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    O Império agiu rapidamente.  

    Com informações sobre o Dragão de Pedra, somadas à confirmação da Fenda do Espelho, uma nova equipe foi enviada em questão de horas.  

    A situação não estava mais sob controle como estivera no passado devido ao necromante.  

    Assim, a cidade de Ellnor recebeu novos rostos enquanto um exército de cavaleiros entrava pelo portão das muralhas.  

    Sob o brilho do sol, suas armaduras douradas reluziam, apresentando uma visão imponente aos espectadores.  

    “…..Nada mal.”  

    Sentado no topo das muralhas do castelo, respirei o ar fresco enquanto observava a cena de cima.  

    A pressão coletiva emanando de seus corpos me fez estremecer.  

    Mas isso não era tudo. Um novo grupo surgiu por trás deles. Vestindo mantos negros com listras roxas, eles seguiam os cavaleiros.  

    “Devem ser membros da Torre Mágica. Pelas listras roxas, devem ser especialistas em [Maldição]?”  

    Enquanto a maioria dos cadetes aspirava entrar em uma Guilda através do recrutamento, havia outros dois destinos que os cadetes desejavam.  

    A Torre Mágica e o Conselho dos Cavaleiros.  

    Sob o controle direto da família Megrail, eles só recrutavam aqueles com um certo nível de força e que estavam entre os mais talentosos do Império.  

    “…..Parece interessante.”  

    Ou as Guildas, ou a Torre Mágica.  

    Essas eram minhas opções para o futuro. Eu não precisava esperar me formar para me juntar a eles. Poderia entrar logo no primeiro ano.  

    Por enquanto, ainda não tinha certeza de qual escolher.  

    Não que isso importasse no momento.  

    ‘Preciso entrar em contato com Aoife depois.’  

    Havia algo que precisava perguntar a ela. Nada importante. Só queria perguntar sobre um certo livro que queria comprar.  

    “Haa.”  

    Desviando o olhar deles, olhei para o meu lado direito.  

    “O quê?”  

    “O quê? O quê…?”  

    Girei os olhos.  

    “Você que apareceu do nada.”  

    “E daí? Só estou apreciando a vista.”  

    “….Ok.  

    “Bom.”  

    “….”  

    “….”  

    O silêncio retornou ao ambiente e me inclinei para trás para sentir a brisa. Meu cabelo ondulou, e uma mecha de prata caiu no meu rosto. Olhei para Kiera.  

    Ela me encarou com um rosnado.  

    “Que foi, bastardo?”  

    “Saia daí. Seu cabelo está no meu rosto.”  

    “Acontece. É longo e tal, sabe?”  

    “Por isso estou te dizendo para sair.”  

    “Tsk.”  

    Kiera estalou a língua. Com um olhar levemente irritado, enfiou a mão no bolso com força e jogou algo no meu peito.  

    “Aqui.”  

    “…..?”  

    Olhei para baixo, confuso. Quando o fiz, pisquei várias vezes para ter certeza do que estava vendo.  

    A voz de Kiera veio logo depois.  

    “Então, tipo…”  

    “….”  

    “Aquela merda, sabe?”  

    “….?”  

    “Ah, droga. Tanto faz. Só te devia e tal. Pensei que você tinha morrido e me senti mal por não ter te pago. Meio que parece que te roubei e tal.”  

    “….”  

    “Que foi?”  

    No meio do discurso, ela mordeu os lábios.  

    “Só queria ter certeza que, da próxima vez que você morrer, não te devo nada.”  

    Essa garota…  

    “Vou aceitar.”  

    Segurando a risada, coloquei o dinheiro no bolso.  

    No final, ela fez tudo isso porque se sentiu mal por nunca ter me pago pelas aulas de reforço.  

    ‘Normalmente as pessoas ficam felizes em não pagar.’  

    Aparentemente, ela era diferente.  

    “Obrigado.”  

    “….Claro.”  

    Pensei que ela iria embora depois disso, mas ela continuou ali. Encontrando meu olhar, franziu os lábios e se inclinou para frente, olhando a paisagem abaixo.  

    “…..”  

    “Ainda tem umas coisas que preciso que você me ensine.”  

    “Ensinar?”  

    “É, tipo—Ukeh!”  

    Kiera soltou um som estranho quando meu punho bateu na sua cabeça.  

