Capítulo 230: O Anel do Nada [2]  

Leon estava sentado em sua câmara com os olhos fechados.  

Ele estava sem camisa, e um brilho azul emanava de seu corpo, destacando cada veia.  

Ba… Baque! Ba… Baque!  

O batimento de seu coração ecoava suavemente pelo quarto, enquanto o próprio coração também brilhava com o azul que vinha de dentro dele.  

Era uma visão que deixaria qualquer um sem fôlego.  

“…..”  

Assim como todos os outros, ele havia passado pelo ‘Teste das Mentes Esquecidas’.  

No entanto, diferente deles, ele conseguiu manter sua racionalidade. Com o cálice em seu corpo, todo o mana que entrava em seu cérebro era rapidamente absorvido por ele.  

“Pftt—!”  

O silêncio do quarto se quebrou quando Leon cuspiu um jorro de sangue.  

Pinga! Pinga..!  

Cobrindo a boca, Leon baixou a cabeça para olhar a centopeia que se contorcia diante dele.  

“Como esperado.”  

Aproximando a centopeia do rosto para observá-la melhor, ele a encarou por alguns segundos antes de apertar os dedos e esmagá-la.  

Um líquido negro escorreu do corpo da centopeia no momento em que ele a esmagou.  

Usando suas roupas, Leon limpou os dedos do resíduo e respirou fundo.  

“Hoo…”  

O brilho azul que envolvia seu corpo começou a diminuir gradualmente, até desaparecer por completo.  

Então, uma força poderosa surgiu das profundezas de seu corpo enquanto seus músculos se tensionavam, e seu rosto ficou vermelho.  

Apertando os dentes, ele se forçou a não emitir nenhum som.  

Cracka! Cracka…!  

Estalidos ecoaram pelo quarto enquanto a expressão de Leon se contorcia.  

Reformação Óssea.  

Um processo pelo qual todos que evoluíam do Tier 3 para o Tier 4 passavam.  

Era um processo doloroso que desintegrava os ossos do usuário e criava outros novos e mais resistentes. A menos que alguém passasse por isso, não poderia ser considerado um verdadeiro usuário de Tier 4.  

Para alcançar o Tier 5, era necessário criar um domínio.  

“…..!!”  

A dor começou a tomar conta da mente de Leon, e por um breve momento, seus pensamentos se apagaram por completo.  

Mas ele rapidamente recuperou a consciência.  

“Ahh…!”  

Ele acabou gritando um pouco, mas conseguiu manter o som baixo.  

Não era que ele temesse ser ouvido, pois estava confiante de que o isolamento acústico era bom.  

….Ele estava apenas sendo cauteloso.  

Havia muitos “e se” no mundo.  

“Hooo.”  

Felizmente, o processo não durou muito.  

Leon terminou em cerca de cinco minutos, com vapor subindo de seu corpo, que estava completamente vermelho.  

“Haa… Haa…”  

Suas roupas estavam pegajosas de suor, e sua cabeça estava quente.  

Ainda assim…  

“Tier 4.”  

Leon olhou para seus braços, que estavam mais grossos que antes.  

Ele podia sentir que estava transbordando de poder. Com um único soco, ele tinha certeza de que poderia destruir a porta que o mantinha preso.  

Havia runas do lado de fora que impediam alguém de arrombar a porta, mas elas não eram mais uma preocupação para ele.  

“…..”  

Leon se levantou.  

Sacudindo as roupas encharcadas de suor, ele caminhou até a porta e pressionou a mão contra ela.  

‘Preciso sair daqui.’  

Não havia muito tempo.  

Ele era, sem dúvida, mais forte que o Arcebispo, mas esse não era seu maior problema. Havia mais de uma dúzia de seguidores, todos fortes em seu próprio direito. Embora Leon estivesse mais poderoso agora, ele não acreditava que poderia derrotar todos sozinho.  

O único caminho lógico era fugir.  

Mas,  

“….Preciso salvar todos.”  

