Capítulo 227: Provas das Mentes Esquecidas [2]
Imediatamente depois de rir, rapidamente cobri minha boca e olhei para a coruja que me encarava com os olhos semicerrados.
“…..”
Um silêncio estranho tomou conta do ambiente.
“…Não foi engraçado.”
Tentei disfarçar, mas o gato não me deu chance.
“Isso foi uma risada.”
Ele então virou-se para olhar a coruja, com um sorriso que lentamente se formou em seus lábios. Não disse nada, mas pelo seu olhar, parecia estar se gabando.
A coruja apenas lançou um olhar para ele antes de expressar o que parecia ser desprezo.
“Você é quem fala, pedrinha.”
“…..”
O gato congelou, e eu também.
Rapidamente segurei meu peito e suprimi o tremor no meu rosto.
‘Que diabos é isso…?’
Meu rosto continuou tremendo.
Só piorou quando tanto a coruja quanto o gato se viraram para me olhar. Era como se estivessem me desafiando a rir.
Mas eu não ri.
Eu resisti.
“….”
Mordendo meus lábios até sangrar, mantive meu rosto firme.
Pensando bem, o fato de eu estar tentando segurar minha risada diante de um gato e uma coruja mostrava o quanto eu já estava perdido.
Foi essa percepção que realmente me acalmou, e eu respirei fundo.
“Vocês têm nomes muito interessantes.”
“…Meu nome é apenas temporário.”
O gato disse enquanto me encarava.
Então, ergueu-se sobre duas patas, e sua voz se aprofundou.
“Mas não se engane. Eu sou um dragão todo-poderoso!”
“Um dragão?”
Pisquei os olhos enquanto observava o gato tentando parecer imponente. Ele certamente tentou, mas eu apenas o achei estranhamente adorável.
Por outro lado, a coruja observava de lado enquanto abria o bico para falar.
“Eu sou uma árvore.”
“…Uma o quê?”
Minha cabeça virou na direção dela.
Encontrando seus dois olhos vermelhos penetrantes, perguntei novamente para ter certeza de que não tinha ouvido errado.
“Você disse que é uma árvore?”
“Correto.”
“…Ah.”
Apertei a região entre minhas sobrancelhas.
Então, não só o gato, mas o cachorro também tinha enlouquecido.
‘Não, na verdade, sou eu que enlouqueci.’
Diante desse pensamento, comecei a mexer no meu cabelo e tentei entender toda a situação.
‘Então, estou dentro do corpo de alguém que não conheço. Uma coruja e um gato estranhos parecem conhecer o dono anterior do corpo, e estão dizendo que há uma chance de eu ter perdido minhas memórias, mas duvido que seja o caso.’
…Ou talvez não.
Pensando nos nomes da coruja e do gato, me peguei pensando que talvez a hipótese deles não estivesse errada.
‘Claro, também há a chance de eu estar apenas imaginando esses dois.’
Se fosse esse o caso, então essa hipótese estava fora de cogitação.
Mas sério…
‘Coruja-Poderosa? Pedrinha…?’
Impressionante.
“Até descobrirmos o que está acontecendo, vamos mantê-lo vivo.”
Chamando minha atenção, a voz da coruja ecoou enquanto ela me olhava.
Então, como se percebesse algo, perguntou:
“Você sabe como usar seus poderes?”
“Poderes?”
Que poderes?
“….”
A coruja e o gato se entreolharam. Ficaram em silêncio por um breve momento antes que o gato falasse.
“Se ele perdeu as memórias, então não deveria ser capaz.”
“…Sim.”
“Do que vocês estão falando?”
Poderes…?
Estavam falando de poderes como aqueles das histórias em quadrinhos? Nah, impossível, certo?
Sem dizer uma palavra, o gato avançou.
Eu o encarei confuso, mas antes que eu pudesse dizer algo, de repente senti algo pesado pressionar meus ombros.
“Ukh…!”
Minhas costas começaram a se curvar, e respirar ficou mais difícil.
Arregalando os olhos, olhei para o gato de aparência inofensiva enquanto ele me encarava friamente.
