Capítulo 12 - As Peripécias Inacreditáveis de Wian.
… Belchior, por que eu deveria contar minha história em um livro? Ah, sou parte dela também? Tudo bem, tudo bem. Então, por onde começo?
Prazer, sou eu aqui narrando as peripécias da minha vida. E, só pra que saiba , minha trajetória não é daquelas “sou o herói que o mundo clama, portador do destino glorioso”. Está mais para “caramba, por que eu tive que ralar tanto pra chegar até aqui?” Claro, sem esquecer da sorte que nunca me abandonou. Mas, olha, sem pena, viu? Rir da minha desgraça é um privilégio para poucos.
Tudo iniciou com correntes…
Correntes geladas e apertadas como o abraço de um inimigo implacável. Eu estava acorrentado? Demorei a abrir os olhos. Como vim parar aqui? Quem sou eu? Inicialmente só lembrava meu nome, Wian. Não estava sonhando até pouco tempo? É um sonho? Mas é tão real! Aos poucos minha memória foi voltando, e comecei a perceber onde estava.
Bom, pelo visto, sou um estudante pré-vestibulando sonhando com a medicina. Geek, otaku, gamer, nerd. Pais vivos, uma irmã. Checar quem sou? Feito. Agora, qual é o lugar?
Olhei ao redor. O céu era um manto escuro, cinzas desciam como neve. O solo era de pedra rachada, e havia uma árvore com galhos retorcidos e desfolhados atrás de mim.
Tudo aqui tinha um ar… morto.
“Beliscada só pra ter certeza”
“Ai! Ok, ok, definitivamente não é um sonho.”
Se isso não é um sonho, melhor eu me levantar. Comecei a desembaraçar as correntes que estavam mais confusas que fones de ouvido esquecidos no bolso. Que alívio! As correntes não estavam presas em mim, mas sim no chão.
Após algum esforço e muita ginástica, finalmente me soltei. Levantei, enxuguei o suor e então notei algo estranho. Minha pele parecia diferente ao tocar meu rosto. Ao olhar a mão esquerda, vi algo inusitado: um anel, ou pelo menos parecia ser. Três correntes entrelaçadas formavam um anel agarrado ao meu dedo indicador. Tinham a mesma textura fria e um pouco enferrujada das que antes me prendiam, além de um sinistro brilho vermelho-arroxeado.
Naquele instante, fiz o que qualquer pessoa no meu lugar faria, tentei remover o anel. Mas rapidamente me dei conta de um terrível equívoco. A primeira pista de que algo estava errado era que… bem, parecia mais viável arrancar meu próprio dedo do que libertá-lo do anel. As correntes se apertaram ainda mais, e eu parei, temendo realmente perder meu dedo indicador. A segunda pista foi uma voz que, de repente, ecoou na minha mente, quase me deixando surdo.
“Vire-se, mortal! Ou os espectros consumirão sua alma. TOLO!” — ecoou a voz rouca e prolongada, que, apesar de soar doentia, carregava uma arrogância capaz de engolir o mundo e uma força que poderia fazer meus ouvidos estourarem.
No impulso, virei-me e me deparei com uma visão que gelou meu sangue: um rosto distorcido e desidratado, com olhos substituídos por chamas roxas. O ser deslizava velozmente em minha direção.
Então, fiz o óbvio, corri. Esperavam o quê? Que eu encarasse um ser IN-COR-PÓ-REO com um soco heroico? De jeito nenhum. Estava frente a frente com um fantasma, UM FAN-TAS-MA, saído diretamente dos meus piores pesadelos, avançando rapidamente em minha direção enquanto emitia sons que eriçaram cada pelo do meu corpo
“Melhor não encostar em algo que, muito provavelmente, quer me matar” — murmurei para mim mesmo.
Agora, permitam-me fazer uma breve pausa nesta narrativa para chamar sua atenção. Querido leitor lembre desse comentário que eu, nesse passado longínquo, deixei escapar.
uma vez um grande sábio falou que tudo aquilo que disser poderá ser usado contra você num tribunal… espere um pouco acho que errei o ditado… bem não importa, voltando a programação original.
