Ao sair do banheiro, me deparei com uma praça. Porém, essa não era uma praça comum – uma nova realidade se desdobrava diante de mim. Vários portais se erguiam, cada um com um tamanho diferente, uma cor singular e composto por elementos diversos. 

    Era um lugar magnífico, mas carregado de uma sensação de desassossego. As pessoas caminhavam despreocupadas, alheias ao abismo existencial que se abria diante de mim. Olhei para trás, buscando o banheiro, mas a porta havia se fechado. 

    Não aparentava estar trancada, mas eu me encontrava em outra realidade. A angústia de estar perdido em um mundo tão familiar e, ao mesmo tempo, tão estranho, consumia meus pensamentos. Onde, afinal, estou?

    Pessoas com orelhas pontudas e flores crescendo pelo corpo, pessoas com 1,20 de altura, orcs, halflings… Olho ao redor, incrédulo. Do meu lado, uma figura emerge do portal. 

    Parecia que acabara de despertar, com uma escova de dentes pendurada na boca e vestindo um pijama. Seus olhos arregalaram-se, refletindo a estupefação que sentia ao observar aquele cenário surreal. Até que, enfim, seus olhos cruzaram com os meus.

    Virei para Wian e:

           — Bora turistar?

    No entanto, antes que ele pudesse responder, as malditas vozes ecoaram na minha cabeça novamente!

    — Ora, ora, temos novos visitantes aqui.

    Não sei quem disse isso, mas senti um calafrio percorrer minha espinha. Antes que eu pudesse responder, encontrei-me em um lugar completamente diferente. Era uma sala preta, de um preto profundo. 

    Estava sentado em uma cadeira, com uma mesa à minha frente. Sobre a mesa, havia uma folha de papel e uma pena… bastante rústico, eu diria.

    E sentado à frente de mim estava uma figura… humanoide? Não, definitivamente não. Aquilo emanava uma aura tão ameaçadora que fazia o próprio Fragmentado parecer inofensivo. A presença diante de mim era opressora, carregada de um mal palpável que parecia me sufocar. 

    O ambiente ao redor, antes apenas escuro, agora parecia opressivo, carregado de uma tensão insuportável. Sentado na cadeira, senti minhas mãos suarem e um tremor involuntário percorreu meu corpo.

    As palavras que eu poderia dizer se embaralhavam em minha cabeça, bloqueadas pelo medo paralisante.

    Minha mente racionalizava a situação, buscando qualquer forma de manter-se viva diante daquele ser. A frieza de sua presença contrastava com o calor do meu suor, criando uma dicotomia quase insana.

    “Talvez seja uma boa ideia ser respeitoso. Afinal, diante de algo tão imensuravelmente superior e mortal, qualquer sinal de desrespeito poderia ser meu fim.”

    — O que você quer? 

    A figura à minha frente soltou uma risada, um som que reverberou pelo ambiente, carregado de uma malícia quase tangível. 

    Seu corpo, embora tivesse uma forma vagamente humana, era envolto em sombras densas, ocultando qualquer traço de feições. Era como se estivesse encarando a própria escuridão, uma presença que absorvia a luz e a esperança ao seu redor.

    — Eu consigo ver o que você está pensando. — A voz dela era um sussurro frio, penetrante, que ecoou em minha mente, cortando qualquer ilusão de segurança que eu ainda pudesse ter. — Isso não foi exatamente respeitoso.

    “Então ela lê meus pensamentos. Esconder algo é inútil” — Percebo.

    — Bem, você se deu ao trabalho de me trazer até aqui, não preciso ter medo de ser morto. — minha mente conseguiu entender a situação mais rápido do que o esperado — Ao menos por enquanto.

