Capítulo 20 — Atividades Extracurriculares
Inalando profundamente, eu me lembrei da queimadura.
O cheiro familiar que flutuava no ar.
E a calma que ele me trazia.
Eu costumava odiar aquele cheiro.
Mas, com o tempo, passei a amá-lo.
Minha mente esvaziava a cada vez.
Ele aliviava a dor, reduzia o estresse e trazia vibração ao meu mundo, que de outra forma seria sem cor.
Isso era o que fumar significava para mim.
Mas, ao mesmo tempo, foi o que me matou.
Me deu algo, mas levou tudo embora em troca.
Por isso, a visão disso me fez perder o controle.
“…..Como eu controlo isso?”
Eu olhei fixamente para o teto do meu quarto.
Agir por impulso assim…
Perder o controle de mim mesmo e deixar as emoções tomarem conta…
Eu não podia deixar que isso continuasse.
“Preciso me controlar.”
Mas como eu faria isso…? Era mais fácil falar do que fazer. Não era como se eu pudesse proibir todos os cigarros deste mundo para evitar que eles desencadeassem minhas memórias.
….Também era impossível para mim parar de usar esse poder.
Para minha sobrevivência e objetivo…
Eu precisava usá-lo.
“Que incômodo.”
Verdade.
Esse não era um problema para o qual eu poderia encontrar uma solução facilmente. A abordagem realista era que eu lentamente me acostumasse a esse poder.
Mas…
“Não há tempo.”
Quanto mais eu esperasse, mais eu me exporia ao perigo.
Eu tinha que resolver esse problema agora. Não podia deixar para depois.
Por isso,
“….”
Olhando para minhas mãos, uma ideia surgiu em minha mente. Senti minha expressão endurecer ao pensar nisso, mas, considerando minha situação, parecia ser a abordagem mais apropriada.
“Hoooo…”
Sentei na cadeira e respirei fundo.
‘Para entender as emoções, é preciso experimentá-las.’
Algumas palavras ficaram em minha mente.
Era uma citação que eu via frequentemente quando pesquisava sobre Magia Emocional. Pensando no meu progresso recente, era sem dúvida verdade.
Mas apenas experimentá-las não equivalia a entendê-las completamente.
Para isso, era preciso tempo.
É preciso experimentá-las continuamente antes de poder entendê-las por completo.
Por isso,
Segurando meu antebraço, murmurei:
“Tristeza.”
Uma dor familiar invadiu meu peito, que começou a ficar pesado.
O mundo de repente parecia ficar frio, e meus olhos começaram a umedecer. Mordi a língua e segurei as lágrimas.
“Huuu…”
Eu tinha que respirar de forma calma e constante a cada vez.
A dor dificultava minha concentração, mas eu ainda me segurava.
Segurando o lado da cadeira de madeira onde eu estava sentado, murmurei para mim mesmo:
“…Preciso me manter composto.”
Eu não podia deixar que as emoções tomassem conta da minha mente como da última vez.
Eu precisava manter minha compostura.
Meu objetivo em tudo isso era desenvolver resiliência emocional, me submetendo deliberadamente a várias emoções.
Comparado ao momento em que eu saí do “mergulho”, as emoções que eu estava experimentando eram mais leves.
Principalmente porque meu entendimento delas não era muito forte.
A única razão pela qual elas tiveram um efeito tão grande nas duas primeiras vezes foi porque minhas emoções estavam muito concentradas quando eu saí do mergulho.
Mesmo assim…
Pinga.
Não foi fácil.
Olhando para a lágrima que manchou minha calça, fechei os olhos antes de murmurar:
“Raiva.”
Grip—
Meu aperto na cadeira se intensificou, e meu peito começou a subir.
Uma nova emoção substituiu a anterior, e meu rosto se contorceu.
“….Ah.”
A mudança repentina de emoção dificultou manter minha mente clara.
Uma chama queimava em meu peito.
Minha respiração acelerou. Assim como meu pulso.
“Kh..!”
Meu maxilar estava tão apertado que começou a doer.
Mesmo assim, me mantive firme na cadeira. Mesmo quando o mundo ficou vermelho e minha visão se estreitou.
Eu me mantive firme na cadeira.
Minhas mãos tremiam.
Mas meus pensamentos permaneciam claros.
“C-controle.”
Eu forcei essas palavras através dos dentes cerrados.
C-certo.
…Eu precisava me controlar.
Eu não podia deixar que minhas emoções me controlassem novamente.
“Nunca.”
***
Haven tinha “Atividades Extracurriculares’.
Em termos mais simples: clubes. Com o mundo sendo sombrio e a realidade dos alunos dura, os clubes foram criados como uma forma de aliviar o fardo mental dos estudantes.
“Natação… Futebol… Clube de Exercícios… Culinária…”
Havia muitos clubes para escolher. Dos físicos aos não físicos. As opções pareciam infinitas.
“Clube de comédia…?”
Meus olhos permaneceram no “Clube de Comédia” por alguns segundos a mais. O suficiente para chamar a atenção de Leon, que virou para olhar para mim.
Para manter a consistência com o Julien anterior, pedi que ele me ajudasse a escolher um curso. Era um passo necessário que eu precisava tomar para garantir minha segurança.
“Você está considerando? Para entender melhor as emoções?”
“Uh, sim…”
Isso era parte da razão, claro. Mas havia outro motivo pelo qual o clube me interessava. Eu continuava pensando na piada que fiz uma semana atrás. A das cheetas1
“Uhk…!”
