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    Leon sentiu-se atordoado.  

    Tudo parecia vago, e sua mente oscilava entre a consciência e a inconsciência.  

    ‘O que está acontecendo?’  

    O cheiro de sangue invadiu sua mente, formigando em seu nariz.  

    Ele sentia uma dor no pescoço.  

    Doía bastante, mas ele sabia que ainda estava vivo. A dor era a prova disso.  

    Era a prova de que ainda estava vivo e apenas inconsciente.  

    A paisagem em sua mente mudou.  

    Leon se viu em uma floresta familiar. As árvores estavam espaçadas, seus troncos finos projetando sombras alongadas na grama rala que mal cobria o chão.  

    Ele conhecia bem aquele lugar.  

    Porque…  

    Ele havia crescido ali.  

    O Baronia de Evenus.  

    Swoosh—!  

    Uma lâmina desceu de cima, mirando em seu pescoço.  

    ‘Morra…!’  

    Por pouco, Leon conseguiu desviar da lâmina.  

    Virando a cabeça, seu olhar se fixou em uma figura familiar à distância. O homem tinha cabelos negros como ébano e olhos avelã penetrantes, mantendo-se ereto com uma espada na mão.  

    A visão dele despertou uma mistura de inquietação e algo mais que ele não conseguia explicar.  

    Mas ele também parecia mais jovem.  

    ‘Julien?’  

    ‘Porra, você é escorregadio como sempre, bastardo.’  

    Ah, isso…  

    Finalmente, Leon percebeu o que estava acontecendo.  

    Era uma memória.  

    Uma memória distante sua. De quando Julien havia mudado.  

    ‘Você é meu maldito servo. Se eu disser para você morrer, você morre?’  

    A expressão de Julien estava distorcida, algo que Leon achava muito estranho.  

    Ele estava tão acostumado com o Julien impassível que aquele diante dele parecia errado.  

    Mas isso…  

    Esse era o Julien real.  

    ‘Porra, seu merda barato.’  

    Julien o encarou.  

    Fazia tempo que Leon não era olhado daquele jeito por ele. Quase sentiu falta daquela expressão.  

    Leon observou enquanto Julien baixava a cabeça para olhar a espada em sua mão.  

    Não era uma espada chique, apenas um modelo que os dois costumavam usar ao treinar juntos de manhã.  

    ‘…De todas as pessoas, por que tinha que ser você? Por que você foi o único que nasceu talentoso com a espada?’  

    Havia ressentimento claro no olhar de Julien enquanto encarava a espada.  

    Estendendo a mão, um círculo mágico pairou sobre sua palma.  

    ‘Essa magia de maldição de merda. Para que serve se tem uma espada? Droga!’  

    Julien praguejou, seus olhos oscilando entre loucura e sanidade.  

    ‘Ahh, merda.’  

    Ele esfregou os cabelos, encarando para frente e erguendo a espada.  

    ‘Morra, porra…!’  

    Ele estendeu a mão, e mãos roxas emergiram do chão, imobilizando Leon.  

    ‘Ahhh!’  

    Leon ainda se lembrava de como havia gritado naquela época.  

    Especialmente ao lembrar da espada cortando seu pescoço, separando-o completamente.  

    A dor combinava exatamente com a que ele sentia agora.  

    …Aquilo.  

    Aquela era a memória da primeira vez que Leon havia morrido.1

    *  

    Leon abriu os olhos.  

    ‘Uh…?’  

    Ele começou a massagear o pescoço.  

    A dor ainda estava lá.  

    Ou talvez não, e ele apenas a imaginava, mas a dor parecia tão vívida em sua mente.  

    “Ugh.”  

    Ele se levantou e olhou ao redor.  

    Encontrou-se sentado dentro de uma caverna familiar, e as memórias começaram a inundar sua mente.  

    ‘Eu morri.’  

    Ou pelo menos, achou que tinha.  

    Mas olhando para seu corpo, percebeu que ainda estava inteiro.  

    Havia algumas explicações para tal situação.  

    Talvez uma ilusão ou que ele havia sido revivido.  

    “Ho…”  

    Leon respirou fundo.  

    Se fosse uma ilusão, então tudo bem, mas se não fosse o caso…  

    “….”  

    Leon sentiu uma dor repentina em seu braço esquerdo. Virando a cabeça, seu olhar caiu no pequeno frasco preso ao seu braço, e sua expressão congelou por uma fração de segundo.  

    Em particular, seu olhar se fixou no líquido vermelho que pulsava dentro do tubo.  

    A quantidade estava menor do que antes.  

    Todos os tipos de pensamentos passaram por sua mente antes que ele finalmente fechasse os olhos.  

    “Entendo…”  

    Ele finalmente percebeu o que havia acontecido.  

    “….Então foi isso.”  

    Ele quis rir, mas não conseguiu.  

    ‘Onde é este lugar?’  

