Índice de Capítulo

    O frio nunca cessava durante o ano todo.  

    Aurelia e os membros do primeiro esquadrão de subjugação permaneceram fiéis ao seu compromisso, parados onde estavam e guardando o Dragão.  

    “… Está cansada, Aurelia? Já fazem vários meses que estamos aqui. Não seria bom se você tirasse um descanso?”  

    Daphne olhou ao redor.  

    “Os reforços da cidade também devem voltar em breve. Quando chegarem, poderemos contar a eles sobre a situação.”  

    “…..”  

    Apesar das palavras de Daphne, a atenção de Aurelia permanecia fixa no Dragão diante dela.  

    A mana em seu corpo estava se esgotando rapidamente, e seu rosto estava pálido. Ela estava com fome e com sede. Seu corpo doía, e ela estava com frio.  

    Apesar disso, ela mantinha a mão fixa no Dragão.  

    “P-preciso…”  

    Era como se nada mais pudesse distraí-la.  

    “Ah! Eles chegaram!”  

    Ou pelo menos, até ela sentir algumas presenças à distância e virar a cabeça.  

    Quatro silhuetas apareceram ao longe. Elas pareciam familiares.  

    “Ah—!”  

    Ela estava prestes a falar com eles quando Daphne gritou.  

    Auuuuu—!  

    E o uivo de um lobo ecoou no ar.  

    Antes que qualquer um deles tivesse chance de reagir, várias criaturas semelhantes a lobos apareceram, saltando em direção aos reforços que haviam chegado.  

    “Ah, não…!”  

    Aurelia gritou, mas sua voz não alcançou nada.  

    “Ahh!”  

    “S-socorro!”  

    “Lobos infernais! O que eles estão fazendo aqui?!”  

    Sangue manchou a terra enquanto Aurelia permanecia paralisada.  

    “O que você está fazendo, Aurelia!?”  

    Mesmo com os protestos de seus companheiros, ela continuou imóvel.  

    Clank! Clank—!  

    O som de luta ecoou à distância.  

    Um som que acabou com o uivo da criatura.  

    “…..”  

    Quando tudo acabou, o silêncio reinou ao redor. Um silêncio quebrado pelas vozes de seus companheiros.  

    “Haaa… Haaa…”  

    “D-de onde vieram essas feras?”  

    “Oh, não…!”  

    Daphne correu para ajudar os feridos, mas já era tarde demais.  

    “Por favor, aguente. E-eu vou… Jackson. Sou eu, Daphne. A-aguente.”  

    Apesar de suas palavras, Jackson estava deitado no chão com os olhos arregalados. Ele não estava olhando para ela, mas para Aurelia, que o encarava.  

    Ele continuou a olhar para ela até seu último suspiro.  

    “Jackson!!”  

    O grito de desespero de Daphne ecoou por todos os lados.  

    “….”  

    Aurelia continuou em pé, em silêncio.  

    Um silêncio que ela quebrou inevitavelmente com seu próprio passo.  

    Amassa.  

    Ela parou quando chegou perto do cadáver de Jackson. Havia outros três cadáveres ao redor. Aurelia reconhecia seus rostos. Eles estiveram na cerimônia de despedida. Logo antes de partirem para esta jornada.  

    Jackson, Monica, Clara e Austin.  

    Aurelia também sabia seus nomes.  

    “…..O que você está fazendo?”  

    Ignorando a voz de Daphne, Aurelia se abaixou e colocou a mão sobre o cadáver de Jackson.  

    Um brilho roxo fraco emanou de seu corpo.  

    [Controle de Cadáveres] – Um feitiço de nível iniciante que permitia controlar cadáveres. Pertencendo à categoria [Maldição], não era um feitiço comum e era um tanto desaprovado. No entanto, Aurelia o possuía.  

    Era um feitiço que Aurelia odiava com todas as suas forças.  

    Detestava.  

    Afinal, o feitiço era a causa da morte de seus pais. Seu talento excepcional no campo de [Maldição] foi o que levou seus pais a adquirirem o feitiço.  

    Se não fosse por isso…  

    Groooowl—!  

    Os olhos de Jackson se abriram violentamente enquanto um rosnado escapava de seus lábios.  

    “Isso…!”  

    Os olhos de Daphne se arregalaram, e ela virou o rosto para Aurelia.  

    “Você acabou de…?”  

    “Espere, o que você está fazendo?”  

    Os outros também mostraram sinais de protesto, mas Aurelia os ignorou novamente e passou para o próximo cadáver.  

    Austina.  

    Ele era alguns anos mais velho que ela. Um arqueiro talentoso. Se tivesse um pouco mais de tempo, Aurelia tinha certeza de que ele seria uma das pessoas mais fortes da cidade.  

    Groooowl—!  

