Ao cruzar a entrada da sala seguinte, fui subitamente envolvido por uma onda de náusea avassaladora, um golpe visceral que me deixou atordoado diante da cena macabra que se descortinava.

    As camas, dispostas de maneira grotesca, estavam ocupadas por mulheres cujos rostos refletiam um desespero que ultrapassava qualquer compreensão. O cheiro metálico do sangue mesclava-se com o odor pútrido da carne em decomposição, formando uma combinação que fazia meu estômago revirar, obrigando-me a lutar contra o impulso de vomitar ali mesmo.

    A visão de corpos femininos mutilados, com abdômens brutalmente abertos e olhos arrancados, revelava uma verdade que minha mente se recusava a aceitar.

    Cada detalhe daquela sala adicionava peso à sensação de enjoo que parecia me consumir, meu estômago se revirando em uma tentativa vã de processar a horrenda realidade diante de mim.

    O som de minha respiração ofegante era o único indício de que, apesar de tudo, eu ainda estava vivo, mesmo que assombrado pelo espectro da morte que parecia nos envolver. Thoran e Belchior estavam logo atrás de mim, compartilhando do mesmo horror, mas prontos para qualquer ação que fosse necessária.

    A repulsa se transformou em ódio, um sentimento tão intenso que era quase palpável, correndo por minhas veias como fogo. O ódio reprimido pelas atrocidades cometidas naquele lugar buscava uma saída, um alvo para direcionar toda a fúria acumulada. E, mesmo com a garganta ardendo pelo esforço de conter o grito de revolta que se formava, sabia que cada onda de náusea reforçava a determinação de enfrentar o mal que permeava aquele lugar.

    Diante do apelo angustiado das mulheres, cada palavra uma súplica por um fim que elas viam como um alívio para seu sofrimento inimaginável, a decisão que tomei foi talvez a mais pesada de minha vida. Elas, encurraladas pela perspectiva de dar à luz aos frutos de uma violência inominável, escolheram a morte como seu último ato de autonomia, um derradeiro gesto de resistência contra a monstruosidade que lhes fora imposta.

    Com um coração pesado e mãos que tremiam com o peso de tal responsabilidade, aproximei-me delas. Cada golpe que desferi na carótida, visando um desmaio rápido e sem dor, carregava consigo uma carga emocional esmagadora. O método, pensado para poupar-lhes qualquer desconforto adicional, era uma pequena misericórdia em um mar de crueldades. A pressão aplicada nesse ponto crítico do corpo humano tinha o propósito de cortar brevemente o fluxo de sangue para o cérebro, provocando uma perda de consciência quase imediata, sem dor.

    O silêncio que se seguiu a cada ato de misericórdia era um testemunho sombrio do peso da escolha que recaía sobre mim. A consciência de que elas não despertariam desse sono eterno era um fardo que eu carregaria, uma marca da tragédia que havia presenciado e do papel que me vi forçado a desempenhar. Nesse momento, eu não era apenas um combatente enfrentando monstros nas sombras; era um executor de vontades finais, um portador da paz que elas tão desesperadamente buscavam.

    Após garantir que estavam em um estado de inconsciência profunda, para que não sentissem mais dor, procedi com a difícil tarefa que me foi confiada. Era uma ação carregada de um peso emocional avassalador, a realização final dos desejos daquelas cujas vidas haviam sido marcadas por tanto sofrimento. Cada movimento era feito com um respeito solene, uma promessa silenciosa de que suas últimas vontades seriam honradas, de que a paz lhes seria concedida.

    No silêncio daquele lugar sombrio, acompanhado apenas pelo eco de minhas próprias ações, dez vidas chegaram ao fim, cada uma deixando para trás uma história não contada de sonhos desfeitos e esperanças abandonadas. Suas últimas palavras, um apelo por justiça e pelo consolo de suas famílias, ressoavam em minha mente.

    E assim, tirei a vida de dez pessoas, com minhas próprias mãos…

    Prosseguindo em nossa busca através da escuridão labiríntica, finalmente encontramos o responsável por todo aquele tormento. Diante de mim, erguia-se uma criatura de proporções intimidadoras, um ser que exalava perigo a cada respiração. Era um hobgoblin, um ser cuja presença imponente explicava os horrores que havíamos testemunhado: os ataques furtivos, o destino trágico das mulheres usadas em rituais de procriação, e a organização meticulosa daquele subterrâneo macabro.

    Para minha consternação, percebi que estávamos lidando com uma inteligência que rivalizava com a humana. O hobgoblin diante de mim não era uma besta ordinária, movida apenas por instintos primitivos; sua astúcia era evidente, manifestada na estratégia e na crueldade de seus atos. Mesmo diante da enormidade da ameaça que representava, um sentimento de desafio cresceu em meu peito.

