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    O orbe branco no céu nos encarava lá do alto.  

    Olhei para ele por alguns segundos antes de baixar a cabeça e perceber que meus arredores haviam adquirido um tom sutil de vermelho.  

    ‘Quando isso…?’  

    “Hooo.”  

    Cada respiração começou a doer.  

    Acompanhada por uma dor latejante no fundo da garganta.  

    Olhando ao redor, os outros cadetes enfrentavam dificuldades similares. Com olhos arregalados de pânico e mãos agarrando as próprias gargantas.  

    “A região Amarela é perigosa não apenas pelas bestas de nível Terror presentes em toda parte, mas também pelo ambiente hostil. Isso aqui é apenas um gostinho do calor escaldante da Sombra Carmesim.”  

    No fundo, a voz do instrutor ecoou.  

    “Não há local ou hora específicos para a Sombra Carmesim. Ela simplesmente acontece aleatoriamente, carbonizando tudo sobre o qual seu véu cai.”  

    O calor se intensificou, e a dor no fundo da garganta também.  

    Um calor incômodo começou a subir pelas minhas narinas a cada respiração. O suficiente para me fazer pensar que estava inalando fumaça.  

    “…..Sua mente começa a embaçar por causa do calor.”  

    De fato, olhando ao redor, o mundo começou a inclinar.  

    Tentei dar um passo à frente, mas meu corpo se recusou a se mover.  

    Pinga..! Pinga!  

    O suor começou a escorrer de cada poro do meu corpo.  

    “…..Seu corpo começa a perder água. A sede vai acabar surgindo.”  

    “Huep.”  

    Engoli minha saliva, só para perceber que minha boca estava completamente seca.  

    ‘Á-gua.’  

    Havia apenas um minuto desde que o ambiente mudara, e ainda assim parecia que eu estava ali há horas.  

    Para piorar, foi o tempo suficiente para eu ficar completamente sedento.  

    “Cada segundo que passa parece mais e mais agonizante. Água. Água. Água. É tudo em que você vai começar a pensar.”  

    As palavras do instrutor pareciam descrever exatamente os sintomas que eu sentia.  

    A sede começava a corroer minha mente.  

    ‘Água.’  

    Só conseguia pensar em uma coisa.  

    ‘Água… Preciso de água.’  

    “Você procura por água, mas não tem água.”  

    Quanto tempo havia passado?  

    Cada segundo que eu passava ali era agonizante.  

    A pouca água em meu corpo continuava a diminuir a cada instante, e minha boca estava completamente seca agora.  

    ‘Á-gua…’  

    “Há uma razão para isso se chamar Sombra Carmesim. Lançando um brilho carmesim sobre os arredores, tudo sob ela resseca.”  

    Quase dava para ouvir o tom de diversão na voz do instrutor ao fundo.  

    Olhando em volta, avistei uma cabeça familiar à distância. Era Evelyn. Ela estava sentada no chão com as pernas cruzadas.  

    Olhei para sua expressão e, como se sentisse meu olhar, ela abriu os olhos para me encarar.  

    Nossos olhares se encontraram por um breve momento antes que ela os fechasse novamente.  

    Pensei que ela deixaria as coisas por ali, mas pouco depois, sua voz ecoou:  

    “Circule sua mana.”  

    Foi tudo o que ela disse.  

    Fiquei confuso no início, mas segui suas palavras e canalizei a mana dentro do meu corpo.  

    “Ah.”  

    Uma sensação fresca me envolveu.  

    O calor que ardia em minha pele desapareceu.  

    Naquele momento, uma onda de alívio me invadiu.  

    Tzzz~  

    Vapor começou a subir do meu corpo, e o suor que se acumulara em mim sumiu.  

    “Haa….”  

    Embora ainda estivesse com sede, as coisas já não estavam tão ruins.  

    “Parece que alguns de vocês descobriram o truque para neutralizar a Sombra Carmesim.”  

