Capítulo 12.1 - As Peripécias Inacreditáveis de Wian.

— Humm… ok, mas antes de qualquer coisa, como consigo ouvir sua voz?

— Eu sou um DEUS!!! Possuo poderes além do que você pode imaginar, TOLO!

— Certo, essa parte eu compreendi… Mas por que um ‘deus’ tão poderoso precisaria de mim, um simples mortal?

— Até um ser como eu enfrenta suas limitações. Atualmente, estou confinado em um local do qual não posso escapar por conta própria. Portanto, preciso que você me liberte…

Esse foi, de fato, um momento bastante peculiar. Um deus solicitando a ajuda de um mortal para libertá-lo… Mesmo que eu tivesse a menor intenção de ajudar, não fazia ideia de por onde começar, muito menos possuía o poder necessário para tal feito. Assim, aguardei que meu novo “amigo”, o deus aprisionado, me desse mais detalhes.

— Bem… Estou confinado a uma pequena dimensão paralela, isolada de todas as outras, exceto esta em que você se encontra. Além disso, estou acorrentado com as correntes místicas conhecidas como Gleipnir.

— E não estamos falando da versão original, suave como seda, mas sim de uma nova e aprimorada, que sela meus poderes e atenua meus sentidos. Mas isso não é tudo. Este local está sob a proteção de um complexo encantamento temporal, que exigiu a união de dez dos magos mais poderosos para ser criado.

— Por conta disso, o tempo aqui quase não flui, e sou incapaz de dissipar essa magia. Eles superaram a nona classe de magia, alcançando juntos a décima classe. E claro, para conjurar tal magia de aprisionamento, eles tiveram que se sacrificar, criando assim um plano suicida só para me prender, esses nacionalistas arrogantes…

— AAAAAH! ESTOU CONDENADO A PASSAR A ETERNIDADE OLHANDO PARA SUAS CARAS SORRIDENTES. QUANDO EU CONSEGUIR ME MOVER, A PRIMEIRA COISA QUE FAREI SERÁ ELIMINAR ESSAS PRAGAS E TODA A SUA DESCENDÊNCIA DA EXISTÊNCIA!

— Isto é o que eu chamaria de um belo rancor.” Lembro-me de ter quase sentido pena dele naquele momento. Ser aprisionado por uma eternidade deve ser o pior destino possível.

Outra coisa que me chamou a atenção, embora eu não tenha comentado na hora (por motivos óbvios de medo), foi quão comunicativo ele se mostrou. Mas logo me ocorreu que até um deus precisa desabafar de vez em quando, e parecia ter passado um bom tempo desde sua última conversa.

— Décimo círculo… magos? — Decidi perguntar, confuso com a quantidade de informações.

— Ah sim, cof… cof… deixei-me levar pela emoção do momento. Bem, esqueci que você vem de um mundo sem magia. Vou simplificar… as magias, seja de fontes arcanas, naturais, divinas, etc., são classificadas por níveis. Quanto maior o nível, maior o poder ou a complexidade do efeito.

Ele fez uma breve pausa, como se estivesse limpando a garganta, antes de continuar.
— Normalmente, as magias são categorizadas do primeiro ao nono nível, mas em certos casos extraordinários, podem atingir um décimo.

— E isso se classifica em qual nível? — perguntei, enquanto tentava canalizar energia para minhas mãos, notando que isso não parecia envolver nenhum tipo de “círculos”.

— Zero! Isso é o que chamamos de truque, está abaixo de uma magia de primeira classe. E, não, você ainda não é capaz de realizar nada além disso, pelo menos não antes de concretizarmos um pacto oficialmente.

— Um pacto oficial? — A palavra não me soou bem, mas os poderes definitivamente me agradaram. Imediatamente, me veio à mente a clássica imagem de um diabo oferecendo: “Venha, venda sua alma, e eu lhe darei o que desejar, blá blá blá…

— Sim, um pacto… Ah, lembrei-me que os mortais têm ressalvas com essa palavra… Vamos dizer… um acordo. Mas, antes de prosseguirmos, você precisa chegar até o meu fragmento. É fácil, está logo ali, naquele monte de correntes ao redor daquela grande árvore seca.

