Índice de Capítulo

    O corredor era longo e silencioso.  

    Tak, Tak—  

    O único som que eu ouvia era o dos meus passos junto com os do guarda. Avançando, ainda não havia encontrado outros guardas.  

    Claro, isso porque eu tinha acabado de sair.  

    Mais cedo ou mais tarde, encontraria um grupo.  

    ‘Espero que isso funcione.’  

    Caso contrário, eu realmente não saberia o que fazer.  

    “….”  

    Acalmando meus nervos, olhei para o guarda ao meu lado. Ele já estava morto, e à primeira vista parecia normal, exceto pelos olhos fechados.  

    Consegui esconder isso abaixando seu chapéu. Claro, seria inútil se alguém prestasse atenção.  

    Contraindo meu dedo, ele se moveu para frente.  

    Era estranho, mas parecia que meus sentidos estavam ficando dormentes.  

    Normalmente, eu me sentiria mais ao matar alguém. Embora estivesse me acostumando com a ideia, ainda não era algo que eu aceitasse totalmente.  

    E ainda assim,  

    ‘Matei tantas pessoas sem pestanejar.’  

    Não senti nada ao matá-los.  

    Nenhuma culpa, nenhuma raiva, nada.  

    …..Era quase preocupante.  

    Embora esse fosse um estágio que eu quisesse alcançar em algum momento, a velocidade com que cheguei aqui me preocupava.  

    Era antinatural.  

    Quase artificial.  

    ‘Minha percepção da morte ficou insensível por causa da luta com Leon e da primeira folha?’  

    Naquela época, lembrava de morrer repetidamente.  

    Seria essa a razão da mudança?  

    “Não.”  

    Por fim, balancei a cabeça.  

    Não, não era isso.  

    ‘…..Começou quando entrei na Dimensão Espelhada.’  

    Ou mais especificamente, quando entrei na estação de suprimentos e as raízes apareceram. Foi quando a mudança provavelmente aconteceu.  

    Respirei nervosamente.  

    Mais uma vez, lembrei do pouco tempo que tinha.  

    Precisava sair.  

    Olhando para frente, meus dedos se contraíram e acelerei o passo.  

    O guarda seguiu ao meu lado.  

    Ao mesmo tempo, fechei os olhos e espalhei fios pelo ambiente. Meu peito tremia com o gasto de mana, e meu rosto ficou pálido.  

    Resistindo à tensão, baixei a cabeça e segui um fio específico que levava ao caminho desejado.  

    Tudo corria bem até que,  

    “Você está seguindo o fio?”  

    “Sim, ele leva por aqui! Rápido!”  

    “Há tantos deles.”  

    Ouvi vozes vindo à frente.  

    Inquietação surgiu em meu peito ao ouvi-las. Franzindo os lábios, baixei a cabeça e acelerei, seguindo o fio que havia colocado.  

    Nossos caminhos logo se cruzariam.  

    Minha única esperança era que passassem direto por mim.  

    “Uh?”  

    Mas é claro, por que simplesmente passariam?  

    Não dei a iniciativa e falei primeiro.  

    “Estou seguindo este fio. Vim da enfermaria.”  

    Apontei para outro fio.  

    “Ninguém seguiu aquele ali. Vocês deveriam ir por lá.”  

    “Entendido!”  

    “Sim…!”  

    Os guardas saíram logo em seguida.  

    Sentindo seus passos se afastando, finalmente soltei um suspiro de alívio.  

    “….Funcionou.”  

    Notando a urgência em meu tom, eles saíram antes de me observarem direito.  

    E tudo graças ao corpo ao meu lado. Como o alvo era apenas uma pessoa, tinham menos motivos para me suspeitar, ainda mais vestido como guarda.  

    Além disso, como o diálogo foi breve, não notaram os fios dentro do corpo do guarda.  

    Não que fosse fácil detectá-los, já que eram finos e eu estava melhorando no controle.  

    Mas isso não garantia nada.  

    Se tivessem parado para olhar, talvez notassem algo.  

    Claro, só se vissem meu rosto primeiro.  

    Provavelmente, era o maior problema.  

    Afinal, eu tinha um rosto bem memorável.  

    Era um pecado ser tão bonito.  

    Pelo menos, nessas situações.  

    “Huu.”  

    Respirando fundo, segui o fio que havia colocado.  

    Pelo caminho, passei por vários guardas, mas como antes, ninguém notou nada.  

    “….Quase lá.”  

    Meus passos desaceleraram ao chegar em um certo corredor.  

    Para escapar, precisava entrar no depósito.  

    Infelizmente, a área era vigiada.  

    Enquanto os mais fortes estavam na saída principal, os guardas do depósito não eram fracos.  

    E não era o único problema.  

    Sem a chave, não daria para entrar. Felizmente, eu tinha uma, graças a Javier.  

    Parando na intersecção que levava ao depósito, respirei fundo.  

    O caminho à minha frente se dividia. À direita, o corredor do depósito; à esquerda, outra área.  

    Precisava ir para a direita.  

    “Haa… Haa…”  

    Minha respiração estava um pouco ofegante.  

    Enquanto me recuperava, espreitei o canto.  

    “Um, dois, três…”  

    Ao lado do corredor, havia uma grande porta metálica com vários guardas.  

