Capítulo 115: Interessante [2]

No momento em que Julien e seus ajudantes saíram do Labirinto, nenhum dos espectadores disse uma palavra.

Eles apenas ficaram em silêncio, olhando para eles.

…Ou mais especificamente, para Julien.

Mais uma vez, ele havia capturado a atenção de todos. Ele roubou a cena mais uma vez. O que ele fez, o público lembrava.

Era memorável.

Em um dos cantos das arquibancadas da arena. Um homem se inclinou em seu assento enquanto olhava para Julien abaixo.

Ele usava um chapéu marrom e um casaco marrom.

“…Foi uma boa performance.”

Era difícil dizer para quem ele estava se dirigindo. Não havia ninguém além dele.

“Ele certamente é um calouro muito poderoso. Mas ainda assim, é surpreendente como ele conseguiu derrotar o monstro sozinho.”

Os outros cadetes podem ter ajudado um pouco cansando o monstro, mas no final das contas, foi ele quem o derrotou.

“É loucura.”

Estendendo a mão, ele removeu o chapéu, revelando seus cabelos escuros e olhos castanhos profundos. Ele não era outro senão o Inquisidor.

Apertando o queixo, ele se inclinou levemente para trás.

“…É quase como se ele tivesse tomado algo.”

Assim que ele disse essas palavras, Julien, a estrela principal do show, se desculpou e saiu. Os olhos do Inquisidor seguiram suas costas enquanto ele ia embora.

“Uahg.”

Fechando os olhos por um breve momento, ele colocou o chapéu de volta e se espreguiçou.

“…Parece que também é hora de eu fazer meu trabalho.”

***

“Haaa…”

Eu estava com dificuldade para respirar. Olhando ao redor, o mundo parecia girar. Eu não conseguia enxergar direito e tinha dificuldade para andar.

Mesmo assim, mantive minha expressão firme e avancei. Eu já havia deixado a arena e meus companheiros há muito tempo.

Eles não me impediram e me deixaram ir. Provavelmente estavam surpresos com minhas ações na câmara.

Era bom que fosse assim.

“Haa… Haaa…”

Eu não sabia para onde estava indo.

Estava apenas vagando sem rumo pelo campus da Academia.

‘Assim, vou morrer.’

Isso estava se tornando óbvio para mim. Meu peito queimava, e minhas pernas estavam começando a ceder.

O excesso de mana que permanecia em meu corpo ameaçava explodir a qualquer segundo. Eu já podia visualizar uma cena em que eu explodiria em milhões de pedaços do nada.

‘…Isso não é bom.’

Enquanto caminhava, eu podia sentir os olhares dos transeuntes em mim.

Alguns pararam para sussurrar entre si, enquanto outros me encaravam à distância. Eu os olhei brevemente antes de continuar.

Eu estava tão fora de mim que não conseguia dizer se eles estavam me olhando porque tinham visto minha performance, ou porque eu parecia extremamente doente.

‘…Para onde eu vou?’

Para a enfermaria?

É, não.

Se eu fizesse isso, eles descobririam tudo sobre a droga que eu tinha tomado. A única razão pela qual ninguém suspeitou de nada foi porque, antes de entrar no Labirinto, todos os cadetes foram revistados pelos inspetores da Academia.

A única coisa que tínhamos permissão para levar eram as pulseiras. A Academia fornecia as armas.

A droga era algo que ninguém pensaria que eu teria acesso.

Por enquanto, eu estava seguro.

…..Mas eu sabia que ainda não estava fora de perigo.

Se eu desmaiasse aqui e fosse levado para a enfermaria, então ficaria imediatamente claro que eu tinha tomado algo. Os médicos da Academia não eram tão ingênuos.

‘Eu não posso deixar que isso aconteça.’

Isso destruiria tudo que eu tentei tanto construir.

“…..”

Aos poucos, meus passos pararam.

‘Será que não tenho escolha…?’

Havia um lugar em que eu estava pensando. Um lugar que resolveria todas as minhas preocupações.

Eu cerrei os punhos e cobri minha boca.

“Cough…!”

Tossindo, senti algo jorrar da minha boca.

Pinga! Pinga…!

Eu não precisava olhar para entender o que era. Rapidamente limpei o sangue da minha boca, fechei os olhos e continuei andando.

Desta vez, eu tinha uma direção.

***

“Hmmm.”

Dentro do escritório de Atlas — um vasto escritório com vista para toda a Academia do topo.

“Houve vinte e sete mortes relatadas. Todas elas pertencem a cadetes de Academias de classificação inferior. Ainda não tornamos a notícia pública.”

Ouvindo a voz de sua assistente, Atlas permaneceu sentado com uma expressão impassível. Cuidadosamente controlando sua expressão, ele fechou os olhos por um breve momento enquanto sua assistente continuava,

“Graças à aparição de Julien e seus ajudantes no meio do evento, conseguimos acalmar alguns dos protestos sobre alguns grupos de cadetes não aparecerem na tela principal de projeção.”

Era um resumo geral da situação.

Toda vez que o nome ‘Julien e seus ajudantes’ era mencionado, Atlas sentia suas sobrancelhas se contraírem levemente. No entanto, ele rapidamente se acostumou.

Os exames intermediários ainda não haviam terminado. No entanto, o vencedor já havia sido decidido. Com uma diferença esmagadora de pontos, eles estavam em primeiro lugar.

Dado o tempo que os outros grupos ainda tinham, não era impossível que eles se aproximassem, mas provavelmente estavam muito exaustos para isso.

No final, era seguro assumir que a equipe [Julien e seus ajudantes] terminaria em primeiro lugar quando tudo acabasse.

O problema agora era outro.

“Como devemos revelar a notícia aos Reitores das outras Academias? A aparição de Julien e seus ajudantes os acalmou um pouco. Em suas mentes, eles provavelmente estavam pensando: Se o dispositivo de gravação deles também parou de funcionar e eles apareceram pouco depois, certamente sugeria que não era nada grave.”

A assistente fez uma pausa.

“Mas…”

“…Não seremos capazes de mantê-los calmos por muito mais tempo.”

Atlas terminou as palavras por sua assistente.

“Eventualmente, teremos que contar a eles a verdade sobre o que aconteceu.”

“Sim.”

Lentamente abrindo os olhos para revelar suas pupilas amarelas, ele colocou a mão sobre a mesa de madeira à sua frente e tamborilou os dedos levemente.

“Diga a eles para me visitarem.”

“Sim?”

“Eu lhes direi a notícia pessoalmente.”

“Ah…”

Sua assistente mostrou uma expressão de surpresa. No entanto, rapidamente se recompondo, ela acenou com a cabeça em entendimento.

“Entendido.”

“…Você pode sair.”

“Eu os trarei de volta como você ordenou.”

Com um sopro gentil, ela saiu da sala, deixando Atlas sozinho em seu escritório. Quando ela saiu, ele permaneceu sentado em sua cadeira.

“…..”

A sala mergulhou em um estado de silêncio.

No silêncio, Atlas baixou a cabeça para olhar para sua gaveta. Ele a encarou por um bom minuto antes de abri-la e puxar um par de luvas pretas, deslizando-as em suas mãos.

Era uma espécie de ritual que ele tinha. Para quando precisava fazer algo importante.

Ele tinha acabado de colocá-las quando a porta bateu.

Tok—

“…Isso foi bem rápido.”

Surpreso, ele abriu a boca para dizer,

“Entre.”

Clank—

A porta se abriu, mas as pessoas que ele esperava que viessem não apareceram. Em vez disso, um jovem com cabelos negros como azeviche e olhos cor de avelã entrou.

Pouco precisava ser dito sobre sua aparência; desde o momento em que chegou, ele se destacou distintamente. No entanto, o que realmente se destacava nele no momento não era sua aparência, mas a mana saindo de seu corpo.

Era bastante intensa.

“…Hm?”

A cabeça de Atlas se inclinou levemente com a aparição do jovem.

Phecda.

Ele não esperava que ele estivesse aqui.

Clank—

Quando Phecda abriu a porta e a fechou atrás de si, ele olhou ao redor da sala por um breve momento antes de se sentar no sofá à sua frente.

Ele se acomodou antes de olhar para Atlas. Foi quando Atlas percebeu.

Seu olhar.

A maneira como ele olhava para ele.

Era de indiferença. Um contraste gritante com a primeira vez que se encontraram. Naquela época, embora seu olhar fosse um pouco semelhante, ele podia sentir a apreensão nele.

E ainda…

…Essa apreensão havia desaparecido completamente neste momento.

“….”

“….”