Olhando adiante, avistei um trajeto composto por plataformas e pequenas ilhas flutuantes, habitadas por fantasmas, que conduziam a uma grande ilha dominada por uma imponente árvore acorrentada. Parecia que minhas escolhas eram limitadas.

Concentrando minha energia, comecei a disparar raios com precisão de um atirador experiente, descobrindo que podia atacar à distância. As criaturas foram caindo uma a uma, sem chance alguma de se aproximarem. Somente quando limpei o caminho decidi avançar para a próxima plataforma. Foi então que tudo desandou.

Correndo em direção ao salto, senti-me revigorado, até demais, quase como se minha resistência tivesse sido aprimorada. Ao chegar na borda, tentei superar os meros dois metros que me separavam do próximo ponto, mas uma fraqueza súbita me tomou. Eu estava mais fraco do que nunca.
O que teria sido um salto fácil no passado, tornou-se um obstáculo intransponível, e eu caí.

Fim!
…

Brincadeirinha, a queda parecia certa até que notei uma corrente estendendo-se por baixo da ilha. Com um movimento desesperado, estendi minha mão e a agarrei. Por um momento, pensei que não conseguiria me manter firme devido à súbita fraqueza que me acometeu. Mas então, a corrente reagiu, movendo-se como se tivesse vida própria e se enrolou em meu braço.

— Mortal imprestável… — ouvi um sussurro.

— Não permitirei que morra até que me liberte. — Naquele instante, uma sensação de alívio me invadiu, sabendo que ainda era útil para os planos dele.

Com algum esforço, consegui me içar de volta à segurança da plataforma. Depois de um breve momento para me recuperar do susto de quase morrer, retomei minha jornada com mais cautela. Aprendi com o erro anterior e escolhi meus saltos com mais inteligência, visando os pontos onde havia mais correntes para garantir minha segurança. Após duas a três horas nesse processo meticuloso, finalmente cheguei ao meu destino.

Diante de mim estava essa grande árvore, sem vida, com padrões em seus veios que se moviam de forma inquietante, quase como se fossem entidades entre a vida e a morte.

— Seu mundo está à beira de uma grande catástrofe.

“O quê??? Esse anúncio veio do nada.”

“E para o futuro que se aproxima, você está completamente despreparado. Sem a minha ajuda, nunca estará pronto. Você não possui talento para magia, seu corpo mal suporta o fragmento de poder que concedi, e sua forma física deixa muito a desejar. O sedentarismo é prejudicial, você sabia?”

— Ok, entendi, preciso frequentar a academia. Mas vamos ao que interessa. O que exatamente estamos selando com esse pacto?

— Eu lhe concederei poderes e serei seu patrono. Em contrapartida, você se compromete a me libertar assim que tiver a capacidade e a oportunidade para fazê-lo. — Ah,crianças… Se algum “ser” oferecer um pacto, pense duas vezes antes de aceitar. Raramente se sai beneficiado de tais acordos, e é impossível prever quando as consequências virão à tona, e ,por mero jogo de palavras, você acabará sendo apunhalado pelas costas.

—Vamos selar o pacto logo, não consigo manter esta passagem aberta por muito tempo — ele apressou.

Ao tocar a corrente, senti uma mistura de frio e calor invadindo meu braço.

“Excelente…” a voz rouca e enfraquecida proclamou, mas minhas próprias percepções começaram a falhar; o mundo ao meu redor girava, e minha visão mergulhou na escuridão.

No momento em que o pacto foi selado, uma série de mensagens sistêmicas começaram a aparecer diante dos meus olhos, como se eu fosse um personagem dentro de um jogo ou uma realidade virtual sendo recalibrada.

Num local muito distante:
— Espero que isso seja o suficiente…(suspiro).