Capítulo 181: Silêncio [6]

A estação de emergência não estava longe de onde eu estava. Praticamente podia vê-la de onde ficava.  

Era uma espiral alta e negra que se torcia em direção ao céu, contrastando fortemente com os prédios ao redor. Sua superfície escura e brilhante refletia a luz vermelha fraca do Véu Carmesim, fazendo-a parecer um fragmento de obsidiana perfurando o céu.  

Era difícil não notar um prédio daquele.  

Correndo com todas as minhas forças, olhei para trás e vi vários devoradores olhando em minha direção. Apertei os lábios e continuei correndo.  

Estrondo—!

“…!”

O prédio ao meu lado se esfacelou, e uma mão se esticou em minha direção.  

Meu coração quase saltou do peito ao ver a mão. Ela era rápida, e eu mal consegui desviar, abaixando-me.  

“Hieeeek—!”

Saindo do prédio, um devorador torceu a cabeça no ar, tentando sentir qualquer ruído.  

Ao mesmo tempo, ouvi o som de vários passos apressados vindo em minha direção. Provavelmente, os devoradores haviam sido atraídos pelo barulho.  

Mordi os lábios e mexi no meu bolso. Só tinha uma bomba de mana sobrando.  

Não podia simplesmente jogá-la sem cuidado.  

…Precisava usá-la bem. Depois de pensar um pouco, tirei a mão do bolso e recuei, mantendo os olhos no devorador que continuava a inclinar a cabeça em busca de sons.  

Os lamentos dos outros devoradores se aproximavam, mas mantive os lábios cerrados e o coração firme.  

“….”

No silêncio, continuei a recuar.  

Cada parte do meu corpo estava tensa.  

Passando a língua nos lábios, continuei a me afastar. O silêncio dominava completamente o ambiente. Segurando meu sapato, enrolei os fios nele antes de finalmente jogá-lo para longe.  

Baque.

Sem olhar para trás, corri em direção à estação de emergência.  

Estava prestes a puxar o fio de volta quando senti uma dor no peito.  

Algo escorreu do meu nariz. Limpando, vi que era sangue, e foi então que percebi que meu fio havia se rompido.  

…Assim, meu sapato se foi.  

‘Eu realmente vou pedir reembolso depois disso!’

Eu gostava muito daquele sapato.  

Virando a esquina da rua, finalmente consegui avistar a entrada da espiral.  

Mas logo meus passos pararam.  

“….”  

Fiquei em silêncio, recuperando o fôlego.  

‘…Isso é problemático.’

Parados bem em frente à entrada da espiral, havia mais de uma dúzia de devoradores, todos olhando ao redor com cabeças espasmódicas.  

Mexi na bomba de mana no meu bolso.  

‘Ainda bem que não a desperdicei.’

As coisas teriam sido muito piores caso contrário. Concentrando minha mana na bomba, virei para jogá-la quando parei.  

“…!”

Um rosto apareceu bem na minha frente, e eu estremeci. Com os olhos fixos diretamente em mim, seu sorriso grotesco se alargou.  

“Haaaa…”

Meus pés amorteceram, e seu hálito quente caiu sobre mim.  

…Tentei ao máximo manter meu coração calmo.  

Mas era difícil.  

Muito difícil.  

Especialmente quando sua boca se abriu, revelando uma língua serpentina e grotesca que se esticou como um tentáculo. Ela se prolongou de maneira impossível, deslizando pelo ar lenta e firmemente, indo direto para onde eu estava.  

“….”

Engolindo minha saliva, joguei a bomba de mana na boca do devorador e pulei para trás.  

Baque.

Mais de uma dúzia de olhares se voltaram para mim naquele momento, mas não liguei. Virei-me para eles e corri diretamente em sua direção.  

Toc. Toc.  

Ouvi o som dos meus passos ecoando no silêncio e senti minha garganta se fechar.  

Os devoradores à minha frente abriram a boca para gritar, mas, antes que pudessem, o som de uma explosão ressoou.  

Estrondo—! 

Suas cabeças se contorceram, e eles correram para frente em velocidades incríveis.  

Eu não parei.  

Continuei correndo enquanto eles vinham direto para mim.  