    Claro, vou revisar o trecho seguindo o estilo de Fyodor Dostoiévski, focando na introspecção profunda e crítica social, características marcantes de suas obras:


    Bem, eu sou o Breu… pode-se dizer que negocio. Não, não, não como o fragmentado. Eu consigo ver que pensou nele. Eu tenho mais conhecimento, poder e influência. Comigo, é possível negociar qualquer coisa: uma informação, uma arma, um poder… e o preço é sempre justo. Vou apenas pedir uma parte da sua alma.

    — Bem, eu sou As Trevas… Pode-se dizer que negocio. Não, não, como o fragmentado, aquele ser confuso e despedaçado. Posso ver que pensou nele, mas sou mais complexo, profundo. Meu conhecimento, meu poder e minha influência ultrapassam o que ele jamais poderia imaginar. Comigo, a negociação transcende o comum; é um mergulho no abismo da própria existência.

    —  Veja, é possível negociar qualquer coisa: uma informação valiosa, uma arma letal, um poder inimaginável. Mas, cuidado, o preço não é algo que se possa medir com riqueza material ou favores passageiros.

    —  Não, o preço que exijo é justo, mas é eterno. Eu peço uma parte da sua alma, aquela essência que guarda seus segredos mais sombrios, suas paixões mais intensas e seus medos mais profundos.

    — Fechou, eu quero ficar mais invisível, quanto da minha alma custa isso? — Respondi, com um tom de casualidade.

    As Trevas não esperava por isso. Nenhuma pessoa normal estaria disposta a vender parte de sua alma tão facilmente, como se não fosse nada. Pouquíssimas pessoas pensavam em sua essência como recurso, algo que se gasta quando precisa, mas eu?  Não me importo com os efeitos colaterais, tudo é uma ferramenta para chegar ao destino.

    — Tão pouco valor você dá à sua própria essência? — perguntou, quase incrédula. — Está disposto a abrir mão de tudo que o torna humano?

    Respondi com um sorriso vazio de alegria, mas cheio de determinação.

    — A humanidade é um fardo que não posso suportar. O que é a alma senão uma prisão? Estou pronto para pagar o preço, qualquer que seja.

    — Três pontos de alma e mais sua capa de invisibilidade. Vou utilizar as propriedades dela para criar uma habilidade para você, mas, se quiser gastar cinco pontos, vou aprimorá-la. A sua habilidade fará com que fique imperceptível, sem fazer som ou soltar cheiro — disse As Trevas, com um tom de voz que insinuava um sorriso malicioso.

    Ricardo ponderou por um breve momento, seus olhos fixos no vazio, como se tentasse enxergar através das próprias Trevas. A ideia de barganhar sua alma não lhe causava temor. Pelo contrário, havia uma curiosidade mórbida em saber até onde poderia ir, o quanto poderia sacrificar de si mesmo para alcançar o que desejava.

    — Ué, ainda precisa perguntar? — respondeu Ricardo, com um sorriso cínico que mal disfarçava seu desprezo por qualquer advertência moral. — O de cinco pontos de alma é muito melhor. Vou ficar com esse. Pera, quantos pontos eu tenho?

    — Atualmente, com o seu espírito, um total de doze pontos. É um preço mais do que justo, a capacidade de poder simplesmente sumir de um lugar, sem que ninguém perceba. Estou efetuando um excelente preço, menos da metade do total que tens. Só estou sendo bonzinho assim, pois sinto que será um excelente comprador.

    — Menos da metade… — murmurou Ricardo, refletindo sobre o custo. A quantidade parecia razoável, quase generosa, considerando o que estava em jogo. — Feito. Cinco pontos de alma pela habilidade aprimorada. — foi então que uma dúvida surgiu em minha mente: — Aliás, acontece algo se eu vender minha alma demais?

    — Ah, só uns debuffs padrão. Magia sagrada vai perder o efeito em alguns momentos. E se vender a alma inteira, você não morre. Ao invés disso, vem trabalhar para mim como uma alma por toda a eternidade.

    — Mano… E eu pensava que aconteceria alguma coisa realmente ruim? — disse, com um sorriso malicioso. — Justíssimo, fechou.

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