Capítulo 151: Espinhos Não Ferem Dragões

Esticando seus membros, Silver sentiu um leve estalo, suspirando em satisfação antes de voltar seu olhar para Lina.

— Deve ser seu dia de azar, porque o meu tempo de brincar acabou, então vou encerrar logo este torneio.

Estalos ecoaram rapidamente e o chão se abriu à força, dando espaço para diversas raízes que se desprenderam do solo.

A avalanche de plantas que se desmanchavam na direção de Silver parecia uma vista ameaçadora, mas se perdeu tão rápido quanto surgiu.

Um flash prata cruzou a clareira partindo e cauterizando tudo que se pôs em seu caminho. A shinai do jovem não teve escrúpulos ao abrir espaço para alcançar Lina.

Os olhos verde-escuros da dríade refletiam o dragão vestido em prata que buscava devorá-la. Embora o suor escorrendo em sua face demonstrasse um calor desconfortável, sua expressão permaneceu tranquila.

Com um mover de seu pulso a terra se abriu novamente. De lá, dois crânios de serpente abriram suas ameaçadoramente para Silver.

Diferente daquelas que Mia queimou, estas raízes permaneceram inabaláveis diante da alta temperatura.

— Hoh? Um novo truque?

Percebendo a diferença, o jovem comentou, dando um passo ao lado para evitar uma mordida.

Sem pausar por um momento, a arma dele desceu como uma guilhotina, partindo uma das serpentes. 

— Sacrificando resistência física por elemental? — Estocando a palma direita, Silver decidiu ser um pouco mais ousado.

Segurando a cabeça da serpente restante, ele foi empurrado por alguns metros, deixando um rastro de arrasto pelo solo.

Assim que parou completamente o avanço da raiz, o dragão prateado a redirecionou, fazendo-a colidir com força na terra. 

Uma quantidade considerável de poeira foi levantada e, com um movimento fluido de sua shinai, Silver encerrou a ‘vida’ de outra serpente.

— Ok, você acabou de tornar isso muito mais interessante… — Os olhos do jovem brilharam em prata enquanto dizia.

— Não consegue lutar calado?! — Perdendo brevemente a compostura, Lina cuspiu.

A dríade era orgulhosa. Este era um fato simples e preciso.

Embora sua atitude fosse bem mais restrita quando lidava com Silver, ela não foi aquém a receber o desdém de qualquer um que fosse.

Logo, todo estresse somado aos insultos dele a irritaram.

Apoiando ambas as palmas no chão, Lina fechou os olhos por alguns segundos. 

E o efeito foi imediato. Raízes reconectaram as cabeças das serpentes, retornando-as ao seu estado original. Adicionalmente, várias camadas de casca formaram-se ao redor dos monstros, enquanto espinhos adornavam a coroa dos dois.

‘Só formá-los já está me custando tanto?’

Mesmo após o período de treinamento com seu pai, construções mais refinadas como esta estavam sendo um problema para ela.

Mas essa não era a questão agora.

‘Concentração Lina…’

O solo estremeceu com a dança entre o dragão e as serpentes, arrastando pedaços de terra ao ar.

Alguns cortes de Silver comprovaram a durabilidade das bestas, cuja movimentação era bastante ampla e desordenada.

Dobrando a cintura, o jovem esquivou de uma mordida, contra-atacando com um gancho na mandíbula do monstro. O som seco de madeira estalando soou, enquanto a serpente perdeu momentaneamente seu ímpeto.

Tirando seu corpo do chão, Silver performou um salto acrobático, pousando no corpo do outro inimigo que acabara de tentar engoli-lo.

Poupando um sorriso na direção de Lina, cujo qual ela viu apenas através de suas serpentes, ele passeou pelo torso de um dos monstros até que o outro avançasse.

‘Eles não são nada diferente de dois bêbados então…’

Pisando um pouco mais na borda da serpente, sua mente correu por alguns instantes antes dele saltar novamente. 

Assim que o fez, uma série de lascas de madeira subiu ao ar, provenientes da colisão de uma besta com a outra. 

Segurando a vontade de fazer comentários sarcásticos para duas bestas ‘inanimadas’, os joelhos de Silver se dobraram e, com o uso da primeira forma do modo lobo [Arrancada], ele disparou na direção da garota.

O sibilo do vento ressoou nas orelhas do jovem enquanto ele atravessava a clareira em uma velocidade vertiginosa.

Até que, por um ínfimo momento, ele teve uma sensação estranha. A base do seu pescoço se arrepiou de repente, e o reflexo do garoto provocou uma ação imediata.  

Pisando com força no chão para parar seu avanço, Silver ignorou os protestos do solo — o qual se partiu graças a súbita pressão — inclinando-se levemente para trás.

Essa pausa foi o suficiente para permiti-lo assistir a bala que passou perigosamente próxima de onde seu rosto estaria, balançando sua shinai para bloquear os dois projéteis que seguiram-na.

Esta ação ganhou tempo o suficiente para Lina reagir, arrancando novas raízes do solo e movendo-as entre os dois.

‘Como eu posso alcançar ele? Só… Como?’

Com os olhos bem abertos, a dríade se questionou repetidamente, assistindo enquanto Silver destruía todas as suas plantas. Ser salva por um desconhecido impactou novamente seu orgulho, e isso não poderia passar.

‘Não posso ser pior do que aquela galinha’

Mia foi capaz de se segurar bem frente a Silver, então por quê ela não poderia? A resposta deveria ser o total oposto — porque ela pode, e vai.

Um sopro expulsou todo o ar pelos seus lábios, e os dedos da garota se espalharam de forma natural.

