Capítulo 140: O fim da viagem [2]  

O sol nascia no leste, lançando uma luz alaranjada sobre o terreno rochoso.  

Tritura…!  

O silêncio do local foi quebrado pelo som de um passo.  

“Estamos perto.”  

O Capitão Reijnder parou e se virou. Atrás dele, dezenas de cavaleiros se alinhavam em formação. Suas armaduras douradas brilhavam sob o sol, tornando-os ainda mais imponentes.  

Em formação, protegiam os magos posicionados atrás.  

“Capitão, aqui está o relatório.”  

Recebendo um papel de um dos cavaleiros, o capitão leu o conteúdo e franziu a testa.  

“…..Precisamos nos apressar.”  

Devolvendo o papel, acenou com a mão para os membros.  

“A luta já começou. Vamos rápido.”  

De fato, como o relatório afirmava. Ao chegarem ao destino, pulsos de mana varreram o local enquanto o som pesado de metal se chocando ecoava no ar.  

Clank, clank, clank—  

Os membros do esquadrão avançado já estavam em combate total com os Lobos do Inferno, que atacavam ferozmente.  

Awooo—!  

Seus uivos cortavam o ar.  

“Tolos…!”  

Perto deles, o Capitão sinalizou com a mão, e os cavaleiros atrás dele avançaram.  

O mesmo fizeram os membros da Torre Mágica, lançando feitiços contra os Lobos do Inferno.  

Awooo—! Awooo—!  

A interferência inesperada pegou os Lobos do Inferno de surpresa, que uivaram para o céu.  

Mas era tarde demais.  

Pfft—!  

Sangue jorrou no ar.  

Era uma cena brutal. Até o Lobo do Inferno de Rank Terror não foi poupado do massacre. Com mais de uma dúzia de cavaleiros de Tier 5 atacando juntos, sua resistência foi inútil.  

Em minutos, seu corpo foi partido ao meio.  

Baque!  

“Terminamos.”  

“….Todos os Lobos do Inferno foram eliminados.”  

Assim que tudo acabou, os cavaleiros e magos se reportaram ao Capitão, que estava diante de uma grande rocha.  

Sua expressão era sombria.  

“Isso está mais difícil do que eu esperava.”  

‘Por que estou tremendo?’ O capitão se perguntou, olhando para sua mão trêmula. Supostamente, ele não deveria estar com medo, considerando o esquadrão que estava com ele. Mesmo assim, o medo inato que o Dragão causava não era algo que ele podia ignorar.  

“….Faz a gente pensar como um único esquadrão de uma cidade pequena conseguiu reduzi-lo a esse estado.”  

Honestamente, a resposta era óbvia.  

O Dragão de Pedra provavelmente ainda estava em seus estágios iniciais naquela época. A Fenda do Espelho devia ter se formado recentemente, e o Dragão ainda não estava totalmente aclimatado ao novo ambiente.  

Geralmente, o melhor momento para lidar com monstros vindos da Fenda do Espelho era durante sua primeira aparição.  

O ambiente dentro da Dimensão do Espelho e o mundo exterior eram bem diferentes.  

As criaturas precisavam de tempo para se acostumar, tornando essa situação a mais ideal para humanos.  

“É uma pena que só descobrimos agora.”  

Com trinta anos tendo se passado, embora tenha sido selado, seu corpo agora estava provavelmente aclimatado e em plena maturidade.  

Era por isso que a pressão era opressiva.  

“Preparem-se rapidamente!”  

Não havia tempo a perder.  

O único motivo pelo qual ele estava parado e esperando era porque, sozinho, não tinha chance de matar o Dragão de Pedra.  

Não era sua força que era aterrorizante, não.  

O que realmente aterrorizava na criatura era sua camada externa enorme e quase impenetrável.  

…..Ele não podia derrotar o Dragão de Pedra.  

Não era seu trabalho derrotá-lo.  

Ele só estava ali para bloqueá-lo, se necessário.  

O mesmo valia para os cavaleiros. Seu trabalho era proteger os magos, que se preparavam para conjurar um grande feitiço.  

Eles eram os únicos capazes de subjugar o Dragão de Pedra.  

“Quanto temp—!!”  

As palavras do capitão foram interrompidas.  

Olhando para frente, ele viu seu próprio reflexo.  

Naquele momento, seu corpo inteiro estremeceu, e ele levou a mão para sua espada larga.  

“Preparem-se…!”  

Estrondo! Estrondo!  

Suas palavras foram acompanhadas por um tremor.  

A rocha tremeu, e o chão também.  

“Akh…!”  

“Ah!”  

Totalmente focados no grande feitiço que preparavam, muitos magos perderam o equilíbrio.  

“Protejam os magos…!”  

Os cavaleiros se mantiveram em formação.  

“Ele está despertando! Ergam seus escudos!”  

O Capitão Reijnder ergueu sua espada larga. Uma onda tremenda de mana jorrou de seu corpo.  

Estrondo—!  

O chão continuou a tremer.  

No caos, pedras caíram da grande rocha enquanto algo se projetava de suas costas.  

Swoosh, Swoosh—!  

Duas sombras distintas cobriram os cavaleiros.  

A atmosfera ao redor mudou.  

“Não entrem em pânico! Mantenham a formação…! Protejam os magos!”  

O Capitão Reijnder continuou a dar ordens.  

Enquanto isso, as cores ao redor começaram a desaparecer.  

O mundo ficou cinza.  

E o capitão sentiu seu coração apertar.  

O mesmo aconteceu com os cavaleiros, que engoliram em seco enquanto olhavam para cima.  

Swoosh, swoosh—!  

Uma forte ventania desceu sobre os cavaleiros.  

Naquele momento, o Capitão olhou para cima.  