    Infelizmente, ele também caiu vítima de seu feitiço.  

    “Aurelia, você não deveria fazer isso. Estas são pessoas que conhecemos. Devíamos—”  

    Groooowl—!  

    Apesar do que os outros diziam, nada conseguia atingir Aurelia enquanto ela continuava a lançar seu feitiço sobre todos os membros do grupo de reforço.  

    Groooowl—!  

    Quando tudo acabou, quatro figuras familiares estavam diante dela.  

    Aurelia podia sentir os olhares de espanto e desaprovação de seus amigos. Logo quando estavam prestes a dizer algo, ela os interrompeu.  

    “…..Eles morreram.”  

    “Sim, mas—!”  

    “Mais pessoas virão.”  

    Aurelia continuou a falar, seus olhos perdendo o brilho aos poucos.  

    “…..Isso vai acontecer de novo. Precisamos impedir.”  

    “Mas—”  

    “Este é o único jeito.”  

    Aurelia se virou e voltou para o Dragão. Enquanto caminhava, procurou pelos lobos infernais, mas não havia sinal deles.  

    Era como se eles não tivessem interesse neles.  

    “Vou matar todos…”  

    Ela prometeu a si mesma.  

    O tempo passou.  

    O próximo grupo chegou. Desta vez, não era apenas um grupo. Eram vários. Aurelia reconhecia cada membro.  

    Auuuuu—!  

    Mas a mesma cena de antes ocorreu.  

    Os lobos infernais atacaram.  

    “Ahhh….!”  

    “S-socorro!”  

    Ela, junto com seus companheiros, tentou ajudar, mas foi inútil.  

    “Soluço… Soluço… C-como isso aconteceu?”  

    Mais uma vez, todos morreram.  

    Groooowl—!  

    E mais mortos-vivos se juntaram ao seu grupo.  

    Era um ciclo sem fim. A cada poucos meses, ou um ano, a cidade enviava seus melhores guerreiros para onde ela estava, apenas para que morressem nas mãos dos lobos.  

    Às vezes, eram grupos pequenos, e às vezes, grandes grupos com centenas de pessoas.  

    Mas toda vez que chegavam, perdiam para os lobos infernais.  

    “Não, parem…!”  

    Ela gritou.  

    “Não venham.”  

    Mas ninguém a ouviu.  

    “Vocês não podem derrotá-los! Parem!”  

    Ela chorou.  

    “Soluço… Soluço… P-peçam ajuda ao Império.”  

    Mas ninguém escutou.  

    “Parem de ser tão teimosos!”  

    A cada ano, Aurelia implorava a eles. Mas suas palavras não os alcançavam.  

    “…..”  

    Aos poucos, ela perdeu a voz.  

    Grooowl—  

    “Matem o necromante!”  

    “Eu vou te matar!”  

    “Seu maldito…! Se não fosse por você, minha família ainda estaria aqui! Vá se foder!”  

    Aurelia podia sentir isso. A raiva profunda e a sede de vingança já estavam enraizadas nos olhos dos cidadãos, forçando os membros a voltarem cada vez mais, mesmo que a situação fosse sem esperança para eles.  

    E…  

    Tudo era direcionado a ela.  

    “Acorda, acorda~”  

    “….Hm.”  

    Uma voz irritante me tirou do meu sono.  

    Minha visão estava clara novamente.  

    Era Gork.  

    “Descansou o suficiente…? Está se sentindo melhor?”  

    “…”  

    Eu me sentei e gemeu.  

    Meu corpo parecia um lixo, e minha cabeça latejava.  

    Olhando ao redor, o sol estava começando a se pôr. Esfregando o pescoço, eu estava prestes a me levantar quando parei.  

    “….Hã?”  

    “Hurr… Hurr…”  

    Ouvi uma risada rouca vinda de cima. Era Gork.  

    “Parece que finalmente percebeu.”  

    Percebi?  

    Percebi o quê?  

    “Seu corpo está melhor, não está?”  

    “….Está.”  

    Ou melhor, eu me sentia mais no controle com o elemento [Maldição] no ar. Estava fluindo muito mais suavemente.  

    “Hurr… Hurr.”  

    Gork riu novamente.  

    Antes que ele pudesse explicar, Liam, que estava atrás dele, começou a falar.  

    “Alguém te ajudou enquanto você dormia.”  

    “Me ajudou?”  

    Eu olhei ao redor.  

    Quem?  

    “Ah.”  

    E meus olhos logo se fixaram em uma certa figura.  

    “Ela…?”  

    Eu inclinei a cabeça.  

    “Mas ela não disse que não me ajudaria?”  

    “Hehe, ela é mole.”  

    Daphne disse do lado, brincando com um graveto e desenhando círculos na terra. Eu olhei para o que ela estava desenhando.  