    A voz do instrutor continuou a ecoar ao fundo. A diversão ainda estava presente.  

    “…Ao circular sua mana, você pode resfriar seu corpo. Impedindo que a sombra resseque seu corpo.”  

    Era como ele dissera. No momento em que canalizei minha mana, meu corpo esfriou e não sofri mais sob a sombra.  

    Ou assim pensei,  

    “Mas por quanto tempo você consegue manter sua mana? Você aguenta por vários dias? ….Ou consegue sustentá-la até encontrar uma saída da sombra?”  

    Ouvindo suas palavras, meus pensamentos pausaram.  

    Fechei os olhos para calcular a quantidade de mana em meu corpo e o quanto estava sendo consumida, e minha expressão ficou sombria logo depois.  

    ‘Não está bom.’  

    Nesse ritmo, eu não duraria mais de uma hora.  

    Seria o suficiente?  

    “Bem, já chega.”  

    O cenário ao redor mudou, e estávamos de volta na sala branca. Parei de usar minha mana e pude respirar fundo.  

    “Água.”  

    Ainda estava com sede.  

    Felizmente, o instrutor estava preparado e nos entregou várias cantilenas metálicas.  

    “Peguem e se hidratem.”  

    Pegando a minha, destampei e comecei a beber. Embora fosse estranho usarem cantilenas para armazenar água, eu não ligava.  

    A única coisa em minha mente era a água.  

    Olhando em volta, não era o único que bebia avidamente. O mesmo valia para os outros, exceto Evelyn, que começou a cheirar a cantilena. No momento em que o fez, tive um mau pressentimento.  

    …..E eu estava certo.  

    “A água ali vem do Lago Osmos. Localizado não muito longe daqui, e onde está a missão de resgate. Não é exatamente venenosa, mas logo você vai se sentir mal. A única forma de se livrar dos efeitos é circulando sua mana.”  

    Assim que suas palavras terminaram, o mundo começou a girar.  

    Segurando a cantilena, tive vontade de jogá-la no instrutor, que continuava sorrindo o tempo todo.  

    Gole—  

    No final, dando os últimos goles, sentei no chão e canalizei minha mana.  

    “Vocês podem me odiar por isso, mas é necessário. Embora a água do lago não seja boa para vocês, ao bebê-la, vocês ganharão certa imunidade a ela. Mais tarde, quando entrarmos nas águas, se acidentalmente engolirem água, não sofrerão como estão sofrendo agora.”  

    Suas palavras faziam sentido.  

    Não que eu tivesse tempo para me concentrar nelas.  

    “Uekh…!”  

    Meu estômago começou a revirar, e uma náusea intensa me tomou. Senti algo subir do estômago e fiz o possível para segurar.  

    Foi difícil, mas não impossível.  

    Esse processo continuou por meia hora, até que, finalmente, os efeitos colaterais começaram a desaparecer.  

    “Ótimo, parece que a maioria de vocês terminou.”  

    Inclinado na parede, o instrutor nos olhou.  

    “….Não foi tão difícil, certo?”  

    Por algum motivo, quanto mais tempo eu passava com ele, menos simpático ele parecia.  

    ‘O cadete que Leon me avisou… não é ele, certo…?’  

    Não foi tão difícil, o quê?  

    Esqueça a dor de cabeça e a náusea, por meia hora eu tive que aguentar cólicas estomacais enquanto me segurava para não vomitar.  

    Ele só estava brincando com a gente agora.  

    “Não me olhem assim. Vocês podem me odiar agora, mas não vão me odiar mais tarde, durante a missão de resgate. Dito isso…”  

    Ele pausou, seus olhos escaneando todos nós.  

    Havia um total de dez cadetes na sala. Os únicos que eu conhecia eram Evelyn e Luxon. Os outros eram de classes diferentes.  

    Por fim, o instrutor sorriu satisfeito.  

    “…Vocês foram bem. Como esperado de cadetes de Haven. Certo, vamos para a próxima fase dos testes.”  