Seus olhos encontraram os do Dragão.  

E então…  

Roooooooar—!  

O Dragão rugiu.  

Depois de trinta anos.  

Ele finalmente despertara.¹

***  

——Momentos antes.  

Ellnor.  

Eu estava em meio a vários túmulos, cercado por vegetação. Com o coração leve, sentei no chão.  

“Finalmente decidiu nos visitar…?”  

“Hur. Hur. Demorou para vir nos ver.”  

“Estava ficando chato ficar com esses três. Ainda bem que você veio.”  

Ainda conseguia ouvir as vozes de Daphne, Gork e Liam à distância.  

Não tinha como evitar, já que estava diante de seus túmulos. Eles estavam bem cuidados, com flores ao redor.  

Havia muitas, e até algumas cartas espalhadas.  

Fiquei tentado a abri-las, mas me controlei.  

Não era da minha conta.  

Em vez disso, foquei nos túmulos.  

“Nada mal.”  

Seus túmulos.  

Eram bem bonitos.  

“O que acha? O meu tem mais flores que o desse grandalhão.”  

“…. Não é uma competição.”  

“Pare.”  

Era estranho, mas os três não paravam de falar. A parte mais engraçada era que eles eram apenas frutos da minha imaginação.  

Não que importasse.  

Para mim, eles estavam vivos.  

Dentro de mim.  

“Haaa…”  

Inclinei-me para trás e olhei para o céu. O sol brilhava, iluminando o cemitério abaixo.  

Centenas de túmulos cercavam o local, cada um pertencente a um membro dos esquadrões de subjugação. Eu sabia o nome de cada um deles.  

De certa forma, porque conhecia todos, me senti um pouco sobrecarregado.  

“Por que não está dizendo nada?”  

“…..Vai continuar nos ignorando?”  

Abafando o barulho dos três, inclinei-me para trás e aproveitei o raro calor do sol.  

‘….Não posso dizer que foi uma viagem ruim.’  

Comecei a relembrar meu tempo aqui.  

Em particular, pensei no que ganhei.  

Embora meu tier não tenha subido muito, minha força geral estava muito maior do que antes.  

Além de ter evoluído [Mãos da Enfermidade] para [Presa da Pestilência], também ganhei muitas memórias.  

De Gork, Daphne, Liam, Aurelia e outros…  

Perdi a conta de quantas memórias vi.  

Vale ressaltar que cada membro dos esquadrões de subjugação estava entre os guerreiros mais fortes da cidade.  

Ou seja, eu tinha memórias de várias dezenas deles.  

Isso significava que tinha muito conhecimento não explorado que poderia ser útil no futuro.  

Ainda não as organizei, mas se o fizesse, tinha certeza de que poderia melhorar ainda mais minha força.  

E não era só isso.  

Embora muitas memórias fossem inúteis para mim, como as dos cavaleiros, elas não eram totalmente inutilizáveis.  

Bem, para mim eram.  

Mas isso não significava que fossem inúteis para outros.  

E se eu as ensinasse a outros? …Ou se pudesse vendê-las?  

Seria capaz disso…?  

Seria desrespeitoso com eles?  

“…..”  

Pensei por um momento e balancei a cabeça.  

Eles estavam mortos.  

Que sentido tinha de pensar nisso?  

De qualquer forma, ensinar técnicas que eu conhecia não era fácil, já que só tinha conhecimento superficial sobre elas.  

Mas, no mínimo, me ajudava a entender como outros lutavam.  

Se encontrasse alguém com estilo de luta similar, saberia como reagir, facilitando as coisas.  

“Haa…”  

Soltei um longo suspiro e fechei os olhos.  

Só para abri-los novamente ao olhar para o horizonte.  

“….Assustador.”  

Sentindo a energia vinda de longe, estremeci.  

“Começou.”  

A luta contra o Dragão de Pedra.  

Percebi de longe que não era uma luta em que eu poderia participar.  

Talvez um dia, mas não agora.  

“É uma pena.”  

Pensei no osso do Dragão.  

Certamente me ajudaria muito.  

Infelizmente, não tinha como matar o Dragão.  

O mesmo valia para os Lobos do Inferno.  

Ainda assim, estava satisfeito com meus ganhos.  

Só tinha mais quatro ossos que poderia integrar.  

Precisava ter cuidado com o que escolher.  

Principalmente porque não poderia remover um osso depois de integrá-lo. Uma vez integrado, era isso. Não havia volta.  

Swoosh—!  

Sentindo a brisa, alisei o cabelo e me levantei.  

Era hora de voltar.  

De pé, olhei para o horizonte. Lá, vi Daphne e os outros acenando para mim.  

“Já vai embora?”  

Dessa vez, eu balancei a cabeça.  

“O quê?! Você acabou de chegar!”  

“Nem sequer conversou conosco!”  

Os três me encararam, e eu ri baixinho.  

“…..Até a próxima.”  

“Tsc, tanto faz.”  

“Mas não quebre sua promessa. É muito solitário aqui.”  

“Claro.”  

Sorri e, no momento seguinte, eles desapareceram.  

Exceto por uma única figura à distância.  

Com cabelo loiro curto e olhos azuis, ela estava sentada em uma lápide negra. Parecia jovem. Uns 14 anos.  

Com as pernas balançando, ela olhou para cima.  

Encontrando meu olhar, ergueu a mão e acenou.  

No momento seguinte, ela também desapareceu.  

“…..”  

Assim, me vi sozinho no cemitério.  

Contemplei a cena e fechei os olhos.  

Sem olhar para trás, voltei para a cidade.  

Essa jornada.  

…..Também chegou ao fim para mim.

1. Não ter acabado o capítulo aqui foi a maior mentira Entrail[↩]