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    O mundo estava escuro.  

    Ele mal conseguia ouvir algo.  

    Foi só após um período desconhecido que Kaelion sentiu sua consciência retornar.  

    “Huaa…!”  

    Ele respirou fundo enquanto olhava ao redor.  

    O mundo estava escuro, com apenas o fraco brilho da luz da lua iluminando os arredores. As árvores sussurravam, e uma brisa suave, mas cortante, passava por entre elas.  

    … Esse era o mundo para o qual Kaelion acordou.  

    Farfalha, farfalha~

    “Oh, você está acordado.”  

    Uma voz o tirou de seus pensamentos.  

    Vinha de cima, e quando ele olhou para cima, seus olhos se encontraram com dois olhos cor de avelã que pareciam sugá-lo no momento em que fez contato com eles.  

    “Haa…”  

    Recolocações fracas do que acontecera surgiram na mente de Kaelion. Foi então que ele percebeu o que havia acontecido.  

    “Você, o que está planejando?”  

    Ele ficou instantaneamente alerta.  

    Dado que ainda não havia sido morto, certamente havia algo que o cadete queria dele. Será que ele queria segredos importantes sobre o Império…?  

    “Ha, se o que—”  

    “O que quer que você pense que eu quero, está errado.”  

    Julien interrompeu Kaelion.  

    “Meu pedido não é nada grandioso. Também o mantive vivo porque não posso exatamente matá-lo. Não que fosse algo que eu estivesse interessado em fazer, para começar. Meu plano é simples…”  

    Baque!

    Julien pulou da árvore, aterrissando no chão enquanto se aproximava de Kaelion.  

    Abaixando-se para ficar no mesmo nível dos olhos de Kaelion, Julien estendeu a mão, e Kaelion se viu engolindo saliva. O que seria…? O que ele queria?  

    “Me faça parte do seu grupo.”  

    “Uh?”  

    ***  

    “Não estou ouvindo errado, estou?”  

    O Professor Thornwhisper encarou a mulher diante dele com olhos incrédulos. Relembrando seu pedido, ele não conseguia acreditar no que ela estava dizendo.  

    “… Você quer que eu cuide de um de seus cadetes e faça com que ele finja ser parte do meu grupo?”  

    Ele riu.  

    “Que tipo de absurdo é esse?”  

    Absurdo era uma palavra leve para descrever o pedido repentino.  

    Cada Império só podia trazer um número fixo de participantes. Embora fossem os delegados do Império Aurora, não eram o único grupo que estava vindo. Havia vários outros.  

    Ter uma pessoa extra…  

    Iria bagunçar toda a ordem.  

    Portanto, era um pedido ridículo. Um que ele achava difícil de acreditar.  

    “Não pense que apenas—”  

    “Acompanhe-o até Bremmer. Eu posso cuidar do resto. Você não deveria ter problemas, então.”  

    Delilah respondeu em um tom plano enquanto encarava o Professor.  

    Por causa de sua falta de expressões, era difícil dizer exatamente o que ela estava pensando. Era um fato que irritava o Professor, que ainda balançou a cabeça.  

    “A resposta ainda é não. Não tenho nada a ganhar com isso.”  

    “… Você terá.”  

    Delilah respondeu, finalmente exibindo algum tipo de expressão na forma de um leve curvado no final de seus lábios, enquanto passava uma pequena esfera para o Professor.  

    “Isso é…?!”  

    A expressão do Professor endureceu no momento em que ele viu a esfera, e sua cabeça imediatamente ergueu-se.  

    “Isso…! Você está voltando atrás no nosso acordo?”  

    Havia raiva visível em seu rosto enquanto ele se dirigia a Delilah. Seu rosto estava vermelho, e as veias em seu pescoço saltavam.  

    Apesar disso, Delilah não parecia muito incomodada com sua expressão.  

    “Não estou voltando atrás no acordo.”  

    A pequena esfera era um dispositivo de gravação. Nela estavam as gravações da partida de exibição onde os do Império Aurora perderam.  

    Se tal vídeo se espalhasse…  

    “… Nós concordamos que não faríamos nenhuma gravação da partida de exibição e manteríamos os resultados para nós mesmos. Como você não está voltando atrás no acordo?”  

    “Porque você fez o mesmo.”  