    Apertando a mão na parede, circuitos roxos mais uma vez envolveram o espaço branco. Logo depois, o ambiente começou a mudar, e eu estremeci.  

    “I-isso…”  

    Estava repentinamente gelado.  

    ***  

    O treinamento continuou pela maior parte do dia. As temperaturas continuaram a variar, indo de calor extremo a frio congelante. Também houve ilusões de outros ambientes que colocaram os cadetes sob pressão extrema.  

    Quando tudo acabou, todos estavam no chão encharcados de suor.  

    “Haaa… Haaa…”  

    O som pesado de suas respirações ecoava pela sala branca.  

    Deitada no chão, Evelyn encarava o teto sem expressão. Mal conseguia pensar no momento, e até respirar era doloroso.  

    Cada respiração parecia rasgar seus pulmões.  

    “Lamento dizer que esta foi a última das simulações. Vocês experienciaram tudo o que precisavam antes de sair da estação de suprimentos.”  

    Por um momento, Evelyn ouviu uma série de xingamentos vindos dos outros cadetes.  

    Todos direcionados ao instrutor, que agiu como se não tivesse ouvido nada. Virando a cabeça com dificuldade, seus olhos pausaram em uma figura específica.  

    Ele também estava deitado no chão, com a cabeça virada para o teto.  

    Assim como os outros, também parecia estar murmurando algo. Franziu os olhos, tentando ler seus lábios.  

    ‘Filho da pu—’  

    “Ora ora.”  

    Evelyn piscou várias vezes.  

    Certamente, ouvira errado.  

    Franziu os olhos novamente, tentando ler seus lábios de novo.  

    ‘Desgraçado do ca—’  

    Oh, não.  

    Evelyn não sabia como reagir.  

    Isso a pegou desprevenida.  

    No meio de seu torpor, a cabeça dele virou e seus olhares se encontraram. Evelyn sentiu todo o seu corpo ficar rígido no momento em que seus olhos se cruzaram.  

    Ela quis virar o rosto imediatamente, mas pensar nisso seria estranho.  

    Engolindo em seco, olhou para ele por alguns segundos antes de desviar o olhar.  

    O tempo todo, agiu de maneira que parecesse indiferente.  

    ‘….Foi suave, certo?’  

    Pelo menos, ela achou que sim.  

    No entanto, uma sombra logo cobriu a área onde estava, e seu coração se apertou.  

    Olhando para cima, os mesmos dois olhos que encontrara momentos antes agora a encaravam de cima.  

    “Sim…?”  

    “….”  

    Ele não respondeu imediatamente.  

    Em vez disso, olhou para ela por um breve momento antes de finalmente abrir a boca.  

    “Sobre antes…”  

    O coração de Evelyn apertou mais ainda.  

    ‘O que ele vai dizer? Vai falar daquela vez? O que eu faço? Como respondo? Leon disse que ele é uma pessoa diferente, mas não tem como eu vê-lo assim do nada. E se ele disser para nunca tocarmos no assunto? O qu—’  

    “Obrigado.”  

    “…..Uh?”  

    A mente de Evelyn travou.  

    Não sabia por quanto tempo, mas antes que percebesse, ele já havia ido embora. Virando a cabeça, encarou suas costas enquanto ele se afastava.  

    Seus pensamentos começaram a correr.  

    ‘Ele… me agradeceu? Ele…?’  

    Por quê?  

    E então, Evelyn se lembrou da interação com ele no início do treinamento, quando ela dissera para ele circular a mana.  

    “Ah.”  

    Aquilo fora apenas uma resposta no calor do momento. Tendo encontrado seu olhar, sentira-se constrangida em não dizer nada e soltara aquelas palavras.  

    Quem diria que ele a agradeceria por isso?  

    Era tão diferente do Julien que ela conhecia.  

    Apertando os lábios, Evelyn olhou para ele novamente. Um pensamento cruzou sua mente.  

    ‘Será que ele realmente mudou…?’

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