Índice de Capítulo

    “….”  

    Aoife encarou o teto branco de seu quarto em branco. Sua mente ainda estava uma bagunça, e ela mal conseguia pensar.  

    A única coisa que lembrava era acordar no meio da rua com outras pessoas.  

    Elas também pareciam atordoadas e confusas com a situação.  

    Ela tentou perguntar às pessoas que vieram resgatá-la, mas tudo o que responderam foi: ‘Vamos informá-la após a investigação.’  

    “….O que isso significa?”  

    Aoife estava frustrada.  

    Não apenas com eles, mas consigo mesma também.  

    Algo claramente aconteceu, e como ela não conseguia se lembrar de nada, esteve perigosamente perto da morte.  

    Tudo isso sem que ela pudesse fazer algo.  

    Aquele sentimento…. Aoife apertou a mão.  

    Ela odiava aquele sentimento.  

    “Haaa.”  

    Aoife fechou os olhos e mergulhou fundo em seus pensamentos.  

    “Dum~ Dam!”  

    Ela cantarolou baixinho enquanto fazia isso.  

    Era um hábito dela sempre que tinha algo profundo para pensar.  

    Ao mesmo tempo, ela se lembrou de um certo rosto e suas sobrancelhas se franziram de irritação.  

    Por algum motivo, sempre que cantava, lembrava-se da vez na biblioteca quando ele criticou seu canto.  

    Ela ainda não tinha superado aquilo.  

    ‘Como se meu canto fosse tão ruim…’  

    Levantando a mão para cobrir a luz que vinha de cima, Aoife abriu os olhos e viu sua palma aberta à sua frente.  

    “E agora…?”  

    Só disseram para ela ficar no quarto por enquanto.  

    Não tinha instruções claras.  

    Aoife sentiu vontade de treinar, mas sabia que sair provavelmente não era uma opção sábia.  

    No final, tudo o que podia fazer era olhar para sua mão.  

    Ou pelo menos…  

    Foi até acontecer.  

    Seu mundo de repente escureceu e ela sentiu uma dor aguda na mente.  

    Imediatamente, ela se sentou segurando a cabeça.  

    “Akh…!”  

    Segurando a cabeça, Aoife gemeu e cerrou os dentes.  

    Era uma dor que ela lutava para descrever, e se não fosse pelo fato de ter durado apenas um breve momento, ela teria gritado a plenos pulmões.  

    “Haaa… haa…”  

    Sua respiração estava pesada e sua testa coberta de suor.  

    Apesar do estado em que estava, ela nem se deu ao trabalho de enxugar o suor do corpo.  

    “C-como…?”  

    Em vez disso, seus olhos estavam arregalados e suas pupilas, dilatadas.  

    Memórias que ela tinha completamente esquecido ressurgiram em sua mente.  

    ‘Sombra Carmesim, Árvore Ebonthorn, Julien, Leon…’  

    Aoife sentiu como se tivesse perdido o fôlego de repente.  

    “Isso… isso…”  

    Ela estava tendo dificuldade para entender o que estava acontecendo.  

    ‘A última coisa que lembro é Julien quase sendo atacado pelo monstro… o que aconteceu depois…?’  

    Aoife estava tão curiosa que sentia que podia morrer.  

    No entanto, se havia uma coisa da qual tinha certeza, era que Julien pode ter tido participação nisso.  

    Nos últimos momentos, ele foi quem interagiu com o pós-líder da Guilda do Cão Negro e saiu do bunker.  

    Se…  

    Se havia alguém que poderia ter uma ideia do que aconteceu, era ele.  

    Mas, além disso, havia algo mais que Aoife se lembrava.  

    “Kiera.”  

    Ela murmurou o nome e inconscientemente massageou o rosto.  

    Mesmo agora, conseguia se lembrar do que fez naqueles últimos momentos. Sua expressão se distorceu com o pensamento e seus dedos se contraíram.  

    “…..Se for a última coisa que eu fizer.”  

    *  

    Aoife não foi a única que chegou a essa conclusão.  

    Kiera e Evelyn passaram pela mesma coisa ao se lembrarem do que aconteceu.  

    “Porra, merda.”  

    Xingando muito, Kiera bagunçou o cabelo, só para arrumá-lo logo depois.  

    Não podia ficar assim.  

    Muito bagunçado.  