    Segurando o topo da cabeça, ela me encarou.  

    “Que porra foi essa?!”  

    “…..Já falei antes. Pare de depender de mim.”  

    “Não, isso—”  

    “Você já deveria saber como estudar sozinha. Não precisa de mim.”  

    “…..”  

    Ainda me encarando, Kiera ficou em silêncio.  

    “Kiera.”  

    “O quê…?”  

    “Nada.”  

    “Uh?”  

    Havia algo que queria perguntar, mas percebi que ela provavelmente não saberia. Era sobre aquilo com a Aoife, mas lembrando do relacionamento dela com ela, percebi que não valia a pena perguntar.  

    “O quê? Não me deixa no vácuo assim!”  

    “Disse que não é nada.”  

    “Não, droga… Você não pode falar isso depois de me deixar curiosa.”  

    “Acabei de fazer.”  

    “Ah…”  

    Sua boca fechou em um beiço.  

    “Droga do caralho”’ resmungando palavrões baixo, ela acabou desistindo.  

    “Tanto faz, vou embora.”  

    Acenando a mão em um gesto de despedida, Kiera finalmente se virou para sair.  

    Olhei para suas costas por um momento antes de voltar minha atenção para a paisagem abaixo. Ou pelo menos era o que eu pensava.  

    “Ei.”  

    Ouvindo a voz de Kiera, virei a cabeça.  

    “…..”  

    As palavras que eu ia dizer nunca saíram. Como poderiam, quando eu não sabia como reagir ao que estava vendo. A alguns metros de mim, Kiera ergueu o dedo médio.  

    “Toma isso, sua escória.”  

    ***  

    Abaixo.  

    Perto da entrada de Ellnor.  

    “É bom vê-la novamente, Princesa.”  

    Aoife olhou para o homem ajoelhado diante dela e os vários outros ajoelhados atrás dele. Ela tinha uma vaga lembrança dele, mas isso não importava.  

    “…..Não há necessidade de formalidades comigo. Agora, sou uma cadete do Instituto Haven. Me trate como tal.”  

    “Desculpe, mas isso é difícil para nós.”  

    Aoife franziu os lábios.  

    Embora fosse verdade que ela era a Princesa do Império e as pessoas diante dela eram seus subordinados, Aoife achava a atitude deles um tanto incômoda.  

    Especialmente quando notou o modo como os cadetes ao seu redor a olhavam.  

    Isso a fazia querer suspirar.  

    Ainda assim, contendo-se, ela reconheceu a presença deles.  

    “Tudo bem. Está bom, eu acho.”  

    Seu olhar percorreu os membros do Conselho dos Cavaleiros e da Torre Mágica.  

    Cada um dos presentes possuía um poder incrível, e com um único comando dela, eles agiriam sob suas ordens.  

    Embora tivesse autoridade para dar ordens, isso se limitava ao seu título.  

    Talvez um dia ela pudesse comandar plenamente a Torre Mágica e o Conselho dos Cavaleiros.  

    “Como estão os preparativos?”  

    “…..Estamos prontos para partir a qualquer momento. Já enviamos várias equipes de exploração, e os relatos são verdadeiros. Um Dragão de Pedra foi encontrado.”  

    “Entendo.”  

    Aoife acenou levemente.  

    Mesmo presa em Ellnor, ela podia imaginar que o Império estava em polvorosa.  

    Fazia muito tempo que uma criatura do tipo ‘Dragão’ aparecera no reino.  

    Eram extremamente raras e, ao mesmo tempo, extremamente ferozes.  

    Mas não era por isso que o Império estava em polvorosa. O motivo era a alta probabilidade de o Dragão de Pedra ter um osso transferível.  

    Diferente da maioria das criaturas, que tinham uma pequena chance de conter um osso transferível, criaturas do tipo ‘Dragão’ tinham uma chance maior.  

    Além disso, a habilidade [Inata] que concederiam ao usuário seria de outro nível.  

    ….E vindo de uma criatura de Rank Terror, Aoife já podia prever os problemas que viriam no futuro.  

    ‘Me pergunto o que farão com o osso.’  

    De certa forma, a notícia era uma bênção e um desastre para o Império.  

    Ossos de Rank Terror eram extremamente raros, ainda mais de uma criatura do tipo [Dragão].  