Sentia seus olhares em mim enquanto se aproximavam, e meu coração batia forte.  

Não deixei que isso me afetasse e continuei.  

Três metros…  

Dois metros…  

Um metro…  

Agora estávamos a apenas um metro de distância. Suas bocas se abriram, revelando dentes afiados, e eu me abaixei.  

“Hieeek—!”  

Os devoradores morderam o ar antes de correr para frente, me ignorando completamente.  

Sem olhar para trás, levantei-me do chão e corri para a estação de emergência.  

A porta estava quebrada, então não precisei de chaves para entrar.  

“….”

Diminuindo o passo, peguei um pequeno orbe de minhas costas e toquei nele. A luz apareceu imediatamente, iluminando o ambiente.  

Segurando-o à minha frente, pude ver o interior do prédio.  

“….” 

Tudo estava uma bagunça. Estilhaços de vidro quebrado cobriam o chão, brilhando ameaçadoramente na luz vermelha fraca, enquanto papéis rasgados estavam espalhados, tremulando levemente com o calor.  

Caminhando para as escadas, segurei no corrimão e dei o primeiro passo.  

Creek…! 

Mas, no momento em que o fiz, meu coração quase saltou do peito.  

Imediatamente olhei para trás e suspirei aliviado ao ver que nenhum devorador havia notado nada.  

‘Que irritante.’

Olhando para as escadas de madeira, tentei pensar em uma maneira de subir sem fazer barulho.  

Colocando pressão no corrimão, certifiquei-me de que ele não quebraria com meu peso e o segurei com mais força.  

‘…Ok, isso pode funcionar.’  

Com a ajuda do corrimão, dei um passo lento e cuidadoso. Diferente da primeira vez, nenhum som saiu desta.  

Acenei aliviado e dei outro passo.  

O local para onde precisava ir era o último andar. Por causa do método que estava usando para subir, levei vários minutos para chegar lá, mas, quando cheguei, pisei no chão e relaxei ao ver que nenhum som foi emitido.  

Imediatamente corri para frente depois disso.  

O último andar era bem pequeno. Tinha o tamanho de uma sala de aula, com uma porta de cada lado.  

Olhei para a direita e depois para a esquerda antes de decidir ir para o lado direito.  

Abri a porta rapidamente e entrei, olhando ao redor. O quarto era bem pequeno, com poucas decorações. Nada se destacava, além das grandes janelas que permitiam ver a cidade inteira de cima e a mesa de madeira em frente a elas.  

Olhei para fora e senti minha expressão endurecer levemente ao ver o número de devoradores lá fora.  

‘Isso não é bom.’

Havia mais e mais entrando a cada segundo. Não demoraria para a estação inteira ficar lotada deles. Não só isso, mas, olhando para cima, também pude ver que a criatura grande por trás estava cada vez mais perto de derrubar as paredes.  

Crack…! 

O som das paredes rachando continuou a ecoar no ar.  

Esses pensamentos trouxeram urgência à minha mente, e acelerei o passo.  

‘Ah…’  

Logo encontrei o que queria e me dirigi a ele.  

‘É isso.’  

Era um pequeno dispositivo parecido com um controle remoto. Era bem pequeno e fácil de perder, já que estava em cima de uma cadeira.  

Não hesitei em canalizar minha mana no dispositivo antes de pressioná-lo.  

WHIIII—!  

Imediatamente, o som estridente das sirenes ecoou por toda a estação.  

WHIII—!  

Elas eram altas, e o barulho era difícil de ignorar.  

Imediatamente, os devoradores olharam para cima, e suas cabeças se contorceram.  

“Hiekk—!”  

Seus gritos e lamentos ecoaram enquanto pareciam completamente confusos com a situação.  

Eu estava preocupado de que atacassem as sirenes, mas eles não o fizeram, já que estavam tão espalhadas que era difícil localizá-las.  

Agarrando seus próprios cabelos, os devoradores os arrancavam enquanto gritavam.  

“Isso é bom.”  

Finalmente pude relaxar. Segurando o controle, peguei qualquer coisa que parecesse útil antes de descer.  

Desta vez, não precisei da ajuda do corrimão e consegui descer facilmente até o primeiro andar, de onde saí correndo.  

“Hieeek—!”  

