Capítulo 129: Necromante [3]  

Tudo aconteceu tão rápido que ninguém teve tempo de reagir.  

“Mexam-se! Mexam-se…!”  

“Recuem!”  

“Retirada…!”  

Vendo as ondas de mortos-vivos se aproximando, os cadetes não tiveram escolha a não ser recuar.  

O mesmo valia para Leon, que se moveu apressadamente para trás.  

SHIIING—!  

Com sua espada, ele cortou tudo que estava em seu caminho, ajudando alguns dos cadetes no processo.  

Pfttt!  

“Deixe-me ajudar!”  

“Akh…!”  

Eles eram um grupo composto por quinze cadetes. A elite de Haven, e ainda assim, todos estavam lutando tanto.  

“Recuem!”  

De repente, a voz alta do Professor ecoou à distância.  

Na hora certa, Leon virou a cabeça para olhar em sua direção.  

O Professor estava correndo a toda velocidade em direção a eles. Atrás dele estava o lobo gigante. Sua figura imponente e pressão pairou sobre eles à distância. No entanto, para alívio de todos, ele não estava perseguindo o Professor.  

Em vez disso, estava olhando para a horda de mortos-vivos que se aproximava.  

“Retirada! Retirada—!”  

Embora o Professor não parecesse ter sofrido ferimentos graves, vendo seu estado desgrenhado, era possível ver que ele havia gasto muita energia.  

A luta não havia sido fácil.  

Baque! Baque!  

O chão tremia a cada passo dos mortos-vivos.  

Todos se afastaram ainda mais.  

“Ah, esperem…”  

Tudo estava indo bem até que alguém parou para olhar à distância.  

“Tem alguém ainda lá!”  

Seu olhar estava fixo em uma certa figura.  

“O que você está fazendo?!”  

“Julien…!”  

De fato, um único cadete permanecia imóvel à distância. Ele não estava longe da horda de mortos-vivos. Na verdade, estava a meros metros de ser engolido por eles.  

“Ah!”  

Como se tivesse notado Julien, o Professor, que acabara de recuar até eles, abriu os olhos bem largos.  

“Eu vou peg—”  

Awoooo—!  

Suas palavras foram interrompidas pelo uivo do lobo. De repente, a atmosfera mudou novamente. A pressão que cercava o espaço se intensificou.  

Ficou claro que o lobo estava prestes a atacar novamente.  

O alvo? Ninguém sabia, mas eles não tinham tempo para se preocupar com isso. Especialmente quando a pressão ao seu redor aumentava a cada segundo.  

“Khh…!”  

Tanto que Leon não conseguiu respirar por um breve momento. O mesmo valia para os outros cadetes.  

“Haa… Haaa…”  

“Hua..!”  

“Droga…!”  

Foi preciso o feitiço do Professor Hollowe para aliviar boa parte da pressão.  

Mas quando ele fez isso, já era tarde demais.  

Os mortos-vivos haviam alcançado Julien.  

“…..”  

Como se o tempo tivesse congelado, todos os olhos se voltaram para ele.  

Ele permaneceu com o mesmo olhar sereno de sempre. Encarando todos igualmente, parecia completamente indiferente.  

Sozinho, ele ficou no meio.  

E sozinho, ele desapareceu de sua vista.  

“Ah—!”  

Vários cadetes gritaram horrorizados, incapazes de compreender a situação.  

“Droga!”  

O Professor Hollowe era quem estava em mais apuros. Alternando seu olhar entre os cadetes atrás dele e Julien, ele cerrou os dentes.  

“….Merda!”  

Ele havia tomado sua decisão.  

“Retirada!”  

“O quê?! Ma—”  

Alguns tentaram protestar, mas ele os interrompeu.  

“É tarde demais! É você ou ele! Não posso arriscar todos morrendo aqui.”  

Uma vez que sua mente estava decidida, não havia como mudá-la. Apesar dos protestos, o Professor Hollowe lançou outro feitiço e forçou todos a recuarem.  

“Retirada! Retirada…!”  

Era o caos.  

Caos total.  

Ninguém entendia o que estava acontecendo.  

Ou pelo menos, se recusavam a acreditar na realidade da situação.  

Todos, exceto uma pessoa.  

“Leon!”  

