Capítulo 200: As Cinco Fases da Magia Emocional [3]
Fiquei na sala de aula pelos próximos dez minutos. Como a próxima aula só começaria em algumas horas, tinha um tempo livre.
Pensei em treinar com o cubo, mas decidi contra.
‘Talvez mais tarde.’
Minha cabeça ainda estava um pouco zonza pelo que havia acontecido antes.
“….Acho que devo ir.”
Talvez comer algo.
Mal dei um passo para fora da sala quando uma figura apareceu ao meu lado direito. De braços cruzados e cabeça baixa, ela parecia estar dormindo.
Eu teria ignorado se não a conhecesse.
“Você.”
Toquei seu ombro, fazendo-a acordar sobressaltada.
“Uh, ah!? Que filho da puta quer morrer?”
Como esperado. No momento em que acordou, levantou os punhos e assumiu postura de luta.
“….”
Fiquei em silêncio por um momento até que ela piscou os olhos e recuperou um pouco de clareza.
“Ah, certo…”
Ela também parecia ter lembrado por que estava aqui.
“Eu estava esperando por você.”
Não fiquei surpreso.
Dadas as olhadas que ela me deu na aula, sabia que isso aconteceria. Na verdade, estava ansioso por isso.
Queria saber exatamente o que o aumento percentual na seção de calamidade causara.
“Você lembra, né?”
Mas as palavras que saíram de sua boca foram totalmente inesperadas.
“Lembrar…?”
Do que ela estava falando?
“Sim, o que aconteceu na Dimensão Espelho? Você lembra de tudo, certo?”
“….”
Abri a boca, mas tive dificuldade em me expressar.
Isso não era o que eu esperava.
De todas as coisas, era a última que eu imaginaria, e me vi incapaz de esconder minha surpresa.
“Então…?”
“….Lembro.”
Franzindo a testa, concordei com a cabeça depois de me recompor.
“Sabia.”
Kiera sorriu.
Ela quase parecia aliviada.
Era estranho.
“Não sei o que aconteceu depois que aqueles monstros grandes apareceram. Só lembro de você fazendo algo. Foi quando minhas memórias acabam—”
“Espera, você lembra?”
Acabei interrompendo-a. Se antes eu estava surpreso com suas palavras, agora estava completamente chocado.
‘Como é possível que ela lembre…?’
Não deveria ser impossível? A menos que Coruja-Poderoso lhes devolvesse as memórias.
Como…?
“Sim, lembro.”
Kiera coçou a nuca.
“Estão meio fracas. Mas eu lembro. No começo não lembrava, mas de repente, do nada, tudo voltou.”
“De repente, do nada?”
“É. Tipo, sem motivo algum. Aconteceu.”
“Eu…”
Apertando os lábios, não sabia como reagir.
No final, só pude perguntar:
“Mais alguma coisa…?”
“O que mais?”
Kiera inclinou a cabeça e a balançou.
“Não, nada. Por quê? Só queria saber se você sabia de algo.”
“Ah…”
Apesar disso, tentei ao máximo parecer calmo.
‘Isso é resultado do aumento percentual?’
A recuperação repentina das memórias do incidente.
“Você sente algo estranho? Alguma visão bizarra, algo fora do normal?”
“Uh, não? Por quê…?”
Vendo o olhar estranho que Kiera me deu, sabia que ela ou não estava me contando tudo, ou realmente era tudo o que havia acontecido.
Mas, pelo jeito dela, parecia mesmo que era só isso.
…..Ou ela só não estava dizendo.
“Não, nada. Todo mundo esqueceu das memórias, e você parece ser a única que não esqueceu. Fiquei um pouco surpreso.”
Coçando o topo do nariz, massageei os olhos e olhei para o relógio.
“A próxima aula começa em alguns minutos. Não se atrase.”
E então, virei e saí.
Minha mente estava uma bagunça, e precisava de tempo para entender o que estava acontecendo.
Mas, finalmente, descobri o motivo pelo qual ela estava me olhando daquele jeito. O mesmo provavelmente valia para Aoife.
Não tinha certeza sobre Evelyn.
Teria que descobrir depois.
Mas, por enquanto, era isso que tinha. Fiquei aliviado que a penalidade parou aí. Ou pelo menos parecia ter parado.
Ainda não havia causado danos substanciais.
***
‘A próxima aula começa em alguns minutos. Não se atrase.’
Repetindo as palavras que ele disse antes de sair, Kiera torceu os lábios.
“….E você disse que não quer mais ser meu professor.”
Ele ainda agia como um.
“Tsk.”
Estalando a língua, Kiera só conseguiu manter a cara fechada por alguns segundos antes de relaxar.
‘Então foi ele quem salvou todo mundo. E ainda por cima nem levou o crédito.’
Kiera não sabia o que sentir.
Se fosse ela, teria garantido que todos soubessem que ela os salvara e contado o que aconteceu para extrair o máximo possível das Guildas.
‘Acho que ele é mais manso do que parece.’
Ela já havia notado isso desde que ele começara a ensiná-la, mas ele era… bem mole.
Parecia frio e distante por fora, e até certo ponto era.
No entanto, para Kiera, isso parecia apenas uma persona externa falsa.
“Ugh, não sei.”
Talvez estivesse pensando demais, mas realmente parecia haver dois Juliens.
Arrepiando o cabelo, parou quando percebeu o que estava fazendo e rapidamente o arrumou.
Quando terminou, olhou para trás com os olhos estreitos.
“Quando você vai sair?”
“….”
Suas palavras não obtiveram resposta.
“Então?”
Só depois que Kiera chamou novamente uma figura saiu de uma das salas.
Um sorriso sarcástico apareceu no rosto de Kiera.