    “Que diabos aconteceu…?”  

    Foi só depois de arrumar o cabelo que a realidade da situação a atingiu.  

    As memórias que haviam sido apagadas começaram a voltar, e assim como Aoife, ela se lembrou de todos os detalhes do evento que aconteceu antes de acordar.  

    E assim como Aoife, ela teve um palpite de que Julien pode ter tido participação na situação.  

    ‘Será que ele derrotou aquela árvore?’  

    Era a única explicação plausível para ela.  

    A única que não teve tanta sorte foi Evelyn que, apesar de se lembrar do que aconteceu, não sabia exatamente o que estava acontecendo.  

    Afinal, no meio da situação, ela desmaiou.  

    “O que eu devo fazer com isso…?”  

    Olhando para seu próprio reflexo no espelho do banheiro, Evelyn franziu a testa.  

    Suas memórias estavam nebulosas, e tudo o que conseguia lembrar era Kiera dando um tapa nela.  

    “Ah, certo…”  

    Kiera dando um tapa nela…  

    Pensando naqueles últimos momentos, sua expressão mudou e sua mão se contraiu.  

    “Kiera.”  

    Ela murmurou para si mesma.  

    “…..Se for a última coisa que eu fizer.”  

    ***  

    “Então você não se lembra de nada?”  

    “Sim, peço desculpas por isso.”  

    Eu estava em uma pequena sala confinada, sentado atrás de uma mesa de metal com um guarda sentado na outra ponta. A sala não era como a do bunker, mas passava uma vibração similar. Foi por isso que minhas pernas estavam tremendo levemente e meus olhos ocasionalmente vagavam ao redor.  

    ‘Acho que estou com TEPT1.’  

    Não conseguia contar quantas vezes comecei a pensar na melhor rota para escapar desse lugar.  

    “Bem, sua história está alinhada com a dos outros.”  

    Colocando a prancheta na mesa, o guarda tirou os óculos e apertou as sobrancelhas.  

    “…..Vou dizer como disse a todos os outros que trouxemos. Pedimos desculpas por nossa negligência. Você será devidamente compensado pelo que passou. Sua Academia deve informá-lo melhor sobre isso depois.”  

    “Entendo.”  

    Compensação…  

    Isso sim.  

    Certamente não iria recusar.  

    “Ok, está tudo em ordem. Você pode ir.”  

    “Obrigado.”  

    Levantei da cadeira e saí da sala. O tempo todo minha mente divagava em formas de escapar do lugar, e só parou quando finalmente saí do prédio e pude respirar o ar fresco da Dimensão Espelho.  

    Como esperado, o céu ainda estava sombrio e quase não havia ninguém lá fora.  

    Me despedindo dos guardas, caminhei pelas ruas de paralelepípedos. Olhando ao redor, lembrei dos momentos dentro da ilusão onde estive sozinho.  

    …..Estava quieto, com quase ninguém lá fora.  

    A única diferença era o fato de que a Sombra Carmesim não estava mais presente.  

    Assim que cheguei de volta ao prédio do dormitório, uma figura familiar apareceu lá fora. Ele parecia estar esperando alguém.  

    Olhando para ele por um breve momento, balancei a cabeça levemente e me preparei para passar por ele quando ele estendeu a mão para me parar.  

    Seus olhos cinza se fixaram em mim enquanto falava:  

    “O que você está fazendo…?”  

    “Uh?”  

    Inclinei a cabeça.  

    “Estou voltando para meu dormitório.”  

    “Percebi.”  

    “Ah, bom, então…”  

    Tentei passar por ele, mas ele me impediu.  

    “Eu estava esperando por você.”  

    “Oh.”  

    Ainda tentei passar.  

    “Você pode parar por um segundo?”  

    “Tá.”  

    Desistindo, parei de tentar passar e baixei a cabeça para olhar para ele. Ele olhou de volta, mas quando abriu a boca, suas palavras pareciam se recusar a sair.  

    Ficou assim por alguns segundos até que eu finalmente cortei.  

    “Você quer saber o que aconteceu, correto?”  

    “…..”  

    Ele não respondeu, mas seu rosto dizia tudo.  

    “O que te faz pensar que eu sei?”  

    “…”  

    Novamente, ele não disse nada, e novamente, consegui ler sua expressão.  

    “Tá, tudo bem.”  

