Capítulo 145: Sob o luar [1]  

Minha mente ficou em branco temporariamente com o anúncio.  

“A demonstração será entre os dois melhores cadetes do ano. Será uma luta que demonstrará o nível geral de habilidade de nossos melhores cadetes e algo que será assistido pelos principais executivos das quinze guildas.”  

Pela forma como ele falou, parecia estar dando a entender que era algo importante. Provavelmente era, mas…  

“…..É obrigatório?”  

Eu soltei a pergunta de repente.  

Os olhares de todos na sala se voltaram para mim.  

“Obrigatório?”  

O professor Hollowe me olhou com uma expressão estranha. Parecia estar entendendo o que eu ia dizer em seguida.  

“Bem, eu não diria que é obrigatório. Entretan—”  

“Eu desisto.”  

“…..”  

A sala ficou em silêncio.  

Sentindo os olhares de todos, eu encolhi os ombros. O quê? Eles realmente esperavam que eu aceitasse esse pedido absurdo?  

Primeiro, eu poderia lutar com o Leon quando quisesse. Ele era meu cavaleiro.  

Segundo, eu ainda não estava no mesmo nível que ele. Resumindo, eu não tinha confiança para vencê-lo.  

Como também não ganharia nada com isso, não via motivo para aceitar.  

“Espere, Julien. Não aja impulsivamente. Deixe-me terminar de falar.”  

“…..”  

Recostei-me na cadeira e permiti que ele continuasse.  

No entanto, minha decisão já estava tomada.  

Eu não ia aceitar a oferta. E se tentassem me forçar, eu simplesmente desistiria.  

“É, então…”  

O professor massageou a testa. Muito provavelmente, estava com dor de cabeça. Eu até me senti um pouco mal por ele, mas no momento eu estava com uma dor de cabeça maior.  

“…Esta é uma grande oportunidade para você cair nas graças de uma Guilda. Não só será benéfico para o draft que está por vir, mas também ajudará a convencê-los a lhe dar um ótimo contrato no seu ano de estreia.”  

“E?”  

“Se fizer isso, você aumentará seu valor no draft, o que por sua vez lhe garantirá um acordo melhor no futuro. Estamos falando de muito dinheiro.”  

“Entendo…”  

Mais um motivo para eu recusar a oferta.  

Se eu perdesse, o que era extremamente provável, meu valor despencaria e a reputação que eu construí até agora iria por água abaixo.  

Todo o meu trabalho duro.  

Acabado.  

Assim, sem mais.  

‘Que se dane.’  

“Ainda assim, não.”  

“…..”  

O professor Hollowe ficou em silêncio, me encarando. Parecia estar tentando avaliar minhas verdadeiras intenções, mas eu não cedi.  

“Vou perguntar de novo. Pode pensar nisso com cuidado? Há uma chance de você acabar ficando mal visto pelas guildas e—”  

“Então eu simplesmente entro para a Torre Mágica.”  

Não havia nenhuma regra dizendo que eu precisava me juntar a uma Guilda.  

Na verdade, era possível criar uma Guilda?  

‘Hmm, talvez não. As guildas existem, para começar, porque têm controle sobre uma Fenda Espelhada.’  

Não havia muitas Fendas Espelhadas para começo de conversa.  

Se eu quisesse criar uma Guilda, precisaria de uma Fenda Espelhada não reivindicada, e…  

‘…..’  

Meus pensamentos pararam aí.  

Demorou alguns segundos para eles voltarem.  

Quando voltaram, senti meu coração acelerar.  

Seria possível…?  

“Tudo bem, não vou forçar você.”  

A voz do professor Hollowe me tirou dos meus pensamentos.  

No final, com um suspiro, ele virou o rosto para olhar para outra pessoa.  

“Aoife, que tal você?”  

Em terceiro lugar, Aoife era a próxima da lista.  

“….”  

Ela não respondeu imediatamente. Em vez disso, virou o rosto para me olhar. Suas pupilas douradas se fixaram em mim por um breve momento antes de desviarem.  

“Também não estou interessada.”  

Sua voz fria ecoou pela sala de aula.  

“…..Pergunte a outra pessoa.”  

“Você também…?”  

O professor Hollowe massageou a cabeça novamente. Parecia que a dor de cabeça estava mesmo forte.  

Não que ele não entendesse a escolha de Aoife.  

Eu também conseguia entender o porquê.  

…..Ela não tinha nada a ganhar com a demonstração. As Guildas. O que importava para ela? Ela já era familiarizada com a maioria dos líderes. Além disso, ela também era da família Megrail.  

