Capítulo 031 – A quietude que precede o caos!
Capítulo 031 – A quietude que precede o caos!
Os gritos das atalaias percorriam as ruas em atenção devida, os batedores haviam avistado uma quantia absurda de goblins prontos para avançar pelo sul contra o reino, como uma guerra.
Era uma quantia exorbitante e assustadora, que levantou diversos questionamentos. Os arcanos deduziram então que muito provavelmente seria obra de Crono, por ser um mago especialista em portais.
Ao chegar nos ouvidos do bárbaro, todo o reino ficou em alerta. Por mais que ele olhasse no horizonte buscando o aparecimento da torre, nada via. Acreditava que os inimigos verdes estariam sendo usados para tentar desestabilizar as suas forças, mas ele estava pronto para vingar o seu irmão. Independente do custo.
As rondas da guarda real se tornaram mais frequentes, o canto dos pássaros decidiu cessar devido à tensão que espalhava como uma névoa de ansiedade e medo.
Os bardos cantavam melodias tristes a brandos épicos de guerra, o campo de treinamento lotara. E o Melusina esvaziava seu estoque para aqueles que buscavam o alívio com suas mentes entorpecidas pelo álcool.
Um dos enormes cômodos abandonados no grande castelo de Sihêon ganhou uma nova face quando ordenado por Ayel, em algumas horas se tornou um ambiente pronto para o momento devido. Candelabros foram postos pendurados sob o teto abobadado. Uma longa e retangular mesa de carvalho ocupava o centro do salão.
Barris de vinho, cerveja e hidromel pairavam sob os cantos, encostados nas paredes com tochas um pouco acima.
Criados prontos para servir o que fosse pedido, pois os convidados já estavam adiante.
— Agradeço imensamente que tenham comparecido. — O rei levantara para cumprimentar aqueles que chegaram e curvaram-se em respeito.
Ayel sentara uma vez mais enquanto todos se alocavam diante da sala de reuniões.
Cada um dos líderes das guildas passaram para dentro desse aposento, trancado, logo em seguida. Ayel já estava lá, sentado em uma das pontas da mesa retangular. Yelena pairava em pé, logo atrás do seu rei.
Kassandra adentrara ao lado de Belle, elas se encaravam em um ódio indescritível. As duas se conheciam há pouquíssimos meses, mas, fora o suficiente para incitar o rancor uma da outra, elas não se bicavam por mais que tentassem, a presença de uma incomodava a outra. Logo, onde uma sentou, a outra foi para o completo lado oposto. Uma provavelmente iria insultar a outra quando seus raciocínios foram cortados pela voz firme do rei:
— Todos aqui já estão a par de tudo que está acontecendo, temos considerações iniciais em relação às defesas do reino? Precisamos focar em proteger os comerciantes e os aldeões enquanto aniquilamos os goblins.
— Majestade, me perdoe. — Alyssius sentava logo ao lado do rei, ele não era líder de guilda alguma, mas ganhara o respeito de todos a ponto de também ter sido convocado. — Mas acha prudente nos reunirmos aqui?
O velho mago mencionava a existência do conselho dos nobres. Eles poderiam visualizar essa pequena reunião apenas com os membros da guilda como uma ação rebelde vinda do rei. Ayel encarou o homem. Respondera franco.
— Estou de saco cheio dos nobres e eles não me apetecem de forma alguma, já os membros das guildas, senhores nos quais anexei a minha coroa. Vocês são extensões do meu reinado, vocês, melhor do que ninguém, conseguirão me auxiliar contra essa ameaça, os membros da nobreza podem se foder. Estou iniciando aqui um conselho que eu verdadeiramente me importo.
Bruxo Negro repousava seu corpo na cadeira da outra ponta, fitando o Alvorada de frente. Em cada um dos seus lados na mesa estavam Anusha e Celérius.
Sorrisos discretos foram entregues sutilmente no rosto daqueles que escutavam Ayel, os líderes das guildas sempre almejavam esse tipo de liberdade… E o bárbaro estava entregando para eles. Entraram no seu jogo.
— Meu rei, senhor. Podemos reforçar as muralhas sul, tenho um carregamento altíssimo em madeira e podemos utilizar o que fora desmatado no Bosque das Folhas Densas semanas atrás. É possível não apenas fortalecer os portões como criar algumas estacas que impeçam que eles prossigam para caminhos que não desejamos. — O velho relicário dissera sucinto. Sentado ao lado de Belle.
— É um bom começo, podemos fazer perfeitamente. — assentiu Ayel observando o senhor levantar-se.
O senhor do Laboratório das Maravilhas ajeitava seu cinto que estava deveras pesado devido à quantidade de ferramentas, ele segurava para que não caísse no chão. Seus passos eram lentos e ele contornava o centro do cômodo.
O rei inclinou-se para frente encarando os seus subalternos, sua expressão carregava uma preocupação. Suas batalhas anteriores, principalmente quando ele estava na liderança do bando bárbaro, eram mais simples, ele não precisava se preocupar com dependente algum. Agora, ele tinha os aldeões, todos os civis que não poderiam lutar com ele. Precisavam ser protegidos.