Pelo menos, aqueles que ele pudesse.  

Ele não podia escapar sozinho. Precisava de ajuda.  

Por isso, ele começou a pensar em maneiras de libertar os outros. Logo, uma ideia surgiu em sua mente, e ele canalizou a mana dentro de si, enviando um pulso sutil em direção à porta.  

‘Espero que isso funcione.’  

Estrondo…!  

Em instantes, a porta começou a se abrir.  

Leon permaneceu imóvel até que a silhueta de uma figura vestida de branco apareceu em seu campo de visão. Com olhos vazios, ela o encarava.  

À distância, ele também podia ouvir passos se aproximando.  

‘Então eles podem se comunicar rapidamente.’  

Leon fechou os olhos por um breve momento antes de abri-los novamente. Então, com um brilho afiado em seu olhar, ele pressionou o pé no chão e avançou pela pequena abertura da porta.  

Seus movimentos foram rápidos, e no tempo que alguém levaria para respirar, ele já havia escapado da câmara.  

Assim que conseguiu sair, a primeira coisa que Leon fez foi se virar e mergulhar em direção ao guarda estacionado do lado de fora.  

Tudo aconteceu em segundos, e o guarda mal teve tempo de se virar antes que Leon deslizasse por trás dele e agarra-se seu pescoço.  

Cracka!  

Leon não perdeu tempo e quebrou seu pescoço.  

Baque!  

Observando o corpo cair, Leon respirou fundo.  

Ele então chutou o corpo de volta para a câmara e pressionou a mão contra a porta.  

Estrondo!  

A porta começou a se fechar.  

Enquanto isso, Leon colocou a mão sobre o rosto. Seus músculos se contorceram, assim como sua estrutura facial.  

Logo, ele adquiriu uma aparência quase idêntica à do guarda que estava do lado de fora.  

Ele parecia uma cópia assustadora.  

Mas Leon sabia que isso não era o suficiente.  

Tak, tak, tak—  

Os passos distantes se aproximavam, e ele apertou os punhos com força.  

Tensionando as costas, ele olhou para o fundo do túnel, coberto de escuridão.  

Ele ficou parado por alguns segundos enquanto os passos se aproximavam.  

Eles continuavam, chegando mais perto.  

Mais perto…  

Mais…  

“Hup!”  

Leon pressionou o pé contra o chão no momento em que avistou algo à distância.  

Seu corpo ficou borrado por um instante, e logo ele estava diante do grupo de guardas que vinha verificar sua área.  

Recuando o punho, Leon desferiu um soco.  

Estrondo!  

Uma explosão alta ecoou.  

***  

“Isso veio de mim…?”  

Eu olhei ao redor, chocado.  

Fios…  

Eu podia ver fios cobrindo todo o espaço ao meu redor. Eles eram finos, quase imperceptíveis a olho nu.  

‘Eles parecem muito afiados também.’  

Estendi a mão e toquei um deles.  

No momento em que meu dedo entrou em contato com o fio, senti uma dor aguda e, ao virar o dedo, vi um filete de sangue escorrendo.  

“Tão afiado.”  

“…..Isso está longe de ser o suficiente.”  

Levantei a cabeça ao ouvir a voz de Coruja-Poderosa.  

“Longe de ser o suficiente?”  

Olhei para meu braço. Lá, três fios se enrolavam ao redor dele, espalhando-se pelo quarto.  

Controlar apenas três já era difícil para mim, mas eu achava que tinha me saído bem.  

Isso ainda não era o suficiente?  

“Julien conseguia controlar dez fios assim.”  

Franzi a testa.  

Havia um desconforto estranho em mim ao ouvir sobre Julien. Durante o treino, eu havia perguntado sobre ele, esperando descobrir se ele realmente era eu, mas quanto mais eu ouvia sua descrição, mais percebia que isso era impossível.  

Principalmente quando Coruja-Poderosa criou uma ilusão dele.  

….Ele parecia um robô para mim.  