    Era estranhamente assustador como conseguia conversar com ele sem ele dizer uma única palavra.  

    Me arrepiei por um breve momento.  

    “Posso recuperar suas memórias.”  

    “…..!”  

    Sua cabeça se ergueu.  

    ‘Você pode?’  

    “Sim — ah.”  

    Estava fazendo de novo.  

    “Você pode falar? Isso está ficando ridículo.”  

    “Ah, certo.”  

    Leon coçou o lado do rosto. Parecia que finalmente caiu a ficha de que não tinha dito uma palavra o tempo todo.  

    Aquela cabeça dele…  

    Por que de repente parecia tão esmagável?  

    Tapa—  

    “Uh!?”  

    ‘Oh, merda!’  

    Eu realmente acabei batendo na cabeça dele.  

    Embora tenha pensado nisso, não achei que realmente faria. Vendo sua expressão chocada, por um breve momento não soube como responder, mas logo limpei a garganta e respondi sério.  

    “Como eu disse, posso recuperar suas memórias.”  

    Seus olhos se estreitaram.  

    “Você quer ou não?”  

    “…..Sim.”  

    Apesar de seu rosto parecer o de alguém que me mataria se tivesse a chance, ele engoliu tudo e balançou a cabeça.  

    “Eu gostaria de recuperar minhas memórias.”  

    “…..Entendi.”  

    Erguendo minha mão, Leon se encolheu levemente.  

    “….”  

    “….”  

    Ergui de novo, e ele se encolheu de novo.  

    De repente, o canto dos meus lábios se ergueu e a expressão de Leon se distorceu.  

    “Termina logo com isso.”  

    “Tá, tudo bem.”  

    Fiquei sério então e chamei:  

    “Corujão-Poderoso.”  

    No momento em que minha voz caiu, senti algo em meu ombro e quando virei para olhar, dois olhos vermelhos me encararam.  

    “O quê?”  

    Leon parecia pasmo com a aparição de Corujão-Poderoso.  

    Olhando para ele, pensei em explicar mas decidi o contrário.  

    “É uma longa história.”  

    Provavelmente levaria muito tempo para explicar.  

    “De qualquer forma—”  

    “O-o que você disse que é o nome dele?”  

    Me interrompendo, Leon olhou para Corujão-Poderoso com um olhar trêmulo. Inclinei a cabeça antes de responder.  

    “Corujão-Poderoso.”  

    “….Ah.”  

    “Relaxa, vai Corujão-Poderoso.”  

    “….!”  

    Em silêncio, Leon cobriu a boca antes de se recostar na escada. Seu rosto estava pálido, e sua expressão era algo que eu não conseguia descrever.  

    Em essência, ele parecia alguém passando por uma crise de meia-idade.  

    Deixei pra lá e virei para Corujão-Poderoso.  

    “Pode fazer isso?”  

    “Sim.”  

    Erguendo a asa na direção de Leon, raízes se manifestaram ao redor dele, prendendo seus tornozelos.  

    “….!?”  

    Instantaneamente, os olhos de Leon se arregalaram em choque. Eu também fiquei um pouco surpreso e olhei ao redor. Não esperava que as raízes aparecessem.  

    “Ukh…!”  

    Leon gemeu por um breve momento e logo seu rosto ficou em branco.  

    “Está feito. Vai levar alguns minutos para ele se recuperar.”  

    “Tudo bem.”  

    Olhando para ele, dei uma olhada ao redor. Tudo aconteceu muito rápido, e só dei uma breve olhada nos arredores.  

    ‘Tenho certeza que Corujão-Poderoso verificou antes de usar a habilidade.’  

    Caso contrário, as coisas ficariam bem complicadas.  

    Esfregando minha testa, tinha acabado de cruzar a porta do alojamento quando senti um calor repentino vindo do meu braço direito.  

    Chisss~  

    Era um chiado familiar que trouxe certas memórias, e meus olhos se arregalaram.  

    “Não pode ser…!”  

    Rapidamente olhei ao redor antes de correr para meu quarto.  

    Clank!  

    Fechando a porta atrás de mim, desenrolei as bandagens do meu braço antes de olhar para a tatuagem.  

    “Ah…!”  

    Como esperado. A terceira folha…  

    Estava brilhando.

    1. Transtorno de Estresse Pós-Traumático[]

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (7 votos)

    Nota