Leon ergueu levemente a cabeça. Mexendo em algo em sua mão, colocou no bolso antes de voltar sua atenção para os mortos-vivos.  

Grooowll—!  

Eles rosnaram no ar.  

“…..”  

Ele ficou em silêncio por um breve momento antes de se afastar deles.  

“Vão! Vão!”  

Nesse caos,  

Ele seguiu os outros de volta.  

Não antes de murmurar algumas últimas palavras,  

“….Estarei esperando.”  

***  

Deixei meus olhos fechados por um momento, então os abri.  

Grooowll—!  

Eu estava cercado por todos os lados. Os zumbis de aparência familiar e a cúpula roxa. Era tudo igual a antes.  

“Como esperado…”  

Esfreguei meu peito e olhei ao redor.  

Havia um pequeno espaço ao meu redor. Nenhum zumbi estava andando perto de mim. Na verdade, eles pareciam me evitar enquanto avançavam.  

“Por quê?”  

Por que não estavam me atacando?  

Estendi minha mão para tocar um dos zumbis.  

“….?”  

No momento em que fiz isso, eles viraram a cabeça e a inclinaram. Era quase engraçado, mas não fizeram mais nada além disso.  

Eles continuaram a marchar para frente.  

Awooo—!  

Um certo uivo abafado ecoou à distância. Provavelmente vinha do lobo.  

‘….Agora que penso nisso, o lobo parou de atacar no momento em que os zumbis começaram a se mover.’  

Havia uma conexão nisso?  

Será que os zumbis só reagiram por causa dos lobos, e não de nós?  

“Será?”  

Era um pensamento interessante.  

Awooo—!  

O lobo uivou novamente, mas desta vez, seu uivo estava muito mais distante que antes.  

‘Está fugindo?’  

Para onde…? E por quê?  

O necromante, talvez?  

Thump! Thump!  

Os zumbis continuaram a avançar, o chão tremendo com seus passos unificados. Era difícil para os ouvidos, já que era muito alto, mas eventualmente pararam.  

Baque!  

“….”  

E o silêncio retornou.  

Até que…  

Swoosh, swoosh, swoosh—  

Suas cabeças se viraram e todos os olhos se fixaram em mim. Foi apenas por um instante, mas eu me encolhi.  

‘Que assustador.’  

Me senti como o protagonista de um filme de terror.  

“Hm?”  

Sha—!  

No meio de meus pensamentos, os zumbis abriram caminho. Com seus olhares ainda pousando sobre mim, criaram um pequeno caminho.  

Involuntariamente, respirei fundo.  

Pois à distância, uma figura apareceu.  

Ela não era alta, e suas características estavam cobertas por um manto grande.  

Estava parada lá, cercada por todos os zumbis, encarando-me.  

Me senti assustado com isso.  

Mas apesar do meu medo,  

Tok—  

Dei o passo que levava até ela.  

Medo era uma emoção sem sentido nessa situação.  

Qual era o ponto de ter medo quando eu estava cercado por todos os lados?  

“…..”  

Só parei quando estava a alguns metros dela.  

Se eu podia sentir isso vagamente antes, agora sentia ainda mais.  

‘Que aterrorizante.’  

Apenas ficar parado já era uma tarefa difícil. A pressão emanando do corpo do necromante não era algo que eu já havia sentido antes.  

Especialmente quando eu podia dizer que estava atualmente suprimida.  

“…..”  

Encerei seu olhar calmamente.  

Ela apenas ficou lá sem emitir um único som.  

Observando cuidadosamente cada uma de minhas características.  

“…..Está frio aqui, não está?”  

Fui eu quem quebrou o silêncio primeiro.  

Ao ouvir minhas palavras, o necromante ergueu a cabeça para me encarar.  

Eu nem tinha certeza se ela podia entender minhas palavras.  

“O manto ajuda você, não ajuda?”  

Era apenas conversa fiada. Eu queria ver se podia me comunicar com ela.  

“….”  

Mas parecia que não podia.  

Na verdade, devo ter irritado ela, pois a pressão ao meu redor se intensificou.  

“Você é mal-humorada, não é?”  

Mas isso não me afetou tanto quanto antes.  

Era porque ela não queria me machucar, ou porque eu estava me acostumando ao ambiente denso de [Maldição]?  

Eu não tinha certeza.  