Ela tinha acesso à sua própria Fenda Espelhada privada.  

Aoife não precisava impressioná-los.  

“Evelyn?”  

“…..Eu posso.”  

Finalmente, alguém aceitou, e o professor finalmente relaxou, murmurando baixinho para si mesmo: ‘Graças a Deus’.  

A seleção terminou ali.  

Exausto, o professor olhou ao redor da sala antes de apontar para os papéis.  

“Escolham a Guilda em que desejam ingressar para a experiência e devolvam a folha até amanhã. Vou informar a instalação sobre a luta.”  

Antes de sair, ele lançou um olhar em minha direção antes de balançar a cabeça.  

Ao sair, suas costas pareciam bastante solitárias. Como as de um homem que diz ‘Estou em casa, querida’ para um pote de mel.  

Eu me senti um pouco mal, mas não havia nada para eu ganhar e muito a perder.  

Dito isso,  

‘…..Será possível?’  

Minha mente não conseguia deixar de voltar para o pensamento que tive anteriormente.  

Falando realisticamente, não era possível.  

Eu tinha mais chances de receber o osso de dragão. Mesmo assim, minha mente não conseguia deixar de considerar aquela possibilidade.  

Era loucura.  

Eu era louco.  

“Haaa….”  

Soltei um longo suspiro e recostei a cabeça.  

“…Não custa perguntar.”  

***  

—Quanto tempo você vai ficar aí? Já faz mais de uma semana, Inquisidor.  

“Ah, é, me dá um segundo…”  

Movendo alguns arquivos sobre a grande mesa de seu escritório temporário, Hollowe abriu uma gaveta e enfiou os documentos lá dentro. Então, relaxando o lábio superior, um lápis caiu sobre a mesa com um pequeno ‘Tac’.  

“Você estava dizendo….?”  

—…..  

Houve um breve silêncio antes que a voz finalmente retornasse.  

—Quando você volta? Você está em Haven há mais de uma semana. Sua investigação não deveria levar tanto tempo. Precisamos de você aqui.  

“Ah, isso…”  

Hollowe olhou ao redor antes de coçar o lado do rosto.  

Com um sorriso amargo, ele cutucou o lápis sobre a mesa.  

“Acho que posso precisar de mais tempo.”  

—Mais tempo?  

“Sim, ainda preciso de mais tempo. Não consegui descobrir muita coisa na última semana, considerando que estava fora da Academia, mas, se me der mais tempo, sinto que vou conseguir encontrar algo.”  

—…Quão certo você está disso?  

A voz falou após um breve momento de silêncio.  

Hollowe não respondeu imediatamente.  

Em vez disso, seu olhar pairou sobre uma pequena moldura com foto em sua mesa. Além da pequena lâmpada que iluminava fracamente o ambiente, era a única decoração em sua mesa.  

Olhando para a foto, os olhos de Hollowe mudaram levemente.  

Então, relembrando tudo o que sabia, ele se recostou na cadeira antes de responder.  

“Cerca de noventa por cento.”  

—Noventa por cento?  

“Noventa por cento.”  

Hollowe repetiu secamente.  

***  

“…..Você quer falar sobre sua recompensa?”  

“Sim.”  

Eu me sentei do outro lado de Delilah. Assim que a aula terminou, fui para o escritório dela. Sendo seu assistente, não demorei nada para chegar lá, já que ninguém obstruiu meu caminho.  

“Eu não disse que ainda estamos discutindo isso?  

“Eu sei.”  

“Então…?”  

Revirei meu bolso antes de deslizar algo sobre a mesa.  

“…”  

O olhar de Delilah alternou entre ‘aquilo’ e eu.  

“…”  

O silêncio continuou.  

Eu deslizei aquilo mais para perto dela.  

“…”  

Ela não cedeu.  

A barra sim.  

“…”  

E então,  

Colocando a mão sobre ela, ela se recostou na cadeira.  

“Você está tentando me subornar?”  

Croc~  

“Eu não ousaria.”  

“…..É bom que você… nhac… saiba. Eu não sou alguém que seria… nhac… subornado tão facilmente.”  

“Eu entendo.”  

“Para subornar… nhac… alguém como eu, você precisaria de muito mais do que… nhac—”  

Eu deslizei outra para ela.  

“…..”  

Os lábios de Delilah se apertaram.  

Croc~  

“…O que você quer?”  

Aí está.  

“Não é nada de mais, para ser honesto.”  

Foi minha vez de me recostar na cadeira. Bem, para ser sincero, não havia como eu suborná-la.  

Isso era só eu amenizando o clima antes de fazer meu pedido.  

Encarando-a, hesitei por um momento antes de falar:  

“Sobre a recompensa, é possível eu pedir algo?”  

“Hm?”  

Delilah piscou os olhos e afastou a barra do rosto.  

“Você quer pedir algo?”  

“Sim, isso é possível?”  

“…..”  

Seus olhos negros como tinta se fixaram em mim e suas costas se endireitaram. Colocando a barra de lado, ela limpou o dedo no embrulho vazio da barra anterior antes de sutilmente colocá-lo na boca.  

“O que você quer pedir?”  

“Bem…”  

Eu cocei a ponta do nariz.  

Eu meio que já sabia a resposta para o meu pedido, mas mesmo assim perguntei.  

“A Fenda Espelhada em Ellnor. Posso ter os direitos sobre ela?”  

“…..”  

Como esperado. No momento em que revelei meu pedido, os olhos de Delilah se arregalaram. Era a primeira vez que eu via tal reação dela, e demorei um momento para me recompor.  

Quando me recompus, o rosto dela ainda não havia mudado.  

“Você, você tem ideia do quão grande é o seu pedido?”  

“…Eu tenho.”  

Embora a Dimensão Espelhada fosse perigosa, também era uma terra cheia de oportunidades. Os monstros lá dentro. Não só alguns soltavam ossos que valiam uma quantia absurda de dinheiro, mas sua pele e ossos comuns também valiam muito.  

Resumindo, era uma mina de ouro.  

Além disso, a Fenda Espelhada precisava ser contida.  

Era preciso força suficiente para impedir que ela se expandisse.  

A curto prazo, o que eu estava pedindo era simplesmente impossível. Eu entendia isso, mas não era como se eu não tivesse pensado a respeito.  

“Eu não estou pedindo para que ela seja totalmente entregue a mim. Eu entendo que é impossível dada minha força atual. No entanto, gostaria de ser considerado como um dos candidatos para a Fenda.”  

Dentro do absurdo do meu pedido, eu não sentia que a possibilidade de ele ser aceito fosse zero.  

O motivo para isso era simples,  

‘Atlas Megrail.’  

Uma pessoa como ele existia.  

…E se eu o usasse para conseguir essa oportunidade?  

Talvez, criando um posto avançado para o Céu Invertido. Não só isso me permitiria ficar mais próximo da organização, mas também ajudaria a monitorá-los melhor.  

Como se percebesse algo, Delilah ficou quieta.  

“…..”  

Toca. Toca. Toca.  

Seus dedos finos tamborilaram sobre a mesa de madeira.  

Então, fechando os olhos, ela acenou com a cabeça.  

“Você provavelmente será rejeitado, mas eu vou informá-los.”  

“…É tudo o que peço.”  

Eu me levantei da cadeira e acenei.  

Então, colocando outra barra na mesa sob seu olhar, saí da sala.  

“Haaa…”  

No momento em que saí, senti um grande peso sendo tirado dos meus ombros.  

As chances do meu pedido ser rejeitado eram altas, no entanto, se eu apresentasse minhas cartas corretamente, a possibilidade não era inexistente.  

‘Eu só preciso convencê-lo.’  

Atlas.  

“Hmm, já está escuro?”  

Saindo do prédio, olhei para o céu. Estava escuro, e a lua pendia no céu, abençoando o campus com seu brilho fraco.  

O entorno estava quieto e sereno. Uma ocorrência rara nas movimentadas e barulhentas ruas do campus.  

Em um ambiente tão calmo, voltei para os dormitórios.  

Eu estava cansado e precisava recuperar o sono.  

“Huam. Vou estudar um pouco antes de ir para a cama.”  

Pelo menos uma hora.  

Sempre foi uma boa ideia estudar logo antes de dormir, já que foi comprovado que estudar antes de dormir ajuda o cérebro a aprender coisas novas.  

Nada pesado, apenas uma revisão do material das aulas.  

“….Será que ela está fazendo isso?”  

Eu também tinha ensinado Kiera a fazer isso. Ela parecia bem animada com sua nota.  

Eu tinha observado.  

“Hm?”  

Assim que cheguei nos dormitórios, parei e levantei a cabeça.  

“…..”  

Uma figura estava sentada nas escadas que levavam ao prédio.  

Segurando uma espada de madeira, eu reconheci a figura imediatamente.  

Era Leon.  

“…..Aquela luta que você rejeitou. Quer a fazer em particular?”