Suas íris cristalizadas no tom esmeralda pulsaram com o reflexo do sol. Diante deles, as raízes se entrelaçaram por toda a clareira, circundando completamente a dupla.

Do outro lado, o dragão prateado levantou uma sobrancelha para a mudança. Os ataques das raízes pararam, mas ele não se apressou em avançar. Voltando sua atenção para Lina, ele percebeu que os cipós na [Armadura Real] dela começaram a se mover como se estivessem vivas.

— Vamos acabar com isso agora. Ainda falta lidar com aquele rato de antes. — Baixando seu centro de gravidade, os braços de Silver foram cobertos por chamas prateadas, seguindo até a ponta de sua shinai.

O estalo de um dedo soou, e as raízes subiram ao céu, transformando-se em ondas que quebraram na direção do dragão prateado.

[Cremação das Seis Caudas]

O cheiro pútrido de queimado se espalhou, quando as chamas se encontraram com as plantas e abriram espaço ao queimá-las. As caudas chicotearam ao redor de si mesmo, antes de uma delas finalmente alcançar Lina.

— Merda…! — A garota não tinha mais escolha, e o prata refletiu em seus olhos e rosto antes do seu corpo ser completamente coberto pelo fogo.

A temperatura causou uma leve distorção no ar, porém, Silver ignorou isto, bem como todas as cicatrizes causadas no ambiente, focando sua atenção na floresta mais próxima.

Seus pés afundaram no solo macio, sendo manchados pelas cinzas do gramado enquanto ele começava a caminhar na direção de sua nova presa.

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Suor deslizou pela testa de Ilona Belova, observando sua “caça” caminhar tranquilamente em sua direção. 

Comparado a Mari, com a qual ela pôde “brincar” por alguns momentos sem muitas preocupações, suas mãos não poderiam apontar as armas para ele… Não ainda.

 ‘Maldito monstro!’

Tum Tum!

Seu coração bateu fortemente nas costelas dela, mas seus problemas eram muito maiores do que isso, então a garota não poderia se ater a essa sensação. Os olhos verdes de Ilona escanearam cada pedaço da floresta, buscando uma saída para essa situação.

‘Pensei que tinha mais tempo!?’

Tirando seus pés do chão, a jovem rotacionou o corpo em pleno ar, efetuando diversos disparos contra a entrada da floresta. 

Porém os projéteis nunca alcançaram Silver. 

— Então… Realmente era só um rato? — A face do jovem estava vazia, sem qualquer excitação como esteve a poucos momentos atrás.

Baixando a cortina de chamas que impediram as balas, ele deu pequenos passos floresta adentro. 

‘Quase me esqueci do meu objetivo inicial’

Os tiros de Ilona o lembraram da situação do hospital, despertando uma sensação de raiva dentro dele.

Mas a garota não esperou por ele, correndo habilidosamente dentre as árvores. Esticando a mão até sua cintura, ela retirou uma granada, retirando o pino com o dente antes de largá-la diretamente.

Enquanto a fumaça se formava atrás dela, seus pés a levaram ao epicentro de outro conflito.

Comparado ao impacto da disputa entre Silver e os demais, esta batalha não foi muito chamativa. A disputa pareceu ser composta por dois trios, cujas habilidades ela julgou se tratar de [Contratantes] de relíquias pela peculiaridade das armas.

Mas isto era apenas um detalhe. Sem hesitação, seu corpo disparou, formando uma meia-lua e contornando o grupo.

Assim que o fez, seu caçador apareceu. 

— Isso vai ficar entediante muito rápido… — Com dois movimentos rápidos, Silver se esquivou dos disparos de Ilona, poupando um breve comentário.

Clang!

Um som metálico soou quando ele bloqueou o balançar de uma espada. 

— Fraco. — As sobrancelhas do dragão prateado relaxaram antes de agarrar o pulso do oponente.

Uma cabeçada arrancou sangue do nariz do jovem, enchendo seus olhos de lágrimas. Aproveitando da “falha” do garoto, a shinai de Silver perfurou o peito do inimigo impiedosamente.

O ar assobiou em resposta ao assédio das adagas, lanças e até mesmo correntes que abriram caminho na direção do “caçador”.

Dobrando o braço direito, ele permitiu que o metal se enrolasse em seu pulso. Um puxão trouxe o dono da arma para o caminho do ataque de seus “companheiros”, que não hesitaram antes de trucidá-lo.

‘Então não são academias conjuntas…’

Embora não fosse um grande problema, um grupo completo teria mais chances de impedi-lo por mais tempo.

A ponta de uma lança passou próxima a orelha dele e, “mergulhando” por esse golpe, Silver fechou a distância entre ele e esse oponente.

Se fosse Shōri nesta mesma situação, talvez ela conseguisse se virar com seu escudo, no entanto, este jovem não tinha essa maestria.

A shinai outra vez atravessou a carne, manchando o gramado de sangue.

Uma faísca prateada se dispersou, antes de crescer para se tornar uma fogueira. O garoto sequer teve a chance de gritar antes das chamas o engolirem, tornando-o cinzas em poucos segundos.

Pisando sobre o que restou do oponente anterior, Silver balançou sua arma casualmente duas vezes, criando caudas prateadas de puro fogo comprimido. 

Um incêndio se espalhou rapidamente pela floresta, dispersando o cheiro pungente de queimado pelo local.

Parado tranquilamente dentre as chamas, os olhos do dragão brilharam em um tom prata por alguns segundos, se misturando facilmente com o fogo brilhante que o rodeava. No momento, havia um único objetivo à sua frente; portanto, ele voltou a caminhar.