amada completamente, sem reservas ou arrependimentos.
Parecia cômico, cômico e trágico, dois aventureiros aconselhando amorosamente uma barda com a honra perdida.
— É mais fácil dizer do que fazer. — respondeu a barda, encarando o homem.
Ela deu um sorriso, mas era um sorriso triste, carregado de uma melancolia que contrastava com a jovem alegre da Fortaleza das Esferas.
Por um momento, os três ficaram em silêncio.
Eles observavam o movimento ao redor, a música continuava alta e toda a algazarra da taverna seguia o curso normal.
Eles sentiram uma conexão genuína naquele momento, uma compreensão mútua.
— Vocês querem saber de uma coisa? — disse Gwendolyn recuperando a sua alegria característica. — Eu vou pagar a bebida de vocês pelo resto da noite. Considerem isso como um início solene da nossa amizade e da minha gratidão!
Victoria sentiu-se tocada pela generosidade da barda, mas antes que ela pudesse responder, Claude interveio com uma risada suave.
— Mas Gwendolyn… Nenhuma bebida é paga desde que o imperador se comprometeu a pagar por todos no Melusina, para sempre. — disse o guerreiro, com uma diversão carregada na voz.
A mulher do cabelo rosa encarou-o com uma expressão de quem estava completamente ofendida, colocou o dedo indicador na frente da sua boca, um gesto para o guerreiro calar a boca.
Bastante dramática.
— Quieto, guerreiro! — Ela gritou, rindo. — Não estrague a cena! Eu estava sendo nobre aqui!
Os três então caíram na risada e, por um momento, a Victoria sentiu uma onda de alegria genuína percorrer o seu corpo, era um momento que precisava ser compartilhado com os seus amigos.
Eles ergueram as suas canecas, que haviam sido trazidas pelos criados no meio da conversa, e brindaram com força, no meio da música, no meio da algazarra.
Pois a noite ainda tinha muito a oferecer.

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.