Capítulo 130: Sangue, pólvora e chamas
Moon estava furiosa.
Sua declaração acidental criou um clima entre ele e Silver, resultando numa cena que ela queria guardar para a eternidade.
‘Até aqueles desgraçados aparecerem’
Seu fluxo de pensamentos não atrapalhou sua corrida, enquanto atravessava os corredores em alta velocidade.
Cravando o pé no chão assim que alcançou as escadas, os olhos da jovem travaram na parede e, saltando contra ela enquanto ignorava os degraus, Moon se impulsionou outra vez para chegar ao topo.
‘Tenho que agradecer Féach mais tarde’
Usando apenas força física, ela poderia fazer isso com um pouco de esforço, mas, agora, após treinar com a profetisa a garota conseguiu controle o suficiente de seu elemento para retirar a gravidade apenas da área ao redor de seu corpo.
Uma sensação de liberdade tomou a mente de Moon enquanto ela literalmente flutuava. O cheiro dos produtos de limpeza recém-utilizados atingiu seu nariz e seus olhos sobrevoaram o local onde a porta do segundo andar estava.
Suas sobrancelhas afundaram ao ver uma pessoa no caminho. Não porque iria atrapalhá-la, mas pelo fato dele estar carregando um fuzil.
Ajustando a postura no ar, a garota apontou ambas as pernas para a frente, alcançando seu alvo rapidamente. Assim que seus pés tocaram a nuca do homem, ela fez o processo oposto de quando saltou, aumentando drasticamente a gravidade.
Crack!
Ignorando o som do encontro do chão e da cabeça do homem, Moon arrancou na direção do quarto de seus futuros genros.
‘Ele era um retardatário? Ou talvez o único no hospital?’
Avançando pelo corredor, a garota se questionou brevemente, mas esse pensamento desapareceu após cruzar a próxima intersecção.
Dezenas de homens e mulheres caminharam pelo corredor, empunhando diversos tipos de armas de fogo diferentes. Enchendo seus pulmões de ar, Moon segurou a respiração, saltando na direção do grupo e retirando a gravidade do seu corpo para não fazer nenhum barulho.
Tum Tum!
O coração dela pulsou com força vendo o ombro do inimigo tremer levemente. Enquanto ele se virava, ela permitiu a gravidade retornar ao normal se impulsionando outra vez mantendo uma postura mais baixa.
Tum Tum!
Quando o oponente finalmente se virou, Moon pôde ver o rosto de uma mulher jovem, cujos olhos se arregalaram ao vê-la aproximar-se.
Bang! Um disparo foi feito, mas, curiosamente, a arma estava apontada para baixo, então não apresentou nenhum perigo para a matriarca.
O barulho chamou a atenção dos colegas da mulher, porém, antes de qualquer um deles conseguir reagir, Moon já havia se aproximado o suficiente.
Ao invés de atacar, a garota tinha outros planos. Eliminando a gravidade no corpo de sua inimiga, ela agarrou seus braços, efetivamente impedindo-a de utilizar a arma em mãos e mantendo seu corpo à sua frente como um escudo.
Em questão de segundos a mulher percebeu as intenções de Moon para si, e a face dela se encheu de desespero.
Mas já era tarde demais.
Ratatatata!
O cheiro de pólvora preencheu o corredor e, mesmo com a saraivada de balas que se seguiu, a garota não recebeu um arranhão sequer.
Cartuchos vazios atingiram o chão, enquanto o grupo alternativa entre os disparos para manter uma cadeia infinita de tiros.
‘Controle Moon, controle…’
Soltando uma respiração profunda, a matriarca concentrou-se em suas próximas ações.
De início, para não ser baleada ela manteve 60% do seu foco em manter o ‘escudo’ suspenso, enquanto o restante começou a criar uma área onde seus inimigos estavam.
As sobrancelhas da jovem se juntaram e, por alguns instantes, o som do mundo desapareceu. O peso que ela recebeu quando as balas atingiram seu ‘escudo’ também se tornou irrelevante frente ao objetivo final.
‘Agora!’
Um grande ‘creck’ soou no corredor, seguido de diversos uivos de dor.
Soltando o corpo sem vida da mulher, Moon correu na direção do quarto dos pais de Silver, saltando por cima do grupo.