    Pela aura que emitiam, todos pareciam mais fortes que eu.  

    “Merda.”  

    Amaldiçoei baixinho.  

    Isso seria mais difícil do que esperava.  

    Mas eu tinha um plano.  

    Olhando para o guarda ao meu lado, respirei por alguns minutos antes de contrair meu dedo.  

    O guarda se moveu, passando o canto.  

    “Quem vai lá?!”  

    “…..Quem é você? Identifique-se.”  

    Assim que passou o canto, os guardas ficaram alertas. Controlando o guarda, fiz ele correr para o corredor esquerdo.  

    “Ei!”  

    “Pare…!”  

    Assim que ouvi os gritos, também saí do canto.  

    “Ah!?”  

    “O que…!”  

    Ao me ver, os guardas pareceram surpresos e pararam.  

    Novamente, tomei a iniciativa.  

    “R-rápido….! Haa… Haa… Ele está fugindo… Haaa… É ele!”  

    Enquanto falava, apoiei as mãos nos joelhos e contraí os dedos para controlar o corpo, que já havia desaparecido.  

    “O que está acontecendo?!”  

    “Ele… culpado… Haa… fugiu!”  

    Os guardas foram rápidos.  

    Assim que expliquei, saíram correndo.  

    Enquanto observava suas costas, continuei controlando o corpo. Precisava ganhar tempo para ele se afastar.  

    Os guardas eram mais rápidos que um corpo controlado por fios. Precisava do máximo de tempo possível.  

    Não sabia quanto tempo teria.  

    Provavelmente pouco, pois quando chegassem perto, veriam os fios.  

    ‘Não, talvez pensem que ele é o culpado.’  

    “Haa… Haaa…”  

    Encostado na parede, outro guarda se aproximou.  

    Diferente dos outros, ele ficou para trás.  

    “Você deve estar exausto.”  

    “Haaa… haaa…”  

    Não respondi, apenas respirei fundo.  

    Era minha forma de dizer que sim.  

    “Pode me dizer o que aconteceu? Vimos fios por toda parte, mas por ordens, não pudemos nos mover.”  

    “Isto…”  

    Respirei fundo novamente, mostrando cansaço.  

    E eu estava, pois ainda controlava o corpo.  

    Mesmo assim, com fios espalhados, não me preocupei em ele notar que vinham de mim.  

    Com a cabeça baixa, passei algumas informações.  

    “Eu mesmo não sei. Estava com meu parceiro quando notei algo errado. Quando perguntei, ele fugiu. Parece que se disfarçou de guarda. Felizmente, percebi a tempo.”  

    “….Hmm.”  

    O guarda franziu a testa.  

    “Esse cadete é mais esperto do que imaginei.”  

    “Né…? Mesmo perseguindo, mal consegui acompanhar… Haaa… haaa… Ouvi dizer que ele era o melhor cadete de Haven… Haa… Faz sentido.”  

    “Você fez bem.”  

    Apoiando a mão no meu ombro, o guarda tentou me confortar.  

    Toquei brevemente seu pulso.  

    “Consegue se levantar?”  

    “Acho que sim.”  

    Apoiando-me na parede, consegui ficar de pé.  

    Acenando, o guarda voltou para a porta do depósito.  

    “Ajude-me a vigiar o depósito.”  

    “Tem… tem água?”  

    “Água?”  

    “Haaa… sim, estou com sede.”  

    Franzindo a testa, o guarda olhou para trás.  

    “Tem no depósito.”  

    Pegando um chaveiro, ele abriu a porta, revelando um enorme armazém.  

    “Pegue o que quiser. Bata quando terminar.”  

    “O-obrigado…”  

    Agradecendo, entrei.  

    Senti o olhar do guarda em minhas costas.  

    “Vou fechar a porta. Bata quando acabar.”  

    “Claro.”  

    Clank—  

    A porta se fechou atrás de mim.  

    Encarei-a por alguns segundos antes de olhar para meu antebraço.  

    ‘Fui descoberto.’  

    Isso era óbvio.  

    Ao me fazer entrar, o guarda percebeu que os fios vinham de mim.  

    Eles não eram burros.  

    Sabiam que algo estava errado.  

    Em alguns minutos, os outros voltariam.  

    De certa forma, a situação ficou mais desesperadora. Mas eu não estava preocupado.  

    Já havia previsto isso.  

    Por enquanto, tudo ainda estava como eu queria.  

    “Sim, no final deu certo.”  

    Mas ainda não acabou.  

    Entrar no depósito era o primeiro passo. Olhando ao redor, havia centenas de prateleiras com dezenas de caixas.  

    ….Uma pessoa normal levaria dias para revistar tudo.  

    Era o que os guardas pensavam.  

    Infelizmente, eu sabia.  

    Pelas memórias dos guardas e de Javier, eu sabia exatamente onde ir. Seguindo uma fileira, parei em uma seção.  

    “Deve estar aqui.”  

    Parando em frente a uma caixa, passei o dedo nela.  

    Ao abri-la, olhei para dentro.  

    “….”  

    Fiquei em silêncio por alguns segundos antes de sorrir.  

    “….Te encontrei.”  

    Meu bilhete de saída.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (7 votos)

    Nota