Retomando…
Estava correndo como se não houvesse amanhã. Contudo, logo percebi que a situação não era nada favorável. O solo, que até então me permitia escapar, simplesmente acabou.
E foi apenas nesse momento crítico,que entendi onde realmente estava: Numa pequena ilha flutuante. Bem, dizer ilha é exagero; era mais uma plataforma quase redonda, com no máximo uns 10 metros de raio. À minha frente, um abismo escuro; atrás, uma criatura que desafiava minha compreensão.
Então, fiz algo realmente digno: virei-me para encarar a morte de frente. Mesmo num estado de desespero, enfrentar a criatura ainda me pareceu uma possibilidade mais realista do que a chance de sobrevivência a uma queda no abismo.
Portanto, com um resquício de esperança ergui meus braços à frente, palmas das mãos voltadas para a ameaça, nutrindo a fantasia de que, neste delírio, eu pudesse descobrir algum poder oculto. Afinal, diante do surrealismo do momento, por que não? Parece até razoável pensar assim… não é?
E claro, não posso esquecer de mencionar o grito. Mas não foi um grito de coragem típico de herois em combate, nem de excitação como aqueles de quem está numa montanha-russa. Foi um grito profundo de terror, o mais puro e genuíno medo.
Fechei meus olhos, preparando-me para o fim, mas, inesperadamente, senti uma sensação fria e reconfortante espalhar-se pelo meu corpo. Sim, você leu certo: reconfortante. Essa sensação emanava do anel em minha mão, e eu pude sentir algo quase tangível formando-se ao meu redor.
Pode ter parecido longo na descrição, mas esse momento durou menos de um segundo. Ao abrir meus olhos, o monstro estava prestes a me atingir com suas garras. Movido pelo medo, a esfera de energia que eu havia formado, agora visível aos meus olhos, disparou em direção ao meu adversário acompanhada de meu segundo grito, como se ela própria compartilhasse da minha aversão por ele. Arrastou a criatura consigo e, ao se afastar o suficiente de mim, explodiu.
O ser mostrou-se surpreso ao ver sua presa lutar quando acuada. E eu, por minha vez, senti uma onda de alívio e fascínio com a descoberta desse estranho novo poder fluindo em mim, uma energia tingida de roxo e vermelho.
“Seja lá de onde esse poder veio, contanto que me ajude a sair vivo daqui, é o que importa.”
Refletindo agora, dói um pouco lembrar que pensei assim naquele momento, Sem ter ideia de que esse mesmo poder me arrastaria para não uma, mas duas das piores situações que já enfrentei. Se há um ser superior controlando todas as dimensões, parece que ele olhou para a minha vida e decidiu que seria divertido transformá-la em uma piada.
Então, lá estava eu, utilizando uma rajada mística para enfrentar a criatura (e, para sua informação, “rajada mística” é o nome que dei à magia que acabei de descobrir). Após ser atingido pelo meu ataque, o monstro arremessado mostrava sinais evidentes de dano.
“Uma vez mais, e ele não resistirá,” pensei comigo mesmo.
— HADOUKEN! — exclamei com toda a força que consegui reunir, tentando novamente conjurar aquela esfera de energia. E deu certo.
BOOM!
A energia liberada foi tão poderosa quanto eu esperava, talvez até mais.
Então, a criatura, já fragilizada e quase etérea, estalou como vidro sob pressão, desintegrando-se em fragmentos que se evaporaram, desaparecendo como se nunca tivessem existido. Enquanto eu celebrava minha conquista em silêncio, uma voz ressoou:
— Ótimo, ótimo. Excelente. Utilize o dom que lhe concedi e traga o fim àqueles que obstruirem seu caminho — disse a mesma voz enigmática de antes.
— Quem é você? E por que estou aqui? Aliás, onde é ‘aqui’? — questionei de imediato, intuindo que a voz talvez não respondesse se eu demorasse muito a perguntar.
“Eu sou O Acorrentado, o mais poderoso dos deuses antigos. E você está aqui porque fui eu quem o convocou. Aproxime-se, e juntos, selaremos um PACTO.”
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