    Delilah respondeu em um tom direto.  

    Naquele momento, o Professor ficou sem palavras. Foi apenas por um breve instante antes que ele se recuperasse.  

    “Do que você está falando?”  

    A primeira coisa que ele fez foi refutar suas acusações.  

    Com uma franzida, seu tom baixou.  

    “… Você está me acusando de algo? Se está, eu su—”  

    Ele parou de falar no meio da frase.  

    Sentindo os olhos negros como tinta de Delilah sobre ele, ele subitamente se viu incapaz de continuar falando. Era como se todo o seu corpo estivesse sendo sugado para um mundo desconhecido. Ele podia ver mãos negras emergindo do chão, agarrando suas pernas, mantendo-o no lugar.  

    Sem perceber, sua respiração ficou mais pesada e as batidas de seu coração começaram a acelerar.  

    A sensação durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para o Professor gravar aquele sentimento em sua mente.  

    ‘Como esperado dessa monstra…’

    Era um aviso claro dela.  

    … Ele não podia recusar sua oferta.  

    Mas se isso não fosse o suficiente,  

    “Eu sei que você também tem uma gravação. Não adianta tentar esconder isso de mim.”  

    “Haha.”  

    Ele achou a situação hilária.  

    Para uma das mais fortes do Império Nurs Ancifa ter tal pedido… Não só isso, mas para ela saber que ele também estava gravando…  

    “Como esperado, nada escapa de seus olhos.”  

    O segredo estava revelado, e o Professor sabia que não podia continuar fingindo, a menos que quisesse morrer.  

    “… Tudo bem.”  

    Ele não tinha escolha a não ser aceitar o pedido dela, mesmo que não quisesse.  

    “Mas eu só o levarei até Bremmer. Nós nos separaremos no caminho. As coisas ficarão complicadas se as outras equipes me questionarem sobre ele.”  

    “Isso está bom.”  

    Delilah acenou com a cabeça calmamente.  

    “Isso é tudo que eu preciso.”  

    “Ok.”  

    O Professor quis perguntar o motivo por trás do pedido e por que ela não podia tê-lo enviado por um portal feito por ela mesma, mas ele sabia seu lugar e permaneceu quieto.  

    *’É apenas um cadete, ele não deve causar muitos problemas.’*  

    Na pior das hipóteses, ele interferiria pessoalmente.  

    Mas havia algo que o Professor estava curioso.  

    “Sobre o cadete… Você não está preocupada que eu farei algo com ele? Ou talvez os outros cadetes?”  

    “Preocupada…?”  

    Delilah olhou para ele por alguns segundos antes de virar a cabeça. Por um momento, o Professor Thornwhisper quase pensou ter visto piedade brilhar em seus olhos.  

    Piedade…?  

    ‘Não, não tem como.’

    “Apenas faça seu trabalho. Se algo acontecer com ele…”  

    Ela não terminou a frase, mas sua intenção estava clara. Sua figura ficou desfocada logo depois, deixando o Professor sozinho.  

    Encara o local onde ela estivera, ele soltou um longo suspiro antes de fechar os olhos.  

    “… Uma pena que uma pessoa tão forte não seja do nosso Império.”  

    ***  

    To Tok—

    A primeira coisa que Leon fez após o término da partida foi bater na porta de Julien. Ele não morava tão longe dele. Na verdade, eles eram bem próximos, ambos vivendo no mesmo andar.  

    “… Julien?”  

    Quando a porta se abriu, Leon piscou algumas vezes antes de bater na própria cabeça.  

    “Ah, certo.”  

    O quarto de Julien era diferente do anterior.  

    Havia um quarto específico reservado para a Estrela Negra, que agora pertencia a Aoife. Ela tentou recusar o quarto, dizendo que estava confortável onde estava, mas regras eram regras.  

    No final, ela acabou se mudando para o antigo quarto de Julien.  

    Como já fazia um tempo desde que isso acontecera, Leon havia esquecido completamente.  

    “… O que você está fazendo aqui?”  

    Questionada por Aoife, Leon abriu a boca para responder quando ela o interrompeu diretamente.  

    “Deixe-me adivinhar, você queria ver se Julien realmente voltou.”  

    “….”  

    Ele era tão óbvio assim?  