Mulheres, idosos e crianças, elementos que nunca preocupariam Ayel, agora se tornara a sua prioridade, ele se agarrava nisso como um mantra.
“Não podemos falhar”
Ele pensava enquanto os outros refletiam sobre estratégias.
A jovem atrás do Alvorada coçara a garganta, tocando no ombro do seu ruivo, começara a falar também:
— Majestade, podemos colocar algumas das sentinelas espalhadas ao longo das duas trilhas principais que levam do bosque até o sul do reino. Se conseguirmos interceptar os goblins antes que eles alcancem nossos muros, poderíamos evitar o pior.
Solomúrios Gambiarra andou até o centro da mesa, ele puxara alguns itens que julgou importantes para uma reunião como essa.
Colocara sobre a mesa diversos mapas detalhados da região, havia também alguns adornos de metal que simbolizavam os goblins. Ele havia preparado também uma miniatura para cada um dos membros das guildas.
Yelena sorriu, observando sua miniatura com um arco apontado para a frente quando o mesmo fora posto em cima do mapa pelo velho relicário. O senhor deixou a miniatura da sentinela perto das trilhas principais, como ela havia dito.
— Você está subestimando a quantidade deles falando dessa forma. — A voz do Bruxo Negro ecoou pelo salão.
— Estou mesmo? — Yelena o encarou bem, ela se garantia no arco, ela e seus valorosos homens.
— Não acredito que os interceptar seja a melhor forma de suprimirmos essa força, eu acredito que podemos conjurar algumas barreiras arcanas um pouco depois da saída do bosque. Isso os atrasaria a ponto de organizarmos as tropas todas.
Mesmo que eles não estivessem completamente concentrados nos trabalhos que os criados estavam fazendo, comidas estavam sendo servidas na frente de cada um. Cálices adornados repletos de bebidas que sequer foram tocados. Enquanto o senhor de Nox Arcana gesticulava apontando para o mapa, Ayel batucava com a ponta dos dedos na mesa, inquieto.
Um fio de vento gélido passara por uma das janelas que estavam abertas. Belle colocara as mãos nos mapas instintivamente, estavam presos pela adaga que a necromante havia acabado de fincar na madeira da mesa. Ela manteve sua mão lá por uns momentos, soltou ao encarar Kassandra e ambas fizeram uma expressão feia uma para a outra.
— Quantos homens iremos precisar para um conflito direto, Yelena? — O monarca virara levemente sua cabeça para o lado para visualizar a mulher.
— Meu rei… — A loira pensara um pouco — Acredito que eu possa retirar pelo menos oitenta guardas reais dos seus postos sem que isso interfira na segurança interna de Sihêon. Junto deles, acredito que mais trinta sentinelas estarão dispostos e com arcos apontados.
— Com todo respeito, meu rei. Mas acredito que podemos usar, se não o próprio bosque, a vegetação das trilhas principais ao nosso favor. Conhecemos perfeitamente o terreno, creio que seja possível buscar armadilhas ou emboscadas. — Kassandra passava sua segunda adaga nos pontos do mapa que frisavam seu discurso.
Bruxo Negro concordou.
— Isso poderia reduzir drasticamente o número dos nossos inimigos, bem antes dos mesmos alcançarem os campos de batalha, mas precisamos lembrar que se isso for realmente obra do Crono, nada o impede de poder trazer mais goblins para a guerra, a qualquer momento. — O arcano pegara seu cálice com vinho, o líquido parecia desaparecer quando descia onde constava a boca do homem de sombras.
A líder da guarda real entregara um papel para seu rei, nele constavam alguns números. Cálculos de Kord sobre uma quantia estimada de monstros que poderiam estar marchando em direção aos portões sul, passavam de três centenas.
O bárbaro ruivo encarou todos na mesa, tentando não transparecer o quão incrédulo estava com aquela quantia de inimigos.
— Devo dizer que cada um dos membros das guildas consiga pelo menos uma dezena de afiliados poderosos para nos auxiliar?
— Ainda que eles consigam, meu rei. — Alyssius fez uma pausa, mensurando quantos aventureiros afiliados se juntariam à armada. — Ainda seria um pouco menos que a metade inimiga.
— Vai ter que servir. — brandiu Alvorada. — De qualquer forma, preciso que os líderes estejam junto a mim na linha de frente.
Todos ficaram com uma surpresa inegavelmente carimbada em suas faces. Alvorada, por outro lado, mantinha uma expressão séria. Bebeu alguns goles do seu cálice, encarando todos como se sua palavra tivesse o peso de um decreto.
De fato, era algo inusitado, um costume que caiu com o passar do tempo: O rei na linha de frente. Provavelmente, o único nome que ainda reverberava nas lendas por fazer tais feitos era um tal Phelárius, aclamado como Rei Guerreiro de um reino distante chamado Darazilia.
Embora ficasse evidente como a presença de Ayel fosse elevar exponencialmente a moral das tropas ao lado do reino, os líderes não cogitavam que isso poderia acontecer, também não estavam contando com a convocação para que eles mesmos também comparecessem. Demorou alguns instantes, mas todos concordaram.
Eles estariam na batalha.