Seu corpo estremeceu.
E eu continuei:
“O que o fazendeiro que perdeu seu ancinho disse?”2
“….”
“Onde está meu ancinho?”
“….!”
Step—
Sem olhar para trás, Leon seguiu em frente. O tempo todo, seus ombros tremiam. Olhando para ele, senti a necessidade de continuar e levantei a voz.
“Como você chama uma mosca sem asas?”
“…”
“Uma caminhada.”3
“….Kehut!”
Segurando a boca, Leon correu para frente.
Eu corri atrás dele.
“O que a vaca…”4 rosnou para ela antes de falar:
“…Você acha que pode nos impedir? Suas lutas são inúteis. Nossos preparativos estão quase prontos.”
“Hah.”
A expressão de Delilah mudou. Com uma risada, ela olhou para a criatura com deboche.
“Vocês são sempre os mesmos. Quantos de seus “ataques” e “preparativos” nós frustramos ao longo dos anos? Ainda não aprenderam a lição?”
“…”
A besta rosnou.
“Você não—”
A voz de Delilah, sobreposta por outras duas semelhantes, cortou a criatura.
“Você não pode esconder isso de mim.”
A criatura estremeceu.
“Esconder…?”
“Seu medo. Eu posso vê-lo a quilômetros de distância.”
Crunch…
A besta, sem perceber, deu um passo para trás enquanto seu corpo tremia. Uma emoção desconhecida brotou de dentro de seu corpo, ameaçando consumi-lo.
“V-você….!”
Um brilho vermelho envolveu os olhos da besta. Ela entendeu então que suas emoções estavam sendo manipuladas.
Mas já era tarde demais.
No momento em que a besta deu um passo para trás, sua derrota já estava selada.
A expressão de Delilah voltou ao seu estado habitual de indiferença enquanto ela levantava a mão.
“Krrrrr—!”
A besta gritou, mas foi inútil.
Em momentos após ela levantar a mão, o espaço ao redor da besta se comprimiu, e o som de ossos quebrando ecoou no ar.
Thud.
Assim, uma besta de nível “Terror” havia morrido.
Udududuk—!
Mas algo estranho aconteceu no momento em que a besta morreu. Uma espuma preta escapou de seus lábios, e sua figura encolheu para revelar a silhueta de uma figura.
…Um humano.
Crunch… Crunch…
Delilah parou a alguns metros do corpo, seus olhos traçando-o friamente. Por fim, ela se curvou e virou o braço dele.
“….”
Um trevo de quatro folhas apareceu em sua visão.
“….Como esperado.”
Ela soltou o braço, e brasas flutuaram no céu enquanto o corpo desaparecia gradualmente de vista.
Crackle…!
Seus olhos frios permaneceram fixos no corpo que desaparecia.
Gradualmente, sua boca se abriu para murmurar:
“Céu Invertido.”
Uma figura apareceu em sua mente.
Aquela que ela pregava de coração ser a Estrela Negra.
Uma rachadura mais uma vez se formou em seu rosto impassível.
“….Espero estar errada.”
- Capítulo 9…).
Ela me incomodava há um bom tempo.
Mas a piada era ruim?
‘….Eu não acho que era tão ruim.’
Ou talvez houvesse um problema em outro lugar? A entrega?
Mas pensando nisso, aqueles para quem eu contei a piada sempre tinham expressões rígidas. Aquela garota e Leon…
Público difícil, eu acho.
“Isso faria sentido, mas Julien não iria para algo assim. Você precisa ter em mente que—”
“Acho que foi minha entrega.”
Sim, tinha que ser isso.
“…”
O corpo de Leon ficou rígido no lugar.
‘Ah, merda.’
Eu levantei a cabeça para olhar para ele. Ele me olhou com os olhos arregalados e uma expressão que parecia dizer “Ele enlouqueceu…?”
Eu me senti um pouco ofendido com o olhar dele.
“O quê?”
Por que ele estava me olhando assim…?
Ele abriu a boca, mas a fechou logo em seguida. Então, virou-se para a direção oposta.
“O que você—”
“Kht.”
Kht…?
Parei o que estava fazendo e inclinei a cabeça para olhar melhor para ele.
Por que ele está…
“Ah.”
De repente, uma ideia surgiu em minha mente.
Pensei por um bom minuto antes de finalmente dizer:
“Como você chama um peixe sem olhos?”
“….”
Os olhos de Leon se arregalaram. Por um momento, achei que vi “medo” brilhar em seus olhos enquanto seu corpo estremeceu.
Eu continuei:
“Pexe.”((Deve ser algum trocadilho com “eyes”, mas não encontrei um equivalente para nós… peixe sem olhos = without eyes = without “I”[↩]
- Autor ta com o Patati Patata…[↩]
- Tô na luta pra entender isso pessoal! Pelo que discuti com a Whalien, é alguma coisa envolvendo “Fly without wings = fly = voar sem asas = andar.”[↩]
- Ta tão engraçadinho…)
***
Krrr…
A forma se expandiu, revelando gradualmente suas mandíbulas maciças e decadentes e suas costas espinhosas. Uma onda poderosa de mana varreu o entorno enquanto a figura aumentava de tamanho.
“Mantenha-o quieto. Não estamos muito longe do instituto.”
Delilah estava parada não muito longe da criatura. Seu olhar permaneceu sobre a criatura, que a encarava com profunda apreensão.
Ela((Ver mais a frente…[↩]
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