‘Eles estavam vivos… Urgh! E-eu acho que deveria melhorar meu controle…’
Ao passar por cima daqueles corpos, a jovem percebeu que eles tinham seus ossos completamente estraçalhados, mas ainda estavam vivos por enquanto. Ter que separar seu foco entre duas áreas, além de colocar duas gravidades opostas nelas, fez o ataque dela se tornar muito fraco, resultando em oponentes flertando com a morte, e sofrendo uma dor excruciante por isso.
Inconscientemente, suas pernas se moveram mais rápido e, ao chegar no quarto de Argent, uma pessoa parada lá.
O coração de Moon parou e seu corpo esfriou. Milésimos, isso era tudo que ela tinha antes do inimigo abrir a porta. Suas pupilas ganharam o formato de uma supernova com detalhes em preto, enquanto sua íris ainda brilhava em azul.
[Lyrideas]
Com um movimento de seu dedo, o teto se quebrou, despencando na direção da pessoa.
Infelizmente ela conseguiu esquivar, recuando alguns passos e escapando do ataque com pouco esforço.
Essa pequena vitória fez Moon relaxar um pouco, antes de avançar na direção do inimigo diretamente.
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Uma bala atravessou o ar, indo de encontro com uma cortina de chamas prateadas, sendo incapaz de perfurá-la.
Olhando na direção de onde as balas vinham, as sobrancelhas do jovem baixaram.
Embora manter a parede de chamas não fosse um problema, o tempo não estava ao seu favor neste momento.
‘Vamos acabar logo com esse desgraçado e ver como meus pais e Moon estão’
Com passos aparentemente calmos, Silver entrou em um beco próximo, saindo da visão do atirador.
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‘Tch! Ele saiu do meu ângulo’
Assistindo enquanto seu alvo desaparecia dentro de um beco através de sua mira, o homem se sentiu frustrado por não tê-lo eliminado mais cedo.
Liberando um largo suspiro, ele permitiu seus lábios se curvarem levemente. Tudo estava indo conforme o planejado.
De repente, um borrão cruzou sua mira. Tentando segui-lo por instinto, o homem moveu os braços com força suficiente para uma pontada atingir seus músculos.
Porém, este foi um esforço em vão, pois seu alvo já havia sumido.
— Procurando algo? — Uma voz gelada alcançou seus tímpanos.
Seus ombros travaram inconscientemente, por mais que estivesse esperando por isso, seu sangue gelou pelo susto.
— Agora! — Um grito escapou por seus lábios, e ele se apressou em saltar do telhado, tropeçando no parapeito como consequência.
Jogando a dor para o fundo de sua mente, o homem sorriu pensando no dinheiro que iria conseguir com essa missão.
Mas ele calculou mal. Pela pressa em pular, não percebeu que o gancho estava em um local muito aberto.
Sem muito esforço, Silver foi capaz de agarrar a corda, apertando com força interrompendo a descida do atirador. Torcendo o corpo, o jovem puxou a corda com força, começando a trazer o inimigo para o topo.
O homem não sabia dizer onde mas, além da dor excruciante que atravessou seu corpo, algum osso presente em suas costas quebrou.
Ainda mais importante que isso, ao invés de cair, ele estava subindo muito rapidamente. Pânico tomou conta de sua mente enquanto a dor aumentava.
Quando o corpo do atirador atingiu o teto do prédio com um som dulo, Silver não poupou um único olhar para ele, concentrando-se nos novos inimigos que surgiram.
Cinco pessoas o ‘encurralaram’, com o rosto distorcido em fúria após ver o estado de seu companheiro.
Diferente do homem caído, nenhum deles tinha armas de fogo nas mãos. Olhando para aquele que estava mais à frente, Silver sorriu antes de mover a mão, o chamando-o para o combate.
‘Eles parecem chacoalhados, então isso deve ser o suficiente’
Como o esperado, o homem avançou. Comparado ao dragão prateado, o atacante era mais alto forçando-o a se curvar um pouco em prol de atingi-lo.
Um punho largo se aproximou do rosto de Silver, mas o jovem não ficou ocioso.
Usando a palma direita para desviar o soco, o dragão prateado chutou a perna de apoio do inimigo, trazendo ele ao seu nível de altura.
