Capítulo 223: O Coro Celestial [1]
Um brilho fraco e sinistro vazava pelos vitrais, sua luz tênue mal iluminando o altar imponente no centro da sala.
O ar estava pesado com uma quietude perturbadora, como se as próprias paredes estivessem segurando a respiração, esperando por algo invisível, mas profundamente ameaçador.
“….”
Um homem vestido de branco estava diante do altar.
Seus traços eram envelhecidos, emoldurados por uma batina branca adornada com uma pellegrina e cingida por uma fascia branca franjada.
Um colar dourado pendia em seu peito.
De mãos unidas, ele orava.
“Com reverência e devoção, nós nos oferecemos.”
Sua voz era frágil, ecoando alto dentro da igreja.
“Ligados à sua vontade e propósito,”
Havia um certo magnetismo em sua voz que atraía os ouvidos daqueles presentes.
“Neste mundo e além,”
Mas havia algo mais naquela voz.
Algo mais… sinistro.
“Pois somos seus discípulos leais.”
A voz…
Gotejava um fanatismo arrepiante que beirava a obsessão.
“Ofereça-nos sua orientação, nosso senhor.”
Uma obsessão que extraía a loucura dentro deles.
“…..”
Após a oração, o ambiente ficou em silêncio.
Tak.
Mas o silêncio logo foi quebrado por uma mulher vestida de branco, que se aproximou.
De olhos fechados, ela parou atrás do homem e segurou o rosário em suas mãos.
“Sua Santidade, reunimos os sacrifícios.”
“…..Você os trouxe?”
O homem falou lentamente, seu olhar ainda fixo no altar.
“Houve algum problema?”
“Nenhum.”
A mulher respondeu em tom baixo.
“Como o senhor previu, os sacrifícios atacaram uns aos outros. O veneno penetrou fundo em suas mentes, transformando-os em bestas vulgares, sem qualquer racionalidade.”
“Isso é bom de ouvir. Presumo que você os alimentou com aquilo, certo?”
“Sim. Vários estão em estado crítico, mas todos devem sobreviver. Mas, Sua Santidade…”
A freira hesitou, olhando para o Arcebispo com leve hesitação.
“Por que devemos alimentar esses seres inferiores com o sangue de nosso deus? Não seria melhor se o senhor os consumisse? Se eles receberem algo tão precioso—”
A freira parou.
“…..”
Olhando para as costas do Arcebispo, ela sentiu todo o seu corpo congelar no lugar.
Era uma sensação opressiva e sufocante que a fez segurar o próprio pescoço.
“Ukeh…!”
Felizmente, a sensação não durou muito, dissipando-se enquanto a voz do Arcebispo ecoava novamente:
“…..Mais alguma coisa?”
A freira baixou a cabeça.
“Perdemos trinta e oito irmãos e irmãs para os instrutores. É provável que reforços cheguem.”
“Está tudo bem.”
Sua Santidade respondeu.
“….Isso estava dentro das minhas previsões.”
Lentamente, o Arcebispo Lucas se virou, revelando seus olhos, que eram brancos e vazios de emoção. Apesar de seu sorriso gentil, havia um frio perturbador em seu olhar enquanto ele olhava para a freira no chão.
“Eu consigo ver adiante.”
Ele falou suavemente.
“…..Pois Oracleus me concedeu a visão.”
Era a visão que o permitia saber que os sacrifícios estavam chegando.
“Eu previ sua aparição. Não há com o que se preocupar. Quando encontrarem este lugar, já será tarde demais.”
O Arcebispo Lucas sorriu.
“Inicie o processo. Informe-me se houver problemas.”
“Sim, Sua Santidade.”
***
Em um momento, ele supervisionava os cadetes; no seguinte, foi atacado por várias dezenas de pessoas.
Clank—!
O Professor Thornwhisper desviou do golpe usando uma espada fina.
Mesmo assim, o impacto foi pesado, e ele recuou vários passos.
“Você, quem é você?”
Ele olhou ao redor. Estava no meio de uma floresta, cercado por dezenas de pessoas vestidas de branco. Sua expressão ficou tensa ao vê-las.
‘Elas são fortes.’
Não individualmente, mas juntas… elas o faziam, um indivíduo de nível 5, lutar com dificuldade.
Farfalha~ Farfalha~
Sua pergunta foi recebida apenas com silêncio enquanto elas continuavam a se aproximar. A expressão do Professor mudou ao ver aquilo, e, justamente quando ele estava prestes a atacar, ele se conteve.
‘Isso não é o que eu deveria fazer.’
Ele tinha outras prioridades.
Como encontrar os cadetes e membros do Império.
Ele não podia deixar aqueles jovens talentosos morrerem.
‘Assim que eu encontrá-los…’
O Professor encarou as pessoas de branco.
Então, erguendo sua espada, ele canalizou toda a mana em seu corpo e avançou.
“Huep…!”
Um brilho se manifestou ao redor de sua espada enquanto ele corria.
A mana ao seu redor ficou densa, seus olhos injetados de sangue enquanto seus músculos se tensionavam sob um esforço quase insuportável.
Cortando para baixo, o ar se partiu, junto com o chão.
Estrondo!
Uma explosão aterrorizante quebrou o silêncio, enviando poeira para o ar e obstruindo sua visão. Empurrando a mão para frente, ele a moveu para o lado, abrindo um breve caminho de visão através da espessa névoa.
Foi então que ele avistou duas pessoas.
Elas estavam paradas, olhando para ele.
….Era como se suas ações não significassem nada para elas.
E, de fato, não significavam, pois mesmo quando suas cabeças foram cortadas, elas apenas continuaram a encará-lo.
Passando por elas, o Professor continuou a avançar mais e mais fundo na floresta. Enquanto fazia isso, ele liberou vários pulsos de mana.
Sua principal prioridade agora era encontrar os membros sob sua responsabilidade.
No entanto…
“….Algo está bloqueando minha percepção.”
Para sua frustração, o pulso de mana mal alcançava alguns metros antes de se dissipar.
O Professor cerrou os dentes ao perceber isso.
Olhando ao redor, ele tentou novamente, mas os resultados foram os mesmos.
“Nada.”
A mana parava poucos metros depois de ser liberada. Sentindo seu coração afundar, o Professor cerrou os dentes e tirou uma pequena esfera do bolso.
‘Eu não queria usar isso, mas…’
Ele a olhou com frustração antes de esmagá-la em sua mão.
‘….Não tenho escolha.’
***
“Huaaa…!”
Eu acordei sobressaltado.
“Haa… Haa…”
Meu corpo inteiro estava frio, e minha respiração estava pesada. Eu conseguia sentir o som do meu coração batendo em minha mente, cada vez mais alto.
“O-o que… Ukh!!”
Minha cabeça latejava.
Ao mesmo tempo, senti algo frio escorrer pelo meu corpo.
Era quente e frio ao mesmo tempo. Alternava entre os dois. Eu não sabia o que era.
A morte deveria ser assim…?
Ou, pelo menos, foi o que pensei até abrir os olhos.
“Uh?”
Um som estranho saiu da minha boca quando o fiz.
Como eu ainda estou vivo…?
Não fazia sentido.
As últimas memórias que eu conseguia lembrar eram os momentos antes da minha morte.
A conversa com meu irmão, o cheiro no quarto e o gosto amargo, mas defumado, do uísque descendo pela minha garganta.
“Como isso é possível…?”
Conforme minha visão se ajustava, tentei entender o ambiente ao meu redor.
Era um cenário desconhecido.
Nada como eu já tinha visto antes.
Eu estava em uma espécie de sala de pedra. Vazia, e o único som que eu ouvia era o da minha própria respiração.
“O que está acontecendo?”
Minha cabeça continuava a latejar.
Eu estava confuso.
…..Eu não entendia o que estava rolando.
Em um momento eu estava morto, e no seguinte, acordei em uma sala de pedra vazia.
“É assim que o inferno é?”
Porque,
“….É uma merda.”
Segurando meu peito, tossi várias vezes.
Eu sentia a dor que apertava meu peito e sabia que isso era real. Que eu não estava morto, e que ainda estava vivo.
Mas como…?
Como isso era possível!?
“Cough!”
Tossi novamente, segurando minhas roupas com força.
“Uh?”
Olhei para minha mão.
Era muito mais musculosa do que eu lembrava.
“Não, está muito mais musculosa…”
Por causa do câncer, meus músculos haviam se degenerado. Eu era só pele e osso, e ainda assim…
“Huup!”
Me levantando, me senti cheio de energia.
Eu conseguia me mover livremente e não me sentia fraco.
“O-o que está acontecendo?”
Comecei a tocar meu rosto.
….Mas logo percebi que não adiantava. Eu não conseguia notar diferença.
“Hooo.”
Respirei fundo para me acalmar.
Várias possibilidades passaram pela minha mente. No fim, a única conclusão que consegui chegar foi:
‘Um experimento.’
Eu tinha sido submetido a algum tipo de experimento que curou meu câncer.
“Sim, só pode ser isso.”
Era a única explicação.
Olhando ao redor, meu olhar caiu sobre uma porta de pedra, e eu me dirigi a ela.
Estrondo! Estrondo—!
Bati na porta.
“Me deixem sair! Estou acordado! Me deixem sair…!”
E, no entanto, por mais que eu batesse na porta de pedra, ela não se mexia.
Estrondo, estrondo!
“Me deixem sair! Me deixem sair!”
Continuei gritando, mas nada.
Nenhuma resposta.
Que tipo de…!
Estrondo, estrondo, estrondo!!
“Me deixem sair!!!”
Continuei batendo na porta.
Bati, bati e bati. E, ainda assim, não importava o quão forte eu tentasse, ninguém vinha. Mesmo quando minhas mãos começaram a ficar dormentes, continuei batendo.
Mas…
Nada.
“Me… deixem… sair!!”
Estrondo!
“Haa… haaa… Haa….”
Gradualmente, a energia começou a deixar meu corpo. Eu mal tinha forças para continuar batendo na parede, e lentamente caí de joelhos.
“Haa… Haa…”
Minha visão estava embaçada, e gotas de suor escorriam pelo meu rosto.
“O-o que está acontecendo?”
Eu mal conseguia entender a situação.
Em um momento eu estava morto, e no seguinte, estava vivo novamente, mas preso em uma sala.
“T-talvez eles venham logo…”
Encostando-me na porta, recuperei o fôlego enquanto olhava para o teto da sala. Enquanto meu peito subia e descia repetidamente, senti uma picada em minha mão esquerda.
“Ah….!”
Minha expressão se distorceu no momento em que olhei para baixo.
Preso em meu braço estava um frasco contendo um líquido vermelho-sangue. Ele estava perfurando diretamente minha veia, e eu conseguia sentir uma leve pulsação enquanto a substância sinistra fluía em minha corrente sanguínea.
“Haa… Haa…”
Por causa do pânico, eu não havia percebido antes.
Mas, olhando para aquilo agora, eu sentia minha respiração acelerar.
Pensei em remover o líquido, mas, considerando que eu ainda estava vivo, hesitei.
E se…? E se esse fosse o líquido que curou meu câncer?
Se fosse o caso, eu morreria se o removesse?
“Agh.”
Esfreguei minha mão no cabelo, bagunçando-o.
“Irmão.”
Ao mesmo tempo, comecei a pensar no meu irmão. Como ele estava? Quanto tempo havia desde que eu fui incapacitado? Ele concordou com tudo isso…?
“….Ah.”
Minha cabeça latejava ferozmente a cada novo pensamento.
Mas isso não durou muito.
Estrondo! Estrondo!
A sala tremeu, e quando virei a cabeça, meus olhos se iluminaram.
A porta…
Finalmente estava se abrindo.
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