Os dois se encararam por um breve momento enquanto a sala se aquietava no silêncio.

Então, quebrando o silêncio, Julien cobriu sua boca com a mão.

“Oh…?”

Pinga. Pinga…!

Um líquido vermelho escorreu pela estreita abertura entre seus dedos.

Mesmo assim, ele não tirou o olhar de Atlas. Pelo contrário, seu olhar se intensificou. Era como se ele estivesse dizendo para ele continuar olhando.

“…..Eu consegui.”

Sua voz saiu rouca.

Apesar disso, sua voz era clara o suficiente para Atlas entender.

“Eu fiz minha parte.”

Atlas acenou com a cabeça em reconhecimento.

“Eu vi.”

Como ele não poderia ter visto? Ele havia roubado o show. Não havia ninguém que não tivesse visto sua performance.

Muito provavelmente, todos ainda estavam falando sobre isso.

Então…

Por que a estrela do show viria até seu escritório? Claramente, ele tinha um motivo em mente.

“…..Você está aqui para se desculpar pelo que fez?”

Faria sentido se ele o fizesse.

Eles realmente gastaram muitos recursos tentando fazer esse plano funcionar. No entanto, tudo desmoronou por causa do jovem cadete à sua frente.

“Não foi fácil criar um grupo tão talentoso.”

A expressão de Phecda se contraiu levemente com a menção ao grupo. No entanto, ele rapidamente se recuperou e balançou a cabeça.

“Não…?”

Atlas pensou que o motivo era esse, mas inesperadamente, Phecda balançou a cabeça.

“Então?”

Atlas não ficou ofendido com isso. Pelo contrário, ele de certa forma o encorajou a fazer o que fez. Por isso, ele não se importava nem um pouco com o pedido de desculpas.

Ele estava apenas curioso sobre sua resposta.

Uma que veio logo em seguida.

“Não. Eu não poderia me importar menos com o que você… pensa.”

“…?”

Pinga. Pinga..!

Enquanto o sangue continuava a escorrer pelas aberturas de seus dedos, os lábios de Phecda começaram a se fechar.

“Eu só quero uma coisa…”

Enquanto eles se fechavam, ele conseguiu proferir algumas últimas palavras.

“Me cura… porra.”

Seu braço caiu logo em seguida e o sangue começou a escorrer de todos os seus orifícios. Apesar disso, ele manteve seu olhar fixo em Atlas.

“Ele desmaiou.”

Mesmo com os olhos abertos, Atlas podia dizer que ele havia desmaiado.

Era uma visão e tanto.

Pinga. Pinga. Pinga.

O sangue escorria no chão de maneira ritmada.

Quase como o ponteiro de um relógio.

“….”

Isso quebrou qualquer silêncio que estivesse prestes a tomar conta.

Em meio a tudo isso, os murmúrios de Atlas sobrepujaram o som repetitivo do sangue de Phecda pingando.

“Eu não poderia me importar menos com o que você pensa…? Me cura porra?”

….Não era que as palavras de Phecda o tivessem ofendido. Pelo contrário, ele não poderia se importar menos com o que ele havia dito. Era mais o tom com que ele disse essas palavras.

Como ele poderia descrever…?

‘É como se ele tivesse certeza de que eu o ajudaria.’

Sim, era isso.

…..Era um pensamento que o fazia querer rir. Especialmente porque ele estava certo. Phecda era inestimável para eles. Sua performance não apenas solidificou sua posição como o melhor ranqueado de Haven, mas, ao mesmo tempo, ajudou Delilah a sair de uma situação complicada.

Isso faria com que ela confiasse mais nele?

Atlas não tinha certeza. No entanto, suas ações devem tê-la deixado confusa.

De que lado ele estava? O dela ou o deles…?

“Haha.”

O pensamento fez Atlas rir.

Abaixando a cabeça, ele olhou bem para Phecda.

‘A diferença entre um potencial Demônio e um Assento-Baixo não é sua força, mas sua capacidade de pensar por si mesmos.’

Phecda foi avaliado como um potencial Demônio.

Olhando para seu estado, e como ele foi ao ponto de consumir a droga destinada ao monstro chefe, Atlas podia ver por que ele foi avaliado como tal.

Mas, ao mesmo tempo, ele também podia ver algo mais.

Algo mais calculado…

Novamente, Atlas riu.

“….Interessante.”