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    Pesado.  

    Cada passo parecia pesado enquanto eu caminhava pelo mercado da Academia.  

    Fileiras e mais fileiras de produtos eram exibidas diante dos meus olhos enquanto eu pegava aleatoriamente qualquer barra que encontrava.  

    À frente, eu podia sentir o olhar afiado da equipe em mim.  

    Eu sabia que estava perto de atingir o limite diário de barras que podia comprar.  

    Mas não tinha jeito, isso era para a Delilah.  

    “Haa.”  

    Lembrando o que aconteceu alguns momentos atrás, só pude suspirar.  

    Nada.  

    Ao pressionar a terceira folha, nada aconteceu.  

    Delilah pareceu um pouco decepcionada com isso, dizendo algo como: ‘Eu não senti nada. Você tentou algo?’  

    Eu estava sem saída.  

    A terceira habilidade ainda era nova para mim.  

    Pelo menos, agora eu sabia que ela não podia ser ativada tão facilmente.  

    “Faltam quinze minutos, é melhor eu me apressar.”  

    Checando meu relógio, corri para o balcão.  

    As aulas iriam começar em breve. Eu precisava entregar isso antes que começassem.  

    “Obrigado por sua compra. Tenha um bom dia.”  

    “Obrigado.”  

    Pinga. Pinga.  

    Estava chuviscando lá fora.  

    O céu estava sombrio e cinzento, lançando um ambiente melancólico por toda parte. Refletia perfeitamente meus sentimentos internos.  

    “Haa… Eu deveria ter trazido um guarda-chuva. Minhas roupas—Hm?”  

    Meus pés pararam subitamente quando senti um leve puxão no meu casaco. Sem perceber, a chuva que caía do céu momentos antes havia desaparecido.  

    “Posso te ajudar…?”  

    Baixei meu olhar, e dois olhos negros profundos piscaram de volta para mim. Diante de mim, uma garotinha sem expressão estava parada, suas roupas parecendo bastante esfarrapadas. Ela também parecia magra, já que suas roupas pareciam largas.  

    “Hm? De onde você veio?”  

    Ela não parecia alguém que pertencia à Academia.  

    Eu estava confuso e olhei ao meu redor.  

    “….!?”  

    Mas no momento em que fiz isso, fiquei pasmo ao ver que não estava mais nos terrenos da Academia. Eu estava em um lugar completamente diferente.  

    Pareciam… favelas.  

    “C-como?”  

    Antes que eu pudesse entrar em pânico, algo puxou meu casaco novamente e olhei para a garotinha magricela.  

    Sem responder, seu olhar vagueou pela sacola em minha mão.  

    “Você está com fome?”  

    Aceno. Aceno.  

    Pensando por um momento, abri a sacola e peguei a primeira coisa que pude encontrar.  

    “Ah.”  

    Mas aquilo acabou sendo a única coisa que eu não podia exatamente dar.  

    A barra da Delilah.  

    “Hmm, não posso te dar isso, que tal…”  

    Parei de falar. Encarando o pacote, a garotinha já estava salivando. Alternando seu olhar entre mim e a barra de chocolate, ela esfregou o canto da boca.  

    “Pode pegar.”  

    ‘Tanto faz, é dinheiro da Delilah mesmo.’  

    Ela podia arcar com essa pequena perda.  

    Com brilhos visíveis em seus olhos, a garotinha pegou a barra de chocolate da minha mão.  

    “Deixa eu ajudar.”  

    Vendo-a lutar para abrir o pacote, ofereci minha mão.  

    “Aqui.”  

    Nhom. Nhom.  

    Ela mergulhou direto na barra e, por algum motivo, sua imagem se sobrepôs à da Delilah. Claro, ela obviamente não era ela. Era mais magra, e suas roupas também eram muito mais esfarrapadas. Não apenas isso, mas seu cabelo também estava uma bagunça.  

    No entanto, o brilho que apareceu em seus olhos, que antes pareciam perdidos, e a forma como ela devorava as barras de chocolate tão avidamente me fizeram pensar nela.  

    “Obr…igada.”  

    Ela falou pela primeira vez.  

    Sua voz era frágil.  

    “Está gostoso?”  

    “Mhm.”  

    “Aqui, limpe suas mãos com isso.”  

    “…?”  

    “Não é bom comer com as mãos sujas.”  

    Antes que eu percebesse, estava limpando suas mãos com um lenço. Um hábito que desenvolvi quando cuidava do meu irmão.  

    Ergui minha cabeça e olhei ao redor.  

    “… Onde estão seus pais?”  

    A rua estava vazia, com apenas nós dois parados. Os prédios ao redor estavam quebrados e esfarrapados, com jornais espalhados pelo chão.  

    Eu queria conhecer seus pais para ter uma ideia melhor de onde eu estava.  

    Toda essa situação era estranha.  

    “Pais?”  

    “Sim, mãe e pai. Onde eles estão?”  

    “E…m casa.”  

    A jovem garota respondeu em um tom baixo. Como se tivesse lembrado de algo, sua mão, que estava cavando a barra de chocolate, parou subitamente.  

    “Eu vou.”  