“Você tem poderes, humano.”
Sua voz profunda ecoou em minha mente.
“…O dono anterior do corpo era bastante poderoso. Longe de ser tão poderoso quanto eu, mas uma força respeitável. Nós dois somos vontades ativas que existem dentro do corpo que você tomou.”
“Khh…!”
Apesar da pressão que me oprimia, continuei ouvindo cada palavra que o gato dizia.
“Você não perdeu seus poderes. Posso sentir. Você pode ter esquecido como usá-los, mas eles ainda estão dentro de você.”
Conforme as palavras do gato desapareciam, a pressão que me oprimia também começou a diminuir.
“Haa… haa…”
Respirando pesadamente, olhei para o gato.
Havia várias coisas que eu queria perguntar, mas parei quando percebi o olhar da coruja em mim.
Me vi incapaz de falar enquanto me perdia naqueles olhos vermelhos assustadores.
Foi a voz dela que me tirou do transe.
“Tente dizer ‘status’.”
“Uh…?”
“Eram as palavras que o humano costumava dizer para abrir aquela janela estranha. Me pergunto se também funciona com você.”
Olhei para a coruja confuso, mas depois de alguns segundos, me recompus e fiz como me foi dito.
Embora não tivesse ideia do que ela estava falando, também não tinha ideia sobre todo o resto que ela disse.
Por isso, obedeci.
Abri minha boca e murmurei:
“Status.”
Foi então que uma mudança ocorreu, e meus olhos se arregalaram.
“…..!”
Aparecendo diante de mim estava uma grande janela luminescente, e meu coração pulou.
— ●[Julien D. Evenus]● —
Nível: 35 [Mago Tier 3]
Exp: [0%—[11%]———————100%]
Profissão: Mago
﹂ Tipo: Elemental [Maldição]
﹂ Tipo: Mente [Emotivo]
Magias:
﹂ Magia avançada [Emotivo]: Raiva
﹂ Magia superior [Emotivo]: Tristeza
﹂ Magia avançada [Emotivo]: Medo
﹂ Magia intermediária [Emotivo]: Felicidade
﹂ Magia intermediária [Emotivo]: Nojo
﹂ Magia avançada [Emotivo]: Surpresa
﹂ Magia iniciante [Maldição]: Correntes de Alakantria
﹂ Magia intermediária [Maldição]: Presas da Pestilência
Habilidades:
[Inata] – Visão do Futuro
[Inata] – Tecer do Éter
[Inata] – Véu do Engano
[Inata] – Passo da Supressão
— ●[Julien D. Evenus]● —
“Oh, isso…”
Dei um passo para trás.
“…Que tipo de situação é essa?”
***
Baque!
Uma figura caiu diante do Arcebispo.
“Ukh… uh… ah…”
Convulsionando sob os pés do Arcebispo, lágrimas negras continuavam a cair dos olhos da figura.
“…..”
O homem parecia querer dizer algo, mas a única coisa que saía de sua boca eram palavras incoerentes.
“Oh, meu.”
O Arcebispo olhou para o homem com genuína tristeza.
“Parece que este discípulo ainda precisa ser ensinado.”
Ele ergueu a cabeça, seu olhar se voltando para as freiras que cercavam a sala. Seus olhos estavam estranhamente fechados, rostos sem expressões, e elas seguravam velas que tremeluziam levemente.
Um silêncio perturbador tomou o ar enquanto o Arcebispo acenou com a mão.
“Leve-o para as Provas das Mentes Esquecidas. Sua mente ainda está corrompida.”
A sua ordem, os olhos das freiras se abriram enquanto duas avançavam.
Como se entendesse o que estava acontecendo, o homem no chão começou a convulsionar ainda mais.
“Akh..! Akh!!”
Seus gritos ecoaram alto dentro da igreja.
Mesmo assim, tudo foi em vão. Mesmo resistindo, ele só pôde assistir enquanto as freiras levantavam seu corpo e o carregavam para longe.
“Uakh…!”
Pinga! Pinga…!
