Índice de Capítulo

    Um grande portão erguia-se diante das muralhas da cidade. À medida que nos aproximávamos, os portões se abriram, nos recebendo no coração da cidade.  

    Uma estrada de paralelepípedos se estendia diante de nós, ladeada por casas de madeira robustas e barracas movimentadas sob elas.  

    “Vegetais frescos aqui! Direto de Arkana! Você não encontrará vegetais mais frescos!”  

    “Compre um e leve outro grátis!”  

    “Promoção por tempo limitado, só hoje!”  

    A cena estava repleta de clamor enquanto os donos das barracas gritavam uns sobre os outros, fazendo o possível para atrair a multidão que circulava pela estrada.  

    Fiquei pasmo com a visão inesperada diante de mim.  

    ‘….Isso é muito mais animado do que eu esperava.’  

    Para uma cidade no meio do nada, certamente parecia bastante movimentada.  

    “Bem-vindos a Ellnor.”  

    Guardas vestidos com armaduras leves nos receberam na cidade. Como se esperassem nossa chegada, não precisamos passar por nenhuma verificação e entramos sem problemas.  

    Enquanto Leon e eu passávamos pelos guardas, percebi os olhares estranhos que eles dirigiam a Leon.  

    Ele pareceu notar também, franzindo a testa.  

    Cutuquei-o levemente com o queixo.  

    “Viu? Eles também acham que você parece idiota.”  

    “….”  

    Sem dizer uma palavra, Leon tirou o casaco. Os olhares estavam começando a incomodá-lo. Era bem engraçado, na verdade. Ele parecia ser o tipo de cara que levava tudo ao pé da letra.  

    “Então.”  

    Olhei para a cidade à minha frente e esfreguei o estômago.  

    “…..Devíamos comer algo primeiro?”  

    *  

    A cidade de Ellnor era muito maior do que eu esperava.  

    Na verdade, parecia ter tudo o que alguém poderia querer em uma grande cidade. Restaurantes, cafés, hotéis, teatros e até cassinos.  

    “….Cassinos?”  

    Isso…  

    Parei para olhar para o grande edifício à minha direita. Era um prédio chamativo. Com a palavra [Cassino] gravada na placa de madeira no topo, uma longa fila se formava na entrada, enquanto várias pessoas verificavam quem entrava.  

    ‘Existem cassinos neste mundo?’  

    A cena era algo que eu não imaginava que pudesse me acostumar. Simplesmente não fazia sentido para mim.  

    Como podia…  

    ‘Não, esquece. Não estou aqui para questionar as decisões dos desenvolvedores do jogo.’  

    Este mundo. Não era totalmente medieval em estilo. Já havia notado isso há muito tempo. Havia muitos toques modernos espalhados por aqui e ali.  

    ‘É uma mistura dos dois, eu acho.’  

    Medieval e moderno.  

    “…..Você quer ir ao cassino?”  

    Ouvindo a voz de Leon ao meu lado, balancei a cabeça.  

    “Não.”  

    “Então?”  

    “Eu só estava olhando.”  

    “Ah.”  

    Inclinei a cabeça levemente para olhar para Leon. Por que parecia que ele estava desapontado?  

    “Você quer ir?”  

    “…..”  

    Então ele queria.  

    Bem,  

    “Talvez mais tarde. Vamos comer algo primeiro.”  

    “….Tá bom.”  

    Um grande rio cortava o meio da cidade. Com a água vindo diretamente das montanhas acima, era extremamente límpido.  

    Ao redor dessa área, havia vários restaurantes e lojas. Leon e eu escolhemos o que parecia bom. Nenhum de nós era exigente com comida, então não importava muito.  

    “Vou querer isso.”  

    O prato que pedi foi [Ember Assado], uma carne assada lentamente que vinha de um Ember, um monstro de classificação infantil. Aparentemente, tinha propriedades que ajudavam na recuperação muscular, então achei adequado, considerando minha situação.  

    Assim que terminei de pedir, abaixei o cardápio e esperei por Leon.  

    Mas…  

    “….Hmm.”  

    Ele parecia indeciso sobre o que escolher.  

    “Tem tanta coisa…”  

    Não, na verdade, “sobrecarregado” parecia ser mais adequado.  

    O que diabos…  

    “….Este aqui parece bom também. Ah, não, mas este também.”  

    Leon começou a esfregar a testa.  

    “Que dilema.”  

    “….”  

    Isso continuou pelos próximos minutos até que eu não aguentei mais e falei.  

    “Você vai pedir ou não?”  

    “…..Ah.”  

    Leon fez uma cara difícil. Então, olhando para o garçom, que também parecia exausto, apontou para o cardápio.  

    “Quero isso.”  

    “Curry Estrela de Fogo?”  

    “Sim.”  

    “Enten-”  

    “E isso.”  

    O garçom parou. Olhando para o cardápio, seu olhar caiu sobre mim.  

    “…..Ember Assado? O mesmo que ele.”  

    “Sim, isso também.”  

    “Enten-”  

    “E isso.”  

    Leon interrompeu o garçom novamente, apontando para outro prato.  

    “….Filé de peixe dragão selvagem?”  

    “Sim.”  

    “Ok-”  

    “Também isso.”  

    “…”  

    “Este aqui também. Quero experimentar.”  

    “Quão picante é este? Se não for muito picante, vou querer este também.”  

    Sentei-me pasmo, olhando para Leon enquanto ele apontava para os pratos no cardápio. Quanto ele ia comer…? O que diabos?  

    “Vou terminar com isso.”  

    Plak—  

    Leon fechou o cardápio com satisfação. Assim que fez, franziu a testa e abriu novamente, mas quando seus olhos percorreram o cardápio e não encontraram mais nada, ‘Plak—’ ele fechou de novo e acenou com a cabeça.  

    “Sim, é isso.”  

    “Eu-”  

    O garçom pareceu querer dizer algo, mas se conteve. Eu não o culpava. No final, Leon havia pedido todos os pratos do cardápio. Ele perdeu tanto tempo quando poderia simplesmente ter dito ‘quero tudo’.  

    ‘Esse cara…’

    Soltei um suspiro curto e virei a cabeça para olhar a paisagem diante de mim. Era deslumbrante. Das altas montanhas ao fundo até o rio cristalino que passava pelo meio da cidade.  

    Passava uma vibe completamente diferente da Academia.  

    De certa forma, era uma mudança agradável.  

    “Sabe…”  

    Tirando-me de meus pensamentos, a voz de Leon fez-me virar a cabeça para encarar seu olhar. A maneira como ele me olhava era estranha.  

    “O quê?”  

    “…..Você mudou.”  

    “Uh?”  

    Que coisa sem sentido…?  

    “Não sei. Você parece tão diferente da primeira vez que te conheci.”  

    “….Em que sentido?”  

    Eu não sentia que havia mudado nada, para ser honesto. Ele estava falando da minha força, talvez?  

    Se sim…  

    “Isso-”  

    “Você estava sorrindo.”  

    “….”  

    Abri os olhos bem e toquei meus lábios.  

    ‘Eu estava sorrindo? Quando…?’  

    “Acho que nunca te vi sorrir antes. É estranho, na verdade.”  

    Ele esfregou os braços e me olhou com uma expressão desconfortável.  

    “…..Arrepios.”  

    “O quê? O fato de eu sorrir?”  

    “Sim. É estranho.”  

    “…..”  

    O fato de ele concordar sem hesitar foi o que me deixou sem palavras.  

    Eu sorrindo. Era realmente tão estranho?  

    “É ruim que eu sorria?”  

    Era essa a maneira dele de dizer que eu estava perdendo o controle da fachada que tentava manter?  

    Se sim…  

    “Não se preocupe, eu v-”  

    “Não, não é.”  

    “Hm?”  

    Pisquei novamente.  

    “O que quer dizer com ‘não é’?”  

    “É uma coisa boa, eu acho.”  

    “Você acha?”  

    Olhei ao redor antes de sussurrar.  

    “Não era o objetivo da minha atuação evitar que os outros descobrissem?”  

    “….Era, sim.”  

    “Então?”  

    “Você não parecia alguém que queria viver.”  

    “…..”  

    Atônito, olhei para ele. Abri a boca, mas as palavras que tentei dizer se recusaram a sair. Por mais que tentasse, não encontrava palavras para refutá-lo.  

    Ele continuou:  

    “Não sei sobre seu passado. Na verdade, não sei quase nada sobre você. A única coisa que posso dizer é que você está tentando alcançar algo.”  

    “…..”  

    “Mas seja lá o que você está tentando fazer. Está te consumindo por dentro. Ou pelo menos, costumava.”  

    “…..”  

    “Você parece mais em paz ultimamente. Não sei por quê. É só que…”  

    Leon fez uma pausa para olhar para trás. O garçom estava chegando com vários pratos e um cheiro agradável pairava no ar.  

    Enxugando o canto da boca, ele virou-se para me olhar levemente.  

    “…..Não parece mais que você quer morrer.”  

    ***  

    Ao mesmo tempo, em outra parte da cidade.  

    “Temos um problema.”  

    Kiera encarou Josephine com um olhar sério. Esfregando a cabeça, ela parecia estar lutando contra algo.  

    “O quê? O quê?”  

    Josephine olhou para Kiera com preocupação.  

    “Me diga o que há de errado.”  

    “Ah, bem…”  

    Kiera acabou balançando a cabeça.  

    “Não, esquece. Não é nada.”  

    “Nada? Vamos. Apenas me diga. Agora fiquei curiosa.”  

    “Estou te dizendo, não é nada.”  

    “Não, apenas me diga! Você não pode fazer isso e agir como se nada tivesse acontecido.”  

    “Haa, droga. Tanto faz. Você é tão irritante.”  

    Olhando fixamente para Josephine, Kiera sussurrou algo em seu ouvido.  

    “Eh…? Ah. Então é só isso?”  

    “O que quer dizer com ‘só isso’?”  

    “Bem, é normal, sabe… Ah, nossa~ Pensei que fosse algo sério.”  

    “Ei, vadia, é sério.”  

    “Sim, sim, tanto faz. Vá ao banheiro. Vou esperar aqui por você.”  

    “Você está falando sério?”  

    “Sim.”  

    “…..Obrigada.”  

    Kiera murmurou suas palavras de agradecimento em um sussurro suave. Um que Josephine fingiu não ter ouvido, levando a mão até o ouvido.  

    “O quê? Não ouvi.”  

    “Vá se foder.”  

    Mostrando o dedo do meio, Kiera caminhou em direção ao banheiro.  

    Gradualmente, suas costas desapareceram na multidão e, com isso, seu rumo também.  

    “Hmm~”  

    E ela começou a cantarolar para si mesma.  

    Virando-se para a direção oposta, ela se dirigiu a um grande edifício ao longe. Um que dizia:  

    ‘Cassino’  

    “Hmmm~”  

    E assim, ‘Kiera’ havia desaparecido.  

    ***  

    Nas muralhas externas da cidade.  

    “….Como está a situação? Nota algo fora do normal?”  

    “Ainda não.”  

    Dois cavaleiros estavam no topo das muralhas, observando cuidadosamente o exterior da cidade com expressões sombrias. O capitão dos cavaleiros, Sir Tristan Blackwood, um Cavaleiro de Tier 3 e um homem de meia-idade, tirou seu relógio de bolso para ver a hora.  

    “Ainda é cedo. Temos tempo antes da próxima onda.”  

    “H-hoo.”  

    O outro cavaleiro soltou um suspiro nervoso.  

    “…..O que você acha? Acha que podemos sobreviver a esta?”  

    “Tenho certeza disso.”  

    Sir Tristan respondeu com confiança. Virando a cabeça, olhou para a cidade abaixo.  

    Estava movimentada no momento. De onde ele estava, podia ver os sorrisos e expressões felizes dos cidadãos.  

    Mas é claro…  

    ‘Eles estão acostumados.’  

    Apesar da aparência exterior, a cidade era amaldiçoada. Por trás daqueles sorrisos havia… uma dor que só eles podiam entender.  

    Sir Tristan Blackwood era uma dessas pessoas.  

    Ele entendia muito bem a dor deles.  

    ‘Voltarei em breve. É uma promessa. Guarde isso para mim.’  

    Até agora, ele ainda podia ouvir a voz de sua irmã quando ela partiu para fora das muralhas da cidade.  

    Mas…  

    Isso havia sido trinta anos atrás. Ele mal tinha oito anos na época. Sua irmã… ela não cumpriu sua promessa.  

    “Huu.”  

    Respirou fundo e guardou o relógio de bolso.  

    O relógio de bolso. Era um presente de sua irmã. Era para ter sido um presente temporário. Ele deveria usá-lo para contar o tempo que ela estivesse fora.  

    Até hoje, ele não parou de contar.  

    Por que motivo ele estava se agarrando inutilmente à ideia de sua irmã voltar?  

    “Ha.”  

    O capitão riu de si mesmo.  

    “Preparem tudo. Vou sair por um tempo.”  

    “Uh? Você vai sair? Para onde?”  

    Sir Tristan fez uma pausa e olhou para trás. Mexendo no relógio de bolso, de repente sorriu.  

    “Para encontrar nossos reforços.” 

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