    “Você está indo embora?”  

    “Um.”  

    “Espera.”  

    Agarrei sua mão antes que ela pudesse sair.  

    Olhando ao redor e checando meu relógio, falei:  

    “Deixa eu ir com você.”  

    A área parecia insegura. Uma garota de oito ou nove anos andando por aí sozinha não me parecia certo. Mas, além disso. Havia algo na garotinha que me incomodava.  

    Eu não tinha certeza do que era, mas uma parte de mim se recusava a deixá-la sozinha.  

    Ela me lembrava muito de uma certa pessoa.  

    Então decidi acompanhá-la no caminho de volta.  

    “Ah, certo.”  

    Olhei para a garotinha que segurava firmemente a barra de chocolate como se fosse seu tesouro mais precioso.  

    “Qual é o seu nome?”  

    “…”  

    A garota piscou os olhos e ergueu a cabeça. Seu rosto, que parecia sem expressão, mostrou uma leve mudança, como se tivesse redescoberto um traço de sentimento.  

    Sua resposta veio logo depois.  

    “Delilah… Meu nome é Delilah.”  

    ***  

    Seu rosto era assustador, mas ele era gentil.  

    Ele deu chocolate para Delilah, então ele deve ser um bom homem.  

    Um homem estranho, mas gentil.  

    Creaaak—!  

    Suas mãozinhas empurraram a porta familiar que levava à sua casa. A porta se abriu como se a recebesse de braços abertos.  

    “Oh, você voltou, Delilah?”  

    Uma voz quente e gentil a cumprimentou na entrada de sua casa.  

    O quarto estava iluminado. Estava inundado de luz enquanto os raios do sol entravam pelas grandes janelas, tornando difícil ver à frente.  

    Estava tão claro que ela mal conseguia distinguir os traços de sua mãe.  

    “Mãe.”  

    Um calor familiar a envolveu quando sentiu o abraço de sua mãe.  

    “Você se divertiu brincando? Gostou?”  

    “Mhm.”  

    Delilah mostrou a barra de chocolate que recebeu do homem estranho, mas gentil.  

    “Oh, o que é isso?”  

    “Comida.”  

    Sua mão pequena apertou a barra de chocolate.  

    Tão deliciosa.  

    “…E quem te deu isso?”  

    “Ele.”  

    Delilah apontou para o homem estranho, mas gentil. Ele ainda estava parado na porta.  

    “Oh, meu.”  

    Como se percebesse que alguém estava na porta, sua mãe fez uma expressão surpresa.  

    “Que rude da minha parte. Por favor, entre. Entre.”  

    “…”  

    Mas o homem não se moveu e ficou parado onde estava. Sua expressão era assustadora.  

    Ele só saiu do transe quando Delilah puxou suas roupas.  

    “Mamãe disse para entrar.”  

    “Oh.”  

    O chão rangeu sob seus passos.  

    “Por favor, sente-se aqui. Não temos muito, mas espero que se sinta confortável, e muito obrigada por ajudar a Delilah.”  

    “Sente aí.”  

    Delilah apontou para a mesa da sala de estar.  

    Com um aceno, o homem estranho, mas gentil, sentou em uma das cadeiras ao redor da mesa.  

    “Um para você, e um para você.”  

    Delilah quebrou a barra em vários pedaços.  

    Um para o homem estranho, mas gentil, e outro para ela. O resto era para sua mãe e pai. Satisfeita, ela bateu palmas, que estavam misturadas com chocolate derretido.  

    “Mamãe, quando o papai vai sair?”  

    O olhar de Delilah vagueou sobre uma certa porta.  

    Era a porta que levava ao quarto de seu pai.  

    Seu pai estava lá, mas ela não tinha permissão para entrar.  

    ‘Não importa o que aconteça, você não pode entrar no quarto’, ele disse a ela.  

    “Seu pai vai se juntar a nós mais tarde. Coma sua comida por agora.”  

    “Um.”  

    Quando o assunto da comida surgiu novamente, seu olhar se afastou da porta, voltando a se concentrar na barra de chocolate.  

    “Nhom. Nhom.”  

    Ela devorou a barra de chocolate.  

    Tão doce. Tão gostoso.  

    Mas foi aí que ela percebeu algo.  

    “Por que você… não, come?”  

    “Eu… eu já comi o suficiente.”  

    O homem empurrou seu chocolate para ela.  

    “Você come.”  

    Piscar.  

    Delilah piscou os olhos.  

    Ela podia comer?  

    Encarando o homem para ter certeza de que ele não estava mentindo, só depois de vê-lo acenar que Delilah comeu feliz a barra de chocolate.  

    Que felicidade.  

    Creaaak—!  

    Ouvindo um som familiar, Delilah virou a cabeça e viu uma figura alta entrando.  

    “Papai!”  

    Ela não perdeu tempo correndo para o homem.  

    “Ho, ho. Aí está minha pequena princesa.”  

    “Hehehe.”  

    Rindo, Delilah abraçou seu pai com força.  

    “O que você tem feito, Delilah?”  

    “Comendo.”  

    “Oh? O que você está comendo?”  