Lágrimas negras mancharam o chão enquanto ele partia.
Olhando para a distância, o Arcebispo Lucas fechou os olhos.
Então, virando-se de volta para o altar, murmurou:
“Parece que é hora dos discípulos em treinamento experimentarem a Sala das Mentes Esquecidas.”
Só então eles se tornariam verdadeiros discípulos.
***
“Porra…”
Encostada na parede, Kiera olhou para o teto. Já haviam se passado várias horas desde que ela fora trancada naquela sala, e ela estava francamente entediada.
A adrenalina e a confusão já haviam passado, e tudo o que restara foi o tédio.
“…E está tão sujo também.”
Olhando ao redor, sentiu suas mãos formigarem.
Estava tão sujo e desorganizado. E isso apesar de não haver nenhuma decoração no lugar.
Porra.
Porra.
Porra.
“Quero limpar isso.”
Ela começou a coçar a nuca enquanto a ansiedade tomava conta de sua mente.
Isso era tortura.
Estrondo…!
Felizmente, sua tortura não durou muito. De repente, as portas começaram a tremer, e ela olhou para cima.
Uma mulher vestida de branco estava do outro lado da porta.
Kiera não precisou que ela falasse para saber o que queria. Ela se levantou e a seguiu para fora da sala.
“Para onde estamos indo?”
“….”
A mulher de branco não respondeu.
“Ah, então é isso.”
Não que importasse para Kiera.
Todo aquele isolamento estava a deixando louca.
“Então é por aqui. Eu sabia.”
Só havia um caminho…
“Então, tipo, tudo o que aconteceu antes de chegarmos aqui era falso? Eu realmente não matei, né?”
Kiera ainda conseguia se lembrar do que acontecera na floresta quando lutou contra Aoife e Leon.
Ainda conseguia se lembrar do caos, e desde então, as coisas estavam um pouco estranhas com os outros.
Bem, as coisas sempre foram estranhas com Aoife, mas estavam melhorando.
Agora…?
“Ehh.”
Kiera sentia que as coisas estavam piores do que nunca.
“É falso, né? Uma ilusão?”
Na verdade, ela sabia que não era o caso.
Embora não entendesse completamente o que estava acontecendo, sabia que já morrera duas vezes.
Disso ela tinha certeza.
Ela só não queria admitir.
“….”
Infelizmente para Kiera, ela nunca receberia sua resposta.
O tempo todo, a mulher de branco permaneceu em silêncio até que finalmente parou.
“Umpf!”
Perdida em seus pensamentos, o rosto de Kiera bateu nas costas dela.
“Ah, ukh.”
Cobrindo o nariz, olhou para frente e sua expressão congelou.
Uma igreja.
…Uma grande igreja se erguia diante de seus olhos. Sentados nos bancos de madeira estavam rostos familiares, fazendo a expressão de Kiera mudar sutilmente.
“Isso é…”
Ela nunca conseguiu terminar sua frase.
Gradualmente, seus olhos se fixaram em uma figura que estava no meio da igreja. De olhos fechados, ele estava diante de um grande altar.
Parecia estar murmurando algo.
Além disso, logo atrás dele estava um jovem de cabelos loiros curtos e olhos azuis.
Aquele cara…
Kiera conseguia se lembrar dele.
Ele era o cadete estranho do Império Aurora.
‘O que ele está fazendo aí…?’
Kiera ainda se lembrava dele do encontro que tiveram na floresta. Ele era bastante forte, mas havia algo nele que ela achava perturbador.
Não sabia explicar direito, mas ele passava uma vibe parecida com a de Julien.
Mas… ao mesmo tempo, era diferente.
Seu melhor palpite era que ele também era um Mago Emotivo, mas Kiera sentia que havia mais ali.
“Vamos começar.”
Os pensamentos de Kiera foram interrompidos pelo eco alto do velho diante do altar.
Pressionando sua mão contra o cadete de cabelos loiros, suas palavras ecoaram por todo o lugar.
“…Agora daremos início ao julgamento das mentes esquecidas.”
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