    “Wian, é com você agora. Distraia-o”, sussurrei, confiando na habilidade do meu companheiro para desviar a atenção da criatura que nos ameaçava. Ainda não havíamos sido notados pelo hobgoblin, uma vantagem momentânea que eu estava ansioso para explorar. Movendo-me com a cautela de uma sombra, deslizei ao longo da parede, meu corpo pressionado contra a pedra fria, enquanto Wian, valente e decidido, caminhava na direção oposta. Seu objetivo era simples, mas crucial: capturar a atenção do monstro.

    Era fascinante, de certo modo perturbador, perceber como mesmo as criaturas mais brutais podiam ser manipuladas pela entonação de nossa voz. As palavras de Wian, embora indecifráveis para o hobgoblin, carregavam um desafio inegável em seu tom. Uma provocação universal que transcendia a barreira do idioma.

    Meu avanço era lento, medido, cada passo cuidadosamente colocado para evitar qualquer ruído que pudesse trair minha posição. Thoran, com sua postura sempre vigilante, estava preparado para agir ao menor sinal de perigo.

    Ah, sim, deixe-me dar um passo atrás e pintar um retrato mais claro desse ser que concentrou tanto da minha atenção – e da minha ira. Envolto nas sombras de minha memória, o hobgoblin apresentava-se como uma figura imponente, grotesca em sua estatura e simplicidade. Era imenso, ultrapassando os dois metros com facilidade, sua forma corpulenta mais lembrando a de um goblin que havia se entregado aos excessos, vestido apenas com os restos de uma bermuda esfarrapada que mal servia para cobrir sua vergonha.

    Nas mãos, a criatura segurava um porrete, um instrumento de guerra tão clássico quanto brutal. A arma, desproporcional até mesmo para o seu tamanho gigantesco, era um testemunho da força bruta que aquele ser era capaz de exercer. Sem dúvida, havia sido o fim de muitos, e agora se balançava com uma ameaça silenciosa em sua pegada firme.

    Mas, veja bem, a descrição de sua aparência torna-se quase irrelevante diante do fervor que me consome.

    Aproximar-me furtivamente da besta foi uma tarefa cumprida com êxito, um jogo de sombras e silêncio no qual me tornei mestre. As expectativas de um confronto épico, digno dos finais de grandes sagas, desvanecem-se na realidade de minha resolução fria. “Você”, murmurei para mim mesmo, um juramento sussurrado na escuridão, “não merece uma batalha de honra, muito menos uma morte que carregue algum vestígio de dignidade. Seu fim será um reflexo de sua existência: patético e desonroso, sem espaço para qualquer gesto de bravura.”

    Wian mantém o monstro engajado, uma distração perfeita que me concede a oportunidade que eu tanto ansiava. A criatura, com sua atenção dividida, torna-se vulnerável, e é nesse momento que meu plano se concretiza. Thoran, pronto para qualquer eventualidade, observa atentamente cada movimento. Embora os segredos da anatomia monstruosa sejam desconhecidos para mim, presumo que a constituição de um hobgoblin não se afaste radicalmente da de seus parentes menores. Assim, com a precisão de um caçador que conhece o coração de sua presa, dirijo minha lâmina para um ponto crítico – a região onde imagino ser o umbigo, um golpe destinado a ser tanto mortal quanto humilhante.

    Canalizei toda a energia do meu ser, cada fibra do meu corpo vibrando com um propósito singular. Emoções turbulentas – ressentimento, raiva, ódio, repulsa – convergiram em um único momento de clareza devastadora. Esse golpe não era apenas meu; era o eco da dor e do sofrimento de incontáveis almas.

    O ataque que desferi nas costas da criatura foi além de tudo que eu imaginava ser capaz. Minha lâmina, guiada por uma força que parecia transcendental, encontrou seu alvo com uma precisão mortal. E então, num gesto quase surreal, a ponta emergiu pelo umbigo do hobgoblin, uma prova visceral da profundidade do golpe que havia atravessado sua carne, destruído sua coluna e dilacerado seus órgãos vitais. Era um ferimento do qual não havia salvação, um veredito inapelável.

    Ao ver a criatura ajoelhar-se, usando seu porrete como suporte numa tentativa fútil de permanecer de pé, não havia mais luta, apenas a aceitação de seu destino final. “Você está diante do seu algoz”, pensei, observando o monstro lutar contra a inevitabilidade de sua própria morte. Bem, a morte dele já havia chegado, ele apenas ainda não se deu conta disso.

    Então, quando tudo parecia ter finalmente terminado, o hobgoblin reuniu suas últimas forças e com um movimento rápido e inesperado, ele brandiu seu porrete em direção a Thoran. Em um instante, o golpe ressoou com um som seco e terrível. Minha última visão foi a cabeça de meu amigo sendo arrancada de seu corpo, descrevendo um arco no ar, enquanto seu sangue jorrava em um borrifo vermelho.


    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota