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    Ding—!  

    Um sino tocou no ar enquanto Aoife e Evelyn saíam da livraria. As duas haviam sido colocadas em dupla.  

    Saindo da loja, Aoife segurava vários livros. A pilha era bem alta, obrigando-a a segurar os livros com as duas mãos.  

    As duas caminharam em silêncio pela cidade até encontrarem um lugar com uma boa vista para comer.  

    “Vou querer isso.”  

    “….”  

    Diferente de Aoife, Evelyn levou seu tempo para escolher seu prato. Seus olhos ficaram incomumente sérios enquanto examinavam o cardápio.  

    Evelyn demorou tanto que Aoife sentiu-se compelida a dizer algo.  

    “Você vai pedir alguma coisa?”  

    “Vou.”  

    “Já se passaram vários minutos.”  

    “Eu sei.”  

    “…..E então?”  

    “Quieta.”  

    Aoife ficou surpresa. Era a primeira vez que via Evelyn agir daquele jeito. Na verdade, olhando para ela agora, ela parecia uma pessoa completamente diferente.  

    Até sua aura parecia diferente.  

    O que diabos…  

    “Vou querer este, por favor. Gostaria que viesse acompanhado de um vinho Givvon.”  

    “….?”  

    A expressão de Aoife ficou ainda mais estranha. Vinho Givvon? O que era aquilo? Mesmo sendo uma nobre, Aoife nunca ouvira falar de tal tipo de vinho. Parecia sofisticado.  

    A resposta de Evelyn foi fria.  

    “Levo minha comida a sério.”  

    “…..Entendo.”  

    O clima ficou estranho. Mas não por muito tempo, já que Evelyn desviou a atenção para o livro sobre a mesa.  

    “Deixando a comida de lado, o que você comprou?”  

    Aoife passou um bom tempo procurando os livros. Evelyn não tivera a chance de ver o que ela havia comprado.  

    “Ah, sim.”  

    Aoife abriu um dos livros.  

    “Além de material de estudo, também peguei algumas informações sobre a cidade. Já que estamos aqui em uma missão, achei apropriado.”  

    “Oh?”  

    Evelyn ficou um pouco curiosa. Tomando um gole de água, recostou-se, puxando o cabelo roxo atrás da orelha.  

    “O que você descobriu?”  

    “….Hmm.”  

    Aoife franziu a testa. Folheando o livro, parou após um curto tempo. Olhando ao redor, baixou a voz para sussurrar:  

    “Um necromante.”  

    “Eh…?!”  

    Evelyn teve que cobrir a boca rapidamente para evitar gritar. Felizmente, ninguém notou seu surto, e ela se desculpou com Aoife.  

    “Desculpe.”  

    “….Tudo bem.”  

    Respirando para se acalmar, Evelyn sussurrou de volta:  

    “Você disse um necromante?”  

    “Sim.”  

    Aoife acenou com a cabeça, séria, e virou o livro para uma página específica.  

    “De acordo com o livro, um necromante assombra esta cidade há mais de trinta anos. Vários grupos de ataque foram enviados pela cidade para lutar contra o necromante, mas infelizmente foram derrotados todas às vezes. É um poderoso.”  

    “Espera, você disse há mais de trinta anos?”  

    “Sim.”  

    Aoife acenou com gravidade.  

    “….Trinta anos.”  

    Evelyn ficou em silêncio por um momento para digerir a informação. Então, perguntou:  

    “E eles nunca pediram ajuda?”  

    “Não.”  

    Aoife balançou a cabeça.  

    Apesar de ser da família Megrail, esta era a primeira vez que ouvia falar de tal caso. Isso ou significava que a família Megrail ignorou a situação, ou a cidade nunca pediu ajuda a estranhos.  

    Aoife estava mais inclinada para a segunda opção.  

    Principalmente porque o Império levava Necromantes Renegados extremamente a sério.  

    Pertencentes à categoria [Maldição], esses seres possuíam a habilidade de reviver os mortos e controlá-los como ‘marionetes’. Embora individualmente não fossem poderosos, seu poder residia na capacidade de reunir um exército dessas ‘marionetes’, tornando-os uma ameaça significativa.  

    Especialmente se tivessem muito tempo para crescer.  

    “…..O que é isso?”  

    Evelyn esfregou a testa, chocada.  

    Como uma nobre, ela entendia bem o quão poderoso um necromante era. Para a cidade não ter reportado uma entidade tão perigosa por tanto tempo…  

    “Quão forte ele está agora?”  

    “Não sei.”  

    Aoife balançou a cabeça e fechou o livro.  

    “Porém, se a Academia nos enviou, significa que podemos lidar com isso.”  

    “Você acha?”  

    “…..Sim.”  

    Se a situação fosse séria, sua família já teria enviado alguém.  

    “Isso é um alívio.”  

    Evelyn bateu no peito, aliviada. Foi então que seus olhos pausaram em um dos outros livros sobre a mesa, e sua expressão se contorceu levemente. Erguendo a cabeça, olhou para Aoife de maneira estranha.  

    “Por que você tem isso?”  

    “O quê?”  

    Evelyn apontou para o livro em questão.  

    “Isso.”  

    “…..Ah.”  

    Aoife cobriu o livro com a mão.  

    “Queria comparar algumas coisas. Tenho um livro parecido em inglês e queria usá-lo como referência para estudar.”  

    “Oh.”  

    Evelyn não sabia se acreditava nela ou não.  

    <Piadas Divertidas que vão te fazer rir o dia todo>1

    “…..Como isso deveria ajudar? Não me diga que você realme-”  

    “Não.”  

    “Mes-”  

    “Não.”  

    No final, Evelyn parou de se importar. Havia algo mais importante. A comida delas chegou.  

    “Aqui estão. Aproveitem.”  

    Imediatamente, um cheiro agradável encheu o ar, e Evelyn lambeu os lábios.  

    ‘Aroma. Nove de dez. É agradável ao nariz e não é exagerado. Aconchega como um cobertor quente no inverno.’  

    Pegando o garfo, Evelyn estava prestes a começar a comer quando parou.  

    “Hu?”  

    Não muito longe de onde estavam, ela avistou duas figuras. As duas caminhavam juntas sem dizer uma palavra.  

    Era uma visão estranha.  

    Percebendo sua reação, Aoife virou a cabeça.  

    “O que… Ah.”  

    No momento em que virou e notou os dois, sua cabeça voltou ao lugar rapidamente. Era quase como se estivesse evitando-os.  

    Espere, o quê?  

    Confusa, Evelyn olhou para Aoife. No entanto, antes que pudesse dizer algo, uma sombra cobriu a área onde estavam. Era ninguém menos que Leon.  

    “Leon?”  

    “….Olá.”  

    Olhando para trás dele, Evelyn notou que Julien também estava lá. Olhando para o rio, ele parecia perdido em seus próprios pensamentos. Era uma visão estranha.  

    Virando a cabeça, Aoife encarou Leon.  

    “O que você está fazendo aqui?”  

    “….Estava me perguntando se você descobriu algo.”  

    “Hmm.”  

    Franzindo os olhos, Aoife olhou brevemente para trás e então suspirou. Abrindo um dos livros, começou a relatar tudo o que havia dito a Evelyn.  

    Não demorou mais que dez minutos, e quando terminou, Leon a encarava com uma expressão carrancuda.  

    “Um necromante?”  

    “Sim.”  

    “…..Isso é problemático.”  

    “É. Especialmente porque não sabemos o quão forte ele é. Porém, julgando pelas investigações iniciais da Academia, não parece algo que não possamos lidar.”  

    “Isso é verda-”  

    Leon parou no meio da frase quando seu olhar caiu sobre um livro específico na mesa. Em um instante, sua cabeça virou-se para Julien e depois para o livro.  

    Suas ações incomuns atraíram os olhares curiosos das garotas.  

    “O que há com você? É-”  

    “Esse livro.”  

    Leon apontou para ele, baixando a voz.  

    “Por que você tem isso?”  

    Seus olhos cinza fitaram os de Aoife intensamente. Ele parecia abalado.  

    “Eu não te disse que é amaldiçoado?”  

    “….Uh? Quando? Eu acabei de comprar isso — ei, o que você está fazendo!”  

    Respinga—  

    Aoife abriu os olhos bem. Naquele momento, a atenção de todos estava em Leon, que parecia uma pessoa completamente diferente.  

    “Que diabos foi isso?!”  

    Leon não parecia muito incomodado com a raiva de Aoife. Na verdade, parecia aliviado. Mas não por muito tempo.  

    Principalmente quando notou o olhar de Julien direcionado para aquela água cristalina.  

    Seus olhos pareciam fixos na capa do livro.  

    “…..Oh, não.”  

    E, pela primeira vez na vida de Evelyn, ela testemunhou a expressão de Leon se desfazer.  

    ***  

    O tempo passou. Agora era hora do jantar. O dia havia passado num piscar de olhos, e antes que eu percebesse, tínhamos que voltar ao ponto de encontro, que ficava no hotel onde estávamos hospedados.  

    Era um grande edifício que se destacava tanto quanto o cassino.  

    As paredes eram adornadas com pinturas retratando todo tipo de imagens, enquanto detalhes em madeira nobre, de móveis de carvalho polido a vigas finamente esculpidas, adicionavam calor ao ambiente.  

    “….É uma pena que não pudemos ir ao cassino.”  

    “Um.”  

    Leon concordou com a cabeça enquanto entrávamos no prédio.  

    Depois do encontro com Aoife, passamos a segunda metade do dia investigando a situação.  

    Se eu tivesse uma palavra para descrevê-la, seria ‘sombria’.  

    A situação era sombria.  

    Embora o lugar parecesse alegre e feliz por fora, era apenas uma fachada.  

    Uma fachada que criaram apenas para nós.  

    “Akh!! Ela também não está aqui?!”  

    Um grito repentino tirou-me dos pensamentos. Olhando para a direção de onde veio o som, notei Josephine desgrenhada na entrada do hotel.  

    Com suor escorrendo pelo rosto, ela olhava ao redor freneticamente.  

    “Oh, não… Oh, não…”  

    Leon e eu trocamos olhares, ficando sérios.  

    Não me diga que…  

    “O que está acontecendo?”  

    Aoife foi a primeira a se aproximar.  

    Ela também parecia igualmente séria. Provavelmente, também havia percebido o que descobrimos.  

    E o fato de os professores ainda não estarem lá só aumentava a tensão.  

    “Aconteceu algo?”  

    “Ah, isso…! Aoife!”  

    Josephine esfregou o cabelo, frustrada e em pânico.  

    “O quê?”  

    A tensão no ambiente aumentou.  

    Tanto que outro cadete pressionou de trás.  

    “Fala logo! O que foi?”  

    “É a Kiera!”  

    Josephine disse, exasperada.  

    “Kiera? O que houve com ela?”  

    “Ela… Desapareceu! Passei o dia todo procurando por ela! Ela deveria ter ido ao banheiro, mas nunca voltou. Oh não…! E se a-”  

    Josephine parou.  

    Piscando os olhos, virou a cabeça. Ao longe, uma figura apareceu. Josephine piscou novamente para ter certeza de que não estava vendo coisas.  

    Quando teve certeza de que era realmente Kiera, sua expressão mudou.  

    “Hem? …Kiera?! Espera, por que ela…? Não?”  

    “Isso é…!”  

    “…?”  

    As expressões de todos mudaram no momento em que olharam na mesma direção.  

    “O que está aconte… Ah.”  

    Quando olhei para a direção que estavam olhando, entendi perfeitamente por que suas expressões eram daquele jeito.  

    “O que ela está fazendo?”  

    Não, mais importante.  

    Por que ela estava vestida daquele jeito?  

    Puff

    “Oi~”  

    Segurando um grande charuto, Kiera cumprimentou a todos. Seu ar despreocupado, misturado com a expressão arrogante, chamou a atenção, e as pessoas começaram a olhar para ela.  

    Não era apenas sua expressão que se destacava.  

    “Onde você conseguiu isso?”  

    Mas também o enorme casaco de pele que ela estava usando. Com listras pretas e cobrindo até as pernas, ela se destacava na multidão.  

    Junto com um par de óculos escuros e um charuto, ela parecia um cafetão.  

    “Oh? Quer dizer isso?”  

    Kiera beliscou e puxou o casaco.  

    Puff  

    E deu uma tragada no charuto.  

    A fumaça pairou em seu rosto por alguns segundos.  

    “Nada demais. Só apostando e tal~”  

    “Apostando?”  

    Os olhos de Josephine se arregalaram.  

    “Espera, o quê?! Você foi apostar?!”  

    Eu encarei a cena sem palavras.  

    Kiera acenou enquanto colocava a mão no bolso.  

    “Não, sério. Entrei lá com todo o meu dinheiro e…”  

    Ela coçou o rosto.  

    “…perdi tudo.”  

    “…”  

    “Mas…!”  

    Ela ergueu o dedo. Como se tentando justificar que havia apostado todo seu dinheiro.  

    “Ainda consegui ganhar esse casaco legal! Feito de pele de Belstron real. Incrível, né? Hehe… Além disso, ganhei uma caixa de charutos de graça. São de boa qualidade. Quer experimentar?”  

    “….”  

    Josephine abriu a boca, mas as palavras se recusaram a sair.  

    Interpretando mal suas ações, Kiera enfiou um charuto em sua boca.  

    “….Ugh!”  

    “Aqui está!”  

    E acendeu-o com o dedo.  

    “Agora dê uma tragada forte.”  

    “Cough…! Cough…! Akh! Por que meus olhos ardem?”  

    “Hahahaha.”  

    Batendo na coxa, Kiera curvou-se e começou a rir.  

    “Você viu a cara que fez?”  

    “…..Akh!”  

    A partir daquele momento, todos perderam o interesse no que estava acontecendo. Era só a coisa usual.  

    Até que…  

    WHIIIII—  

    O som estridente de uma buzina ecoou por toda a cidade.

    1. MISERICÓRDIA[]

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