    “Chocolate. Muito gostoso. Eu dei para a mamãe também.”  

    “Mhhh.”  

    Seu pai de repente ficou quieto.  

    “Papai?”  

    “…Delilah.”  

    Na voz mais gentil que pôde reunir, ele falou com ela.  

    “Sua mãe…”  

    “Sim?”  

    Ela estava na sala de estar.  

    “Ela… está em um lugar muito distante. Já faz um ano agora. Eu preciso que você entenda isso.”  

    Piscar.  

    A luz que envolvia o quarto começou a diminuir.  

    Lentamente, os arredores começaram a ficar escuros.  

    “Eu sei que você sente falta da sua mãe. Eu sinto falta dela também. Mais do que você pode imaginar, mas…”  

    Paredes podres. Janelas quebradas. Mofo. A verdadeira aparência da casa começou a se revelar.  

    “…você precisa seguir em frente. Você vai vê-la eventualmente. É só que… ainda não é a hora. Haverá um momento em que você a verá novamente. É uma promessa.”  

    Delilah inclinou a cabeça enquanto encarava seu pai.  

    Apesar da luz diminuindo, ainda era difícil para ela ver seus traços.  

    “Mas papai…”  

    Piscar.  

    A luz diminuiu mais uma vez, e seu olhar vagueou sobre um certo quarto.  

    “…Eu também vou te ver de novo? Você ainda não saiu do seu quarto.”  

    Piscar.  

    A luz desapareceu completamente.  

    O que restou foi um silêncio assustador enquanto a garota ficou sozinha na escuridão.  

    Só ela.  

    E ela mesma.  

    .  

    .  

    .  

    .  

    ‘O que é isso…?’  

    Em vez de ficar chocado… eu simplesmente não sabia como reagir. Como eu deveria reagir a isso?  

    As paredes dilapidadas, o mofo penetrante, as rachaduras ziguezagueando pelas paredes e o cheiro persistente de decadência enchendo o espaço…  

    Apertei meus dentes.  

    ‘O que é isso?’  

    Como alguém podia viver em tais condições?  

    E…  

    “…Eu também vou te ver de novo? Você ainda não saiu do seu quarto.”  

    Me levantei do meu assento e caminhei até Delilah.  

    Meu olhar caiu sobre a porta que ela estava olhando.  

    “É aí que seu pai está?”  

    “Um. Ele está ocupado trabalhando.”  

    “Faz quanto tempo que ele está trabalhando?”  

    “Hmm.”  

    Colocando seu dedo perto da boca, ela ponderou.  

    “Muito tempo?”  

    “Você sabe exatamente quanto tempo?”  

    “Não.”  

    Ela balançou a cabeça.  

    “Quando a mamãe foi embora, ele disse que de repente tinha muito trabalho para fazer.”  

    “Ah.”  

    Meu coração se apertou.  

    “Você está feliz?”  

    “Sim.”  

    Ela acenou imediatamente.  

    Mas quanto mais ela era assim, mais meu coração se apertava.  

    “Então… por que você não está sorrindo?”  

    Delilah ergueu a cabeça. Eu pensei que ela sempre foi sem expressão, mas agora que a olhei mais de perto. Ela parecia mais uma casca vazia do que apenas sem expressão.  

    Muitas coisas começaram a fazer sentido.  

    ‘…..Eu também quero ser boa em Magia Emotiva.’  

    ‘Eu fui adotada.’  

    ‘Elas estão bem.’  

    ‘Trabalhando.’  

    Cada palavra que ela disse me atingiu profundamente no peito.  

    “Sorrir?”  

    “Assim.”  

    Puxei os cantos dos meus lábios para cima com a ajuda dos meus dedos.  

    “Eh…?”  

    Imitando-me, ela puxou os cantos da boca.  

    “Assim?”  

    “Assim.”  

    Estendi minha mão para ela.  

    “Você quer que eu te leve a um lugar legal?”  

    “Mas…”  

    Seu olhar vagueou para um certo quarto. Tentando ao máximo me manter calmo, abri minha palma.  

    “Não vamos incomodar seu pai por agora. Talvez, quando você voltar, ele já tenha saído do quarto.”  

    “Sério?”  

    “Sério.”  

    Meu coração se apertou ainda mais. Eu não tinha certeza se isso era uma ilusão ou não. Na verdade, ainda estava tentando entender o que estava acontecendo.  

    Mas isso não importava para mim. No momento, eu só tinha um pensamento.  

    Eu precisava trazê-la de volta comigo.  

    Ela não podia ficar aqui por mais tempo.  

    “Senhor.”  

    Senti algo segurar minha mão enquanto minha cabeça baixava. Delilah estava olhando para mim, seus grandes olhos negros piscando.  

    “Sim?”  

    “…Obrigada.”  

    E de repente ficou claro.  

    “Obrigada por ser gentil comigo.”  

    De repente, minha mão ficou vazia enquanto o mundo ficava claro.  

    Eu fiquei sozinho em uma luz infinita.  

    “…”  

    Só eu.  

    E eu mesmo.  


    ∎| Nvl 2. [Tristeza] EXP + 15%

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