“De fato, há algo errado com meu banheiro; ele se tornou um portal inexplicável de onde pessoas emergem. Primeiro, uma entidade com poderes divinos, e agora, meu melhor amigo está apenas a uma porta de distância. Que absurdo é esse?”

    “Então, o que te traz aqui, meu caro? Sei, existem problemas e necessita da minha ajuda, mas quem é você? Ah, o patrono do meu amigo, entendo… o que caralhos é um patrono? Mas como chego até ele? “

    “Só atravessar a porta do meu banheiro? Isso não faz sentido, o que está acontecendo? As respostas virão uma vez que eu atravesse? Mano, eu tenho opção? Não? É, era de se esperar isso…”

    A maçaneta da porta estava envolta por uma corrente, que tinha o mesmíssimo aspecto do anel de meu amigo. Isto definitivamente não me cheirava bem. Resolvi, então, abri-la.

    O lugar que eu enxergo é completamente diferente de tudo que eu já vi. Se eu tivesse que explicar de uma maneira simples, é como se eu tivesse entrado em um jogo. Diversas criaturas andavam calmamente pela rua.

    A cada passo que dou, uma sensação de irrealidade me domina, como se minha própria existência fosse uma anomalia nesse cenário surreal. As criaturas, alheias ao meu espanto, seguem seu caminho, deixando-me perdido em pensamentos sobre a natureza da minha presença e a essência desse mundo estranho.

    Estou no meio de uma praça. Nela, portas de todos os estilos diferentes, algumas trancadas, outras entreabertas, criam um labirinto de possibilidades e mistérios.

    O chão de pedras está uniformemente montado; cada pedaço tem exatamente o mesmo tamanho dos outros, uma perfeição quase perturbadora em sua simetria. Criaturas diversas – elfos, orcs, anões, draconatos – andam pelas ruas, suas presenças tão comuns quanto extraordinárias.

    Elfos de longas orelhas e traços aristocráticos conversavam com anões robustos, cujas barbas trançadas contavam histórias de batalhas antigas. Draconatos de escamas cintilantes caminhavam lado a lado com humanos, suas presenças imponentes, como criaturas saídas diretamente dos mitos, uma simbiose de majestade e poder.

    Os edifícios ao redor combinavam a robustez da arquitetura medieval com detalhes encantados: torres de pedra cobertas por trepadeiras que floresciam sob a luz de cristais flutuantes, janelas enfeitadas com runas que brilhavam em tons de azul e roxo, como se capturassem os sonhos da noite e os transformassem em luz. 

    Mercadores ofereciam suas mercadorias em bancas que flutuavam levemente acima do chão, sustentadas por magias antigas, enquanto feitiços de comunicação substituíam os rudimentares sinais de madeira das lojas.

    A arquitetura dos edifícios remete a uma era medieval, mas com um toque de tecnologia que desafia a lógica temporal. Esse cenário, um híbrido de épocas e culturas, me faz questionar a natureza do meu redor.

    O céu era um palco para seres majestosos que sobrevoavam a cidade, suas sombras gigantescas desenhando arabescos de medo e fascinação nas ruas abaixo. Em vez de postes de luz, globos etéreos pairavam no ar, espalhando uma luz suave e constante, como estrelas caídas que se recusaram a morrer.

    A presença da magia era palpável em cada aspecto da vida cotidiana, desde os instrumentos musicais que tocavam sozinhos nas praças, enchendo o ar com melodias encantadoras, até as carruagens levitantes que se moviam sem a necessidade de cavalos, flutuando como sonhos materializados.

    Caminhando por essa praça, sinto-me como uma anomalia, um intruso em um mundo onde o passado e o futuro coexistem de maneira paradoxal. Cada porta, com seu próprio estilo e segredo, parece sussurrar promessas de aventuras e perigos.

    Mas por trás dessa fascinante fachada, há uma sensação inquietante de que nada é exatamente o que parece. A perfeição do chão de pedras, a coexistência de seres tão diferentes, e a presença de tecnologia em um cenário medieval evocam em mim um sentimento de deslocamento.

    É como se eu estivesse em um tabuleiro de xadrez, onde cada movimento é cuidadosamente orquestrado, mas eu não conheço as regras do jogo.

    Foi nesse momento que ouvi uma voz familiar atrás de mim:

    — Mas onde é que eu estou?

    Ao me virar, vi Wian, saindo do banheiro com a escova de dentes ainda na boca. A imagem era quase grotesca: sua boca entreaberta, a pasta dental escorrendo como se ele estivesse à beira de babar, um reflexo da confusão que permeava esse ambiente.Ao seu lado, outra porta começou a se abrir lentamente, e então reconheci quem saía: a irmã de meu amigo.

    O nome dela? Não me lembro. Essa história tem alguns séculos e, como já expliquei anteriormente, não tenho como perguntar ao meu amigo sem ser banido da realidade.

    Essa cena, aparentemente banal, tomou um ar surreal diante do cenário ao nosso redor. A presença de Wian, em um momento tão prosaico, contrastava violentamente com a estranheza da praça cheia de portas e criaturas fantásticas. Era como se o cotidiano invadisse o fantástico de maneira abrupta, intensificando a sensação de deslocamento e irrealidade.

    A voz de Wian ecoava em minha cabeça, uma pergunta que, apesar de simples, ressoava profundamente:

    “Mas onde é que eu estou”

    Era uma interrogação existencial que refletia a nossa confusão, a busca incessante por respostas em um mundo que se recusava a ser entendido. 

    E ali, entre portas misteriosas e criaturas de lenda, a familiaridade de Wian e sua irmã tornava-se um lembrete pungente de que, independentemente do quão bizarro o mundo ao nosso redor possa parecer, a verdadeira estranheza reside no fato de não sabermos o que estamos fazendo aqui.

    Onde realmente estava? — não apenas fisicamente, mas existencialmente falando..

    Era um mundo onde o impossível se tornava realidade, um lugar onde o passado e o futuro se encontravam em uma dança eterna, moldada não pela ciência, mas pelo domínio absoluto da magia.

    A cidade inteira era um testemunho do que a humanidade e outras raças poderiam alcançar quando uniam seus conhecimentos arcanos, criando um lugar onde o extraordinário era comum, e o comum, extraordinário. Cada rua, cada edifício, cada criatura era uma peça de um mosaico grandioso, onde a magia não era apenas um meio, mas a própria essência da existência.

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