    Bem, considerando que ele realmente foi até o quarto antigo e esqueceu tudo sobre isso, então fazia sentido.  

    “Nem perca tempo checando.”  

    “Hm?”  

    Surpreso, Leon olhou para cima.  

    Foi então que ele viu Aoife coçando o lado do rosto.  

    “Eu posso ou não ter tentado também.”  

    “….”  

    Sentindo o olhar de Leon, Aoife baixou a cabeça em derrota e suspirou.  

    “Eu só… queria dizer a ele que ele pode ser a Estrela Negra se quiser.”  

    “Hm?”  

    “Esse trabalho…”  

    Aoife baixou a cabeça para olhar para seu blazer.  

    “… Eu pensei que realmente queria isso, mas não tenho mais tanta certeza.”  

    Não, Aoife na verdade sabia o motivo pelo qual ela não se sentia como a Estrela Negra, apesar de oficialmente ser uma.  

    Ela… não conquistou.  

    Não só porque Leon desistiu e deu a ela, mas também porque Aoife não conseguiu com seus próprios poderes, derrotando Julien e Leon para ser a primeira.  

    Foi exatamente por isso que ela tentou contatá-lo primeiro.  

    … Mas ele não estava lá.  

    Ou pelo menos, não havia ninguém no quarto.  

    “Você não parece ser alguém que mentiria. Presumo que tenha seus motivos para pensar que Julien voltou. Ele não estava lá quando eu fui, e ainda acho que não está. Quão confiante você está sobre sua suposição?”  

    “Isso…”  

    Leon baixou a cabeça e pensou por um bom momento.  

    Então, após alguns segundos, ele balançou a cabeça.  

    “… Eu estava bem confiante, mas não tenho mais tanta certeza.”  

    Ele apertou a ponte do nariz.  

    “Vou dar uma olhada. Se ele não estiver lá, então não sei…”  

    “Tudo bem.”  

    Aoife acenou com a cabeça enquanto Leon se virou e saiu.  

    Quando ele saiu, Aoife virou a cabeça para olhar para a direita, onde outra porta estava. Ela ficou assim por vários segundos antes de finalmente falar.  

    “E eu que era a stalker…”  

    “Tsk.”  

    Com um clique da língua, a porta se abriu. Parada na porta com as costas encostadas na lateral, Kiera mastigava o palito de alcaçuz em sua boca.  

    “Não estava stalkeando. Você é que estava falando alto.”  

    “… Ah, claro.”  

    Aoife deu a ela um olhar significativo. Isso não agradou Kiera, que virou a cabeça e a encarou.  

    “O quê? Por que está me olhando assim?”  

    “Você sabe.”  

    “Porra, não sei.”  

    “… Claro que não.”  

    Aoife revirou os olhos enquanto olhava para o palito de alcaçuz na boca de Kiera. Sua mudança de cigarros para alcaçuz era bem recente, com ela geralmente consumindo três por dia no máximo.  

    Essa informação não era difícil de saber, já que Kiera sempre xingava sempre que comia um.  

    ‘Porra, eu odeio isso!’

    ‘Ugh…! Por que estou fazendo isso comigo mesma?’

    ‘Quero voltar.’

    Era assim todo dia… Quase todo dia. Hoje foi diferente. Desde o momento em que Leon disse o que disse, Aoife assistiu enquanto Kiera mastigou mais de uma dúzia de palitos sem reclamar uma única vez.  

    “Isso… foi incomum para ela.”  

    Apesar de não demonstrar, ela parecia bem nervosa com o que Leon disse.  

    Foi um pouco engraçado para Aoife, que cobriu a boca levemente.  

    “Ei, do que você está rindo?”  

    “Nada.”  

    Aoife sorriu para Kiera antes de alcançar a maçaneta da porta e fechá-la.  

    “Ei!”  

    Aoife ainda podia ouvir o grito de Kiera enquanto fechava a porta atrás de si, e assim que o fez, o quarto mergulhou no silêncio.  

    Baque! Baque! Baque!

    “Responde, sua vadia!”  

    Ignorando os gritos abafados vindos de fora, Aoife pegou um pequeno palito de sua gaveta e o colocou na boca.  

    Mastigando, ela murmurou:  

    “… Não é tão ruim.”  

    O palito de alcaçuz.

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