    Assim que soube o que acontecera, não se sentiu mais em pânico. Olhou ao redor por alguns segundos antes de perder o interesse no local.  

    Ele relembrou todas as pistas que havia decifrado até agora, e uma ideia começou a se formar em sua mente.  

    ‘Algum tipo de culto. Muito provavelmente outra igreja que venera um dos sete deuses, mas em um nível mais extremo.’  

    Os sete deuses.  

    Existiam sete igrejas principais no mundo. Independentemente do Império ou reinos, as sete igrejas existiam em todos os lugares.  

    Sua influência era vasta, e Leon também era um devoto de uma das igrejas.  

    Ou mais especificamente, um dos sete deuses.  

    Mortum.  

    O Deus da Imortalidade.  

    “Hahaha.”  

    Ele riu enquanto olhava para o frasco em seu braço.  

    ….Ele tinha um palpite antes, mas agora estava certo.  

    “O sangue de Mortum.”  

    Apenas o sangue ‘dele’ era capaz de algo assim.  

    Leon sabia muito bem.  

    Ele já havia experimentado antes.  

    Riiip—  

    Rasgando suas roupas, Leon baixou a cabeça para olhar seu corpo.  

    “Hahahah.”  

    Sua risada cresceu ao ver o que o aguardava.  

    Pulsando com vida, ele podia ver cada veia em seu corpo. Elas brilhavam com um estranho tom azulado.  

    “Parece que o acúmulo da dose anterior finalmente atingiu o limite.”  

    Ele levou a mão ao peito, agarrando seu coração visível enquanto lentamente retirava um cálice dele.  

    O cálice emitia um brilho negro misterioso enquanto Leon olhava para o líquido dentro.  

    Ele pulsava com um ritmo perturbadoramente semelhante à substância no frasco.  

    Hesitante, ele levou o cálice aos lábios e bebeu.  

    Gulp…!  

    No momento em que o líquido entrou em seu corpo, suas veias pulsaram com um brilho ainda mais forte, quase cegando tudo ao redor.  

    Poder percorreu suas veias, e ele podia sentir sua força aumentando, a nova energia fluindo através dele.  

    Fechando os olhos, abriu a boca enquanto uma sensação eufórica inundava sua mente.  

    “Haaa…”  

    ***  

    “….Eu sou uma farsa?”  

    Fiquei parado, encarando a coruja e o gato estranhos diante de mim.  

    O tempo todo, eles estavam falando sobre coisas que eu não entendia direito, mas se havia algo que eu compreendia, era que eles sabiam algo que eu não sabia.  

    “Farsa…”  

    Eles vinham dizendo isso há um tempo.  

    Ou melhor, insinuando que eu não deveria pertencer a este corpo.  

    “O que vocês querem dizer com isso? Sabem o que está acontecendo? Vocês dois são…?”  

    “…..”  

    A coruja permaneceu em silêncio enquanto me encarava. Ficou assim por alguns segundos antes de finalmente abrir o bico para falar.  

    “Seu nome verdadeiro é Julien.”  

    “Julien…?”  

    “Julien Dacre Evenus.”  

    A coruja estranha corrigiu, dando-me um nome completo.  

    “…Esse era o nome da pessoa a quem este corpo pertence.”  

    Por algum motivo, senti todo o meu corpo estremecer.  

    A fonte disso tudo era a coruja estranha diante de mim. Sua voz era frágil e profunda, reverberando pela caverna com uma ressonância perturbadora.  

    Enquanto falava, senti um tremor involuntário em meu corpo, minha cabeça se contraindo levemente a cada palavra que ela pronunciava.  

    Era como se eu estivesse sendo arrastado para um mar de gelo, afundando cada vez mais nele.  

    O jeito que ela me olhava…  

    ‘Ela pode me matar.’  

    Engoli minha saliva.  

    “Eu tinha um acordo com aquele humano. O acordo foi algo que cumpri. Mas…”  

    A coruja parou de falar, seu olhar ficando mais afiado e frio. Senti cada pelo do meu corpo se arrepiar sob seu olhar.  

    ….A situação começou a ficar clara para mim.  

    ‘Que tipo de situação fodida é essa?’  

    De repente, fiquei nervoso.  

    Pelo que entendi, este não era meu corpo real. Eu havia tomado o corpo de outra pessoa.  

    Julien algo Evans.  

    Eu me recusava a acreditar nessa possibilidade, mas pensando em como meu rosto mudou, e todo o meu corpo também, a realidade brutal estava diante de mim.  

    ‘Ah, porra.’  

    Senti algo subir em meu peito com a realização.  

    ‘Então, se eu tomei o corpo de outra pessoa, onde exatamente estou? E quanto a… E quanto a…’  

    Todos os tipos de pensamentos começaram a passar por minha mente naquele momento, anulando as palavras que a coruja estava dizendo.  