Movendo a mão esquerda rapidamente, o jovem alcançou o rosto do homem, mantendo o aperto mesmo quando ele tentou retirá-la.
Enquanto seu oponente tentava se libertar, Silver voltou sua atenção para os demais inimigos. Quase foi possível sentir o medo deles, mas apenas um conseguiu superar isso.
Uma mulher, de cabelos castanhos e máscara que cobria a face do queixo até o nariz avançou, empunhando duas facas.
Um sorriso surgiu na face do jovem antes de chamas prateadas cobrirem o corpo do homem em seu aperto.
Não houve tempo para o homem gritar antes de ser coberto por fogo. Seus choros foram roucos graças às suas cordas vocais terem sido queimadas.
Neste meio tempo, a mulher se aproximou, balançando as facas múltiplas vezes na sua direção.
Curvando-se para esquivar, Silver observou a figura dela mais a fundo antes de sua boca se abrir. — Segundo emprego?
Enquanto dizia isso, o jovem avançou subitamente, invadindo a área de conforto dela a fazendo recuar. Ainda mais rápido que seu avanço, o punho dele atingiu o estômago da mulher.
As pernas dela perderam a força, e ela tentou respirar o máximo possível, sendo atrapalhada pela máscara em seu rosto.
Quando Silver levantou o punho para finalizá-la, o ar à sua esquerda se moveu estranhamente, forçando ele a bloquear.
Bang! O som estrondoso da colisão entre o martelo e o soco soou, antes do ar se espalhar ao redor da dupla.
— Oho? Quem usa um martelo esses dias? — O golpe foi surpreendentemente forte, então o jovem comentou brevemente antes de seguir com a disputa.
Golpes e mais golpes foram trocados, e os outros três finalmente se recuperaram do susto inicial.
Rodeando o ponto da batalha pelo lado oposto de seus companheiros, um homem com cicatriz na face balançou uma espada curta assim que encontrou uma abertura.
— Urgh! — O atirador grunhiu quando Silver pisou em seu corpo para evitar a estocada, retribuindo com uma onda de chamas que cobriram o martelo balançado por um dos inimigos.
— Coordenação invejável. — Agarrando uma corrente atirada em sua direção, o dragão prateado puxou o último inimigo, arrancando-o do chão e arrastando para si.
‘Em três, dois…’
Inclinando o corpo para trás, o jovem evitou o golpe de um martelo, deixando isso para a pessoa que havia puxado lidar.
O homem com o martelo pôde sentir os ossos de seu companheiro se quebrando sob sua arma, e o sangue quente que espirrou em sua face apenas serviu para lembrá-lo disso.
Olhos arregalados e corpo trêmulo. Foi assim que ele ficou após tal ato, mas, indiferente a isso, aquele que carregava uma espada curta avançou novamente contra Silver.
Saltando por cima dos corpos de seus companheiros caídos, o espadachim usou o seu peso em conjunto com a gravidade para aumentar a força do golpe.
A lâmina errou o alvo por milímetros, e o homem recebeu um jab na face como retorno, sentindo lágrimas se formarem em seus olhos pelo impacto.
No entanto, diferente de seus colegas, ele reagiu rapidamente para evitar a palma de Silver. Uma avalanche de chamas ultrapassou a área onde seu torso esteve, quase o fazendo suspirar em alívio.
Com um movimento de seu pulso, o homem habilidosamente moveu a espada, segurando-a em com um aperto inverso e estocando na direção do oponente.
Porém, embora sua recuperação tenha sido rápida, o ataque não foi. Isso fez seu pulso ser facilmente agarrado por Silver, que o torceu para fazê-lo soltar a arma.
Tomando posse do objeto assim que o espadachim largou, o jovem balançou a lâmina, criando um corte largo no braço do homem.
Uma dor enorme foi sentida pelo oponente, antes do próximo corte silenciá-la o mandando para o pós vida.
Tirando os olhos da figura, agora sem vida do inimigo, Silver focou no homem que empunhava um martelo.
Na face dele, o jovem pôde ver que ele ainda estava se debatendo para registrar os eventos recentes. O sangue que deslizou por sua arma lembrou o peso do crânio de seu companheiro, e as pupilas trêmulas revelaram seus pensamentos sobre isso.
Retirando-o de seu transe, o corpo do homem se moveu por instinto, tentando bloquear uma corrente atirada em sua direção. Desde o cabo da arma até o pulso dele foram restritos e, um puxão o levou aos joelhos.
Ignorando a dor causada pela queda, seus olhos se encontraram com as pupilas do inimigo à sua frente, as quais eram rodeadas por um brilho dourado.
‘É tudo culpa dele, tudo culpa dele…’
Essas palavras foram repetidas constantemente em sua cabeça e, consequentemente, seu peito se encheu de fúria. O calor que espalhou-se pelo rosto do homem nublou seus pensamentos e os braços dele começaram a se mover para livrar-se do aperto das correntes.
Após não ter sucesso neste ato, ele olhou de volta para os olhos impiedosos de Silver, sabendo exatamente como isso iria acabar. Neste momento, a morte já não importava e seus antigos companheiros muito menos.
A única coisa que lhe restou foi a fúria.
— Seu demôni… — Uma lâmina atravessou seu peito, manchando suas palavras finais com uma sangrenta.
— Só eu acho irônico alguém que veio até aqui me matar dizer algo assim? — O jovem não disse isso para ninguém em particular, e depois de chacoalhar a cabeça ele se virou para o último inimigo de pé. — Ei!
Em cima do parapeito do prédio, a mulher congelou brevemente. Ela havia demorado um pouco para se recuperar da pancada inicial mas, a esta altura, seu alvo já havia eliminado alguns de seus companheiros, então a assassina optou por uma retirada estratégica.
Mas parece que o cuidado excessivo para não alertar Silver de sua saída acabou dando tempo dele eliminar os outros.
Olhando para o solo, a mulher começou a calcular a rota de fuga. O local era repleto de becos e vielas então, mesmo que Silver fosse mais rápido que ela, era possível despistá-lo por ele não conhecer o terreno.
— Se você saltar, pode ter certeza que eu vou te matar. — Escutando isso, a assassina hesitou novamente.
‘Não, ele não vai fazer isso. Eu só estou viva agora porque tenho as informações que você quer…’
Se ela tentasse fugir e fosse pega, sua vida ainda era garantida por ainda ser necessária para ele. Do contrário, caso tivesse sucesso nisso, ainda permaneceria viva.
‘De uma forma ou de outra, eu venço’
— Ah, você deve estar pensando algo do tipo ‘ele precisa de mim’ ou sei lá, mas… — Um grunhido de dor escapou dos lábios do atirador, quando Silver pisou em seu peito. — Lembre-se que o pequeno saltador aqui ainda pode falar.
Os ombros da mulher tremeram, e seus joelhos também o fizeram algumas vezes, porém, por fim, ela desceu do parapeito, levantando as mãos em rendição.
— Vou dizer tudo que quiser saber, só não me mate. — Se aproximando do jovem a passos calmos, os olhos dela se voltaram para o atirador caído.
Não era preocupação com o companheiro, mas sim consigo mesma. Enquanto ele estivesse vivo, seu valor continuaria abaixo do essencial para manter sua vida.
— Ele me deu um endereço para ir assim que a missão fosse cumprida… — Mantendo as mãos no ar, ela ofereceu esboçando um sorriso que não chegou aos olhos de Silver por conta da máscara em seu rosto. — Posso te ajudar a fazer uma emboscada.
— Não vai rolar. — Pessoas que contratavam esse tipo de serviço não eram estúpidas.
Afinal, toda discrição era necessária para eliminar seus concorrentes enquanto mantinham a fachada de boas pessoas.
Embora ser amado não fosse tão importante, isso ou neutralidade tornava seus negócios muito melhores.
— Vem comigo. — ordenou Silver, antes de suas chamas prateadas cobrirem todos os inimigos caídos, reduzindo-os ao pó.
‘Ela deve só ter informações do mensageiro…’
A não ser que quem os contratou fosse muito idiota, ele deveria ter mandado um ‘pombo-correio’. Eles eram contratados por qualquer um, então mesmo encontrando esse mensageiro seria difícil saber a identidade de quem colocou sua cabeça a prêmio.
‘Ou então, posso simplesmente destruir todos que contrataram ele…’
O sol banhou o telhado do prédio, destacando o brilho prateado que tomou conta dos olhos de Silver. Os quais prometiam muita dor a todos seus inimigos.
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