Como esperado, nenhum devorador notou minha presença quando saí. Com as sirenes tocando alto, eles não tinham tempo para prestar atenção em mim.  

Finalmente pude me acalmar.  

‘…Uma situação resolvida.’  

Então, olhando em uma certa direção, apertei os lábios antes de correr para frente.  

Agora era hora de lidar com a outra situação.  

***  

Bunker, Área Externa.  

O pânico já se espalhava pelo bunker. Esse pânico só aumentou com a presença dos devoradores. Todos estavam naturalmente assustados, mas as pessoas que protestavam não protestavam mais, já que ninguém mais queria sair.  

Foi por isso que a situação se acalmou.  

“Tsk.”  

Clicando a língua, Kiera sentou-se com uma expressão sombria.  

Com o que estava acontecendo lá fora, era difícil para ela causar confusão.  

Ela se sentiu um pouco decepcionada com isso.  

Olhando para a janela, de repente ouviu um som alto ecoando.  

WHIIIII—  

Parecia vir de toda a cidade, e os devoradores fora do bunker pareciam enlouquecer.  

Ela ficou surpresa com a situação e, antes que pudesse questionar o que havia acontecido, uma voz ecoou ao seu lado.  

“…Provavelmente foi o Julien.”  

Reconhecendo a voz, Kiera franziu a testa. No entanto, reprimiu seus sentimentos e virou-se para olhar para Aoife.  

Sua expressão mudou um pouco ao ver o estado em que Aoife estava.  

Ela parecia bastante acabada.  

Como se não tivesse dormido há dias.  

“Ele escapou.”  

Foi tudo o que ela disse, e o foco de Kiera se desviou do bem-estar dela. Bem, não importava para ela de qualquer maneira.  

“…Aquele cara escapou?”  

“Sim.”  

Aoife acenou.  

“Ele causou um grande problema. Todos os pós-líderes estão discutindo enviar uma equipe para trazê-lo de volta, mas a situação ficou assim, então foi adiado.”  

“Oh.”  

Kiera entendeu o que ela quis dizer.  

Podia dizer que havia caos nas partes internas. Ela não sabia bem o porquê, mas agora sabia.  

“Então você acha que ele é o responsável pelas sirenes?”  

“…Sim, muito provavelmente.”  

Aoife sentou-se ao lado dela. Ela parecia ainda mais cansada agora, e Kiera inclinou a cabeça.  

A cena parecia um pouco familiar.  

‘Não me diga que…’  

Tapa—  

“…!”  

Aoife virou-se para olhá-la com os olhos arregalados.  

“Por que você fez iss—”  

Tapa—!  

Kiera deu outro tapa em Aoife enquanto a olhava com uma expressão extremamente séria. Quase parecia que estava tentando ajudar.  

“Você está mostrando os mesmos sintomas que os outros. Está prestes a virar uma gritante. Deixe-me consertar você antes que seja tarde.”  

“O quê…? Espera!”  

Aoife levantou a mão para bloquear o tapa de Kiera.  

Então, encarou-a.  

“Eu não estou virando! Estou cansada porque fui interrogada por todos os pós-líderes por causa do que o Julien fez! Eu o ajudei um pouco!”  

“Ah.”  

Só então Kiera entendeu, enquanto coçava a nuca constrangida.  

“…Você devia ter dito isso antes.”  

Aoife não respondeu a isso.  

Ela não sabia como responder. Como poderia saber que Kiera a bateria assim?  

Apertando os dentes, virou a cabeça para olhar para fora.  

‘Não tenho energia para brigar com ela.’  

Estava tudo vermelho e quieto.  

“Hmm?”  

Olhando à distância, avistou uma silhueta fraca se aproximando.  

Parecia estar vindo em sua direção. Franzindo a testa, Aoife apertou os olhos para ver melhor e, quando viu, seus olhos se arregalaram.  

“Mas o que…?”  

“Uh, o quê?”  

Kiera também olhou na direção.  

Sua expressão também mudou.  

“Uh…?”  

Parecia que Kiera também reconheceu a figura.  

Aoife apertou os lábios.  

…..Por que ele estava de volta?  

E por que parecia que ele estava olhando diretamente para ela e Kiera?