    O medo que antes me dominara desapareceu, e tudo que comecei a pensar foi em uma coisa.  

    ‘Irmão.’  

    E quanto ao meu irmão…?  

    “Hmm? Você está começando a parecer mais com ele.”  

    Levantei a cabeça para encarar a coruja.  

    Ela me olhou de volta com seus olhos frios.  

    Começando a parecer com ele?  

    O que ela quis dizer com isso…?  

    “Mas você ainda não é o mesmo. Você não mostra, mas posso ver o medo escondido no fundo dos seus olhos. Foi por causa dele que comecei a entender emoções melhor. Mas agora que ele se foi, não vejo por que deveria mantê-lo vivo.”  

    Pisquei em silêncio.  

    Já que ela ainda estava falando, então talvez… talvez ainda houvesse uma chance de que ela não me matasse.  

    E como esperado, era exatamente isso.  

    “…A única razão pela qual não estou matando você é porque há uma chance de que ele possa voltar. Quem quer que você seja, saiba que a única razão pela qual ainda está vivo é por causa dele. Se, quando eu decidir que já esperei tempo suficiente e ele ainda não voltou, acabarei com você em um instante.”  

    Engoli suas palavras.  

    Eu sabia que a coruja não estava brincando com o que estava dizendo, e só pude fechar os olhos e aceitar a situação.  

    ‘Este corpo não me pertence, e uma coruja está querendo me matar depois que achar que esperou tempo demais.’  

    Ótimo.  

    Que ótimo.  

    Que situação fodida era essa.  

    “Dito isso, eu vou ajudá-lo.”  

    Levantei a cabeça e olhei para a coruja estranha.  

    “Há outra possibilidade que ainda não considerei.”  

    “Outra possibilidade?”  

    “Sim.”  

    A coruja olhou para o gato, que a encarou de volta.  

    Depois de um tempo, ele também acenou.  

    “É possível.”  

    A coruja acenou levemente, voltando seus olhos para mim.  

    “Há uma possibilidade de que você não tenha tomado um corpo. Em vez disso, perdeu suas memórias.”  

    “Ah…?”  

    Pisquei repetidamente, sem entender o que ela estava tentando dizer.  

    Perdi minhas memórias?  

    “Não, isso é impossível.”  

    Fui rápido em descartar esses pensamentos.  

    De jeito nenhum.  

    Eu ainda conseguia lembrar de tudo vividamente, como se tivesse sido há alguns segundos atrás, e… e… era simplesmente impossível.  

    Eu me recusava a acreditar nessa possibilidade.  

    “Você pode achar que sim, mas eu não acredito nisso. Você pode ser uma pessoa diferente, mas sua alma ainda parece a mesma. Como uma vontade, eu posso sentir.”  

    “O quê…?”  

    Mais termos desconhecidos saíram da boca da coruja, e eu cerrei os lábios.  

    Respirando fundo várias vezes para me acalmar, fechei os olhos e inspirei profundamente.  

    “Ok.”  

    Abri os olhos novamente, encarando a coruja.  

    “Você disse que vai me ajudar, certo?”  

    “Correto.”  

    “Entendo.”  

    A história toda sobre eu ter perdido minhas memórias, eu não acreditava de jeito nenhum. Ainda assim, decidi ir com o fluxo e parei de questionar.  

    Eu precisava de respostas para minha situação, e a coruja parecia saber algo.  

    Por isso, a decisão mais sábia era ir junto.  

    ‘Sim, até eu descobrir algo.’  

    Como se pudesse ler meus pensamentos, o olhar da coruja permaneceu fixo em mim. Eu não liguei e apenas acenei para ela.  

    “Eu vou cooperar com você.”  

    Foi quando abri a boca para perguntar:  

    “….Eu farei isso, mas como devo chamar você?”  

    A coruja me olhou antes de virar para o gato, que se enrolou sozinho. Então, encarando-me novamente, abriu o bico para dizer:  

    “Coruja-Poderosa.”  

    “….”  

    Pisquei os olhos, tentando ter certeza de que não tinha ouvido errado.  

    Mas não tinha.  

    O silêncio que repentinamente tomou conta do lugar era uma confirmação disso.  

    Então, olhando para a coruja e vendo que ela não estava brincando, senti algo subir do fundo do meu peito.  

    Algo sinistro…  

    Algo…  

    “Pftt.”  

    ***  

    Nota do Autor:

    Só queria abordar algumas coisas que foram levantadas. Entendo que algumas pessoas possam estar irritadas com alguns desenvolvimentos, mas não escrevo as coisas aleatoriamente (espero que não). Tenho um objetivo em mente.  

    Entendo que alguns possam não gostar de certas partes, mas se você chegou até aqui, deve conhecer meu estilo de escrita, que foca no desenvolvimento até o clímax, onde tudo faz mais sentido. Por favor, tenham paciência.

    1. ?!?!?![]

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