“Olha só você. Espiando como sempre.”
“….Não estou.”
Aparecendo da sala estava Aoife, que encarou Kiera com uma carranca.
“Não espionando.”
Por algum motivo, sentiu a necessidade de repetir.
Kiera sorriu ao ver.
“Então você realmente estava espiando. Nada surpreendente. Você sempre teve esse hábito desde criança. Não é um bom hábito, princesinha.”
Aoife ignorou suas palavras e olhou na direção em que Julien saiu.
“….Então você também lembra?”
“Hmm?”
Foi a vez de Kiera se surpreender.
Olhando para Aoife, perguntou:
“Você também lembra?”
“Lembro. Ouvi sua conversa. Algo parecido aconteceu comigo.”
Ouvindo suas palavras, Kiera não teve tempo para odiá-la e franziu a testa.
“Você sabe exatamente quando suas memórias voltaram?”
“Sim. 18:39.”
“Isso…”
Kiera franziu a testa.
Isso porque:
“Merda, foi na mesma hora que eu.”
Ou pelo menos por volta disso. Não lembrava o horário exato. Mas lembrava distintamente de ter participado de um interrogatório pouco antes, por volta das 18:00.
“….”
“….”
As duas ficaram em silêncio por um momento.
Quebrando o silêncio, Aoife mordeu os lábios.
“Você acha que mais alguém sabe?”
“Isso… não tenho certeza.”
Kiera respondeu honestamente. Fora Julien, ela observara todos os outros na aula. Ninguém mais parecia lembrar de nada.
“Então só nós duas?”
“Não sei.”
Kiera balançou a cabeça.
“Acho que pode haver m—”
Tapa—
Kiera sentiu uma dor no rosto e seus olhos se arregalaram. À sua frente, Aoife olhava para a própria mão com uma expressão igualmente chocada.
“Isso…”
Ela piscou os olhos.
“….É por isso que você faz isso? É estranhamente bom.”
Kiera abriu a boca, mas as palavras não saíram.
Seu peito ferveu em seguida, e seus dentes se cerraram.
‘Esta vadia.’
Então, levantando o braço, estava prestes a revidar quando percebeu que sua mão parou.
“Você…!”
Tapa—!
Outro tapa veio em sua direção, ardendo em seu rosto.
Olhando para a mão novamente, um sorriso estranho surgiu no rosto de Aoife. Era um sorriso raro que Kiera nunca a vira fazer antes, e o choque só aumentou quando ela começou a rir.
“Hehehe.”
O choque de Kiera só cresceu. Era a primeira vez que a via agir como uma criança em todo o tempo que a conhecera.
Isso a deixou confusa por alguns segundos antes que cerrasse os dentes e se libertasse à força da telecinese.
“Porra.”
Xingando, preparou-se para atacar Aoife, mas, antes que percebesse, suas costas já estavam bem longe.
“Ah, porra…! Volta aqui!”
***
Delilah estava sentada em seu escritório, cercada por uma dúzia de documentos. Eram todas reclamações que estava preparando para apresentar contra as Quinze Guildas.
Não planejava deixá-las escaparem facilmente depois do que acontecera na Dimensão Espelho.
Pretendia extrair tudo o que pudesse delas.
“Devo pedir dinheiro ou recursos?”
Refletiu sobre a decisão, dividida entre pedir recursos, que seriam indubitavelmente úteis, ou dinheiro como compensação, dando aos cadetes mais liberdade em suas escolhas.
Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta. Levantando a cabeça, a expressão de Delilah mudou levemente.
“Entre.”
Entrando na sala estava uma figura pequena com rabos de cavalo e sardas. Era Fay Evenhart, que entrou com um olhar divertido enquanto olhava ao redor.
“Você ainda não mudou, pequena.”
“…..Eu trabalho muito.”
“Você dizia isso mesmo quando não estava trabalhando.”
“…..”
Delilah permaneceu em silêncio.
Era verdade, mas não estava ansiosa para admitir.
“Enfim, me encontrei com o aluno de quem você me falou.”
Encontrando um assento no meio da bagunça, Fay começou a falar sobre Julien.
Um raro brilho apareceu em seus olhos enquanto falava dele. Era a primeira vez que Delilah via Fay assim, mas de alguma forma parecia esperado.
Magos Emocionais talentosos eram raros, e aqueles com habilidade muitas vezes enfrentavam desafios assustadores, levando muitos a abandonarem seus caminhos prematuramente.
A descoberta de alguém com talento e resiliência deve tê-la animado muito.
“Já dei uma tarefa a ele. Se tudo correr bem, ele deve mostrar progresso nos próximos meses. Especialmente…”
Fay fez uma pausa, uma rara carranca aparecendo em sua testa.
Delilah olhou para ela confusa, preparando-se para perguntar o que havia de errado, mas antes que pudesse falar, a expressão de Fay voltou ao normal, e ela bateu o dedo em um dos papéis.
“Escolha dinheiro. Dinheiro nunca é uma má escolha.”
“….?”
Antes que Delilah pudesse se aprofundar, Fay levantou-se e se despediu, deixando-a sozinha.
Ela nem ficou por mais de um minuto antes de sair repentinamente.
Esse tipo de comportamento…
Era tão estranhamente parecido com o que ela lembrava dela.
“….”
No silêncio que se seguiu, Delilah refletiu sobre a expressão incomum de Fay, e uma carranca apareceu em seus traços bonitos.
Se havia uma pessoa que ela realmente temia, era Fay.
Apesar de não ter a força física dos Sete Monarcas, a proficiência de Fay em Magia Emocional era formidável.
Para alguém como ela fazer uma expressão tão perturbada…
“Não é bom.”
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