Pela forma como o descreviam, ele era uma máquina perfeita, capaz de absorver dor infinitamente.  

Ao mesmo tempo, ele também parecia um solitário.  

Eu também era solitário, mas ele parecia ativamente afastar as pessoas.  

Ouvindo suas histórias, só havia um pensamento em minha mente.  

‘Eu não gosto dele.’  

Apesar de nunca tê-lo conhecido, eu não gostava dele.  

Ele era estranho.  

…..Algo em seu comportamento me repelia.  

E, para piorar, ele era um assassino em massa.  

Eu…  

Rejeitava completamente essa pessoa.  

Essa pessoa nunca poderia ser eu.  

“Foco. Não temos muito tempo. Vamos revisar suas habilidades.”  

“Sim.”  

Ouvindo Coruja-Poderosa, todos os pensamentos sobre Julien desapareceram, e eu me concentrei no que estava à minha frente.  

Eu só conseguia controlar três fios, e parecia que controlar um quarto era impossível.  

Por isso, passei para a próxima habilidade, [Véu do Engano].  

….Para mim, essa foi muito mais fácil de aprender.  

Tudo o que eu precisava fazer era imaginar algo e usar minha mana para cobri-lo.  

De fato, olhando para a pedra à minha frente, imaginei uma cadeira de madeira, e em poucos segundos, uma cadeira começou a se manifestar diante de meus olhos.  

Ela não estava muito clara no início, mas com o passar dos segundos, ficou mais definida.  

Em certo ponto, parecia quase real.  

“Não é bom o suficiente.”  

Infelizmente, Coruja-Poderosa não parecia satisfeita com meu progresso.  

“Você precisa ser mais rápido. Ilusões que demoram tanto são inúteis. Você ainda tem algumas horas. Continue praticando.”  

“Haa…”  

Baixando a cabeça, soltei um suspiro de exasperação.  

No entanto, ao pensar em minha situação e lembrar do meu irmão, decidi perseverar.  

‘Tudo isso para eu poder sair.’  

Essa dor não era nada comparada aos momentos em que sofri com meu câncer ou trabalho.  

Esse cansaço não era nada.  

E assim, pelas próximas horas, continuei praticando diligentemente.  

“De novo.”  

“Não.”  

“Isso está ruim.”  

“Julien fazia isso em segundos.”  

Coruja-Poderosa era implacável em seu ensino. Talvez por ser um animal, ou seja lá o que fosse, ela não dava a mínima para minhas emoções e continuava me forçando a trabalhar.  

….Ela era cruel, mas eu persisti.  

Na metade do treino, Pedrinha se juntou e começou a me ensinar sua habilidade.  

[Passo da Supressão]  

Diferente das outras, essa era muito mais fácil de entender e praticar.  

Não exigia tanto controle quanto as habilidades que Coruja-Poderosa me ensinava. Claro, ainda havia coisas que eu precisava dominar ao usá-la.  

Em particular, eu precisava me concentrar para distinguir quem seria afetado pela habilidade e quem não seria.  

Aparentemente, isso era possível.  

“Chega.”  

Ao ouvir a voz de Coruja-Poderosa, parei e olhei para ela. Minha respiração estava pesada, e o suor escorria pelo meu rosto.  

“….Você pode descansar agora.”  

Baque!  

No momento em que Coruja-Poderosa disse essas palavras, toda a tensão em meu corpo desapareceu, e eu caí no chão, respirando com dificuldade.  

“Heup…! Huep!”  

Eu estava exausto.  

Tão exausto que mal conseguia falar.  

“Descanse. Depois, precisamos planejar como sair. Você precisa estar completamente recuperado para isso.”  

“….”  

Acenei em silêncio.  

Eu queria falar, mas minha boca se recusava a abrir.  

No final, tudo o que pude fazer foi olhar para o teto, me recuperando.  

Esse era o plano.  

Pelo menos até que—  

Estrondo!  

Uma grande explosão ecoou à distância.