    Quem quer que obtivesse tal osso provavelmente se destacaria no futuro.  

    Os outros Impérios provavelmente sabiam disso.  

    A chance de eles fazerem algo no futuro era alta. Especialmente considerando que isso já acontecera no passado.  

    Assim, Aoife via a situação como uma bênção e um desastre.  

    Ela já sentia a dor de cabeça chegando.  

    E tudo por causa de uma pessoa.  

    “…..”  

    Erguendo a cabeça, Aoife olhou para as muralhas acima dela. Naquele momento, seu olhar pousou em uma pessoa específica. Inclinado preguiçosamente no topo das muralhas, seu olhar frio percorria a área abaixo sem qualquer consideração.  

    Era alguém que deveria estar morto, mas não estava.  

    Se não fosse por ele, nada disso teria acontecido. Até agora, ela estava curiosa sobre como ele conseguira.  

    Por algum motivo estranho, quanto mais Aoife sabia sobre ele, mais misterioso ele se tornava.  

    Suas habilidades, que antes ela julgava inferiores às dela, provaram ser superiores.  

    Além disso, ele sobrevivera a um encontro com várias criaturas de Rank Terror e um necromante.  

    Era ridículo.  

    Ele era ridículo.  

    “Haa…”  

    E, no entanto, soltando um longo suspiro, Aoife não pôde deixar de se impressionar.  

    E isso também era,  

    “…..Ridículo.”  

    ***  

    Naquela noite.  

    Leon voltou para seu quarto e imediatamente caiu sobre a cadeira de madeira.  

    “….”  

    Ele ficou sentado em silêncio.  

    Gostava do silêncio.  

    Hoje, ele estivera perigosamente próximo da morte. As memórias de sua infância passaram diante de seus olhos naqueles momentos.  

    Tais memórias…  

    “….Nunca mais.”  

    O que eu faço sobre isso? Leon refletiu sobre a situação. Antes, era administrável, mas as coisas mudaram drasticamente com a chegada ‘dele’.  

    “É como se houvesse dois dele.”  

    Já estava difícil lidar com um. Como lidaria com dois…?  

    Era impossível.  

    Segurando a frustração, Leon suspirou e se preparou para ir para a cama. Estava tarde, e ele estava extremamente cansado.  

    Sua cabeça doía.  

    “…..”  

    Ele estava quase chegando à cama quando franziu a testa.  

    Havia algo estranho nela. Por natureza, Leon era paranoico.  

    Era algo que desenvolvera ao longo dos anos sendo caçado.  

    Por isso, notou os travesseiros ligeiramente deslocados e as rugas que não estavam lá antes de sair.  

    “….Alguém esteve aqui.”  

    Leon encarou a cama antes de olhar em volta. Seus olhos vasculharam o quarto em busca de qualquer coisa fora do lugar, mas tudo estava como lembrava.  

    A única diferença era a cama.  

    ‘Será que uma faxineira veio…?’  

    Era uma possibilidade. Sim, era…  

    Swoosh—  

    Com movimentos rápidos, Leon puxou o lençol e agarrou sua espada. Estava pronto. Preparado.  

    ….Ou assim pensava.  

    “O-o quê.”  

    Seu corpo inteiro congelou diante da visão que o aguardava.  

    Um medo inato que não sentia há muito tempo tomou seu corpo enquanto sua expressão se desfazia.  

    Respingo—  

    De longe, ouviu um som de algo respingando. Mas isso não fazia sentido.  

    Não havia rio por perto.  

    “O-oh, não…”  

    Leon deu um passo para trás.  

    “M-maldição. E-eu sabia… Estava certo…”  

    Sua mão tremia.  

    Ele simplesmente não entendia como aquilo era possível.  

    Leon piscou para ter certeza de que não estava alucinando. Infelizmente, a imagem não mudou.  

    “H-ha…”  

    Seu peito tremia.  

    Um livro repousava em sua cama. Estava molhado, manchando os lençóis. Mas esse não era o problema.  

    Ele reconheceu o livro.  

    Como não reconheceria, se lembrava claramente de tê-lo jogado no rio.  

    <Piadas Engraçadas que vão te fazer rir o dia todo>  

    Com o rosto pálido, deu mais alguns passos para trás.  

    “Maldição…”  

    Era realmente amaldiçoado. 

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