    Parecia rudimentar. Era uma casinha com duas pessoas.  

    Ela continuou a mexer no graveto, adicionando árvores, grama e flores. Parecia o desenho de uma criança de cinco anos.  

    Claro, eu não disse isso a ela.  

    “…..Mesmo que ela diga que não vai te ensinar, é principalmente porque ela não quer que você morra.”  

    “Mas—”  

    “Morra por causa dela.”  

    “…..”  

    Daphne levantou a cabeça, e nossos olhares se encontraram.  

    “Tente sentir seu corpo.”  

    “…..”  

    Eu fiz como me disseram. Fechando os olhos, examinei meu corpo direito. Quando o fiz, meus olhos se abriram rapidamente.  

    “Isso…”  

    Talvez eu ainda estivesse inconsciente e sonhando, mas, verificando meu corpo, percebi que muitos dos meus ferimentos estavam curados. Ainda havia algum dano, mas estava muito melhor do que antes. Especialmente considerando que eu havia machucado meu corpo tentando praticar meu feitiço.  

    “Ela é tímida.”  

    Isso foi tudo o que Gork precisou dizer para eu entender.  

    Aurelia.  

    Apesar de sua resposta fria, ela ainda queria me ajudar.  

    De certa forma, essa era sua maneira de me ensinar.  

    Sua maneira de reconhecer meus esforços.  

    “…..”  

    Olhando para suas costas, mantive minha boca fechada. Não havia necessidade de dizer nada. Mesmo se eu dissesse, ela não reagiria.  

    Tudo o que eu precisava fazer no momento era treinar duro.  

    ‘Certo, preciso treinar.’  

    O tempo era limitado.  

    E cada segundo importava.  

    “Huu.”  

    Eu tinha acabado de respirar fundo e me preparado para começar a treinar quando a voz de Daphne alcançou meus ouvidos.  

    “Oh, está começando.”  

    Começando?  

    “O que está come—”  

    Cortei minhas palavras abruptamente quando meus olhos se arregalaram e olhei ao redor. Assim que falei, o sol começou a se pôr, e um pulso extremamente poderoso de energia varreu o ambiente.  

    Seguindo o pulso, os zumbis que nos cercavam desapareceram.  

    Era uma cena familiar.  

    “Hã…?”  

    Olhei ao redor, chocado, antes de fixar meu olhar em Aurelia, que ainda estava de costas para mim.  

    “Para onde eles foram?”  

    Minha voz não pareceu alcançá-la, pois ela permaneceu em silêncio.  

    Foi Daphne quem respondeu no lugar dela.  

    “Você já sabe a resposta.”  

    “Mas—”  

    “…..Foque no seu treino. Você está seguro conosco.”  

    “Eu…”  

    “Não pergunte.”  

    Ainda havia tanto que eu queria perguntar. No entanto, eu podia ver que seria inútil.  

    ‘Talvez ela esteja fazendo isso para impedir que os cavaleiros da cidade venham até aqui?’  

    Fazia sentido quando eu pensava nisso.  

    Ainda assim…  

    ‘E se eu der uma mensagem aos zumbis? Eles…’  

    “Não.”  

    Rapidamente descartei esse pensamento.  

    Além do fato de eu não ter caneta ou papel, pensando em como os cavaleiros atacariam no momento em que os zumbis aparecessem, a mensagem provavelmente seria destruída em um instante.  

    Ainda assim, levantei a cabeça.  

    “E quanto a mim? Não é possível me enviar de volta com os zumbis?”  

    “Zumbis?”  

    Daphne inclinou a cabeça, curiosa.  

    “….O que é isso?”  

    “Ah, certo.”  

    Meus lábios se contorceram, e me corrigi.  

    “Mortos-vivos.”  

    “Zumbis. Gosto desse nome.”  

    Daphne pareceu sorrir sob o capuz. Parecia que ela estava prestes a responder quando Liam a interrompeu.  

    “Só pode ser feito com os mortos-vivos. Você acha que ainda estaríamos aqui se fosse possível?”  

    “Certo…”  

    Isso fazia sentido.  

    A pequena esperança que eu tinha se desfez assim.  

    “Não se preocupe.”  

    Uma mão pressionou meu ombro.  

    “Apenas continue praticando. Temos fé em você.”  

    Encarando-os e vendo-os, acabei concordando com a cabeça.  

    “Tudo bem.”  

    Apertando e soltando os punhos, soltei um longo suspiro e fechei os olhos.  

    ‘Estou em 73%… Preciso de mais 27%. Eu consigo.’  

    Mais uma vez, mergulhei completamente no treino.  


     

    ∎| Nvl. 1 [Mãos da Enfermidade] EXP + 0.2% 

    ∎| Nvl. 1 [Mãos da Enfermidade] EXP + 0.07%

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