“….”  

De qualquer forma, o necromante não reagiu.  

Tudo o que fez foi continuar a me encarar até se virar. Um caminho se abriu para ela enquanto os zumbis se afastavam.  

Amassa.  

Ela deu um passo à frente, indo mais fundo na horda.  

“…..”  

Ela não disse nada, mas eu entendi o que queria.  

‘Siga.’  

Era o que ela dizia.  

Ela queria me mostrar algo.  

Tak.  

Segui-a sem dizer uma palavra.  

O caminho era estreito e os olhares dos zumbis continuavam a pousar sobre mim, enquanto eu caminhava. Aprendi a ignorá-los, mas ao passar por eles, não pude evitar de ver algumas figuras familiares.  

‘Ei, você está se sentindo bem?’  

Suas vozes ecoavam em minha mente sempre que eu passava por eles.  

‘Use isso. Está ficando frio lá fora.’  

A cada passo que eu dava, uma figura familiar entrava em meu campo de visão.  

‘Estamos quase lá.’  

Era quase como se eles ainda estivessem vivos.  

‘Foi bom celebrar seu aniversário conosco, não foi?’  

O 12º esquadrão de subjugação.  

O 45º esquadrão de subjugação.  

O 111º esquadrão de subjugação.  

O 56º esquadrão de subjugação.  

Os soldados que haviam sido enviados para subjugar a própria criatura que eu estava seguindo.  

Todos estavam presentes.  

“…..”  

As costas do necromante diminuíam enquanto ela caminhava mais rápido que eu.  

Apesar de estar cercada por tantos zumbis, suas costas pareciam solitárias.  

Como uma criança que tinha muitos brinquedos para brincar, mas ninguém para compartilhar.  

“…..”  

E então, o necromante parou.  

Eu também parei.  

“Ah.”  

O som escapou inexplicavelmente de meus lábios enquanto eu olhava para cima.  

Rachaduras apareceram na própria dobra do espaço diante de mim. Mas não era isso que me fazia emitir aquele som.  

Em vez disso, era o enorme cadáver que repousava no meio.  

Parecia uma rocha a princípio, mas ao olhar mais atentamente, em vez de uma rocha, era mais como um…  

“Dragão.”  

Um dragão de pedra.  

Sua figura se impunha sobre tudo ao redor, e se não fosse pela fina aura roxa cobrindo seu corpo, eu não o teria confundido com uma simples pedra.  

‘Aura roxa…’  

Meus olhos se arregalaram enquanto eu baixava a cabeça para encarar o necromante.  

“….Então é isso.”  

Muitas peças em minha mente começaram a se encaixar.  

Todas as memórias que eu havia conseguido coletar inundaram minha mente enquanto as informações que eu havia reunido se tornavam mais claras para mim.  

Ainda havia muitas perguntas que eu tinha, mas eu entendi algo.  

“…..”  

Era uma realização triste.  

O poderoso necromante diante de mim.  

O poderoso ‘monstro’ que todos queriam subjugar.  

O foco do ódio da cidade.  

Nunca havia sido um inimigo, para começar.  

Mas sim, outro soldado azarado como eles. Um membro do primeiro esquadrão de subjugação.  

“Haaa…”  

Eu não podia ver a expressão que ela estava fazendo com suas costas voltadas, mas eu podia adivinhar.  

Pela primeira vez, ela falou.  

“T-rinta anos.”  

Era uma voz aguda.  

Pertencia a uma mulher.  

“…..A-qui.”  

Suas palavras terminaram ali.  

Ela havia provavelmente atingido seu limite.  

Mas isso não importava para mim. Eu não precisava de uma voz para falar com alguém.  

Dei um passo para me aproximar do necromante, que estava de costas para mim.  

Tak.  

Como se sentisse meu passo, ela se virou para me olhar.  

Estendi minha mão para ela.  

Abaixando minha cabeça em sinal de fé.  

“Eu sei que você pode não me entender agora, mas eu tenho um pedido…”  

Eu não tinha certeza se o que eu estava fazendo era a coisa certa.  

Se o que eu havia deduzido era a sequência correta de eventos. Mas mesmo assim, eu tentei.  

Ergui minha cabeça e tentei enxergar o que havia sob o manto.  

“…..Você me deixaria ver o seu mundo?”